Capítulo 1
A CAVALARIA

"Eu aflito e só

Confuso sem você por aqui

Assim eu sonhei

Mas isso eu não quis

Que diferença o dia se fez

Assim"

Padma, por mais que tivesse garantido a sua irmã que ficaria bem, continuava não se sentindo exatamente bem. Era tanto tempo de esperança, um breve relance do paraíso, para ser jogada novamente nos limites do comum. Seus pés a conduziam pelos corredores do castelo, sem ela realmente prestar atenção nos caminhos que fazia. Achava insensato ficarem andando pelo castelo sozinhos em tempos como aquele. Mas a verdade é que já não se importava tanto com o que era ou não sensato. A lógica parecia lhe fugir, e todas as certezas que tinham sumido no ar.

Era uma tortura sem fim, chegar no Salão Principal todos os dias, vendo Lilá se lançar aos braços de Rony Weasley. Chegava a ser irônico que a escolha da mulher que adorava tivesse recaído justamente sobre o cara que tinha levado Padma ao único encontro formal que tivera. Os cabelos loiros dela agora viviam presos com um laço de fita para não atrapalhar os beijos do ruivo. Quando Lilá estava com ela, se lembrou, seus cabelos estavam sempre soltos.

Agora, Lilá se comportava como uma menininha de forma que Padma jamais tinha visto, e isso doía. Doía por ser como uma negação constante do envolvimento das duas. Ou, talvez, como se temesse tanto que os poucos que sabiam falassem alguma coisa abertamente que se escondia em uma máscara da mais perfeita – embora exagerada – feminilidade.

A música do imenso relógio de pêndulo em uma das torres maiores marcava a cadência de seus passos, ecoando no corredor vazio. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Onze. Uma hora para ir para a cama. Sua mãe vivia insistindo que ela e Parvati deveriam abandonar a escola e ir para casa. Imagina se soubesse que acabara andando sozinha pelos corredores já que sua parceira de ronda, Pansy Parkinson, achara que tinha algo melhor para fazer do que acompanhar a corvinal amuada.

Ouviu o som de risos, e aquilo lhe trouxe de volta para a realidade. Proximou-se de uma das salas teoricamente vazias. Empunhou a varinha mas antes que esta fosse necessária, a porta se abriu e uma menina saiu de lá de dentro. Por um instante, Padma achou que aqueles cabelos vermelhos pertencessem à Gina Weasley, mas a gravata era, inconfundivelmente, verde-e-prata.

- Greengrass! – ela chamou, a voz lutando para ser firme apesar do cansaço. – Greengrass, pare agora.

A sonserina parou e virou-se para a outra menina com um sorriso irônico nos lábios. Uma de suas mãos encontrou sua cintura e a outra manteve-se do lado do corpo. Os ombros desalinhados mostravam impaciência, mas Padma estava muito longe de se importar.

- O que quer, Padma? – ela falou, usando o velho truque de chamar os demais puro-sangue pelo primeiro nome para incentivar simpatia.

- Não é uma pergunta muito inteligente, Daphne. São onze horas e você sabe muito bem que ninguém que não é monitor deveria estar nos corredores depois das nove.

- Como se alguém se importasse com essa regra – debochou a ruiva.

- Quem estava com você, Daphne? – falou a corvinal olhando para a sala vazia.

- Ninguém, Padma.

- Eu devo acreditar que você estava fora da cama, em uma sala que não é usada, rindo e sozinha?

- Você está vendo alguém ai dentro? – retrucou a sonserina. – Logo, eu só poderia estar sozinha.

- Ou com alguém sob a capa da invisibilidade.

- Claro, inclusive, todos achamos capas da invisibilidade o tempo inteiro por ai. Não é um objeto nem um pouco raro.

- Fique aqui.

- Eu achava que você tinha dito que eu deveria estar na cama.

- Fique aqui, Greengrass.

E o uso do sobrenome acabou convencendo a sonserina a ficar parada enquanto a outra menina entrava na sala. Padma descobriu uma outra porta, dando para o corredor oposto ao que estavam, entreaberta.

- Não sei quem estava com você, mas é óbvio que não estava sozinha – ela apontou para a menina a porta aberta. – E a pessoa não teve a capacidade de fechar a porta para tentar esconder que estava lá.

- Você sabe tudo de esconder as coisas, não é, Patil? – Havia veneno na voz da garota. – Afinal, você e a Brown passaram um bom tempo se escondendo para que ninguém percebesse suas perversões.

O rosto de Padma a traiu, se tornando imensamente vermelho. Aquilo pareceu deliciar a sonserina, sorrindo maliciosamente para ela. Daphne deu um passo a frente, se aproximando da corvinal e ergueu a mão, tocando seu rosto. Aquilo assustou ainda mais a garota, que deu um passo para trás, fugindo do toque. A ruiva riu, seus olhos azuis virando meras frestas brilhantes.

- Tão bonita... – sussurrou Daphne com maldade. – As Patil, as meninas mais bonitas do ano, todos dizem... E tão... Inalcançáveis. – O sorriso se abriu, cheio de escárnio. – Se ao menos eles soubessem o por quê!

- Você também é bonita, Daphne. – ela falou, a voz firme. – Muito mais do que eu ou Parvati.

- Ah! A humildade! – ela efetivamente riu. O som da risada seca, tão diferente da alegria que a anterior mostrava, foi como um tapa em Padma. – Eu poderia esperar isso de uma das lufas tontas, ou da raça de pseudo-heróis que é a Grifinória. Não finja, Padma, que você não gosta do título.

- Você acredita no que quiser, querida – falou a corvinal, finalmente se irritando. – Mas pode guardar seu rancor e sua inveja por eu ser chamada assim ao invés de você dentro da sua capa e ir para seu salão comunal antes que eu lhe dê uma detenção.

- Se você tivesse a mínima intenção de me dar uma detenção, já teria me dado há muito tempo, não teria ficado de papo furado. Mas eu aposto que você quer parecer boa e gentil perto de mim, para se sair ainda melhor na popularidade geral.

- Essa rivalidade, Daphne, está na sua cabeça.

- Talvez, querida, talvez – murmurou a sonserina, virando de costas e continuando a caminhar no corredor.

Padma suspirou e olhou no relógio de pulso. Quinze minutos para a meia noite. Ela decidiu voltar para seu salão comunal, mas a voz de Daphne soou alta vinda do outro extremo do corredor:

- Só para constar, Padma... Você não é a única que esconde suas pequenas perversões.

A corvinal sentiu suas costas gelarem com a nova insinuação. Por outro lado, anos de envolvimento com a rede de fofoca da escola fizeram sua mente rodar imaginando quem seria o acompanhante – ou quem sabe, a acompanhante – de Daphne. Sua mente rodava e quase não notou ao trombar com Pansy no pé de uma das escadas.

- Agora você aparece! – falou indignada, olhando para a monitora da outra casa. – Você deveria ter feito a ronda comigo!

- Eu prefiri fazer a ronda com o Draco – respondeu atravessada. – E ela foi absolutamente um desperdício de tempo! Bem, - havia um sorriso malicioso que parecia habitar todas as meninas da sonserina. – pelo menos no que diz respeito a encontrar alunos fora da cama.

Padma balançou a cabeça, achando alguma graça daquilo. Todo mundo sabia que Pansy e Draco tinham um relacionamento não muito fixo, ou particularmente apaixonado. O que Pansy não sabia – pensou vitoriosa, como uma pessoa com fontes privilegiadas – é que o tempo inteiro o loiro estava pensando, procurando e se agarrando com uma grifinória.

"I never thought you were a fool

(Eu nunca achei que você fosse um tolo)

But darling look at you

(Mas, querida, olhe pra você)

You gotta stand up straight, carry your own weight

(Você tem que ficar de pé, agüentar o próprio peso)

This tears are going nowhere, baby

(Essas lágrimas não vão a lugar nenhum, baby)

You've got to get yourself together

(Você tem que se manter inteira)

You're stuck in a moment and can't get out of it

(Você parou em um momento e não consegue sair dele)"

Na manhã seguinte, Padma voltou à sua rotina de sentar-se de frente para a mesa da Grifinória e encarar os beijos trocados entre Rony e Lilá, e o embaraço de Parvati e Harry. Ela mexia com o garfo nos ovos mexidos sem realmente comer nada, apenas olhando pra a cena e sentindo seu coração apertar.

- Você está dando muito na cara. – reeprendeu Mandy Brocklehurst, sentando-se de frente para a gêmea.

Padma levantou os olhos para a melhor amiga que tinha na corvinal, surpresa.

- Não sei do que você está falando – mentiu.

- Você realmente acha que eu sou idiota o bastante para nunca ter percebido? – sussurrou a outra. – Os olhares? Os toques? O tom da voz? E agora você fica exibindo esse rosto infeliz e olhando fixamente para aqueles dois se exibindo como se nunca tivessem beijado na boca!

A loira sacudiu a cabeça, mais uma vez reprovando a atitude.

- Eles estão juntos desde antes do natal. Está na hora de você seguir em frente.

Padma suspirou, sabendo que Mandy dizia a verdade. Depois deu os ombros, encarando pela primeira vez seu prato.

- Existem outras pessoas no mundo! – falou a amiga exasperada. – Não é como se arranjar alguém fosse difícil pra você.

O tom de voz a ver olhar diretamente nos olhos da outra corvinal, como se para garantir que estava falando mesmo com ela, e não relembrando a conversa da noite anterior com certa sonserina.

- Que foi? É verdade! – continuou a garota. – Por que está me olhando com essa cara?

- Nada – respondeu, balançando a cabeça. – Greengrass me disse a mesma coisa ontem à noite.

- Daphne Greengrass? – perguntou Mandy confusa. – Desde quando você conversa sobre esse tipo de coisa com ela?

- Não converso – respondeu firmemente. – Você sabe como ela se sente incomodada com a atenção que eu e Parvati ganhamos.

A corvinal riu, acenando em concordância. Era uma rivalidade notória entre Daphne e Parvati, mas Padma parecia um tanto ao quanto alheia aquilo na maior parte do tempo. Eram belezas completamente diferentes, o charme indiano das gêmeas, com sua pele morena-amarelada e os cabelos negros e cheios e a sonserina era ainda mais pálida que os Weasley, sua pele sem sardas, os olhos azuis e o cabelo em um tom de acaju. Padma sempre achou ambas coisas incomparáveis, e desconfiava que a única coisa que fazia os meninos sussurrarem preferência por ela e a irmã era o fato de serem gêmeas.

- Ela está te encarando – avisou Mandy.

Padma virou-se para a mesa da Sonserina para achar a garota com os olhos postos em si, sorrindo vitoriosa em uma batalha em que só ela lutara. Acenou com a cabeça, como se reconhecendo a presença da outra e voltou ao seu lugar.

- Ela continua te olhando!

- Daphne sabe.

- Como ela sabe?

- Da mesma forma que sempre ficamos sabendo de tudo que acontece na escola – e fez um movimento com as mãos para mostrar que não sabia exatamente.

- Será...?

- Será o que, Mandy?

- Eu não sei, Padma, mas eu acho que tem algo de atração na forma como ela te olha.

A gêmea riu alto, mas não havia contentamento em seu riso, apenas uma sombra de deboche quando ela perguntou, com a voz seca:

- E o que você sabe sobre meninas que se sentem atraídas por outras?

- Muito mais do que você imagina, Pad – a outra murmurou para si mesma, e a garota não ouviu.

"I could never take a chance

(Eu nunca pude tentar a sorte)

Coz I'd never understand

(Porque eu nunca entenderia)

The mysterious distance

(A distância misteriosa)

Between a man and a woman

(Entre um homem e uma mulher)"

- Ilumine-me! – falou a voz divertida de Daphne sentando-se ao lado da gêmea que observava Lilá aos beijos com Rony em um dos pátios internos. – Eu sempre quis entender como funciona a cabeça de um masoquista.

- E por que você acha que eu sei?

- O que é, se não puro masoquismo, que te faz ficar vendo a mulher que você adora nos braços de outra pessoa?

- Eu não a adoro.

- Claro que não, você à ama – respondeu a sonserina com escárnio. – Realmente acredita nisso?

- O que você sabe de amor, Daphne? De amor por outra pessoa, claro, não por si mesma.

- Sei o suficiente para saber que o que você sente não é amor, é veneração. Você a idealiza, não a vê. Você a vê como a princesa encantada do seu conto de fada às avessas. Isso não é amor, Padma.

- E o que é amor então? Se esconder pelo castelo com a pior inimiga da família enquanto engana outra pessoa para se proteger?

- Do que você está falando? – perguntou a garota, visivelmente curiosa. – Ou melhor, de quem?

- Não estou falando de ninguém.

- Claro que está. Não tente me fazer de idiota, porque isso eu não sou.

- Pra que você veio aqui? – perguntou a corvinal com um suspiro. – Qual é seu imenso prazer em fazer graça do meu sofrimento?

- Fica se remoendo, vivendo como uma sombra pelos cantos não combina com você.

- Quem disse?

- Eu disse.

- E desde quando você sabe o suficiente sobre mim pra decidir isso?

- Não sei – a ruiva sorriu, mas pela primeira vez não havia maldade no seu sorriso. – Mas não me parece certo que você fique assim. Não que me incomode sua melancolia, longe disso, eu apenas acho... Interessante.

- O que tem de interessante nisso? – perguntou, a voz um pouco menos triste.

- Você estaria certamente entre as cincos garotas que eu menos esperaria ver se interessando por outra. O que aconteceu?

- O que faz você achar que eu vou te dizer?

- Você claramente precisa conversar – falou a outra como se fosse óbvio. – E nós não temos nada para fazer até o final do nosso tempo livre.

- Você está controlando meus horários, Greengrass? – perguntou sentindo raiva.

- Você está neurótica. Nós fazemos a maior parte das matérias ao mesmo tempo. Nada mais natural do que eu ter uma noção do seu horário.

Padma balançou a cabeça concordando, sem saber o que dizer. Começava a chover por cima da neve, e ventava muito. O tempo andava triste e chuvoso nas últimas semanas. Como ela.

- O que aconteceu, afinal? – perguntou a sonserina.

- Por que você quer saber?

Daphne deu os ombros, com um meio sorriso no rosto.

- Não é para espalhar para a escola inteira, pode deixar. Mera curiosidade pessoal.

- Eu não sei o que aconteceu. Acho que foi no final do ano passado, ou talvez antes. Você lembra da Armada de Dumbledore?

- Aquele bando de idiotas que fizeram o velho gagá ir embora e deixaram a gente totalmente à mercê da louca da Umbridge? Claro.

- Eu fazia parte da Armada. Não sei como, comecei a me sentir mais próxima da Parvati do que em qualquer espaço de tempo desde que entramos em Hogwarts. E Lilá estava sempre junto com ela. Não tinha ninguém das meninas da corvinal, só eu. Bem, claro, Marietta e Cho estavam lá, mas você sabe como a Cho andava insuportavelmente chorona.

- Nem me fale. Mas parece que os beijos do Corner foram suficientes para ela ficar mais animadinha.

- De qualquer forma, eu acabei passando mais tempo com as duas. A simplicidade e a alegria de Lilá! A forma como ela sorria! Ela era tão linda... – Daphne a olhava com uma expressão que dizia com todas as letras que discordava, mas Padma não ligou. – E eu não sei como foi que comecei a sonhar com coisas proibidas. Eu só sei que parecia que todas as formas, todas as coisas que eu poderia ter dela não eram o suficiente. Eu queria mais e mais... Eu queria ela. Isso me torturava. É errado. Eu não podia – eu não posso – desejá-la. Mas não consigo controlar.

- E como você contou?

- Ela me disse que era óbvio que eu estava apaixonada. Me pressionou. Quis saber quem era o cara. Mas, claro, que não havia cara nenhum. Era tudo ela. Ela, ela, ela, Daphne! Por que eu estou te dizendo tudo isso? Você jamais poderia entender. Eu disse a Lilá que era ela. Mas não aconteceu nada, a não ser eu ver os olhos dela se encherem de dor e dúvida. Então, naquela noite, ela me beijou. Disse que poderíamos tentar. Acho que nunca fui tão feliz. Acho que jamais serei tão feliz.

- Bobagem. Claro que vai. – Padma continuou como se não tivesse ouvido.

- Nós chegamos, e como de costume, Simas veio atrás dela. Eu os encontrei juntos, ela tentando se desvencilhar das tentativas de beijos dele. Eu briguei com ele. Ele me chamou de lésbica nojenta e eu tive nojo de mim mesma. As coisas começaram a mudar daí pra frente. Não sei bem como. Ela se afastou. Falou em começar a dar em cima de alguém para disfarçar. Disse-me que escolheria o Rony. Pra mim tanto fazia, o Rony ou qualquer outro, seria igualmente insuportável. Ela começou um pseudo-namoro com ele depois do jogo de quadribol da sonserina contra a grifinória. Eu nunca reclamei. Eu nunca briguei. Era melhor ser a outra do que não tê-la.

- E então, ela resolveu terminar com você.

- Assim, sem mais nem menos. Ela me pediu para terminar. Que não era o que ela queria. Que ela estava errada. Eu tinha acreditado.

- Ela disse que te amava. Mas que grande filha da mãe.

- Lilá me ama! – defendeu a corvinal. – Só não... Só não...

- Brown disse que te ama somente para não parecer tão horrível. Ela não te ama. Ela está te oferecendo uma migalha.

- Não fale assim dela! – reeprendeu Padma raivosa.

- Você está cega. Isso não é amor, é idolatria, é doença. Isso não é amor!

- Cale a boca! Guarde suas opiniões imundas para você! Sua louca fofoqueira, sua sonserina maldita, sua preconceituosa!

Padma não teve tempo de falar mais nada, só sentiu seu rosto arder. A mão de Daphne continuava erguida. A sonserina tinha o rosto tão vermelho quando o seu, mas de raiva. A respiração era ofegante e não havia mais nenhum traço de sorriso bom ou mal, apenas um calor que falava de raiva e desgosto.

- Não fale do que você não sabe! Eu estava te ouvindo, tentando abrir seus olhos! Mas se você prefere continuar cega, o problema é todo seu!

- O que você quer que eu pense? – perguntou, tremula de raiva. – Você vem aqui, e usa sei lá que métodos para me fazer falar! Você fica aparecendo, e me jogando na cara que eu sou... Que eu sou... Que eu não sou normal.

- É isso que você acha? Que você não é normal? Você acha que você não é normal e eu que sou a preconceituosa? Você é que não se aceita!

- E você vai me dizer que você aceita? Que você acha normal? Eu não preciso da sua pena!

- Eu não tenho pena de você por gostar de mulheres. Eu tenho pena de você por não se aceitar. Eu tenho pena de você por sequer tentar sair dessa. Eu tenho pena de você porque você é fraca.

- Eu não sou fraca! E eu estou tentando sair dessa sim! Você não sabe como é difícil.

- Então me prove! Me prove que você não é fraca! Me prove que está tentando sair dessa. Me prove que não se odeia.

Padma aceitou o desafio por raiva. Segurou nos braços finos da sonserina, a encostando na parede. O tapa ainda ardia no rosto. Ela olhou para os olhos azuis cheios de deboche, enquanto prendia a garota. Estavam muito perto, tudo que precisava fazer era beijá-la, e calar a boca da ruiva. Não significaria nada, seria simples, o hálito carregado de nicotina da ruiva tocava seu rosto. Padma fechou os olhos, pronta para seguir com aquilo.

Mas não podia. Era errado. Não era ainda a hora de fazer algo como aquilo. Não era justificável. Por mais bonita que Daphne fosse, não sentia nada por ela. Era loucura se deixar levar por provocações. E principalmente, não havia nada mais insensato do que uma garota beijar a outra em um pátio aonde a qualquer minuto poderia passar alguém. Deixou seus braços caírem, soltando a sonserina.

- Covarde – a outra sussurrou sem se mexer.

E foi a vez de Daphne segurá-la pelo pescoço e a prender em um beijo, os lábios se encontrando ferozmente, como se aquilo fosse um castigo. As mãos da sonserina seguravam seus cabelos com força, a língua explorando loucamente a boca de uma Padma perplexa que demorou a começar a corresponder. E ao tentar beijar de volta, o que viu foi a ruiva se afastar dela, dar um sorriso debochado e sair andando pelo corredor.

"It's the wrong place to be thinking of you

(É o lugar errado para estar pensando em você)

It's the wrong time for somebody new

(É a hora errada para uma pessoa nova)

It's a small crime

(É um crime pequeno)

And I've got no excuse

(E eu não tenho nenhuma desculpa)"

Nota da Autora: Obviamente nenhum desses personagens é meu. Pra quem não lembra da Daphne, não se espante, ela aparece no canon muito brevemente no capítulo 31 de OdF. A Mandy Brocklehurst, é outra aparição relâmpago em PF7, a Lya Vader traduziu o nome dela por Mádi, mas eu me RECUSO a usar um nome tão ridículo. Mantive a grafia original de Daphne também porque é tão melhor de ler que Dafne. E uso, sempre, Lilá como um apelido de Lavender, pois me parece absurdo uma mãe dar a uma criança um nome como Lilá (ou Mádi). As músicas usadas no capítulo foram, nessa ordem: "Os Pássaros" do Los Hermanos, "Stuck in a Moment You Can't Get Out Of" e "A Man and a Woman" do U2, e "Nine Crimes" do Damien Rice (que foi uma das sugestões da Nimue para linhas de plot) e que eu nunca tinha ouvido porque a voz do Damien Rice me irrita xD. O capítulo é especialmente dedicado à Má e à Fabi, por terem acompanhado seu nascimento de perto.