Nada mais que estrelas
|Pure Vodka Project|
Os riscos de luz cortavam o céu negro com uma beleza única. Todos os anos, algures em meados de Agosto era assim. Estrelas cadentes, perfeitas, deixavam os céus e caminhavam para a terra, criando um espectáculo fabuloso para aqueles que esperassem para o ver. E eu esperava, ano após ano, sentada no jardim da Mansão Black, apreciando algo que mais ninguém sabia o quê, sendo invejosa ao ponto de querer aquele espectáculo só para mim. O céu negro era meu, as estrelas cadentes eram minhas e ninguém ousaria a tentar que não fosse assim.
Ninguém, que não ele. Ele que teimava em sentar-se a meu lado, olhar o mesmo céu que eu, ignorar a minha presença, mesmo estando com a sua pele em contacto com a minha, fingir que não ouvia a minha respiração, mesmo olhando-me de lado de cada vez que esta era mais profunda. Apenas ele ousava fazer tal coisa, invadir o meu espaço, invadir o que era meu. E eu jurei matá-lo por isso.
Mas a verdade é que Sirius fazia-o todos os anos, todas as noites de estrelas cadentes. Ele sentava-se comigo, como se fossemos amigos de infância ou amantes escondidos, deixava que o seu braço se encostasse no meu, que a sua perna tocasse na minha, observava-me pelo canto dos olhos, enquanto admirava a beleza que rasgava os céus nocturnos. Mas nem uma palavra dizíamos, nem um olhar de cumplicidade, nada.
Foram anos assim. Desde crianças, até à adolescência. Sem trocar uma palavra, sem nada fazer, apenas ali, sentados, esquecendo o ódio que existia nos corredores da mansão, esquecendo os momentos de loucura trancados no quarto de cada um, esquecendo tudo o que nos tornava nós mesmos e apenas sendo livres, apenas ficando ali, com a noite e as estrelas sobre nós.
Ali não havia amizade, não havia amor, não havia ódio nem sexo. Ali não havia nada, apenas nós e estrelas cadentes. Apenas o nosso olhar perverso e impuro sobre a magia dos raios de luz que cortavam os céus, quase como em segredo, quase que escondidos do nosso pecado não existente, quase como voyeurs num acto erótico. Mas eram apenas estrelas, eram apenas luzes belas na noite escura, eram apenas um espectáculo que nunca seria meu. Seria sempre nosso.
R.E.V.I.E.W. please
Just
