Sua dor é a minha dor

Em seu quarto de paredes riscadas, cama bagunçada e mesa revirada, Samantha Puckett escrevia, apressadamente, em seu diário surrado, palavras que transpareciam seus verdadeiros sentimentos. Naquela noite, ela estava decidida a ir em busca de seu grande e único amor, e as palavras que estavam entaladas há algum tempo, em sua garganta, iriam sair de uma vez por todas. "Finalmente vou ter o que quero e preciso", pensou Samantha.

Era noite, e ela já estava pronta. Colocou seu melhor casaco, arrancou uma folha rabiscada de seu diário, amassou-a, colocou em seu bolso e partiu. O vento batia forte em seus cabelos loiros e longos, que chicoteavam em seu rosto. Seu semblante estava estampado de alegria, em um nível absurdo. Ela não via a hora de toda essa expectativa acabar. Então, finalmente chegou ao seu destino final – o apartamento de Freduardo Benson.

Não era típico de Samantha ser educada, então ela abriu a porta e entrou em busca do quarto de Freduardo. Ao chegar lá, escutou algumas vozes, e resolveu ver o que estava acontecendo. Mas para sua surpresa viu uma coisa que nunca gostaria de ter visto - Carly dizia em uma voz baixa e fria: "Ela não te merece", e logo em seguida beijou Freduardo calorosamente. Aquilo foi o fim de tudo. Samantha não acreditou no que tinha acabado de assistir: Sua melhor amiga que, aliás, estava namorando há um mês, e o grande amor de sua vida, se beijando. E a única coisa que se ouviu nesse período, foi o soluço amargurado da loira.

O vazio da escuridão ofuscou o brilho dos olhos de Samantha. Não existia mais céu, não existiam mais estrelas, não existia mais vida. Estava tudo acabado. Samantha correu, e Freduardo foi atrás dela. "Samantha, espera não é o que você está pensando, espera, eu te..." Ele não conseguiu terminar.

O terrível e inesperado aconteceu - um carro desgovernado bateu em Samantha. Ela gritou, e então tudo escureceu. Ela estava morta. A noite se tornou mais escura para Freduardo, ele não conseguia acreditar que aquilo havia acontecido. "Ela entendeu tudo errado", pensou. Ele correu na direção de sua amada, e se debulhou em lágrimas. Foi muito doloroso para ele vê-la sem vida, deitada no asfalto frio, com seus cachos dourados todo ensanguentados. Ele beijou os lábios roxos e frios de Samantha, e sussurrou um inaudível "Eu Te amo". Então, ele viu algo no bolso dela. Era um papel amassado, que dizia:

"Já não posso mais viver sem o seu amor, assim como eu não consigo conviver com tanta dor. Eu te amo. Quer namorar comigo, Fredorento?"

Um mínimo sorriso apareceu no rosto de Freduardo, e então ele voltou a chorar. E permaneceu ali, com a cabeça encostada no rosto pálido de Samantha. A chuva, que havia acabado de começar, caía em seu rosto e se misturava com as lágrimas de dor. Ele tinha perdido seu grande amor, por causa de um ensaio da peça de teatro que a professora havia passado na sala de aula. Justamente a aula em que Samantha tinha gazeado...

Andreza Brito