Confinados
Por Mukuroo
Obs 1 : Saint Seiya não me pertence! Os personagens podem sofrer algumas alterações em suas personalidades originais.
Obs 2: Já algum tempo eu estava com a idéia de escrever um fanfic nesse estilo. O assunto sempre me encantou e depois de muito pensar, finalmente consegui materializá-la.
Obs 3: o nome Carlo foi dado ao personagem Máscara da Morte pela escritora Pipe. Portanto, todos os créditos à ela.
I
Abriu os olhos, sentindo o corpo todo dolorido. A cabeça doía horrores, como se fosse explodir naquele exato momento. Franziu o cenho ao sentir a luz do sol matinal, que entrava pelas grades da pequena janela, tocando sua face masculina de forma abrupta e virou o rosto para as grades que havia naquele cômodo, em lugar da porta. Finalmente lembrou-se do que havia acontecido e imaginou onde estaria naquele momento: na prisão.
- Shura Capricon! – ouviu seu nome ser chamado do lado de fora das grades e ergueu um tanto o corpo do local em que estava deitado, o qual a partir daquele momento deveria chamar de cama.
Viu a figura de um policial parado de frente às grades de sua cela com um tipo de bandejão nas mãos e o reconheceu no mesmo instante. Seu nome era Aiolia Lion, irmão do homem que havia matado há alguns anos atrás. O policial o olhou com desprezo e passou o bandejão pela abertura pequena que havia na parte baixa da grade, saindo dali em seguida, sem dirigir-lhe palavra alguma.
Shura respirou fundo caminhando até a grade e pegando a bandeja para comer o que havia ali. Obviamente, o cheiro dos alimentos não era nada bom, o gosto menos ainda, mas ainda assim, o presidiário comia aquilo. Comia não porque estava com fome, mas apenas para se manter vivo.
Há alguns anos atrás, Shura matara um homem chamado Aiolos, seu ex-amante e irmão de Aiolia. Agora, deveria pagar por seu crime, por seus 60 segundos de insanidade. Na noite em que cometera o assassinato, Shura havia ido à casa do namorado sem avisar. Como tinha a chave não batera na porta e entrou sorrateiramente no imóvel. Já passavam da meia-noite e pensava que seu querido amante estaria dormindo, como o dorminhoco que era, mas não foi isso o que viu quando abriu a porta do quarto de Aiolos.
Shura o pegara na cama, com outro. Por sinal, era Saga, um amigo de infância do casal. Em um ato de insanidade, Shura pegou uma faca que sempre levava consigo e avançou em Aiolos o esfaqueando friamente até a morte. Mesmo sob as súplicas e os gritos de dor de seu amado, Shura não hesitou. E depois, ainda fugiu covardemente para a Espanha, sua terra natal e ali ficou, por muito tempo, escondido, revivendo aquela noite, remoendo aquelas lembranças.
Culpa. Remorso. Shura finalmente descobriu o significado destas palavras. Dentro de si havia um sentimento que causava ódio de si mesmo e com isso a autopunição e o desequilíbrio emocional. Ah, se arrependimento matasse, o espanhol já estaria morto naquela noite mesmo, junto de Aiolos. Aquela dor que ficara em seu peito, em sua mente martelando o que havia feito à pessoa que mais amou nunca o deixara.
Muitas vezes, o espanhol se perguntou se ele realmente era humano. Não... se tornara um assassino agora, uma pessoa covarde e sem escrúpulos. E todas as vezes que tentara se matar foram apenas seqüências de insucessos e atos mal resolvidos. Se sentia tão baixo, tão covarde que nem coragem para tirar a própria vida tinha. Um lixo. Era isso que se tornara. Nada mais do que lixo.
Seu retorno à Grécia foi algo mais como um impulso, pela culpa que nunca o deixara dormir. Shura não agüentou mais aquele tormento, aquela vida que levava nas sombras e acabou por reaparecer naquele país. Mas antes de qualquer coisa, antes de assumir qualquer crime, precisava ver seu amado Aiolos. E foi o que fez. Descobriu o cemitério no qual o haviam enterrado e apareceu em frente ao túmulo de seu amado, pedindo perdão por seu ato de loucura.
Ficou ali chorando até a polícia, que o procurara por tanto tempo, chegar. O primeiro a sair do carro da força policial foi Aiolia que não resistiu à raiva que corria em seu sangue, em suas veias e pulou no espanhol num acesso de fúria, o espancando desesperadamente. Sim, desespero... Eram gritos de desespero que saíam da boca de Aiolia, por se lembrar novamente do que acontecera a seu adorado irmão, por se lembrar do momento em que se aproximou do corpo para reconhecimento e o viu, todo retalhado como um animal.
Shura levara tanta pancada de Aiolia e tanta cacetada na cabeça que acabou desmaiando. Mesmo vários outros policiais e o próprio Saga segurando seu ex-cunhado, era como se uma força sobrenatural estivesse presente no corpo do grego naquele momento. Talvez não era só Aiolia, mas também o espírito de Aiolos o punindo naquele momento. Depois de dar uma boa surra no desgraçado que matara seu irmão, Aiolia finalmente se acalmou um tanto, caindo de joelhos sobre o túmulo do irmão, chorando descomunalmente.
Shura suspirou perante aquelas recentes lembranças, continuando a comer aquele alimento que mal sabia distinguir o que era. Poderia até mesmo estar comendo algo envenenado, que não se importava. Havia aceitado seu destino e havia perante o túmulo de Aiolos naquele dia que iria pagar por seu pecado sem reclamações. Havia prometido à ele e a si mesmo que iria apanhar sem gemer, que nunca mais sairia um "ai" de lamento de seus lábios. Apesar de tudo, o espanhol ainda amava Aiolos, mesmo depois de ter sido traído por ele e por Saga Gemini, alguém que considerava seu amigo.
Terminou de se alimentar, finalmente permitindo-se olhar em volta com mais calma, reparando um tanto em sua cela, sua nova casa agora, seu novo lar. Era pequena e um pouco escura. Tinha uma janela minúscula cheia de grades, cuja visão dava para o pátio do presídio. No canto esquerdo da cela havia um vaso sanitário e uma pia com um minúsculo espelho dependurado na parede. À direita pode-se notar um beliche com colchões tão finos que mais pareciam cobertores, travesseiros velhos, lençóis gastos e dois cobertores ralos. Era uma cela para dois afinal e Shura se perguntou por quanto tempo ficaria sozinho ali, se haveria um companheiro ou se morreria naquele confinamento sozinho.
Deixou o bandejão na abertura da grade, facilitando a quem quer que fosse buscar e ficou de pé sentindo as pernas bambearem um tanto. Caminhou até a pia para lavar o rosto e olhou sua face no pequeno espelho. Era perceptível o estado lastimável em que se encontrava.
Os olhos puxadinhos e amendoados do espanhol estavam sem vida, inchados, com grandes bolsas escuras embaixo dos olhos, resultado de anos sem uma boa noite de sono. Sua face estava cheia de pequenos cortes e cicatrizes, o que escondiam sua beleza natural. Os cabelos que sempre usava espetadinhos, estavam bastante desalinhandos. Abriu um tanto a camisa de uniforme e reparou que se corpo estava cheio de hematomas, abaixando um tanto a calça para analisar melhor a situação de suas pernas também.
Ouviu passos ecoando pelo corredor e percebeu, pelo eco reproduzido, que provavelmente não havia quase nenhum prisioneiro na ala em que estava. Certamente o haviam colocado na ala onde ficavam os prisioneiros mais perigosos. Ajeitou rapidamente o uniforme em seu corpo e voltou sua atenção para a grade, ainda mais quando escutou o barulho do cassetete batendo nos ferros. Era ele novamente: Aiolia.
Shura observou-o por alguns instantes, reparando em como Aiolia havia mudado durante todo aquele tempo que o espanhol ficara fora da Grécia, foragido. Os cabelos do policial eram os mesmos, ruivos e rebeldes. Os olhos eram verdes e intensos como os do irmão, mas agora não havia mais aquela expressão infantil que sempre via neles. O corpo estava mais largo, sarado, mais musculoso, mais forte. Aiolia definitivamente havia se tornado um homem.
O policial pegou um molho de chaves e destrancou a grade da cela. Shura apenas respirou fundo, preparando-se mentalmente para uma nova surra ou algo do tipo. Aiolia entrou, com algo nas mãos, logo jogando aquilo, que parecia ser uma muda de roupas, no chão.
- Tire suas roupas e vista isso! – o ruivo falou de forma seca, uma expressão séria na face.
Shura apenas obedeceu sem retrucar, começando a se despir, ficando apenas de cueca na frente do outro, logo em seguida vestindo a calça e a camisa, ambas azuis que o outro lhe dera. Certamente aquele era o uniforme dos presidiários.
Aiolia pegou as antigas roupas do outro, pegando também o bandejão vazio que o espanhol deixara e foi saindo, sem pronunciar nem mais uma palavra. Aquela indiferença incomodava Shura tremendamente. Perguntava-se internamente o motivo pelo qual Aiolia não dizia nada, nem ao menos o xingara. Se era o assassino de seu irmão, da pessoa que mais amava esperava ao menos que fosse torturado pelo policial, que Aiolia ao menos viesse tirar satisfações consigo.
- A... Aiolia... – Shura tentou chamar o outro, mas foi logo interrompido pela voz autoritária do ruivo.
- POLICIAL AIOLIA pra você, Shura. – respondeu de forma seca, o que fez o espanhol se encolher, fitando o chão, sem nada dizer por alguns minutos. – Seu companheiro de cela... – continuou o ruivo. – ...está na solitária, mas é provável que retorne hoje mesmo. Então aconselho que aproveite seus momentos de solidão nesta cela ao máximo que puder, pois tenho certeza que sentirá falta deles quando conhecê-lo. Afinal, nenhum presidiário que dividiu a cela com "o" Máscara da Morte conseguiu manter-se vivo por mais de uma semana.
- M-Máscara da Morte?? – Shura arregalou os olhos quando ouviu aquele nome, estremecendo um tanto e até gaguejou ao repetir. Sim, já ouvira falar e muito nele. Era um assassino frio e cruel que acabara pegando prisão perpétua por matar seus próprios pais e irmãos.
Viu o policial trancar novamente a grade e sair a passos lentos e descrentes. Suspirou caindo sentado no chão, abraçando seus joelhos sem conseguir deixar de pensar sobre o que o ruivo havia lhe dito.
Seria companheiro de cela do mais perigoso assassino em série de todos os tempos, um verdadeiro psicopata, que ficou até famoso por sua notável crueldade e frieza. Esquartejava suas vítimas e fazia coleção das cabeças que matou. Deixava o corpo em um lugar bem visível com uma máscara no lugar da cabeça, o que o fez ser conhecido como Máscara da Morte.
Havia acompanhado pela televisão o caso do italiano que havia espalhado o terror por toda a Grécia, principalmente na cidade de Athenas. Até mesmo o julgamento dele havia sido transmitido pela imprensa. Por isso sabia bem quem ele era. Máscara da Morte era o assassino que nunca sentira remorso em toda a sua vida. Aquele que havia dito no tribunal que se pudesse faria tudo de novo sem pestanejar. Era um assassino sem nenhum sentimento.
Shura sabia ainda que, o tal psicopata só estava vivo porque na Grécia não tinha pena de morte. Mas ainda assim, Máscara da Morte cumpria prisão perpétua por seus crimes. E pelo que Aiolia acabara de dizer ao espanhol, o psicopata nem mesmo hesitava em matar seus companheiros de cela dentro da própria prisão. Só não entendia como podiam deixar um cara desses ainda conviver com os outros presidiários. Deveria ficar na solitária o resto da vida, isso sim.
O som de passos no corredor, aproximando-se de sua cela, fez Shura despertar de seus pensamentos. O sangue do espanhol quase congelara quando percebera dois pares de pernas parados de frente as grades. Ergueu um tanto o rosto, arregalando os olhos ao ver dois homens ali. Pelas roupas, Shura notara que era um policial e um presidiário e engoliu em seco.
O espanhol começou a suar frio, paralisado por alguns instantes, sem nada a dizer e com uma expressão indescritível, congelada em sua face, observando o policial abrir a grade, tirando depois as algemas do presidiário, o empurrando em seguida para dentro da cela.
Ergueu os olhos para analisar seu companheiro de cela, reparando que este tinha quase sua altura, um corpo másculo visivelmente musculoso e bem definido. Os cabelos eram grisalhos, quase prateados, porém o rosto era jovem. Shura podia perceber que aquele ali não tinha mais de 23 anos de idade. Os olhos eram azuis e tão intensos que pareciam estar lendo sua alma naquele momento. Estremeceu. Zeus do céu, aquele homem era lindo!
Espero sinceramente que tenham gostado desse novo fanfic. Gostaria de deixar aqui meus sinceros agradecimentos à Neherenia-chan e à Akane M.A.S.T pela betagbem. Um abraço a todos e até o próximo capítulo.
