Eu acordo no meio da noite, a pele arrepiada, e o sussurro percorrendo meus lábios entreabertos. Eu acho que te amo. Os dedos trêmulos, porque essas palavras, e tudo o que significam, me excitam, tocam minha boca, e eu tenho que sorrir. Olhos fechados, sinto meu coração palpitar e bombear sangue suficiente no meu corpo, embora meus pés estejam gelados, e trema. Tremo porque seu toque... Seu toque que não sinto... Encolho as pernas até que os joelhos toquem meus seios. Ali, sentada no escuro, consigo te imaginar tão perto de mim, seus olhos tão fortes em mim, suas mãos tão cheias de mim. Como me colocou em um espaço tão pequeno? Ou será que me guardou em seu corpo todo?

Delicadamente toco os pés descalços no chão, e o frio não é suficiente para me arrepiar mais do que já estou. O corpo é todo quente, porque você esquenta tudo com seu jeito, com sua forma. Você só pode ter me escondido dentro de si. E ainda estou sorrindo enquanto caminho até a porta, sorrindo, e tremendo, e suando, e arrepiando cada parte do meu corpo. Meus lábios queimam pedindo por você. Eu acho que te amo.

Não há escuro suficiente para apagar a luz que acendi dentro de mim quando pensei em você. Talvez não exista escuro porque seu sorriso é capaz de iluminar o mundo todo. E talvez eu seja como uma mosca que procura pela luz incessantemente, que vai, na ponta dos pés, nas leves batidas das asas, atrás da própria destruição. Somos criaturas tão tolinhas, voando por aí com medo de encontrar alguém que nos esmague o corpo. Eu só quero ser esmagada contra você, não importa muito o lugar. Toco uma das paredes, minha mão sentindo a aspereza – sua leve barba na minha face... – e suspiro, mordendo o lábio inferior. Está quente demais, mas eu sei que isso significa a proximidade da luz. São passos tão curtos e tão leves que eu acho que não existo, talvez não exista nos momentos entre o acordar repentino de um sonho e o voltar para a cama, mais suada do que estava quando saí. A luz esquenta, a luz queima, ela me completa e não me permite ter medo dos corredores vazios, das molduras tremulando ou dos barulhos estranhos. Meu coração bate mais alto do que qualquer murmúrio. E pensar que ele bate assim porque quero te ver... Eu acho, realmente acho, que te amo.

E assim que viro a última esquina, que meus olhos ficam arregalados de medo, entreabro a boca e escancaro meu corpo porque você está ali, e, com os braços tão abertos, meu corpo se abre também e desprende de mim para ir até você. Estou no meio da noite, perdida dentro de você, despida por você, embaraçando seus fios de lua em meus dedos cadentes e decadentes – por que onde já se viu fechar os olhos e andar de amor? –, sentindo seus lábios e dentes de luz provarem da minha pele, encontrarem mais lugares onde me esconder, afinal ninguém nunca me encontrou em você, nem você em mim. Aprendemos a guardar segredos, a silenciar os passos, os suspiros, a queimar sem causar incêndios.

Quando você diz meu nome, e eu respondo, respondo tão mansamente, quando você pede meu nome, e eu dou, satisfeita, tenho certeza de que te amo.