Divagações

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Todos morrem um dia.

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A morte parece mais simples quando você a observa do lado de fora da cúpula. Parece simples dar a notícia de que um ente querido vai morrer e que apesar de todos os avanços provenientes da ciência moderna nos últimos anos, não se poderá fazer nada.

As coisas geralmente terminam com um rio de lágrimas e um toque no ombro.

Eu sinto muito.

Palavras que se tornam normais no dia-a-dia de um médico, sobretudo de um oncologista que vê a morte como algo tão natural em seus pacientes. Sobretudo de um infectologista que está acostumado a lidar com doenças perigosas.

Mas essas palavras não parecem ter serventia quando se aplicam aos médicos.

Não há mais nada que possamos fazer.

Vocês estudaram, se formaram para salvar vidas (que se dane os motivos para isso, vocês salvam e pronto) e continuam tão estúpidos quando a morte aparece para vocês. Chega a ser irônico que não lidem com isso com naturalidade, mas também faz parte do sentimento humano ser assim.

As lágrimas são comuns ao momento, assim como o medo de perder a pessoa que se ama. É normal, é triste também, mas faz parte da rotina. Todos morrem um dia, seja cedo ou tarde e não se pode escolher a hora ou o momento. Simplesmente morrem e pronto.

Só morrem.

Não parece justo se olharmos desse ponto. Não ter a chance de se despedir soa tão cruel. Mas que diriam aqueles que são parentes dos assassinados e de tantos outros injustiçados nesse mundo? Que diriam mesmo aqueles que são parentes dos assassinos que são condenados à morte?

Se despedir soa ainda mais cruel. Dizer as últimas palavras, sentir o sabor de um último beijo ou abraço, que seja.

Parece que o mundo vai acabar.

O fato é que é injusto que os solitários, misantrópicos e drogados que deveriam morrer em acidentes de ônibus permaneçam vivos, enquanto os jovens bem-feitores apaixonados, que são tirados de casa no meio da noite e que deveriam se salvar, morrem.

Mas o mundo não é assim, ele não é justo. A vida não é justa.

Então pessoas jovens morrem e pessoas velhas vivem. É como um ciclo natural.

E agora que cada um de vocês pensa nisso as coisas não parecem mais difíceis? Nunca mais poderão ver Amber (a vadia cruel) ou conversar (provocar) com ela. Nunca mais.

A última vez é o agora, enquanto os olhos dela se fecham. A última vez é dentro de um ônibus sem destino certo. No fim, não importa. Ela se foi e vocês ficaram.

Dói.

Ainda não parece justo que ela tenha partido.

Que lhes reste apenas a certeza do amor e das memórias dela. Porque nós vivemos enquanto alguém se lembrar de nós.¹

Sem abraços, beijos ou despedidas. Apenas o fim. A morte.

(Ainda restam vocês, rapazes. Vivam por mim)


¹ - citação adaptada pela minha filhota, Crovax, de A Sombra do Vento.


N/A:

Ontem eu estava vendo o fim da quarta temporada de House e... confesso que chorei oceanos quando vi a morte da Amber. Quer dizer, eu já devia esperar isso, porque eu vi um teco da quinta temporada na Universal, mas enfim. Eu não esperei.

E de qualquer forma, a Amber era uma das minhas personagens favoritas e eu adorava ela com o Wilson. Só que eu também gostava dela com o House. Então resolvi centrar a fic nos dois.

Para quem não entendeu, a narração vem da própria Morte, mas ela não se identificou na fic. Ela divaga sobre os pensamentos do House e do Wilson que são tão acostumados a lidar com isso. Nunca é a mesma coisa, certo?

A última fala entre parênteses é da própria Amber, btw.

Espero que gostem, porque eu acho que ela merece algo assim. Preciso ver a quinta temporada ainda.

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