Lisboa. Capital de Portugal. Latitude: 38,42º Norte. Longitude: 9,11º Oeste. Falando em português, o meu Inferno.
Berros ecoam por toda a casa enquanto os meus pais discutem… mais uma vez.
- A Margarida não merece! – Gritava a minha mãe, na sala. – Ela não tem de conviver com um pai como tu! Ela não tem de se levantar de manhã e encontrar-te desmaiado na sala rodeado de heroína e Jack Daniels!
- Bom, se a Margarida está preocupada ela que se mude! Que já tem idade para trabalhar!
O meu coração contorceu-se e abri todas as torneiras da casa de banho no máximo. Aproveitei e tapei os ouvidos com força. Dezassete anos daquilo era demais. Eu só queria fugir para bem longe do meu pai.
Porque eu, Margarida Guedes, tinha o direito a ser feliz. E se eu ainda estava viva, eu queria acreditar que havia algo mais à frente que fosse bom o suficiente para me deixar plena. Caso contrário, eu só queria ser atirada de uma ponte.
Enquanto a berraria continuava, percebi que a minha mãe pôs um ponto final em tudo. Estava a fazer as malas. Cnseguia ouvir as gavetas a fecharem-se violentamente.
- Margarida! – Gritou.
Desliguei as torneiras e corri até ela.
- Pega nas tuas coisas. Estamos a ir.
- Onde? – Perguntei com urgência.
- Algarve.
