Mentiras de Piano
por B. Wendy
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Bellatrix não acreditava no amor. Ela não acreditava em muitas coisas, mas o amor era a maior delas. Maior até que Deus. Mas ela também não acreditava em Deus. Ela não acreditava no que não podia tocar, ela não acreditava no que não podia sentir. Ela não acreditava no que não podia enganá-la, porque se algo é fiel o suficiente para ser sempre verdadeiro, não pode ser real.
E por isso ela seguiu Vodemort, ele era o que de mais real ela conhecia. E por isso ela aceitou casar-se com Rodolphus, ainda que uma imposição de sua família. Ela podia tocá-los, sentí-los, e eles podiam enganá-la.
Ainda que ela não tivesse consciência de tudo isso.
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A seda negra cobria seu corpo de modo que apenas suas costas e braços brancos pudessem ser vistos. Fez um gesto de cumprimento para ele e olhou naqueles olhos negros, na intenção de testá-lo com a profundidade do próprio olhar. Mas não conseguiu.
"Rodolphus Lestrange, prazer" ele deu um sorrisinho irônico, e continuou encarando-a.
"Você tem meia hora para mudar a minha vida¹" ela respondeu de imediato, como se pouco importasse que fosse ele a estar ali e ele pensou que fosse uma declaração, ou que ela estivesse zombando dele. A declaração de uma moça de quinze anos ao conhecer seu noivo, ou a zombaria que alguém como Bellatrix faria, pelo que haviam lhe contado dela.
Mas era um desafio.
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Da primeira vez que a viu, Rodolphus percebeu que ela não tinha uma cor. E em sua mente, todas as pessoas precisavam de uma. E ele tentou encontrar uma cor que fosse ela, uma cor que pudesse lembrá-lo dela sempre que a visse. Mas ele não conseguiu. Ela não era toda trevas, tampouco toda luz. Também não podia ser a mistura dos dois, pois ele não via o preto e o branco nela ao mesmo tempo. Ela não tinha cor.
Então decidiu que ela precisava ter música, ser música. Precisava de uma melodia que fosse como ela tão profundamente que fosse impossível separá-las, impossível não associá-la à música.
Mas o Lestrange pianista era Rabastan.
E por três noites seguidas ele permaneceu acordado, ao piano, Rabastan ao seu lado, o ensinando. E tentou, tentou, tentou. Aquelas noites se repetiam com mais frequência que as de sono, e ele tocou. Tocou com a alma, e pôs tudo o que sentia por Bellatrix ali. Talvez, amor.
Até que, um ano depois, no dia de seu casamento, ele encontrou a perfeição.
Encontrou Bellatrix na música.
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Ela não se lembrava que ele tocava piano. Talvez nunca soubera, na verdade. Nunca tinha-o visto tocando, e não gostava de surpresas.
"Não sabia que você era pianista".
Mas existiam exceções, e aquela surpresa era uma.
"E eu não sou. Apenas queria conhecer você".
Ele voltou a tocar e nas notas tristes Bellatrix reconheceu à si mesma.
"É linda".
Ele sorriu e a aliança dourada brilhou no dedo do pianista.
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"Eu te amo" ele disse em seu ouvido naquela primeira noite.
Bellatrix sempre quis alguém que pudesse enganá-la.
"Eu te amo" ela o copiou.
Rodolphus também.
N/A: Ficlet escrita em uma aula monótona de português, espero que tenham gostado. Feita especialmente para o Leuh, porque gosta do ship tanto quanto eu e porque é o pianista mais legal que eu conheço (mrgreen). Te amo, mocinho!(hahaha).
