PET SHOP OF HORRORS
DESPEDIDA
FanFic escrita por: Calerom
Início: 23/09/2003 - 1a Versão
Versão Atual: 28/09/2003. -1.1.
Final:
E-Mail: myamauchi1969@yahoo.com.br
Créditos:
Love Hina: História original por Ken Akamatsu.
Versão em TV/Ova: Xebec Studios / TV Tokyo
Pet Shop of Horrors: História original por Matsuri Akino.
Versão em vídeo: Dark House.
Observação:
Esta obra foi feita única e exclusivamente como um fanfic para entretenimento pessoal e dos leitores. Obviamente tanto a série Love Hina como Pet Shop of Horrors não me pertencem, sendo de propriedade dos autores citados acima. .
Quaisquer personagens que não constam nas séries citadas acima, quaisquer que sejam suas versões são de minha criação pessoal. Eles são totalmente fictícios, sendo qualquer semelhança com nomes, fatos e datas, mera coincidência.
Rating:
PG-13. Contém uma temática forte (drama misturado com sobrenatural), descrição de mortes violentas, linguagem grosseira (quase todos vindos do personagem Leon) e situações eróticas.
PRÓLOGO:
Despedida.
Era uma tarde triste de outono. Os raios de sol que tentavam aparecer ao longo do horizonte tingiam de vermelho, azul-escuro e dourado as bordas das nuvens que prenunciavam uma tempestade iminente.
Num pequeno cemitério localizado na periferia da cidade de Los Angeles, Estados Unidos, um caixão aguardava para ser baixado à sepultura e o seu ocupante, para as despedidas finais.
Diante dele, um idoso sacerdote pronunciava os ritos finais na presença de um grupo de pessoas vestidas de preto que acompanhavam em doloroso silêncio o momento de dizer adeus.
O nome do recém-falecido era Keitarô Urashima.
Era um jovem de origem japonesa e devia pouco mais de 27 anos de idade, não fazendo mais do que um ano que estava morando nos Estados Unidos.
Era arqueólogo de profissão, formado pela Universidade de Tóquio há poucos anos atrás, tendo publicado alguns trabalhos sobre suas descobertas em revistas especializadas e sites da Internet.
Presentes ao enterro estavam sua bela esposa, várias amigas do falecido e alguns parentes mais próximos.
A sua infeliz esposa, Naru Urashima - ex-Narusegawa - chorava sem parar diante do caixão, sendo amparada pelas suas amigas Mitsune Konno e Mutsumi Otohime, que vieram de Japão para participar do enterro. Elas estavam também muito comovidas e muito cansadas devido à longa viagem de avião, mas agüentavam como podiam.
A seu lado, uma linda adolescente chamada Shinobu Maehara estava começando a passar mal, sendo amparada por uma moça alta com cabelos negros lisos e por uma adolescente de cabelos loiros, olhos verdes e pele bem morena.
Todas elas tinham em comum o fato de terem morado há anos atrás numa hospedaria Hinata-sou e de terem conhecido Keitarô, que acabou tornando-se o gerente ("kanrinin") do estabelecimento.
E quase todas as jovens mulheres presentes no enterro também tinham em comum o fato de terem - em maior ou menor grau - se apaixonado por ele.
Um pouco mais distante do caixão, mas igualmente pesarosos, estavam o professor Noriyasu Seta - mentor do falecido, sua Esposa Haruka Urashima - tia de Keitarô - e a filha adotiva do casal, a jovem Sarah Mac Dougal. Junto com eles estavam os pais do falecido e uma velhinha que chorava silenciosamente a morte de seu neto. Ela era a vovó Hina, proprietária da antiga hospedaria da qual Keitarô foi "kanrinin" durante anos seguidos.
Havia mais uma pessoa presente no enterro: Uma estranha jovem totalmente vestida de preto e de roxo, carregando no colo uma gata preta com orelhas compridas.
Embora extremamente comovida, ela não disse palavra alguma e aparentemente não chorou uma lágrima sequer durante todo este tempo, não se misturando com os outros.
O momento mais pungente da cerimônia foi quando o sacerdote terminou os ritos finais e os funcionários do cemitério foram fechar o caixão ao seu lugar.
Todas as garotas choraram bastante e tanto Naru, como a jovem Shinobu Maehara tiveram que ser amparadas no momento em que a tampa foi fixada.
Os instantes finais pareceram durar uma eternidade para aqueles corações comovidos, mas nenhum dos presentes queria acreditar no que estava acontecendo e ninguém desejava que o caixão fosse de fato colocado no local aonde fora designado.
Mal ele havia sido baixado na sepultura e a primeira pá de terra havia sido jogada em cima dele, ouviu-se um grito pungente de dor e desespero:
- Por quê? Meu Deus! Por que ele se foi? Não, não é justo! - Dizia em voz alta a jovem viúva, chorando convulsivamente, sujando o seu longo e belo vestido negro ao ficar de joelhos no gramado agora úmido do cemitério.
Suas lágrimas e as dos presentes se misturavam com as primeiras gotas de chuva que começavam a cair naquele final de tarde.
Ao longe daquela cena, um homem trajando uma camiseta preta com um ideograma chinês pintado em branco, um blazer azul escuro, calças jeans surradas, usando óculos escuros e de tênis branco assistia a tudo, embora não fosse parente, amigo ou sequer conhecido da vítima.
Ele devia ter cerca de 30 anos, era muito alto - mais de um metro e oitenta e quatro - e tinha cabelos loiros compridos, presos num extravagante rabo de cavalo.
Escondido por debaixo do blazer, ele carregava uma pistola Beretta modelo 92 calibre 9 milímetros Parabellum para ser usada em casos de emergência.
E portava um documento, identificando-o como membro da divisão de homicídios do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD).
O rapaz loiro chamava-se Leon Orcot e era policial de carreira, embora sua aparência e visual não encorajasse esta descrição.
Ele se lembra que há um dia e meio, ele foi enviado numa manhã cinzenta para atender uma ocorrência 911 (emergência) no apartamento da jovem Naru Urashima, que estava à beira do desespero ao encontrar seu marido inconsciente, caído na entrada do banheiro.
Leon - após constatar a gravidade da situação - mandou chamar socorro imediatamente (a jovem esposa estava desesperada demais para pensar em qualquer outra coisa) e ajudou a levar o inconsciente Keitarô às pressas ao hospital mais próximo. Só que ele acabou não resistindo, vindo a falecer poucas horas mais tarde.
A causa mortis foi apontada como sendo uma congestão cerebral, não havendo evidências de qualquer circunstância externa, como ferimentos na cabeça ou uso de drogas.
A hipótese de assalto ou assassinato foi descartada, pelo fato de não haver marcas de violência ou objetos roubados no apartamento.
E segundo o testemunho da moça, o Sr. Urashima estava muito bem de saúde na véspera.
Leon entendeu que tinha feito o que podia, em termos de ajuda humanitária, inclusive indo ao enterro de uma pessoa que lhe era totalmente desconhecida.
Não havia muito que dizer à jovem que acabara de perder o seu marido e o caso do Senhor Urashima seria apenas mais uma estatística dos vários óbitos que ocorriam naquela grande cidade.
O caso dele estava fora do alcance da Divisão de Homicídios, já que aparentemente o rapaz falecera de causas naturais e não de morte violenta.
Ao se preparar para sair do cemitério, Leon reparou na grande quantidade de amigas que o finado tinha - e que haviam feito o sacrifício de pegar um vôo de última hora para poderem chegar a tempo no enterro.
Todas por sinal, muito bonitas, embora pessoalmente o policial preferisse as loiras com seios fartos e bundas proeminentes.
- Porra, como um cara magrela e feio daqueles podia ter tantas amigas lindas -sem contar a esposa, que é um autêntico avião? - Indagava-se o policial consigo mesmo, imaginando uma injustiça do destino.
Ele, Leon, - com todos seus atributos físicos invejáveis - tinha que se contentar apenas em ficar "admirando" os seus inúmeros pôsteres de revistas eróticas que infestavam o seu singelo apartamento aonde morava.
- Se um dia for morrer, gostaria de ser que nem ele: Ter traçado toda aquela mulherada! Este tal de Urashima deve ter sido um cara de sorte... - Monologava Leon sem saber da realidade enquanto se preparava para dar a partida em seu carro. Ironicamente um modelo esporte da mesma nacionalidade daqueles japas.
De temperamento fortemente pragmático, Leon não se preocupava em perder tempo com especulações metafísicas e nem tampouco com a realidade da vida e da morte.
As suas preocupações mais profundas - quando não estava numa missão - se resumiam em assistir programas de luta livre e de auditório na TV, entupir a barriga de cerveja, ler revistas pornôs e paquerar qualquer garota simpática que desse mole com ele.
Certo, ele tinha também a secretária do Departamento de Polícia - a bonita Jill - para encher a paciência, só que ela já estava por demais precavida contra as táticas do nosso policial.
Pensando no que iria fazer para gastar o resto de seu dia de folga, ele teria que passar a limpo o relatório do caso Maybach para o Departamento de Homicídios, mas estava de saco cheio para isto.
Escrever nunca foi o seu forte e somente se sentia inspirado quando podia reparar nas curvas do corpo de Jill.
Se ainda desse tempo para passar num supermercado, ele iria comprar algumas latas de cerveja, uma pizza de fango com catupiry, pacotes de batata-frita e meio quilo de bife para a janta. Sem esquecer de alugar uma fita de vídeo pornô hardcore na locadora mais próxima, para assistir à noite.
Antes de ir embora, Leon olha pela última vez para aquela viúva. Definitivamente para ele não lembrava nem um pouco uma japonesa típica - daquelas com o peito liso e a bunda que nem uma tábua. Para começar, o cabelo era meio ruivo, tinha um belo par de seios (grandes e macios, como Leon gostava) e uma bunda de fazer inveja a muita loira. Será que ela era mestiça? Pode ser.
Dando um suspiro, certo de que nunca mais veria aquela jovem senhora, Leon dá partida no motor do seu carro e volta para o centro da cidade. Amanhã seria um dia duro para ele - enfrentar uma bronca do seu chefe, escrever relatórios, visitar necrotérios e atender eventuais ocorrências. Los Angeles não era uma cidade exatamente pacífica e certamente teria muito serviço para o jovem policial fazer para o resto de sua vida.
CAPÍTULO 01:
Dor.
Dez dias mais tarde após o enterro...
Uma jovem ruiva de cabelos longos andava sem destino pelas ruas daquela cidade grande da América do Norte.
Naru Urashima estava inconsolável ao ver seu casamento - que se afigurava como a realização de uma grande promessa de infância - ter sido estilhaçado pelas garras do Destino.
Seu amado Keitarô se fora para a Eternidade e o vazio em sua vida era grande demais para ser preenchido pelas lembranças do passado que seu foi e pelas saudades de um futuro que não se concretizou.
Entre lágrimas, ela relembra dos quase oito anos aonde sua vida transcorrera normalmente, desde o primeiro dia em que conheceu Keitarô Urashima até o casamento.
Certo que nem sempre, a vida de casada era um mar de rosas.
De vez em quando, os dois ficavam vários dias sem se ver - ele em suas pesquisas arqueológicas nos desertos da Califórnia e ela ministrando aulas numa escola secundária particular, enquanto fazia pós-graduação em Direito Internacional na famosa University of Califórnia-Los Angeles (UCLA) - além de algumas brigas e discussões esporádicas por diferenças de gostos e temperamentos.
O salário de ambos era apenas ligeiramente suficiente para passar o mês e a vida continuava agitada como sempre.
Contudo, o amor que ambos sentiam era bastante forte e eles tinham a esperança de poder formar uma família amorosa e unida.
Já estavam pensando inclusive nos preparativos para o primeiro filho e ela tinha agendado uma visita ao ginecologista.
Contudo, tudo isto se desvaneceu diante da realidade da Morte.
Os primeiros dias após o enterro foram terríveis. Naru somente conseguiu suportá-los, graças a ajuda de suas amigas Mitsune e Mutsumi, que ficaram alguns dias junto com ela em seu apartamento, um pequeno dois quartos que ficava perto do bairro de Westwood, onde ficava a UCLA e vários colégios de renome.
A jovem Naru chorava todos os dias e dependia das amigas até para ter ânimo de trabalhar, comer, beber e dormir.
Mal cuidava da sua higiene pessoal e o seu rosto parecia com o de uma morta-viva. As olheiras e os cabelos desgrenhados enfeiavam aquela fisionomia outrora tão linda e tão cheia de vida.
Ela estava quase sempre deprimida, com breves surtos de agressividade. Caixas e cartelas de remédios começaram a fazer companhia na sua cabeceira, e durante aquela semana, ela ficou bêbada mais de uma vez. Só a presença das amigas impediu-a de fazer alguma besteira radical.
Embora estivessem igualmente abatidas pelo trágico incidente, Kitsune e Mutsumi estavam em melhores condições e na medida do possível cuidaram para que Naru não tivesse um colapso definitivo, fazendo-a viver.
Contudo, as suas amigas tiveram que ir embora para o Japão alguns dias depois, por motivos profissionais, e ela ficou novamente sozinha.
Neste intervalo, Naru Urashima pensou em várias coisas, como abandonar a sua bolsa de estudos, largar tudo e voltar para o Japão.
Só que faltavam poucos meses para terminar seu programa de pós-graduação e não podia se dar ao luxo de tomar uma decisão precipitada.
Ela estava iniciando uma carreira brilhante no mundo acadêmico e precisava incrementar o seu currículo para conseguir um emprego decente em qualquer Universidade e não podia errar.
Só que tudo isto agora pouco significava para Naru, cujos sonhos de felicidade haviam ruído como um frágil castelo de areia feito por crianças diante da chuva torrencial.
Por sorte, naquela tarde ela não iria ministrar nenhuma aula no elegante colégio aonde trabalhava. E sentia-se sem ânimo para digitar um trabalho escolar.
Após ter tomado um banho reforçado, escovado os dentes e fazer a maquilagem, Naru trocou de roupa e decidiu sair para espairecer a sua mente, tomando um táxi em direção ao centro da cidade.
Los Angeles era obviamente uma cidade gigantesca e o seu trânsito era caótico para quem não o conhecia. Cada bairro que compunha a metrópole era como se fosse uma cidade de porte médio dentro de um conjunto ainda mais gigantesco. Embora tivesse metrô e várias linhas de ônibus, o seu sistema de transporte era considerado mais problemático do que outras cidades como Paris ou Tóquio.
Naru morava num pequeno conjunto de apartamentos de classe média num bairro perto de Westwood. E ironicamente, desde que chegou a Los Angeles, ainda conhecia muito pouco desta enorme cidade.
Por não saber dirigir, Naru costumava ir de ônibus ou de carona para a UCLA e o colégio onde estava empregada como professora substituta de meio período ficava a uns quinze minutos de caminhada. Ela ainda teve sorte - apesar do aluguel do pequeno apartamento ser uma facada - já que muitos estudantes estrangeiros que vinham estudar em Los Angeles somente conseguiam vagas em casas que ficavam no mínimo a 45 minutos de distância da Universidade, cujos alojamentos viviam sempre lotados.
Enquanto Keitarô estava vivo, a sua rotina diária era a seguinte: Acordava cedo, tomava uma ducha rápida, fazia o desjejum e dependendo da grade de aulas, ia ou na UCLA ou no Colégio aonde lecionava matemática como professora para uma classe de segundo grau.
Embora fosse meio incomum para uma aluna de Direito, o fato era que Naru sempre se deu bem em todas as matérias que estudava, tendo sido a melhor aluna do Japão em sua época, o que fez ela ser aprovada com relativa facilidade.
Em seguida, ela almoçava no campus ou num pequeno restaurante localizado perto do colégio aonde trabalhava. Na parte da tarde, mais aulas, trabalhos acadêmicos ou reuniões com supervisores.
Depois, quando tinha tempo, voltava para o apartamento para fazer uma janta rápida, tomar uma ducha e voltar de novo para a Universidade. A sua jornada terminava perto da meia noite. Apenas tinha tempo livre nos sábados à tarde ou nos domingos.
Ironicamente, Naru pouco conhecia dos principais pontos da segunda maior cidade dos Estados Unidos. Nunca foi à celebríssima Hollywood e nem deu um passeio sequer no badaladíssimo bairro de Beverly Hills.
Pelo fato de seu marido andar sempre ocupado - e duro - e dela não saber dirigir, Naru não teve a oportunidade de visitar as praias de Santa Monica e Malibu, fazer uma visitinha ao Yosemite Park ou freqüentar algum evento no Hollywood Bowl. O único "cartão-postal" que conhecia da histórica cidade era a UCLA e olhe lá.
Apenas uma ou duas vezes pôde ir à Little Tokyo, o centro cultural e comercial da colônia japonesa de Los Angeles, similar ao Bairro da Liberdade em São Paulo, e mesmo assim apenas para comprar livros e fazer compras.
Andando sem rumo, ela relembra várias passagens de sua vida junto com Keitarô, começando pelo desastrado incidente da chegada dele na pensão Hinata - quando foi confundido com um tarado ao entrar no banho feminino onde ela estava no momento - as brigas do início, o fracasso de ambos no vestibular de 1999, a longa viagem até Okinawa, a primeira vez em que saíra junto com ele para passear, o primeiro beijo, a primeira declaração de amor dele, a sua resposta que somente veio meses depois...
Até culminar na cerimônia de casamento e na romântica lua de mel, numa ilha paradisíaca.
Em lágrimas, ela lembrava que o seu sonho era de ter três filhos com o seu futuro marido: - duas meninas e um menino - e que planejava lecionar para os jovens quando terminasse os estudos de pós-graduação.
Na realidade, Naru estava até superando a si mesma: Havia se formado entre os primeiros de sua turma de Direito na prestigiosa Universidade de Tóquio e conseguiu em seguida uma bolsa para fazer pós-graduação nos Estados Unidos, em Los Angeles.
A decisão de se separar da turma de garotas com a qual convivera durante vários anos não foi fácil, mas Keitarô havia conseguido um importante trabalho a ser feito no Oeste dos Estados Unidos, graças à influência do seu mentor e professor Noriyasu Seta, que tinha alguns contatos por lá.
Depois, ele já conhecia Los Angeles, pelo fato de ter trabalhado junto com o professor durante seis meses num programa de intercâmbio, entre Novembro de 2000 a Abril de 2001, quando se ausentou da pensão Hinata e Naru assumiu temporariamente o cargo de "kanrinin".
A atual transferência de Keitarô para os EUA veio a calhar, estando ele ocupado com o estudo das antigas tribos indígenas dos Desertos do Oeste daquele país.
De repente, entre as lembranças do passado, veio um pensamento bobo:
Será que as meninas da Pensão sentiram falta do atrapalhado, pervertido e desastrado ex-kanrinin do Hinata Sou?
Tudo bem, elas devem ter se acostumado com o tempo - era o que Naru pensava.
Afinal de contas, antes mesmo de casar com Keitarô, ele já vivia viajando constantemente, passando metade do tempo fora do Japão, entre as Ilhas Pararacelso e Moldol.
Sua velha amiga Mutsumi ainda estava terminando os estudos na Toudai e iria se formar em breve. Talvez voltasse para Okinawa para morar com a família a família ou talvez continuasse em Tóquio, caso conseguisse algum emprego fixo por lá.
A aloprada Kaolla dividia o seu tempo entre as aulas da faculdade e a continuação do projeto Mecha-Tama. Mais dia ou menos dia, ela voltaria ao seu país de origem e se casaria por lá, tornando-se rainha.
A Motoko estava ganhando popularidade junto ao público juvenil como escritora e roteirista de histórias de samurais, e até a pequena Shinobu estava às voltas com seus novos admiradores depois que se transformou numa linda mulher.
Apenas sua velha amiga Mitsune Konno continuava a mesma, dirigindo a casa de chá Hinata, com os seus instáveis e efêmeros casos amorosos.
A freqüência de apostas em corridas de cavalo e das bebidas caíra drasticamente, depois que ela teve que aprender a ser mais responsável em assuntos financeiros.
Se Mitsune soubesse tocar a casa de chá direitinho, daria para ela viver decentemente sem ter que viver correndo para lá e para cá como fazia antes - pensava Naru, que, a despeito da irresponsabilidade de sua amiga, continuava gostando muito dela.
Quanto tempo teria se passado? Minutos? Horas?
Naru somente tinha percebido que já estava no bairro de Chinatown quando notara os luminosos com caracteres chineses, as fachadas ricamente ornamentadas e as lojinhas aonde podiam encontrar qualquer coisa que desafiasse a imaginação.
Ela sentiu ao mesmo tempo um misto de ansiedade e de medo.
Ansiedade porque já ouvira falar da fama deste bairro e pensara em conhecê-lo profundamente, talvez convidando Keitarô para jantar num restaurante típico ou passar na feira de rua no final de semana aonde se vendia praticamente de tudo.
Só que nunca tiveram uma oportunidade... As aulas e as escavações consumiam boa parte do tempo livre de ambos.
Medo porque Naru também sabia da fama do lado sombrio desta miríade de casas e lojinhas peculiares incrustadas entre prédios modernos e arranha-céus feitos de aço e de vidro fumê, que abrigavam poderosas corporações e sociedades secretas mortíferas.
Ela suspeitava inclusive que seu ex-tutor Seta - e a tia de Keitarô, Haruka - tivesse cruzado o caminho destas organizações malignas em seus dias de aventureiros, há vários anos atrás.
Chinatown era também conhecida por suas histórias misteriosas, pelos seus becos escuros e pelo fato de que as regras da chamada civilização ocidental não funcionavam por lá.
Mesmo a polícia mantinha-se à parte daquele bairro, limitando-se a patrulhar as ruas e atender acontecimentos de rotina.
Apenas crimes banais como brigas de vizinhos, bebedeiras e pequenos roubos tinham chances de serem resolvidos, e mesmo assim, se fossem óbvios demais.
A lei do silêncio que imperava na comunidade sino-asiática impedia que casos mais "pesados" fossem desvendados, deixando a Lei de mãos atadas.
E Naru sabia muito bem disto, como estudante de Direito.
O anonimato das multidões de rostos desconhecidos e inexpressivos que se apertavam nas ruas e vielas era simplesmente opressivo.
Ela se assustou ao ver na rua uma jovem adolescente extravagantemente vestida e maquilada como uma prostituta - que não tinha mais do que 14 anos e estava drogada - ser empurrada para dentro de uma limosine por um rapaz de óculos escuros, e vestido com roupas de grife - provavelmente um cafetão ou membro de gangue.
E em seguida, ela quase tropeça num velhinho vestido em trajes rústicos que levava num recipiente de vidro uma porção de aranhas. Seria uma extravagância ou aqueles bichos nojentos iriam fazer parte de algum prato exótico ou de algum remédio bizarro?
Já estava escurecendo rapidamente e ela ficou com medo de se perder num bairro que nem conhecia direito.
Voltar de ônibus em plena hora do rush estava fora de questão. Os coletivos viviam sempre lotados e Naru morria de medo de se confundir e pegar o ônibus errado. A única linha que estava acostumada era a que levava de sua casa para a universidade.
Quanto ao metrô, Naru nunca havia usado-o em Los Angeles e não estava habituada com as baldeações. Neste ponto, ela estava mais acostumada com Tóquio que com a metrópole americana.
Naru tentou chamar um táxi dentre os vários que estavam na rua, só que, ou alguém já tinha chamado eles ou alguma pessoa conseguia pegar o veículo antes dela. Pegar um táxi na hora do rush no centro da cidade era quase que um milagre.
Como último recurso, ela tentou chamar um rádio-táxi pelo seu celular. Só que ao abrir a sua bolsa, ela percebe que esqueceu o aparelho no apartamento.
Praguejando a si mesma, ela tinha duas opções: arriscar-se a andar pelas ruas até encontrar um ponto de táxi - o que era arriscado na hora do rush - ou conseguir entrar em algum estabelecimento comercial e ter a sorte de convencer alguma boa alma a deixar ela usar o telefone.
Olhares cobiçosos de homens maduros começavam a reparar em sua figura elegantemente vestida e em seu belo corpo, bem proporcionado.
A jovem viúva - com vergonha - continuava o seu caminho sem saber direito aonde ia, ignorando as cantadas maliciosas de adolescentes desocupados e até mesmo de alguns indivíduos bem vestidos, atraídos por sua beleza singular.
De súbito, ela sente-se chamada por uma tabuleta escrita tanto em chinês como em inglês. O aviso indicava a entrada de uma pequena loja decorada ao estilo oriental e as portas de fino acabamento ainda estavam abertas.
Pelo menos o exterior indicava mais confiabilidade do que os toscos prédios vizinhos, nos quais abrigavam mercadinhos, lojas de quinquilharias e Deus sabe lá mais o quê.
Em cima da tabuleta se lia: "Count D's Pet Shop".
Sem saber direito o que estava fazendo, Naru decide entrar neste local.
DESPEDIDA
FanFic escrita por: Calerom
Início: 23/09/2003 - 1a Versão
Versão Atual: 28/09/2003. -1.1.
Final:
E-Mail: myamauchi1969@yahoo.com.br
Créditos:
Love Hina: História original por Ken Akamatsu.
Versão em TV/Ova: Xebec Studios / TV Tokyo
Pet Shop of Horrors: História original por Matsuri Akino.
Versão em vídeo: Dark House.
Observação:
Esta obra foi feita única e exclusivamente como um fanfic para entretenimento pessoal e dos leitores. Obviamente tanto a série Love Hina como Pet Shop of Horrors não me pertencem, sendo de propriedade dos autores citados acima. .
Quaisquer personagens que não constam nas séries citadas acima, quaisquer que sejam suas versões são de minha criação pessoal. Eles são totalmente fictícios, sendo qualquer semelhança com nomes, fatos e datas, mera coincidência.
Rating:
PG-13. Contém uma temática forte (drama misturado com sobrenatural), descrição de mortes violentas, linguagem grosseira (quase todos vindos do personagem Leon) e situações eróticas.
PRÓLOGO:
Despedida.
Era uma tarde triste de outono. Os raios de sol que tentavam aparecer ao longo do horizonte tingiam de vermelho, azul-escuro e dourado as bordas das nuvens que prenunciavam uma tempestade iminente.
Num pequeno cemitério localizado na periferia da cidade de Los Angeles, Estados Unidos, um caixão aguardava para ser baixado à sepultura e o seu ocupante, para as despedidas finais.
Diante dele, um idoso sacerdote pronunciava os ritos finais na presença de um grupo de pessoas vestidas de preto que acompanhavam em doloroso silêncio o momento de dizer adeus.
O nome do recém-falecido era Keitarô Urashima.
Era um jovem de origem japonesa e devia pouco mais de 27 anos de idade, não fazendo mais do que um ano que estava morando nos Estados Unidos.
Era arqueólogo de profissão, formado pela Universidade de Tóquio há poucos anos atrás, tendo publicado alguns trabalhos sobre suas descobertas em revistas especializadas e sites da Internet.
Presentes ao enterro estavam sua bela esposa, várias amigas do falecido e alguns parentes mais próximos.
A sua infeliz esposa, Naru Urashima - ex-Narusegawa - chorava sem parar diante do caixão, sendo amparada pelas suas amigas Mitsune Konno e Mutsumi Otohime, que vieram de Japão para participar do enterro. Elas estavam também muito comovidas e muito cansadas devido à longa viagem de avião, mas agüentavam como podiam.
A seu lado, uma linda adolescente chamada Shinobu Maehara estava começando a passar mal, sendo amparada por uma moça alta com cabelos negros lisos e por uma adolescente de cabelos loiros, olhos verdes e pele bem morena.
Todas elas tinham em comum o fato de terem morado há anos atrás numa hospedaria Hinata-sou e de terem conhecido Keitarô, que acabou tornando-se o gerente ("kanrinin") do estabelecimento.
E quase todas as jovens mulheres presentes no enterro também tinham em comum o fato de terem - em maior ou menor grau - se apaixonado por ele.
Um pouco mais distante do caixão, mas igualmente pesarosos, estavam o professor Noriyasu Seta - mentor do falecido, sua Esposa Haruka Urashima - tia de Keitarô - e a filha adotiva do casal, a jovem Sarah Mac Dougal. Junto com eles estavam os pais do falecido e uma velhinha que chorava silenciosamente a morte de seu neto. Ela era a vovó Hina, proprietária da antiga hospedaria da qual Keitarô foi "kanrinin" durante anos seguidos.
Havia mais uma pessoa presente no enterro: Uma estranha jovem totalmente vestida de preto e de roxo, carregando no colo uma gata preta com orelhas compridas.
Embora extremamente comovida, ela não disse palavra alguma e aparentemente não chorou uma lágrima sequer durante todo este tempo, não se misturando com os outros.
O momento mais pungente da cerimônia foi quando o sacerdote terminou os ritos finais e os funcionários do cemitério foram fechar o caixão ao seu lugar.
Todas as garotas choraram bastante e tanto Naru, como a jovem Shinobu Maehara tiveram que ser amparadas no momento em que a tampa foi fixada.
Os instantes finais pareceram durar uma eternidade para aqueles corações comovidos, mas nenhum dos presentes queria acreditar no que estava acontecendo e ninguém desejava que o caixão fosse de fato colocado no local aonde fora designado.
Mal ele havia sido baixado na sepultura e a primeira pá de terra havia sido jogada em cima dele, ouviu-se um grito pungente de dor e desespero:
- Por quê? Meu Deus! Por que ele se foi? Não, não é justo! - Dizia em voz alta a jovem viúva, chorando convulsivamente, sujando o seu longo e belo vestido negro ao ficar de joelhos no gramado agora úmido do cemitério.
Suas lágrimas e as dos presentes se misturavam com as primeiras gotas de chuva que começavam a cair naquele final de tarde.
Ao longe daquela cena, um homem trajando uma camiseta preta com um ideograma chinês pintado em branco, um blazer azul escuro, calças jeans surradas, usando óculos escuros e de tênis branco assistia a tudo, embora não fosse parente, amigo ou sequer conhecido da vítima.
Ele devia ter cerca de 30 anos, era muito alto - mais de um metro e oitenta e quatro - e tinha cabelos loiros compridos, presos num extravagante rabo de cavalo.
Escondido por debaixo do blazer, ele carregava uma pistola Beretta modelo 92 calibre 9 milímetros Parabellum para ser usada em casos de emergência.
E portava um documento, identificando-o como membro da divisão de homicídios do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD).
O rapaz loiro chamava-se Leon Orcot e era policial de carreira, embora sua aparência e visual não encorajasse esta descrição.
Ele se lembra que há um dia e meio, ele foi enviado numa manhã cinzenta para atender uma ocorrência 911 (emergência) no apartamento da jovem Naru Urashima, que estava à beira do desespero ao encontrar seu marido inconsciente, caído na entrada do banheiro.
Leon - após constatar a gravidade da situação - mandou chamar socorro imediatamente (a jovem esposa estava desesperada demais para pensar em qualquer outra coisa) e ajudou a levar o inconsciente Keitarô às pressas ao hospital mais próximo. Só que ele acabou não resistindo, vindo a falecer poucas horas mais tarde.
A causa mortis foi apontada como sendo uma congestão cerebral, não havendo evidências de qualquer circunstância externa, como ferimentos na cabeça ou uso de drogas.
A hipótese de assalto ou assassinato foi descartada, pelo fato de não haver marcas de violência ou objetos roubados no apartamento.
E segundo o testemunho da moça, o Sr. Urashima estava muito bem de saúde na véspera.
Leon entendeu que tinha feito o que podia, em termos de ajuda humanitária, inclusive indo ao enterro de uma pessoa que lhe era totalmente desconhecida.
Não havia muito que dizer à jovem que acabara de perder o seu marido e o caso do Senhor Urashima seria apenas mais uma estatística dos vários óbitos que ocorriam naquela grande cidade.
O caso dele estava fora do alcance da Divisão de Homicídios, já que aparentemente o rapaz falecera de causas naturais e não de morte violenta.
Ao se preparar para sair do cemitério, Leon reparou na grande quantidade de amigas que o finado tinha - e que haviam feito o sacrifício de pegar um vôo de última hora para poderem chegar a tempo no enterro.
Todas por sinal, muito bonitas, embora pessoalmente o policial preferisse as loiras com seios fartos e bundas proeminentes.
- Porra, como um cara magrela e feio daqueles podia ter tantas amigas lindas -sem contar a esposa, que é um autêntico avião? - Indagava-se o policial consigo mesmo, imaginando uma injustiça do destino.
Ele, Leon, - com todos seus atributos físicos invejáveis - tinha que se contentar apenas em ficar "admirando" os seus inúmeros pôsteres de revistas eróticas que infestavam o seu singelo apartamento aonde morava.
- Se um dia for morrer, gostaria de ser que nem ele: Ter traçado toda aquela mulherada! Este tal de Urashima deve ter sido um cara de sorte... - Monologava Leon sem saber da realidade enquanto se preparava para dar a partida em seu carro. Ironicamente um modelo esporte da mesma nacionalidade daqueles japas.
De temperamento fortemente pragmático, Leon não se preocupava em perder tempo com especulações metafísicas e nem tampouco com a realidade da vida e da morte.
As suas preocupações mais profundas - quando não estava numa missão - se resumiam em assistir programas de luta livre e de auditório na TV, entupir a barriga de cerveja, ler revistas pornôs e paquerar qualquer garota simpática que desse mole com ele.
Certo, ele tinha também a secretária do Departamento de Polícia - a bonita Jill - para encher a paciência, só que ela já estava por demais precavida contra as táticas do nosso policial.
Pensando no que iria fazer para gastar o resto de seu dia de folga, ele teria que passar a limpo o relatório do caso Maybach para o Departamento de Homicídios, mas estava de saco cheio para isto.
Escrever nunca foi o seu forte e somente se sentia inspirado quando podia reparar nas curvas do corpo de Jill.
Se ainda desse tempo para passar num supermercado, ele iria comprar algumas latas de cerveja, uma pizza de fango com catupiry, pacotes de batata-frita e meio quilo de bife para a janta. Sem esquecer de alugar uma fita de vídeo pornô hardcore na locadora mais próxima, para assistir à noite.
Antes de ir embora, Leon olha pela última vez para aquela viúva. Definitivamente para ele não lembrava nem um pouco uma japonesa típica - daquelas com o peito liso e a bunda que nem uma tábua. Para começar, o cabelo era meio ruivo, tinha um belo par de seios (grandes e macios, como Leon gostava) e uma bunda de fazer inveja a muita loira. Será que ela era mestiça? Pode ser.
Dando um suspiro, certo de que nunca mais veria aquela jovem senhora, Leon dá partida no motor do seu carro e volta para o centro da cidade. Amanhã seria um dia duro para ele - enfrentar uma bronca do seu chefe, escrever relatórios, visitar necrotérios e atender eventuais ocorrências. Los Angeles não era uma cidade exatamente pacífica e certamente teria muito serviço para o jovem policial fazer para o resto de sua vida.
CAPÍTULO 01:
Dor.
Dez dias mais tarde após o enterro...
Uma jovem ruiva de cabelos longos andava sem destino pelas ruas daquela cidade grande da América do Norte.
Naru Urashima estava inconsolável ao ver seu casamento - que se afigurava como a realização de uma grande promessa de infância - ter sido estilhaçado pelas garras do Destino.
Seu amado Keitarô se fora para a Eternidade e o vazio em sua vida era grande demais para ser preenchido pelas lembranças do passado que seu foi e pelas saudades de um futuro que não se concretizou.
Entre lágrimas, ela relembra dos quase oito anos aonde sua vida transcorrera normalmente, desde o primeiro dia em que conheceu Keitarô Urashima até o casamento.
Certo que nem sempre, a vida de casada era um mar de rosas.
De vez em quando, os dois ficavam vários dias sem se ver - ele em suas pesquisas arqueológicas nos desertos da Califórnia e ela ministrando aulas numa escola secundária particular, enquanto fazia pós-graduação em Direito Internacional na famosa University of Califórnia-Los Angeles (UCLA) - além de algumas brigas e discussões esporádicas por diferenças de gostos e temperamentos.
O salário de ambos era apenas ligeiramente suficiente para passar o mês e a vida continuava agitada como sempre.
Contudo, o amor que ambos sentiam era bastante forte e eles tinham a esperança de poder formar uma família amorosa e unida.
Já estavam pensando inclusive nos preparativos para o primeiro filho e ela tinha agendado uma visita ao ginecologista.
Contudo, tudo isto se desvaneceu diante da realidade da Morte.
Os primeiros dias após o enterro foram terríveis. Naru somente conseguiu suportá-los, graças a ajuda de suas amigas Mitsune e Mutsumi, que ficaram alguns dias junto com ela em seu apartamento, um pequeno dois quartos que ficava perto do bairro de Westwood, onde ficava a UCLA e vários colégios de renome.
A jovem Naru chorava todos os dias e dependia das amigas até para ter ânimo de trabalhar, comer, beber e dormir.
Mal cuidava da sua higiene pessoal e o seu rosto parecia com o de uma morta-viva. As olheiras e os cabelos desgrenhados enfeiavam aquela fisionomia outrora tão linda e tão cheia de vida.
Ela estava quase sempre deprimida, com breves surtos de agressividade. Caixas e cartelas de remédios começaram a fazer companhia na sua cabeceira, e durante aquela semana, ela ficou bêbada mais de uma vez. Só a presença das amigas impediu-a de fazer alguma besteira radical.
Embora estivessem igualmente abatidas pelo trágico incidente, Kitsune e Mutsumi estavam em melhores condições e na medida do possível cuidaram para que Naru não tivesse um colapso definitivo, fazendo-a viver.
Contudo, as suas amigas tiveram que ir embora para o Japão alguns dias depois, por motivos profissionais, e ela ficou novamente sozinha.
Neste intervalo, Naru Urashima pensou em várias coisas, como abandonar a sua bolsa de estudos, largar tudo e voltar para o Japão.
Só que faltavam poucos meses para terminar seu programa de pós-graduação e não podia se dar ao luxo de tomar uma decisão precipitada.
Ela estava iniciando uma carreira brilhante no mundo acadêmico e precisava incrementar o seu currículo para conseguir um emprego decente em qualquer Universidade e não podia errar.
Só que tudo isto agora pouco significava para Naru, cujos sonhos de felicidade haviam ruído como um frágil castelo de areia feito por crianças diante da chuva torrencial.
Por sorte, naquela tarde ela não iria ministrar nenhuma aula no elegante colégio aonde trabalhava. E sentia-se sem ânimo para digitar um trabalho escolar.
Após ter tomado um banho reforçado, escovado os dentes e fazer a maquilagem, Naru trocou de roupa e decidiu sair para espairecer a sua mente, tomando um táxi em direção ao centro da cidade.
Los Angeles era obviamente uma cidade gigantesca e o seu trânsito era caótico para quem não o conhecia. Cada bairro que compunha a metrópole era como se fosse uma cidade de porte médio dentro de um conjunto ainda mais gigantesco. Embora tivesse metrô e várias linhas de ônibus, o seu sistema de transporte era considerado mais problemático do que outras cidades como Paris ou Tóquio.
Naru morava num pequeno conjunto de apartamentos de classe média num bairro perto de Westwood. E ironicamente, desde que chegou a Los Angeles, ainda conhecia muito pouco desta enorme cidade.
Por não saber dirigir, Naru costumava ir de ônibus ou de carona para a UCLA e o colégio onde estava empregada como professora substituta de meio período ficava a uns quinze minutos de caminhada. Ela ainda teve sorte - apesar do aluguel do pequeno apartamento ser uma facada - já que muitos estudantes estrangeiros que vinham estudar em Los Angeles somente conseguiam vagas em casas que ficavam no mínimo a 45 minutos de distância da Universidade, cujos alojamentos viviam sempre lotados.
Enquanto Keitarô estava vivo, a sua rotina diária era a seguinte: Acordava cedo, tomava uma ducha rápida, fazia o desjejum e dependendo da grade de aulas, ia ou na UCLA ou no Colégio aonde lecionava matemática como professora para uma classe de segundo grau.
Embora fosse meio incomum para uma aluna de Direito, o fato era que Naru sempre se deu bem em todas as matérias que estudava, tendo sido a melhor aluna do Japão em sua época, o que fez ela ser aprovada com relativa facilidade.
Em seguida, ela almoçava no campus ou num pequeno restaurante localizado perto do colégio aonde trabalhava. Na parte da tarde, mais aulas, trabalhos acadêmicos ou reuniões com supervisores.
Depois, quando tinha tempo, voltava para o apartamento para fazer uma janta rápida, tomar uma ducha e voltar de novo para a Universidade. A sua jornada terminava perto da meia noite. Apenas tinha tempo livre nos sábados à tarde ou nos domingos.
Ironicamente, Naru pouco conhecia dos principais pontos da segunda maior cidade dos Estados Unidos. Nunca foi à celebríssima Hollywood e nem deu um passeio sequer no badaladíssimo bairro de Beverly Hills.
Pelo fato de seu marido andar sempre ocupado - e duro - e dela não saber dirigir, Naru não teve a oportunidade de visitar as praias de Santa Monica e Malibu, fazer uma visitinha ao Yosemite Park ou freqüentar algum evento no Hollywood Bowl. O único "cartão-postal" que conhecia da histórica cidade era a UCLA e olhe lá.
Apenas uma ou duas vezes pôde ir à Little Tokyo, o centro cultural e comercial da colônia japonesa de Los Angeles, similar ao Bairro da Liberdade em São Paulo, e mesmo assim apenas para comprar livros e fazer compras.
Andando sem rumo, ela relembra várias passagens de sua vida junto com Keitarô, começando pelo desastrado incidente da chegada dele na pensão Hinata - quando foi confundido com um tarado ao entrar no banho feminino onde ela estava no momento - as brigas do início, o fracasso de ambos no vestibular de 1999, a longa viagem até Okinawa, a primeira vez em que saíra junto com ele para passear, o primeiro beijo, a primeira declaração de amor dele, a sua resposta que somente veio meses depois...
Até culminar na cerimônia de casamento e na romântica lua de mel, numa ilha paradisíaca.
Em lágrimas, ela lembrava que o seu sonho era de ter três filhos com o seu futuro marido: - duas meninas e um menino - e que planejava lecionar para os jovens quando terminasse os estudos de pós-graduação.
Na realidade, Naru estava até superando a si mesma: Havia se formado entre os primeiros de sua turma de Direito na prestigiosa Universidade de Tóquio e conseguiu em seguida uma bolsa para fazer pós-graduação nos Estados Unidos, em Los Angeles.
A decisão de se separar da turma de garotas com a qual convivera durante vários anos não foi fácil, mas Keitarô havia conseguido um importante trabalho a ser feito no Oeste dos Estados Unidos, graças à influência do seu mentor e professor Noriyasu Seta, que tinha alguns contatos por lá.
Depois, ele já conhecia Los Angeles, pelo fato de ter trabalhado junto com o professor durante seis meses num programa de intercâmbio, entre Novembro de 2000 a Abril de 2001, quando se ausentou da pensão Hinata e Naru assumiu temporariamente o cargo de "kanrinin".
A atual transferência de Keitarô para os EUA veio a calhar, estando ele ocupado com o estudo das antigas tribos indígenas dos Desertos do Oeste daquele país.
De repente, entre as lembranças do passado, veio um pensamento bobo:
Será que as meninas da Pensão sentiram falta do atrapalhado, pervertido e desastrado ex-kanrinin do Hinata Sou?
Tudo bem, elas devem ter se acostumado com o tempo - era o que Naru pensava.
Afinal de contas, antes mesmo de casar com Keitarô, ele já vivia viajando constantemente, passando metade do tempo fora do Japão, entre as Ilhas Pararacelso e Moldol.
Sua velha amiga Mutsumi ainda estava terminando os estudos na Toudai e iria se formar em breve. Talvez voltasse para Okinawa para morar com a família a família ou talvez continuasse em Tóquio, caso conseguisse algum emprego fixo por lá.
A aloprada Kaolla dividia o seu tempo entre as aulas da faculdade e a continuação do projeto Mecha-Tama. Mais dia ou menos dia, ela voltaria ao seu país de origem e se casaria por lá, tornando-se rainha.
A Motoko estava ganhando popularidade junto ao público juvenil como escritora e roteirista de histórias de samurais, e até a pequena Shinobu estava às voltas com seus novos admiradores depois que se transformou numa linda mulher.
Apenas sua velha amiga Mitsune Konno continuava a mesma, dirigindo a casa de chá Hinata, com os seus instáveis e efêmeros casos amorosos.
A freqüência de apostas em corridas de cavalo e das bebidas caíra drasticamente, depois que ela teve que aprender a ser mais responsável em assuntos financeiros.
Se Mitsune soubesse tocar a casa de chá direitinho, daria para ela viver decentemente sem ter que viver correndo para lá e para cá como fazia antes - pensava Naru, que, a despeito da irresponsabilidade de sua amiga, continuava gostando muito dela.
Quanto tempo teria se passado? Minutos? Horas?
Naru somente tinha percebido que já estava no bairro de Chinatown quando notara os luminosos com caracteres chineses, as fachadas ricamente ornamentadas e as lojinhas aonde podiam encontrar qualquer coisa que desafiasse a imaginação.
Ela sentiu ao mesmo tempo um misto de ansiedade e de medo.
Ansiedade porque já ouvira falar da fama deste bairro e pensara em conhecê-lo profundamente, talvez convidando Keitarô para jantar num restaurante típico ou passar na feira de rua no final de semana aonde se vendia praticamente de tudo.
Só que nunca tiveram uma oportunidade... As aulas e as escavações consumiam boa parte do tempo livre de ambos.
Medo porque Naru também sabia da fama do lado sombrio desta miríade de casas e lojinhas peculiares incrustadas entre prédios modernos e arranha-céus feitos de aço e de vidro fumê, que abrigavam poderosas corporações e sociedades secretas mortíferas.
Ela suspeitava inclusive que seu ex-tutor Seta - e a tia de Keitarô, Haruka - tivesse cruzado o caminho destas organizações malignas em seus dias de aventureiros, há vários anos atrás.
Chinatown era também conhecida por suas histórias misteriosas, pelos seus becos escuros e pelo fato de que as regras da chamada civilização ocidental não funcionavam por lá.
Mesmo a polícia mantinha-se à parte daquele bairro, limitando-se a patrulhar as ruas e atender acontecimentos de rotina.
Apenas crimes banais como brigas de vizinhos, bebedeiras e pequenos roubos tinham chances de serem resolvidos, e mesmo assim, se fossem óbvios demais.
A lei do silêncio que imperava na comunidade sino-asiática impedia que casos mais "pesados" fossem desvendados, deixando a Lei de mãos atadas.
E Naru sabia muito bem disto, como estudante de Direito.
O anonimato das multidões de rostos desconhecidos e inexpressivos que se apertavam nas ruas e vielas era simplesmente opressivo.
Ela se assustou ao ver na rua uma jovem adolescente extravagantemente vestida e maquilada como uma prostituta - que não tinha mais do que 14 anos e estava drogada - ser empurrada para dentro de uma limosine por um rapaz de óculos escuros, e vestido com roupas de grife - provavelmente um cafetão ou membro de gangue.
E em seguida, ela quase tropeça num velhinho vestido em trajes rústicos que levava num recipiente de vidro uma porção de aranhas. Seria uma extravagância ou aqueles bichos nojentos iriam fazer parte de algum prato exótico ou de algum remédio bizarro?
Já estava escurecendo rapidamente e ela ficou com medo de se perder num bairro que nem conhecia direito.
Voltar de ônibus em plena hora do rush estava fora de questão. Os coletivos viviam sempre lotados e Naru morria de medo de se confundir e pegar o ônibus errado. A única linha que estava acostumada era a que levava de sua casa para a universidade.
Quanto ao metrô, Naru nunca havia usado-o em Los Angeles e não estava habituada com as baldeações. Neste ponto, ela estava mais acostumada com Tóquio que com a metrópole americana.
Naru tentou chamar um táxi dentre os vários que estavam na rua, só que, ou alguém já tinha chamado eles ou alguma pessoa conseguia pegar o veículo antes dela. Pegar um táxi na hora do rush no centro da cidade era quase que um milagre.
Como último recurso, ela tentou chamar um rádio-táxi pelo seu celular. Só que ao abrir a sua bolsa, ela percebe que esqueceu o aparelho no apartamento.
Praguejando a si mesma, ela tinha duas opções: arriscar-se a andar pelas ruas até encontrar um ponto de táxi - o que era arriscado na hora do rush - ou conseguir entrar em algum estabelecimento comercial e ter a sorte de convencer alguma boa alma a deixar ela usar o telefone.
Olhares cobiçosos de homens maduros começavam a reparar em sua figura elegantemente vestida e em seu belo corpo, bem proporcionado.
A jovem viúva - com vergonha - continuava o seu caminho sem saber direito aonde ia, ignorando as cantadas maliciosas de adolescentes desocupados e até mesmo de alguns indivíduos bem vestidos, atraídos por sua beleza singular.
De súbito, ela sente-se chamada por uma tabuleta escrita tanto em chinês como em inglês. O aviso indicava a entrada de uma pequena loja decorada ao estilo oriental e as portas de fino acabamento ainda estavam abertas.
Pelo menos o exterior indicava mais confiabilidade do que os toscos prédios vizinhos, nos quais abrigavam mercadinhos, lojas de quinquilharias e Deus sabe lá mais o quê.
Em cima da tabuleta se lia: "Count D's Pet Shop".
Sem saber direito o que estava fazendo, Naru decide entrar neste local.
