Nota da Autora (ISSO É REALMENTE IMPORTANTE): Talvez vocês estranhem a personalidade de Sesshoumaru, talvez não. Sou da seguinte teoria: no anime, ele é youkai, ou seja, totalmente plausível o comportamento frio, malvado, insensível. Mas esta fanfic é UA e ele é um humano, logo... ele não consegue ser o Sesshoumaru do anime cem por cento.
"..." Em negrito são as lembranças e em "..." itálico faz parte dos e-mails. No mais, é isso.
- Koizora -
Capítulo 1: A presença de quem está ausente
"Por favor. Feche os olhos e acredite que você ainda pode me tocar."
"E quando eu morrer?"
Sesshoumaru abriu os olhos, confuso, demorando alguns segundos para perceber que tinha adormecido na poltrona de seu escritório. Apreensivo, olhou o relógio e suspirou aliviado ao perceber que fazia apenas dez minutos que ele estava lá, tempo o suficiente para cochilar e ser atormentado por algumas lembranças.
- Sesshoumaru, querido? - Retraiu-se inconscientemente ao ouvir a voz da mãe, mais perto do que ele gostaria. Percebeu a sombra hesitante e, após alguns segudos, ouviu os passos se distanciarem. Olhou novamente o relógio e percebeu, desesperado, que se quisesse ir ao enterro de sua esposa, deveria se levantar imediatamente e ir à Igreja. Talvez a mãe o tivesse procurado para aquilo e não para questioná-lo sobre sua saúde e seu estado emocional. De qualquer forma, não importava - antes ou depois, ela faria aquela pergunta, com os olhos apertados e um sentimendo de dor que sempre acompanharia uma mãe ao ver o filho sofrer.
Mais um minuto se passou. Ele precisava se levantar, mas de onde tiraria forças? Sentia seu corpo pesado, sua cabeça prestes a explodir e seu coração em frangalhos. Sentia-se suscetível e não gostava daquela sensação. Mas não tinha forças para mudar aquilo.
- E quando eu morrer?
Sesshoumaru olhou a esposa, deitada na cama, com o semblante tão sereno como se estivesse fazendo alguma pergunta sobre o tempo.
- Que tipo de pergunta é essa? - Yuki riu, se entrelaçando com o cobertor, como se fosse uma criança que estivesse postergando o maior tempo possível para se levantar e ir à escola. Ela olhou para o marido e sorriu, ao ver seu rosto contraído de preocupação. - Você está me escondendo algo? Uma doença ou algo do tipo? - Explodiu em gargalhadas e Sesshoumaru percebeu que ele estava completamente equivocado.
Então que diabos de pergunta era aquela?
- Bem... foi uma pergunta normal. Um pouco estranha, eu confesso, mas mesmo assim, uma pergunta normal. Você nunca se perguntou o que eu faria quando você morresse?
- Não. - Sesshoumaru se apoiou no guarda-roupa, com um cigarro entre os dedos, ignorando a expressão de desagrado da esposa. Baforou a fumaça, lentamente. Yuki olhou para ele e não conseguiu deixar de pensar no que tinha acontecido. Ela se apaixonou quando o vira pela primeira vez e, nunca, sequer em seus sonhos, imaginou que seria recíproco. Mas lá estava ela, deitada na cama que dividia com ele, casada há três anos e vivendo os melhores anos da sua vida... ao lado dele. - Mas eu faço isto agora: o que você faria?
- Bem... - Ela se sentou, com as mãos cruzadas e franziu a testa. - Eu acho que eu ficaria muito triste no começo. Bem, talvez não apenas no começo... um ano e alguns meses. Sim. Daí eu começaria a sair novamente, por insistência de alguma amiga. Venderia este apartamento, porque tudo me lembraria você e os bons momentos vividos. Encontraria um novo amor - algo que eu não esperava depois de sua morte -, me apaixonaria, casaria novamente e... teria filhos, quem sabe? - Sorriu ao vê-lo com as sobrancelhas arqueadas. Não soube decifrar em sua expressão se era um traço de incredulidade, desdém ou ironia. Talvez fossem as três coisas misturadas.
- E você pensou nesse assunto porque...
- Eu apenas pensei. - Balançou os ombros. - Não é algo que as pessoas pensam com frequência...
- Ninguém em sã consciência pensa nisso.
- ... mas quando dei por mim, eu já estava imaginando o que eu faria se você morresse antes de mim. Claro... eu simplesmente imaginei, assim como eu sempre imagino o que teria acontecido se eu não tivesse me tornado amiga da esposa do seu irmão. Eu continuaria fingindo que não estava apaixonada por você, teria arrumado um namorado. Depois de alguns anos eu me casaria com ele, teríamos filhos e eu me tornaria uma dona de casa, totalmente deprimida, que passaria os dias cuidando dos filhos e do marido, aparentando quarenta anos, enquanto tivesse trinta. Já você continuaria mulherengo, trocando de mulher como se trocasse de cueca, demoraria a casar, mas por fim, se renderia à pressão da sua mãe e se casaria aos quarenta anos - aparentando trinta -, com uma modelo de vinte anos e vocês viveriam felizes para sempre - isso é, se você continuasse rico e se ela não se importasse com as suas amantes. Mas é claro que ela não se importaria, você continuaria rico.
- Você tem certeza que não seguiu a carreira errada quando decidiu optar por engenharia? Para alguém que lida com tanta exatidão, você tem uma imaginação e tanto. - Ele se deitou dela, colocando a cabeça sobre suas pernas, enquanto Yuki acariciava seu rosto. Ela não estava errada - Sesshoumaru tinha o rosto mais belo que ela já vira e não aparentava os seus vinte e sete anos. Não que ela não se cuidasse, mas algumas vezes que estava ao lado dele - principalmente em público -, sentia algumas pontadas de inferioridade. - E eu não teria amantes. Primeiro porque eu não sucumbiria à pressão da minha mãe. Segundo porque eu não teria nenhum relacionamento sério com alguém que eu não suportasse. - Riu. Por um momento, pensou que ele fosse dizer: "Com alguém que eu amasse." - Eu acho que você tem um julgamento deturpado de mim, mesmo que tenhamos dois anos de casados.
- Não seja tão implicante, Sesshy. - Ele resmungou diante do apelido, mas ela o ignorou. - Você agiria assim se você não fosse casado. Ou não estivesse namorando sério. Não adianta negar, porque você era exatamente assim quando nós nos conhecemos. - Sesshoumaru ficou quieto, com os olhos fechados. Sabia que ela estava certa e não pensou em nenhum outro argumento para rebater. - Mas você não me disse... o que você faria se eu morresse antes de você?
- Eu continuaria vivendo como quando eu era solteiro... não foi isso que você perguntou? - Depois de receber um tapa no ombro direito, abriu os olhos e não conseguiu deixar ao ver a expressão de raiva da esposa. - Não fique brava, Yuki. Você perguntou.
- Bem, eu esperava um: "Eu ficaria muito triste", ou "Eu não conseguiria mais viver", ou "Talvez me casasse de novo, mas não faria muito esforço".
- Tudo bem. Eu ficaria muito triste, não conseguiria mais viver, mas faria um esforço e talvez me cassasse com uma outra mulher, se por alguma coincidência do destino, nós nos encontrarmos. Satisfeita? - Sem esperar por uma resposta, ele se levantou e saiu correndo do quarto. Yuki se levantou logo em seguida.
- É melhor você se esconder, porque, definitivamente, você vai morrer antes de mim!
- Eu sinto muito, cara. - Sentiu uma mão no seu ombro e se virou para encará-lo. Nada mais o irritava que o irmão, mas sabia reconhecer o pesar e a sinceridade nas palavrasa e nos olhos de Inuyasha.
- Obrigado. - Retribuiu com a mesma sinceridade.
- Olha... Se você quiser tirar umas férias, saiba que não tem nenhum problema. Eu consigo segurar as pontas lá no escritório. Sabe... trabalhar seria um fardo, agora. - Inuyasha coçou a cabeça, um pouco constrangido. A relação com o irmão era basicamente brigas, xingamentos e provocações. Nunca, em todos os seus 25 anos, precisou confortar o irmão, nem ser confortado por ele. Até agora.
- Não será preciso. A única coisa que aliviará minha tensão é trabalhar... eu não iria conseguir tirar férias agora. - Sentiu suas mãos trêmulas ao ver que o caixão não havia sido fechado. Apesar das consequências do acidente, Kaede insistira em deixá-lo aberto, como se fosse uma última homenagem antes do enterro propriamente disso. Apesar de ajudar um pouco, a maquiagem não fazia milagres e o rosto de sua esposa beirava ao irreconhecível. Sentiu seu estômago embrulhar.
- Sesshoumaru? Você está bem? - Inuyasha perguntou, preocupado, segurando o braço do irmão mais velho. - Venha, vamos para fora. Você precisa de um ar. - Deixou-se ser puxado sem pestanejar, sentindo os lábios secos e o corpo mole. Não queria admitir a si mesmo, mas sentiu nojo de Yuki.
"E quando eu morrer?"
- Tome. - Inuyasha estendeu um copo de água, a testa franzida de preocupação. - Olha, você não precisa se preocupar com isso... tenho certeza que quase ninguém notou. Eu...
- Eu senti nojo dela. - Mesmo não estando mais tão pálido, Sesshoumaru estava com a expressão angustiada. Com o copo entre as mãos, ele não conseguia encarar o irmão. - Que espécie de marido sente nojo da própria esposa no funeral? Que espécie de marido eu sou?
- Sesshoumaru... - Inuyasha se sentou ao seu lado. Não o encarou - sabia que assim seria mais fácil. Suspirou. - Que espécie de mãe deixaria o caixão aberto depois de tudo o que aconteceu? Pode ser um capricho, um desejo, não importa. Você viu o estado que ela estava. Você não foi o único que sentiu enojado. Eu senti assim, a Kagome se sentiu assim, mamãe se sentiu assim e todo mundo que teve a coragem de vê-la, se sentiu assim. - Colocou a mão sobre o ombro largo. Sesshoumaru levantou a cabeça e viu Inuyasha forçar um sorriso. - Era só um corpo, Sesshoumaru. Ela já se foi há muito tempo.
- Você está bem? - Finalmente chegou a hora daquela perguntou. Sesshoumaru encarou os olhos inchados da mãe. Abriu a boca para dizer "não", que ele não tinha se inconformado, que a dor que estava sentindo era tão forte ao ponto de desejar morrer, também. Mas apenas concordou levemente com a cabeça e antes que a mãe pudesse dizer mais alguma coisa, levantou a mão.
- Eu gostaria de ficar sozinho agora... se não se importar.
Era claro que ela se importava, ela era sua mãe. Queria abraçá-lo, fazê-lo deitar a cabeça em seu colo, passar as mãos pelos seus cabelos prateados e sussurrar em seu ouvido que estava tudo bem, assim como fazia quando ele era apenas uma criança. Mas não conseguia fazer aquilo, não com seu filho recluso em sua própria dor.
- Se é isso que você deseja... - Izayoi sussurrou e pegou as mãos frias de Sesshoumaru. - Mas saiba que eu estou aqui, certo? - Ele acentiu e, sem mais nenhuma palavra, ela deu meia-volta e foi embora. Sesshoumaru ouviu a porta se fechar e, depois de um dia conturbado e interminável, o silêncio.
Sentiu seus olhos arderem e antes que pudesse impedir, as lágrimas começaram a cair.
Aquele silêncio cortava-o e cortava-o e parecia que aquela agonia nunca teria fim.
- Você não falou com Sesshoumaru?
Fazia vinte minutos que tinham chegado em casa e não trocaram nenhuma palavra, sequer na trajetória. Izayoi tentou puxar assunto, de maneira casual, sem segundas intenções e sem deixar transparecer uma certa reprovação na voz. Tentativa completamente falha, já que Inutaisho suspirou, enquanto se livrava da grava que o estava incomodando desde o ínicio do dia.
- Não. E antes que você possa dizer alguma coisa...
- Ele é o seu filho! Ele está passando por um momento difícil! - Ela argumentou, exasperada.
- Exatamente. Por ser o meu filho, sei que, apesar de tudo, o que ele mais quer neste momento é ficar sozinho e respeito isso. Você não consegue entender ou ao menos enxergar isso?
Mais alguns minutos de silêncio.
- Eu vejo, mas... não consigo deixá-lo sozinho, sofrendo. Isso vai acabar com ele, Inu. Tenho certeza disso... - O marido puxou-a junto a ele e Izayoi não conseguiu conter as lágrimas. Sentia-se fraca e aquela inquietação não a deixava em paz. - Estou com medo de que ele faça alguma besteira... não quero perder o meu filho, não quero...
- Shiii. - Ele acariciou a cabeça dela. - Não se preocupe, Iza. Sessnhoumaru não é mais um adolescente. É um homem adulto, ele sabe se virar. Pode demorar, mas tenho certeza de que ele sairá dessa. Deixe-o um pouco sozinho. Quando ele precisar, nós estaremos aqui, para ajudá-lo.
Ela não respondeu e se deixou ser abraçada pelo marido. Aquilo, lentamente, acalmou todas as suas inquietações.
Sesshoumaru se levantou da cama e foi lentamente em direção ao escritório. Precisava urgentemente se ocupar com algo, antes que ficasse louco. Parecia que fazia meses desde a última vez que pisara lá. As papeladas que ele precisava analisar estava no canto da mesa, empilhada de acordo com a urgência de cada caso. Precisava de um copo - apenas um? - de uísque antes de começar a trabalhar. Ia sair da sala quando percebeu que o computador estava ligado.
Ele não tinha entrado há dois dias, quando foi informado, por telefone, que a esposa tinha sofrido um grave acidente de carro. Logo, só podia ser Yuki que tinha deixado o computador ligado. Sentou-se na cadeira e ligou o monitor. Após alguns segundos, a tela acendeu e deixou à mostra a caixa de entrada. Sentiu a garganta seca. Havia e-mails de diversos assuntos, desde correntes a assuntos relacionados ao trabalho dela. De qualquer maneira, nada aquilo importava. Estava prestes a sair, quando notou uma pasta no lado esquerdo.
Uma pasta denominada "Sesshy".
Clicou e, em seguida, pôde anotar vários e-mails, escrito pela própria esposa. Passou para as páginas seguintes e finalmente encontrou o primeiro e-mail, com o assunto "Sesshy1". Sem pensar duas vezes, clicou.
Sesshy.
Sinto muito. Escrevendo isso agora pode parecer um pouco dramático demais, mas enquanto estou digitando, penso se isso realmente acontecerá. Se você está lendo isso, é porque realmente aconteceu. Parece estranho pensar que enquanto estou escrevendo este e-mail, você está dormindo. E que enquanto você está lendo e-mail, eu estou morta. É um tanto trágico e isso realmente me assusta, apesar de que, neste exato momento, para mim, é só uma hipótese.
Se você está lendo isso, é porque a Kagome-chan te passou a minha senha. Não se preocupe - ela não sabe nada sobre isso. Eu a fiz prometer de que ela nunca leria esses e-mails, que seria algo só entre nós... desculpe, eu estou sendo egoísta. Não sou quem está passando por todo este sofrimento, é você. Portanto, se você quiser comentar algo com alguém não tem importância.
Você deve estar se perguntando o porquê eu comecei a escrever isso e como isso surgiu. Não se preocupe, eu não escondi nada de você, nenhuma doença terminal ou algo do tipo. Estou perfeitamente saudável (pelo menos até agora). É só que... durante o trânsito, na volta do trabalho, eu pensei o que aconteceria se eu morresse antes de você. Já vi várias pessoas se lamentando a perda de um ente querido, dizendo que perdeu várias oportunidades para dizer o quanto os amava. Bem, se isso se passa na cabeça deles, não seria normal eles se perguntarem se aqueles que já foram também não teriam palavras não ditas? Ou algum pedido de desculpas ou simplesmente a declaração de um amor. Não sei o porquê, mas pensei nisso. E assim que eu cheguei em casa, e vi que você não tinha chegado do trabalho, comecei este pequeno "projeto".
Escrevei aqui todos os meus sentimentos, todas as frases não ditas, todos os meus pensamentos. Não se preocupe, não haverá nenhum segredo - sei como você os detesta! -, apenas... sentimentos. Acho que não seria saudável para a nossa relação se eu me queixasse de qualquer coisa com você ou se eu dissesse várias ao vezes ao dia o quanto eu te amo. E, ao escrever isso, só de pensar que você pode estar lendo isso neste exato momento, não consigo me controlar e começo a chorar. Você deve estar pensando que eu sou uma maria-mole, mas não consigo parar. Só o pensamento de que um dia eu posso ficar sem o seu abraço, dói. Mas espero, com todo o meu coração, que "hoje", quando você estiver com a bunda colada na cadeira, seja, no mínimo, 40 anos depois do dia em que estou escrevendo isso. Se for menos que 40 - bem, bem menos -, saiba que tudo foi intenso.
Por favor. Feche os olhos e sinta que você ainda pode me tocar. Você não poderá me ver, mas sempre estarei ao seu lado. Por favor, Sesshy, não deixe de pensar a mim. A única coisa que pode me manter ao seu lado são as lembranças.
Eu te amo. Muito, muito, muito. Nunca se esqueça disso, certo? Prometa para mim?
Da sua esposa,
Yuki.
Bem, é isso, pessoal. Não sei ao certo quantos capítulos terão, mas acredito que por voltas dos 15.
A Rin ainda não apareceu, mas creio que isso acontecerá no próximo capítulo.
Acho que é só isso. Reviews são muito bem-vindas! (: Beijos e um feliz Natal a todos!
