Capítulo Um: Bem vindo à Minha vida.

Bando de imbecis. Somente isso pode definir todos que estudam nessa escola, especialmente na minha sala. Um bando de imbecis. Riquinhos idiotas que cagam notas de cem e acham que o mundo gira em torno dos seus egos inflados. Nem sei direito como consegue caber quarenta desses idiotas numa sala de aula, seus egos sozinhos já deixam o local abafado.

A começar pelo mais imbecil egocêntrico de todos: Scórpius Malfoy, filho do promotor público de Manchester, um viciado em si mesmo e nos churralcool que ele e seus amigos fazem. Acreditem, naqueles churrascos a única coisa que NÃO TEM é carne.

Depois é claro que tem o grupinho das riquinhas fúteis que bebem vodka e odeiam cerveja. Dominique Weasley é a chefe do bando. A mais fútil de todas. Não respeita nem mesmo os professores e tenho certeza que ela já dormiu com o senhor Carter, professor de matemática, para que ele não a reprovasse. Ela me contou, ela conta tudo para a prima impopular e CDF dela.

Há também os garotos que adoram dar uma de gostosões e revoltados, sempre com uma opinião formada e com uma paixão especial para causar tumultos, discussões e todo tipo de discórdia. James Potter é o líder. Um repetente que parece gostar do terceiro ano, já que é a terceira vez que ele o freqüenta. Seu 'fiel escudeiro' é seu irmão mais novo, Albus.

Albus era um garoto legal, o único primo legal que eu tinha, mas quando entramos no terceiro ano ele começou a seguir os passos do irmão e agora é só mais um idiota.

Mas no fim, o maior idiota de todos sou eu, alias a maior, mas isso não vem ao caso. Se num lugar onde ser idiota é ser normal, provavelmente quem não é idiota passa a ser o idiota por ser diferente.

Tem o pessoal que não liga a mínima para estudar, como minha querida priminha Molly e meu priminho Fred, os dois quando não estão dormindo, estão colocando lenha na fogueira e tornando qualquer discussão num completo caos. Isso quando eles não inventam de sumir com o material de alguém ou apagar algumas palavras da lousa para mudar completamente o sentido das frases. Podem parecer pessoas legais, mas estes são os piores de todos. Apenas alguns folgados que só servem para piorar mais essa classe.

Sou tão invisível nessa merda de classe que, se eu chegasse nua na escola ninguém iria reparar. O único momento que lembram da minha existência é quando chega o dia de prova, incrível não é?

Devo ter um grande cartaz escrito COLA DE QUALIDADE E DE GRAÇA nas minhas costas, porque aparentemente não sirvo para ser convidada para as festinhas idiotas deles ou para conversar com eles. E o mais incrível que metade dessa sala tem algum grau de parentesco comigo.

Minerva Mcgonagall, a professora de física estava discutindo com James sobre soma de vetores, aparentemente ele não entendeu ou aceitou que somar vetores não é igual a somar números.

-Mas professora, isso está errado você quer somar algo você faz isso vezes aqui e pronto e não isso ao quadrado vezes aquilo ao quadrado mais isso e nem sei mais o que. Isso é multiplicação e não soma – o argumento do meu primo era digno de um prêmio Nobel, não acha? Por que ele não dá aula, já que a professora está errada?

-Soma vetorial e soma aritmética são duas coisas diferentes, tenho certeza que seu professor de matemática pode te explicar melhor – a senhora tentava encerrar o assunto. Eu não acredito que depois de tantos anos ela não aprendeu que para calar a boca dele você NÃO PODE sob nenhuma circunstância contra argumentar.

-Mas senhora se tem um sinal de vezes ali, quer dizer que não é soma.

-Senhor Potter, eu quero continuar minha aula, soma vetorial é isto e eu poderia demonstrar isso com uma longa série de cálculos, mas creio que isso seria algo difícil demais pára o senhor e de qualquer forma o senhor não entenderia. Então porque não fica quieto e presta atenção, talvez assim o senhor possa aprender algo - e eis ai o porque de Minerva McGonnagall ser a minha heroína, meu modelo, minha professora preferida.

Murmurando xingamentos James finalmente se calou e deixou a aula continuar. Física sempre foi algo complicado para mim, mas depois de uma explicação completa e de qualidade e de resolver alguns exercícios em casa essa matéria não seria mais problema.

A aula correu muito bem, Dominique e suas amigas não calavam a boca, mas não atrapalhavam, James não contestou mais nada, Scorpius e seus amigos começavam uma guerrinha de bolas de papel toda vez que a professora virava de costas, mas não atrapalharam a aula.

Quando o sinal tocou e a professora foi embora todos começaram a andar pela sala, a guerra de papel ganhou proporções enormes envolvendo todos os garotos da sala, as meninas começavam a gritar e xingar os garotos sempre que uma bolinha voava nelas e o caos se instalou naquela salinha.

Aposto como a jaula dos macacos do zoológico é mais organizada e silenciosa que esta sala. Levou quinze minutos para que o professor Elliot Carter, de matemática, conseguisse que todos se sentassem e calassem a boca.

E ainda estávamos apenas na segunda aula.

xXx

Era meu costume pessoal ficar na sala de aula durante o intervalo. Não tinha nenhum amigo fora dessa sala. Minhas duas melhores e únicas amigas estavam, como sempre, alheias ao mundo. Jéssica estava ocupada demais dormindo, como ela sempre fazia. E Maryliz estava distraída demais escrevendo alguma coisa no seu caderno, provavelmente mais alguma fanfic, afinal é só isso que ela faz a aula inteira.

Jéssica tinha tudo para ser uma idiota fútil, quer dizer, ela é filha do dono de uma empresa de aviação, o esmalte que ela passa é mais caro que o aluguel da minha casa.

Ela não liga a mínima para a escola, pois o pai dela com certeza vai mexer uns pauzinhos e ela vai conseguir uma vaga no curso de Administração de Empresas em Oxford, suas notas são razoáveis.

Suas roupas valem mais que o meu carro e provavelmente se eu vendesse o papel que ela limpou a bunda no e-bay eu conseguiria pelo menos mil dólares.

Até o primeiro ano ela era a melhor amiga de Dominique, porém ano passado ela ficou metade do ano nos Estados Unidos e, quando voltou era uma pessoa completamente diferente. Não olha para mais ninguém que tenha alguma grande amizade com Dominique e passou a conversar comigo. Sempre tive curiosidade em saber o que aconteceu com ela e Dominique, mas nunca perguntei nada, por alguma razão eu sabia que deveria ser algo do que ela não queria falar e, se algum dia ela estiver pronta para contar ela contará.

Mary era outra história, sempre foi minha amiga. Quer dizer odiava tudo da 'alta sociedade' embora fizesse parte dela. É uma garota legal, sempre com algo engraçado para se falar e está sempre feliz, o que algumas vezes chega a ser chato. Ela é o tipo de pessoa que é alegre e bem humorada até na TPM.

É amiga de praticamente todo mundo da sala e conversa com qualquer um se quiser, porém passa mais tempo comigo. Não gosta de festas ou de beber e está sempre distraída escrevendo suas histórias. Ela é verdadeiramente a pessoa mais popular da sala, todo mundo na escola inteira a conhece e ela conversa com qualquer um quando está com vontade de conversar, mas só quando está com vontade. Para minha sorte ela nunca percebeu o quão popular era, alias nem mesmo a senhorita Popularidade Dominique Weasley percebeu isso, mas não esperava muita coisa dela. Nique nunca foi o biscoito mais brilhante do pacote.

-Mary – Chamei-a. Seus cabelos castanhos lisos com pequenas ondinhas nas pontas estavam cobrindo todo seu rosto e mesa, fazendo parecer que o primo Coisa da família Adams estava do meu lado – Mary – tentei mais alto e a cutuquei.

-Com licença? Estou matando o Percy – ela retrucou levantando a cabeça o suficiente para que eu conseguisse ver seu rosto.

-Mas você já não tinha matado ele? – ultimamente ela está viciada em Percy Jackson e com uma inclinação preocupante para escrever mortes em suas histórias.

-Outra fic, essa daqui é nova, dessa vez estou fazendo a Annabeth matá-lo e está tudo cheio de drama, lágrimas, sangue, tragédias de modo geral e um pouco de tortura psicológica – ela descreveu com os olhos brilhando. Aparentemente escrever algo que iria fazer alguém chorar a animava muito - tenta a Jess, to ocupada – ela me mostrou a língua e voltou a se fantasiar de primo Coisa.

Respirei fundo, acordar Jéssica sempre era algo perigoso, ela conseguia dormir pesado na aula. Tão pesado que, quando alguém tentava a acordar ela praticamente matava a pessoa com as unhas perfeitas dela antes de finalmente acordar.

-Aparentemente terei de comer minha bolacha sozinha – suspirei fingindo-me de desapontada. Peguei o pacote da bolsa e o abri lenta e barulhentamente.

O efeito foi instantâneo. A cabeça de Jéssica se levantou e ela me encarou com um sorriso amável e olhinhos de bebê – Rose, minha amiga preferida do mundo – ela recitou esticando a mão.

Só havia uma coisa que conectava Jess com o mundo quando ela dormia e essa coisa era seu estômago. Algumas pessoas comem para viver, Jess vivia para comer. E depois passava a tarde inteira no Jokey Clube praticando esportes para manter seu corpo de modelo.

Passei o pacote para ela depois de pegar uma bolacha para mim e a folgada pegou três bolachas para si antes de me devolver.

Mary foi ainda pior, nem se deu o trabalho de levantar, esticou a mão na minha direção e ficou me cutucando até que eu lhe desse uma bolacha.

Em menos de cinco minutos só havia o pacote para contar história e o tempo deu percorrer o caminho minha carteira–lixo Jess já estava dormindo novamente.

O sinal tocou no instante que sentei em minha carteira e logo a horda de idiotas adentrou transformando bela paz da sala semi-vazia num caos animalesco.

xXx

A aula acabou e, como sempre fui a última a sair, sempre enrolava para guardar meu material assim não precisaria passar pelo tumulto que ficava na porta. Estávamos no terceiro ano do colegial e o pessoal da minha sala ainda brigava para ver quem iria sair primeiro.

-Então, hoje eu vou entrar no MSN e vou te contar o que eu descobri ontem – Mary falava animada – não quis te contar hoje porque envolvia pessoas dessa sala e ia pegar mal.

-Virando fofoqueira, dona Mary? – indaguei sarcástica – o que houve com você?

-Idiota – a morena riu – isso não é fofoca só vou compartilhar informações.

-Dominique sempre ficava 'compartilhando informações' - Jéssica comentou fazendo aspas com os dedos de uma mão enquanto a outra tentava prender seu cabelo liso e loiro, ambos naturais.

-Mas ela comentava informações falsas, o que eu descobri é a mais completa verdade – Mary contestou e Jess deu de ombros.

-Então, te conto no MSN – Mary deu uma piscadela e caminhamos até o estacionamento. Jess foi a primeira a se despedir o estacionamento de motos ficava ao lado do prédio da escola. Em cinco minutos ela já havia colocado sua jaqueta de couro, seu capacete, montado na incrível Harley Davidson prata, ligado-a e preparou-se para sair do estacionamento, desviando das pessoas e fazendo inveja aos garotos.

Mary pegou as chaves do seu carro dentro da bolsa e desarmou o alarme, apenas para que o bip que seu Audi TT fazia a guiasse até o carro, por mais que ela não admitisse eu sabia que ela havia esquecido onde estacionou o carro, ele sempre esquecia.

-Xauzinho Rose gata – Mary se despediu enquanto tentava abrir a porta do carro sem fazer com que seu fichário ou sua bolsa caíssem. Eu até ia a ajudar, mas Albus chegou primeiro, segurando o fichário no momento exato que ele cairia. Se eu não conhecesse o poder intelectual do meu primo diria que ele calculou aquela entrada meticulosamente.

-Você só tem dois braços, Mary – ele comentou com um sorriso de lado enquanto segurava displicentemente o fichário dela e o seu com uma mão e bagunçava seus cabelos já bagunçados com a outra.

-Infelizmente – ela riu e ajeitou a alça de sua bolsa nos seus ombros – tem horas que eu gostaria de ser que nem aquela deusa Indiana. Com um monte de braços.

Ele riu e abriu a porta do carro para ela jogando cuidadosamente o fichário da garota no banco do carona e segurando a porta para que ela entrasse. Ele sempre era legal com Mary, era o único da sala inteira que sempre vinha conversar conosco. Na verdade ele sempre vinha conversar com a Mary, pois eram melhores amigos, ou alguma bobagem dessa. Na verdade todo mundo menos eles sabia que eles estavam namorando. Ninguém é assim TÃO amigo.

Amigos eram legais um com os outros, mas não galantes, ou gentis, ou fofos, ou cavalheiros. Amigos se socavam, se xingavam, se batiam eram os maiores malas do mundo, agora namorados... Namorados que ficavam nessa fofura toda. Namoro não é só se beijar e andar de mãos dadas é tratar um ao outro bem e Mary e Albus com certeza dominavam este quesito. Quantos "com quem será" serão necessários para que eles vejam que eles já estão namorando?

Agora, de quem ele aprendeu esse cavalheirismo eu não sei, mas não foi do James. Talvez tenha sido do tio Harry, mamãe sempre disse que o Tio era o cavalheiro do grupo, enquanto papai era o lerdo que não conseguia ver o que estava bem na sua frente.

-Muito obrigada – Mary deu um beijinho na bochecha dele para agradecer (algo muito entre amigos, como podem ver) e entrou no carro colocando a bolsa em cima do fichário e a chave na ignição.

-Tenha um bom dia, Mary - ele desejou e fechou a porta, Mary abriu a janela e ligou o carro – se precisar de ajuda com o fichário amanhã, eu tenho um braço sobrando.

Não pude ouvir, mas tenho certeza que ela riu. Caminhei para o meu singelo Smart que desaparecia em meio a tantos carros esportivos. Mary buzinou quando passou por mim e acenou. Acenei de volta e abri a porta do meu carro.

-Hey,priminha – Albus me chamou e quando vi ele estava do meu lado fazendo a carinha de filhotinho que ele sempre fazia quando vinha pedir um favor – pode me dar uma carona?

-O que aconteceu com seu irmão e o Porshe dele? – indaguei erguendo uma sobrancelha.

-Ele e Dominique vão para o mirante – Albus rolou os olhos – eles são primos, pelo amor de Deus! – exclamou enojado – de qualquer forma perdi minha carona. Fred e Molly estão indo para a loja do tio George que fica do outro lado da cidade.

-Olha, você vai ter de carregar o meu material – avisei e estendi minha bolsa e meu fichário para ele – e se abrir a boca para reclamar do tamanho do carro eu de chuto para fora e vou embora. Fui clara?

-Como água – ele deu um sorriso de orelha a orelha e pegou minhas coisas, por um momento ele parecia o Albus legal que eu conhecia. Ele entrou no carro e o vi fazer algum tipo de contorcionismo para que suas pernas coubessem no carro, colocou minhas coisas e as dele no seu colo e fechou a porta do passageiro - vamos logo. Não quero que as pessoas me vejam nesse carro com você – e todo momento mágico em que eu considerava a salvação dele foi por água abaixo.

A viagem foi rápida, nós morávamos no mesmo condomínio, ele e sua família numa casa amarela com o jardim pessimamente cuidado bem em frente à quadra de esportes e eu, meus irmãos e meus pais numa casa azul clara perto do muro a casa mais distante e escondida do condomínio inteiro. Pelo menos nosso jardim era perfeito.