Crescer é sempre muito complicado. Olhar pra trás e ver a pessoa que você era.. e quem você se tornou é sempre um choque. E as perguntas sempre ficam na cabeça: O quanto foi que eu mudei? Foi pra melhor? Que amigos eu deixei pra trás? Que sonhos eu realizei?
A criança eu era antes... teria orgulho de mim agora?
A Sora era uma personagem muito querida por mim na infância e, assim como os outros escolhidos, ela cresceu comigo e mudou comigo e eu me identifico muito com ela... dessa forma eu peguei esses sentimentos e fiz o melhor para transcrevê-los nessa fanfic.
Aproveitem a Leitura.
- Hmm... mas já é esse horário?
Naquela manhã em particular Sora Takenouchi acordou muito, muito cedo. Para ser plenamente sincera, ela mal havia fechado o olho a noite inteira. Rolara na cama de um lado, depois o outro, afofara o travesseiro e mudara de posição diversas vezes, sem nenhum sucesso em conseguir pegar no sono.
Aquele era um dia muito, muito importante para ela, de forma que sua ansiedade não a deixara pregar o olho. Estava tão ansiosa que nem mesmo agora sentia um pingo de sono... Sentia... ou melhor, sabia que todo o seu futuro dependia da resposta que iria receber em algumas horas.
Passara a noite inteira pensando em o que fizera ela a tomar aquela decisão e em quantas mudanças passara para chegar até aquele dia. Lembrou-se de si, ainda na menina que acreditava que seria um jogadora de futebol profissional. Treinava muito pra isso e jogava muito muito bem. Quando teve de mudar de colégio, entretanto, começou a encarar as dificuldades das diferenças entre meninos e meninas na sociedade.
A nova escola não possuía um clube de Futebol feminino e nem misto. Tentou até juntar um grupo grande o suficiente para formar o próprio clube porém não teve sucesso. Taichi lhe sugeriu tentar entrar no clube masculino mas os colegas não aprovaram a ideia e a diretoria também não permitiu à exceção. Ela logo viu que era uma batalha que não poderia vencer e teve de se conformar em jogar algumas partidas apenas fora da escola com o amigo, quando conseguia tempo para isso.
Sua mãe ficou um tanto quanto aliviada em ver que Sora praticava cada vez menos um esporte masculino e grosseiro. Tentava entender a paixão de sua filha, mas, por outro lado, a educação rígida e tradicional que ela mesma recebera não a deixava ver o esporte completamente livre de preconceitos. Fez então seu melhor para ver Sora feliz, e passou a lhe ensinar tênis na tentativa de que ela se esquecesse do futebol e se interessasse por outra coisa.
A menina logo pegou gosto pelo tênis e, felizmente, havia um clube de feminino em que ela pôde entrar. Logo percebeu que tinha talento também para esse esporte e começou a participar de campeonatos pela escola.
Sora gostava de Tênis sim, mas não acreditava que seria alguma atleta profissional. Tinha noção que era boa, mas muitas outras meninas também o eram, além disso a ideia de estar sempre viajando para competir não a deixava particularmente animada. Era um hobbie que ela gostava. E só.
Chegou a cogitar se poderia trabalhar em uma empresa grande, em um escritório. Ela vira aos poucos o cenário do mercado de trabalho japonês mudando: mulheres se destacavam mais e mais, lutando ferozmente por seu espaço entre os homens. Porém ao mesmo tempo o Japão ainda era muito conservador, machista e relutava em mudar, de forma que essas mulheres tinham de abandonar a ideia de ter filhos ou até mesmo constituir uma família de qualquer tamanho se quisessem ter as mesmas oportunidades de seus colegas ou até mesmo serem levadas a sério.
Sora não queria isso, tinha encontrado uma pessoa especial com qual desejava se relacionar e ter um família e tinha a vontade de, no tempo certo, ser uma mãe que pudesse cuidar dos filhos e vê-los crescer. Ela não queria se sentir obrigada a ter de escolher.
Enquanto pensava sobre isso pegou o celular e deu uma olhada nas horas. Ops, era hora de começar a se arrumar, não sem digitar duas mensagens:
"Você já está se arrumando?"
Enviada.
"Te encontro lá?"
Enviada.
Colocou o aparelho de volta na cabeceira e separou as roupas que iria usar; Uma regata cor de pêssego com alguns babados nas alças e uma saia branca que ia até pouco acima dos joelhos, com rendas simples porém bonitas na barra. Ao ver a combinação deixou um pequeno sorriso escapar, pensando o quanto se recusaria a usar algo tão feminino e delicado a alguns anos atrás.
"E parece que foi ontem..."_ Murmurou para si, mas já tentando afastar esses pensamentos enquanto entrava no chuveiro, porém não conseguiu manter sua mente focada por muito tempo.
Ela pensou em como a experiência no Digimundo havia sido significativa e que, muito provavelmente, não teria mudado como mudara e escolhido o caminho que começaria a trilhar a partir dessa manhã- se tudo desse certo claro!- se não fosse pelas experiências que passou. Especialmente, não teria a admiração que sentia por sua mãe se não tivesse descoberto, junto com Piyomon, sobre como o amor pode se manifestar de maneiras diferentes do que imaginamos.
Se nunca tivesse ido ao Digimundo... Poderia aprender isso com o tempo talvez?
Talvez... mas não podia desprezar o que viveu e o que aprendeu lá. Essas experiências... elas foram fundamentais.
Saiu do banho e, ainda enrolada na toalha, fitou o próprio rosto no espelho por alguns segundos, respirando fundo algumas vezes. Sentia o estomago novamente revirar-se de ansiedade e tentava controlar isso, não poderia deixar o nervosismo ganhar.
Vestiu as roupas que separara com calma, enquanto se lembrava do exato momento que decidira o que faria da vida quando o colegial acabasse.
Lembrou de estar sentada separando alguns itens para ajudar sua mãe nos arranjos de Ikebana- agora que já entendiam-se melhor, ela já começava a mostrar algum interesse nos arranjos florais de sua genitora embora, para desesperança desta, continuasse deixando claro que não gostaria de ser sua sucessora.
Lembrava-se de estar entretida no formato de um dos vasos o achando muito curioso, mas logo desviou o olhar para ver o que a mãe estava fazendo. A Sra Takenouchi acabara de entrar na sala vestindo um kimono tradicional, segurando um vaso ainda vazio.
Sora observou Toshiko começar a fazer o arranjo de forma respeitosa e delicada, parecendo conversar baixo com as flores, quase como em uma reverência. Ela já tinha visto aquela cena centenas e centenas de vezes, mas nunca daquela forma.
Estava quase que comovida com a imagem, quando começou a imaginar o arranjo – que era composto por galhos finos e algumas grandes flores brancas e rosadas- misturado nos desenhos de pétalas de sakura que compunham o kimono azul claro que a mãe usava. Aquilo a deixou inquieta, com uma vontade súbita de pegar pinceis e tintas e completar a pintura do Kimono com o arranjo que a Toshiko acabara de finalizar.
Ficou um pouco espantada em como a ideia tinha aparecido tão "do nada", achou que o desejo se esfriaria rapidamente, mas não. Conforme as horas do dia foram passando, a imagem se formava mais e mais nítida em sua cabeça, de forma que ela teve de passar para um desenho no papel. Depois que finalizou, considerou o trabalho mais ou menos satisfatório e o guardou em uma gaveta, achando que tinha sido apenas uma vontade isolada.
Começou a pentear os cabelos e pensou em como aquelas inspirações súbitas ficaram mais e mais frequentes, até que ela parasse de esconder seus desenhos em gavetas e começasse a levar tudo aquilo um pouco mais a sério.
Contou tudo para a Piyomon, que não entendeu direito tudo, mas se Sora estava feliz, ela também estava e apoiaria sua parceira da melhor forma possível.
Quando tomou a decisão do que queria fazer, pensou em como iria contar aos pais. Separou os desenhos e esperou uma semana que seu pai- finalmente- estaria em casa para mostrar-lhes no que tinha trabalhado nos últimos meses. Reuniu ambos solenemente na sala e, mostrando suas criações com um certo receio, lhes explicou tudo.
Pode ver a expressão aliviada de sua mãe e um pouco de orgulho no rosto de seu pai; ele apreciava a ideia da filha em manter preservada, de sua maneira, um pouco da cultura e história do Japão.
-Estou feliz com a sua escolha. - Foi a vez de Toshiko falar- E estou orgulhosa desse trabalho que nos mostrou, sinto que esses desenhos que você fez nos conectam de alguma forma.
- Se é isso mesmo que você quer, tem a nossa benção. - Haruhiko lhe disse por fim.
A Escolhida do amor sorriu, com lágrimas formando-se em seus olhos abraçou os pais com força e eles retribuíram. Dali para frente, sabia que tinha muito estudo e trabalho para fazer, mas deixaria os pais muito, muito orgulhosos.
-Quase... pronta.
Murmurou abrindo uma caixinha de bijouterias, que ainda tinham pouquíssimos itens. Puxou de lá uma pulseira dourada que tinha algumas borboletas penduradas. Colocou também um colar com um pingente de borboleta que fazia par com a pulseira, enquanto pensava que logo precisaria comprar mais alguns acessórios para si.
Pegou o celular para ver o horário e... Poutz, já estava na hora de sair. Viu que recebera duas novas mensagens em resposta a aquelas que enviara, abriu uma e depois a outra, ficando transtornada.
-Eu não acredito nisso...
Olá Pessoal como estão? Vocês já devem ter percebido que eu gosto muito de conversar aqui haaha...
Enfim, eu havia escrito essa fanfic a um bom tempo atrás para poder participar de um RPG, mas nunca postei em nenhum outro site, quando o RPG se foi... ela se perdeu pra sempre. (sempre sempre...)
Até que hoje eu resolvi pegar o plot e reescrevê-la, adicionando algumas, espero que tenham gostado.
