Térmico
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é o seu abraço.
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Naruto espirrou mais uma vez e coçou o nariz, irritado. Ele vivia em um país tropical, certo? Por que então aquele inverno estava assim tão frio? Era impossível se aquecer decentemente – havia buscado todo o seu escasso estoque de agasalhos e cobertores. Estava com seu costumeiro gorro de rato, que encimava uma touca de lã. O pijama estava debaixo de duas blusas de manga comprida, um agasalho e uma calça de moletom. Sem mencionar as luvas e meias de lã nos pés abrigados em pantufas fofinhas de sapo. Mas parecia que alguém havia enfiado uma lâmina gelada nas suas entranhas. E o vento, que parecia estar parado na frente da janela, soprando seu hálito glacial pelas frestas. Lee saiu do banheiro com os dentes impecavelmente escovados e o encontrou em cima da cama, na ponta dos pés, ajeitando uma coberta no bandor.
— Acho que a janela não está com frio, Naruto-kun. — Naruto se virou pra encará-lo e sua irritação aumentou. Lee usava apenas uma camiseta e um short que mal cobria suas coxas pra dormir.
— Dattebayo! Por que eu tenho que morrer congelado enquanto você tá quase pelado e não sente um arrepio sequer? Não é justo, droga!
— Bom metabolismo e circulação sangüínea. Acho que está te faltando Fogo da Juventude. Você está parecendo uma senhora reumática, envelhecida e ranzinza. — debochou Lee, em seguida desviando-se velozmente de uma pelúcia de Kakashi de tamanho razoável e outros projéteis.
Quando os palavrões cessaram achou seguro voltar. Naruto havia enrolado um cachecol horrendo e rudimentar no pescoço (presente de sua amiga Sakura; pelo menos aquecia bem) e se deitado na cama, encolhido até não poder mais. Lee rapidamente se enfiou debaixo das cobertas (—Anda logo, sobrancelhudo, tá deixando o frio entrar!), e depois de alguns gritos e socos da parte de Naruto (—Tira a mão daí, tá gelada! Não vem bafejar no meu pescoço! Não sabe que creme dental deixa o hálito friozinh—TIRA ESSES PÉS DAS MINHAS COSTAS AGORA! Seu filho da p—) e risadas e resmungos da parte de Lee (—Você está mais chato do que o de costume! Está agindo como uma garota enjoada!) viraram cada um pro seu lado ficaram num silêncio amuado, quebrado pelas ocasionais fungadas e arquejos de Naruto.
—Ainda está com frio? — perguntou Lee depois de algum tempo.
—Tô. — foi a resposta seca de Naruto. Lee tinha certeza que ele estava fazendo bico. Ele suspirou e se sentou como índio. Tirou a blusa, dobrou-a cuidadosamente e a colocou no criado-mudo. Em seguida deitou de novo, devagar.
—Vem cá. — chamou, enquanto ia colando seu tórax nas costas de Naruto. — Eu vou te esquentar com meu Fogo da Juventude.
—Deixa esse fogo longe das suas calças— Naruto respondeu baixinho, sentindo como o corpo de Lee ia se colando bem com o seu. Lee ignorou o comentário, friccionando o calcanhar na perna do outro e enlaçando a costa da mão enluvada. Lee tinha uma fonte de energia própria, pensou Naruto, sentindo os músculos relaxarem ao calor emanado. Aquele frio alarmante estava se dissipando.
—Ei, sobrancelhudo, cuidado pra não me passar todo o seu calor e virar um picolé. — a voz de Naruto saiu meio rouca de arrependimento e gratidão. Lee o abraçou um pouco mais forte, e era incrível como seu queixo se encaixava perfeitamente na curva do pescoço de Naruto. Ou encaixaria, não fosse o grotesco cachecol.
—Pode levá-lo todo. Nada vai me deixar feliz se você estiver com frio, Naruto-kun. — falou Lee com a voz pastosa. O frio que Naruto sentia se transformou em calor na borda do estômago.
—Arigatoo, Lee. Eu... —começou Naruto, se calando ao escutar o ressonar baixo vindo das suas costas. Ele sorriu. —Eu nunca vou sentir frio por muito tempo enquanto tiver um sol pra me esquentar.
Em menos de dois minutos ele também dormia tranqüilamente.
N/A: *—*
