DOOMSDAY (Apocalipse)
"Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo." Apocalipse 1;3
Ato I: Cathar Rhythm
Você não vai voltar agora?
Você não vai ao menos olhar?
E se você se atrever a olhar,
eu estarei lhe esperando
Impera e nessimo (Seu império não é nada)
Impera samie nero (Seu império tornou-se negro)
Dove di immantore Dio (Onde estás, Deus cruel?)
Você ouviu minha prece
Você não vai ao menos olhar?
E se você se atrever a lamentar,
eu estarei lhe esperando
E mani diavole (E as mãos do demônio)
E mano diavole (E a mão do demônio)
E nere mani diavole (E as mãos negras do demônio)
Impera e nessimo (Seu império não é nada)
Impera samie nero (Seu império tornou-se negro)
Dove di immantore torra (Onde estás, fortaleza cruel?)
Um grupo de bruxos vestidos de com túnicas carmim e detalhes dourados estavam no centro de uma grande caverna, num circulo. Usavam capuzes pontudos, e carregavam no peito um grande cordão de ouro, com o pingente em forma de cruz invertida, no centro de um círculo.
Tochas mágicas iluminavam o local. Havia um grande desenho no chão, escrito com uma tinta pegajosa e vermelha. E, ao centro do desenho e do círculo de bruxos, havia uma mesa de pedra, com um corpo envolto em faixas. O corpo estava ensangüentado, e completamente envolto em panos.
O líder dos bruxos chegou ao centro do lugar e ergueu os braços, dizendo em voz alta algumas palavras numa língua desconhecida.
E, no alto da caverna, escondido entre as pedras, na descida que dava acesso ao centro do lugar, estavam três bruxos, e um religioso, que se vestia de forma rica, usava várias jóias e um cajado de ouro.
- ...Arcebispo... – sussurrou um dos bruxos, que se vestia de branco. Era jovem, tinha os cabelos pretos meio despenteados, usava uma barbicha no queixo e tinha os olhos azuis, meio acinzentados – Será que são eles?
- Com certeza, meu jovem Black. – sussurrou o arcebispo.
- ...Acho que vão começar. – sussurrou outro jovem bruxo, de rabo de cavalo, e cabelo castanho claro, e rosto cheio de pequenas cicatrizes, como arranhões.
- ...Lá está o livro. – disse o religioso, apertando o cajado com força.
O chefe dos bruxos pegou um grande livro antigo, que tinha na capa, em alto relevo, a imagem de vários demônios.
O líder dos bruxos abriu o grande livro, ergueu os braços e começou o ritual. Foi quando um dos bruxos do alto da caverna olhou de lado:
- Ué...? Cadê o Snape?
O jovem bruxo de cabelos compridos e oleosos e nariz torto acabava de saltar no centro do circulo, apontando a varinha para o líder deles.
- ...Desculpe estragar a festa de vocês, mas... precisamos levar esse livro embora. – disse, cínico.
- EU NÃO ACREDITO! – gritou o outro jovem de cavanhaque, correndo ladeira abaixo – É UM IMBECIL!
- Sirius! – chamou o outro jovem – Espera!
Mas já era tarde. Em pouco tempo os bruxos vestidos com túnicas erguiam suas varinhas, enquanto Sirius e o outro jovem se lançavam no meio da confusão, tentando livrar Snape.
O líder dos bruxos rapidamente pegou o grande livro, colocou-se debaixo do braço, e correu. Mas deu de cara com o arcebispo, de pé, à sua frente. Ele bateu o seu cajado no chão com força, e uma forte energia mágica varreu o lugar. O jovem religioso abriu a mão, na frente do rosto do bruxo, e ordenou:
- Em Nome de Deus Pai e de Jesus Cristo, eu ordeno que tu, ó infiel, pecador e praticante das artes demoníacas... deixe esse mortal em paz, e que volte para as trevas de onde tu vieste!
Imediatamente o homem caiu de joelhos, largando o livro.
- Prendam os bruxos, Sirius, Remo! – gritou Snape, que paontava a varinha para o grupo.
Os dois adiantaram-se, enfeitiçando os outros bruxos, prendendo-os com cordas mágicas. Em seguida, voltaram a olhar o homem, que agonizava. O religioso começava a suar.
- QUAIS SÃO SUAS INTENÇÕES, CRIATURA DAS TREVAS?!
Imediatamente o bruxo se transformou. Sua túnica vermelha se rasgou, e ele se transformou num demônio, parecido com um lobisomem, mas cheio de espinhos.
- ...Eu sou... Balaam... – grunhiu o demônio – Sou um dos demônios gregos mensageiros do fim dos dias... nenhum mortal pode me vencer!
O religioso, com um bruto movimento, fez o demônio cair de costas, e, sem dó, cravou-se a cruz da ponta do cajado no peito, dizendo:
- Eu não sou um mortal, ó criatura do mal. Quem te ordena é o Filho do Deus Vivo. – e ergueu a mão para o céu – E eu te ordeno... que em Nome de Deus Pai... tu alma seja queimada pela Graça Divina! E que nunca mais volte ao mundo dos homens para tentá-los ou praticar o mal!
O demônio começou a tremer, e a simplesmente se derreter, transformando-se em pó. Mas antes de desaparecer, gritava:
- O Fim dos Dias está próximo! Eu Não sou o único demônio que voltou à Terra! O mundo dos homens irá queimar! O Juízo Final está chegando, os portões do inferno estão se abrindo! Satã irá reinar nas trevas e devoraremos todos os homens vivos no maior banquete de todos!... HAHAHAHAHA...!
O silêncio permaneceu no lugar, após o desaparecimento do demônio. Os três jovens bruxos ofegavam, assim como o religioso, que se apoiou no cajado, ajoelhando-se.
- ...Está bem, meu senhor? – perguntou o jovem de cabelos claros.
- ...Estou, Lupin. – sorriu o arcebispo – Só usei... um pouco além da minha energia.
- ...Você é um imbecil, Snape! – xingou Sirius, olhando o companheiro, que ia até a mesa, desembrulhar o cadáver – Quase acabou com a gente.
Snape apenas murmurou alguma coisa, e olhou quem era.
- Ora essa. – disse, enojado, tampando o nariz por causa do fedor de carne podre – É Sir Brighton. Esse velho maldito morreu há quase um ano, era um velho pedófilo tarado dos infernos. Matava crianças em seitas de magia negra. Não valia nada. Era hostilizado até pelos bruxos das trevas.
O arcebispo olhou para um pequeno caco de cristal vermelho sangue, no chão, onde estava o corpo do demônio. Pegou o caco, colocou num pequeno saco de couro e o colocou na cintura. Depois, pegou o grande livro nas mãos.
- O acha que eles queriam com ele, senhor arcebispo? – perguntou Lupin.
- ...Podem me chamar pelo nome, garotos. – sorriu o arcebispo, se erguendo e se aproximando dos outros bruxos – Estamos começando a trabalhar juntos... agradeço o auxílio de vocês.
- Ora, você é um grande amigo da Lílian. – disse Sirius, pondo as mãos na cintura – O mínimo que a gente pode fazer, já que ela não pode mais te ajudar... é ajudar você no lugar dela. Nossa vida precisa mesmo de um pouco de ação.
- ...Andamos tendo um pouco de ação demais, aliás... – gemeu Snape, voltando a olhar os homens. Arrancou o capuz de um deles, e sorriu, maldoso – Olá, Matheus. Que bom te ver aqui, seu porco imundo. Pode nos ajudar a esclarecer o que acontece?
- ...Um nome bíblico tão belo, em um homem tão perdido. – murmurou o Arcebispo, se aproximando.
- ...Por favor... não me queime, senhor! – gemeu o homem, apavorado.
O arcebispo ergueu a mão, avançando sobre o bruxo:
- Tens dois minutos para dizeres o que sabes, ou irás sofrer o que mais temes. Da fúria do Senhor não há escapatória.
- Não! Não! – exclamou - Eu conto! Eu conto! Éramos uma seita maligna, e nos apoiávamos nas histórias da bíblia cristã sobre os demônios e o apocalipse, para aumentar nossos poderes das trevas! O chefe... o chefe nosso... apresentou-se como a reencarnação de um poderoso demônio... esse livro... é o Livro do Umbral... e íamos.. íamos... ressuscitar Sir Brighton... que era profundo conhecedor das Artes das Trevas... para nos ajudar... a abrir... os portões do Juízo Final. Por favor, não me queime, é tudo o que sabemos!
O arcebispo pensou, e saiu de cima do jovem, andando apressado para a ladeira que subia circulando a caverna, na direção da saída:
- Muito bem. Obrigado.
- ...É muita estupidez querer abrir as portas do Juízo Final. – reclamou Lupin – Não lhe ocorreu que os primeiros homens que os demônios devorariam seriam vocês mesmos?
- Na... não. – murmurou Matheus – Ei! Senhor! Não corro mais risco de me queimar?
O arcebispo olhou para trás, desdenhoso:
- Você realmente achava que ia ser exorcizado? Você não passa de um homem infiel que estava sendo usado por um demônio de baixo escalão, sendo iludido pelas palavras suculentas dele. Seu Mané.
- ...Ahm?
Sirius gargalhou, enquanto Snape pôs a mão na boca, abafando um risinho cínico. E, assim, arrastaram para fora todos os bruxos que ali estavam.
Semanas depois, Lupin parava na frente da grandiosa catedral de Notre Dame, em Paris. Usava uma roupa surrada, e um chapéu igualmente judiado. Tirou ele, e entrou na cadetral, meio de cabeça baixa, como se tivesse medo de andar ali. Um pequeno religioso o atendeu, e o levou até o fundo da catedral. Lá, nos fundos, ele se viu dentro de outra grande capela, dedicada a São Francisco, e o Arcebispo estava lá, acendendo um incenso muito perfumado.
- ...Boa tarde, senhor Arcebispo.
- Oh. Olá, Lupin. – cumprimentou, alegre, se aproximando - ...Deixe essa formalidade de lado. Me chame apenas de Joaquim.
- Ah. Certo...
- ...Que cara é essa? Não parece estar à vontade. Sinta-se à vontade, a Casa do Senhor também vossa casa.
Lupin olhou ao redor, a gradiosidade da igreja e das imagens de anjos e santos:
- Sei, senhor, mas... sabe como é... me sinto meio... inseguro de pisar aqui. O senhor sabe... o que eu sou. Muitos me comparam a um demônio. E demônios não são bem vindos, nem merecedores de entrar aqui.
- Ora essa. – riu o religioso – Erga sua cabeça, meu filho. – e respirou fundo, apertando-lhe pelos ombros – Acredite em mim, muitos lá em cima estão muito alegres de vê-lo por aqui, sentem-se honrados e felizes por vê-lo aqui nos visitando. E ficariam muito felizes se você viesse mais vezes. Os homens da terra nada sabem sobre nós nem sobre si mesmos. Não deves jamais acreditar no que sai da boca deles, principalmente as blasfêmias. Sente-se, quer um chá? Parece preocupado.
- É... – suspirou Lupin – O Ministério absolveu todos os bruxos, senhor Joaquim. – o religioso balançou a cabeça, penoso – Com a justificativa de que nada poderia condená-los, mesmo porque não faziam nada de errado perante a crença da bruxaria. Disseram que não acharam nem mesmo vestígios do tal demônio.
- Eu já esperava que estaria sozinho nessa. – lamentou – Mas estou preocupado.
- Eu... eu também. Já estudei muito sobre a religião cristã... e também tenho medo do Juízo Final.
- Lupin... não quero atrapalhar você, Sirius e Snape. O ministério inglês pode ver com maus olhos a ajuda que vocês estão me dando.
- Não vou deixar o senhor de lado. Nenhum de nós vai. Não somos nada comparados à Lílian, mas...
- Lílian escolheu seu caminho. – suspirou Joaquim – Nem mesmo Deus pode interferir no Livre Arbítrio que Ele próprio nos deu. – em seguida sorriu – Eu desenho do fundo do coração que ela seja feliz com sua família.
Lupin baixou a cabeça, e disse, envergonhado, mas segurando os braços da cadeira com fora:
- Ás vezes... eu sinto raiva de Tiago. – murmurou, entre os dentes – Ele a tirou de nós e a fez se tornar o que se tornou. Eu jamais desejaria o mal para eles, soa meus melhores amigos, muito pelo contrário mas... eu não consigo conceber a idéia de que Lílian esteja feliz do jeito que está. Ás vezes acho que Tiago fez de propósito... para que... tivesse Lílian só pra ele.
- Tiago e Lilian se casaram. São marido e mulher. Lílian se sujeitou às vontades de Tiago porque quis. Ela escolheu seu caminho. Agora, ela tem coisas mais importantes a zelar. Um dia terá uma família, Lupin, e saberá como é.
- ...Não acho que eu um dia vá ter uma família, senhor Joaquim. – disse, amargurado – Minha cruz e meu destino são pesados demais.
O arcebispo parou de defumar a capela, e disse, sorrindo:
- Deus dá o frio conforme o cobertor. Não parou para pensar que essa maldição que acha que tem... na verdade é uma forma que Deus está lhe obrigando a se aceitar, e assim, aprender a aliviar seu coração, e ser feliz?
Lupin suspirou. De repente, a catedral sacudiu. Um grito agudo ecoou na catedral. Os dois se levantaram, e correram para as escadarias que davam acesso ao campanário.
Lá, entre os sinos, um demônio parecido com um morcego voava, e guinchava alto, espantando as pombas, quebrando telhas e correntes.
- ...Essa não. – gemeu Lupin, pondo-se a subir as escadas.
O Arcebispo desceu as escadas de madeira, e gritou:
- Mande-o para o saguão central da catedral!
- ...O senhor diz... pro Altar Central? – gemeu Lupin - ...É um demônio! Vai enfiar um demônio dentro de Notre Dame?
- Ele veio visitar a Casa do Senhor. Seria muita falta de educação não convidá-lo a entrar e tomar um chá com Ele.
Lupin suspirou, vendo o religioso sumir de sua vista:
- ...Esse padre passou tempo demais com a Leah.
O demônio morcego avançou em Lupin, que saltou para um dos grandiosos sinos dourados da catedral, que balançou.
- ...Onde está o Livro do Umbral... infiel??? – sibilou o demônio – O primeiro demônio deve voltar...
- ...Não estou interessado em trazer de volta ninguém. – disse, saltando para outro sino.
O demônio bateu de encontro ao sino, balançando-o, fazendo-o badalar. O demônio guinchou, por causa do barulho.
- ...Ora... – sorriu Lupin, ensurdecido pelo som também – Não gosta de sinos? Bom saber!
E, assim, ele saltou nas correntes de vários sinos, pondo todos a badalar. O morcego se contorceu de dor:
- Moloch! Salvem Moloch...! Que comece o Juízo Final e que os Sete Demônios tomem o mundo dos homens!
Lupin saltou do alto do campanário, direto na barriga do demônio. Os dois caíram, batendo contra as gigantescas vigas de madeira do teto de Notre Dame, até partirem o assoalho de madeira. E se viram em queda livre, na grandiosa catedral, na direção do chão.
Moloch se ergueu, zonzo. Olhou para trás e viu que estava sob a colorida luz da grandiosa rosácea de Notre Dame. E, abaixo dela, à sua frente, estava o arcebispo Joaquim, que ergueu seu cajado, e o desceu com força, de encontro ao peito de Moloch:
- "...Temei a Deus, e daí-lhe glória, porque é vinda a hora do teu juízo!" (trecho de apocalipse 14:7)
E, assim, o demônio se transformou em pequenas fagulhas de fogo, agonizando e desaparecendo. E, atrás dele, estava Lupin, caído, dolorido. Olhava o arcebispo, assustado.
- ...está vendo? – sorriu Joaquim – nada que venha da Ira de Deus pode lhe ferir. Tens apenas a Piedade e o Amor dele, meu jovem.
Lupin se levantou a tempo de pegar Joaquim nos braços, que fraquejou.
- ...O senhor está bem?
- ...Estou. – suspirou – Apenas acho... que interceder para eliminar demônios usando o Nome e o Poder do Senhor... é demais para mim.
Com a ajuda de outros dois religiosos, Lupin levou Joaquim de volta para a capela. Pierre, um bispo de Paris, chegou, preocupado:
- ...Mon Dieu, irmão Joaquim. Um demônio invadindo a Casa do Senhor!... O que está havendo?
- ...Não sei, irmão Pierre. Acho que estamos mais perto do fim do que imaginávamos.
- Por Deus, irmão Joaquim... não digas isso.
Lupin se aproximou do grande e negro Livro do Umbral:
- ...Moloch estava atrás desse livro. O que ele tem, senhor?
Joaquim suspirou, se levantando, cansado:
- Em verdade lhe digo... tenho medo de saber o que há neste livro. Ele é uma das chaves do Apocalipse. As mais horrendas magias estão contidas nele.
- ...Tenho a leve impressão que querem usar o livro para trazerem de volta vários demônios... não?
- Você está certo. Esses demônios que encontramos são apenas servos menores da Legião do Mal. Eles não podem voltar à terra por vontade própria. Por isso manda seus lacaios atrás do livro. O Apocalipse se inicia quando os Sete Selos do Grande Livro é aberto pelo Leão de Judá, Aquele que morreu e ressuscitou. Os sete selos se abrem. Depois, soam as sete trombetas. E o mundo acaba, e se renova.
Lupin coçou as costas:
- Se o livro só pode ser aberto por aquele que morreu e ressuscitou... só poderia ser aberto por Jesus Cristo, não?
- Até nosso atual entendimento... sim.
- ...Mas Jesus não está entre nós. Ao menos... que a gente saiba, não está.
- Creio que Ele voltará quando chegar a hora.
- E saberemos que a hora chegou?
- Eu creio que sim.
Joaquim pegou o livro no colo.
- Livro do umbral. – disse Lupin – o que significa?
- Umbral é um nome espírita. Refere-se a um dos lugares do mundo espiritual, onde os espíritos dos suicidas sofrem. É um lugar carregado de espíritos sofredores e das castas consideradas inferiores. Estão sempre sofrendo e sendo explorados e torturados pelos espíritos do mal e demônios. Talvez tenham batizado o livro com este nome porque acreditam estarem aqui as mais terríveis maldições. Sendo uma espécie de "manual de diversão" para os demônios que querem fazer os homens sofrerem no Umbral.
- Deus me livre. – gemeu Lupin – Bom... senhor Joaquim... acho que vou voltar para Londres. Quero avisar Sirius e Snape do que aconteceu. O ministério com certeza não irá nem contar o que houve, e os trouxas dirão que alguma ventania ou má conservação fez um pedaço do teto da Notre Dame desmoronar. Estando tão sozinhos... é bom que a gente se mantenha unido e informado. Precisando de nós... é só chamar.
- Agradeço sua visita e sua ajuda, Lupin. – sorriu o arcebispo, tirando da gaveta um pequeno pacote de veludo verde – Será sempre muito bem vindo. Em breve me reunirei com você em Londres, e espero que num momento de paz. Tome. Leve com você.
Lupin abriu a caixinha e viu uma grande corrente prateada, com uma bela cruz de pingente. A cruz tinha um pequeno circulo atrás, como um sol, e, no centro dela, um belo diamante verde-água.
- ...Meu Deus... – sussurrou – É... maravilhoso. – e o esticou para Joaquim - ...Jamais poderia aceitar uma cosia dessas, senhor.
- Não faça isso. É uma grande desfeita. – sorriu – Essa cruz... irá fazer você se lembrar do quão é querido e bem vindo à Casa do Senhor. Mais do que isso. Lembrará você de que teu espírito e teu coração são as melhores moradas que o Senhor poderia querer ter. És bom e puro. E esse presente irá fazê-lo lembrar-se disso.
Lupin se viu visivelmente emocionado, e colocou o cordão no pescoço. Sorriu, encantado com o presente, e um tanto sem graça, e se despediu, agradecendo profundamente, indo embora para Londres.
Snape caminhava por uma das ruas de Hogsmead, quando várias carruagens do Ministério passaram, apressadas. Olhou para elas, quando escutou,a trás de si, uma voz bem conhecida:
- ...Lá vão os chefes do Ministério, prontos para preparar o show de horrores.
- ...Boa tarde, professor Dumbledore. – cumprimentou o jovem, sem muito ânimo.
- Sorte sua estar de folga, não, Severo? – sorriu Dumbledore – Deveria ser terrível participar dessa festa macabra deles.
Snape deu de ombros. Sirius apareceu, vindo da viela que cortava a rua principal, aprecia realmente nervoso, e trajava o uniforme de auror:
- ...Não acredito que o Ministério vai fazer uma coisa dessas! Eu me recuso a participar disso!
Dumbledore suspirou:
- O Ministério se sente feliz e com o ego inflado fazendo tal ato de barbárie. Mas o que podemos fazer senão lamentar tal decadência?
Sirius respirou, ofegante:
- Professor... o Ministério exibiu durante CINCO ANOS o corpo de Leah como se fosse um troféu!
- Estão comemorando os cincos anos da morte dela com uma festa e tanto. – suspirou, cruzando os braços – Digna do nível do Ministério.
Sirius inconformou-se:
- PROFESSOR! É realmente verdade o que eles irão fazer? Eu não ACREDITO!
Snape disse, dando de ombros, desdenhoso:
- Pouco me importa a forma que eles irão comemorar. Mas, de fato, me surpreendeu a ousadia deles e a originalidade. Comemorar os cinco anos da vitória sobre a mais cruel bruxa das trevas pegando seu corpo, esquartejando-o e exibindo-o como troféu nos principais prédios de órgãos do Ministério é, de fato, um ato não só corajoso como também louvável.
Sirius avançou em Snape, mas Dumbledore, sem se mexer, paralisou Sirius a menos de um metro do rival.
- Acalme-se, Sirius. Exaltar-se não mudará nada. – disse Dumbledore, calmo.
- Eu não vou deixar esse filho da mãe blasfemar contra a Leah! – gritou Sirius, nervoso.
- ...Quer fazer o quê, amigo? – disse Snape, desdenhoso – Nenhum de nós pode fazer nada. Mas, se quiser, vá lá, em cada prédio do Ministério, pegar os pedaços dela e junta-los de novo para brincar de quebra cabeça.
Sirius suspirou. Uma carruagem do ministério parou na frente deles. A porta se abriu, e Longbotton apareceu, trajando seu uniforme de auror.
- ...Sirius? – chamou, parecendo desapontado, também – Vamos? Está na hora.
Sirius suspirou profundamente. Recebeu dois tapinhas de leve de Dumbledore, nos ombros, e subiu ao lado do auror.
- ...Boa sorte. – sorriu Dumbledore, parecendo consolador.
- ...Que Deus perdoe a gente por fazer isso. – murmurou Sirius – Ou o capeta. Vai saber.
Snape balançou a cabeça, e Dumbledore riu.
- É um boçal. – murmurou Snape.
-Deixe-o, Snape. Sabe que no fundo ele é um bom homem.
Nisso alguém se aproximou, e Snape fechou a cara, mais do que a cara fechada de habitualmente.
- Há quanto tempo, professor Dumbledore! – sorriu Tiago, agora usando barba, dando-lhe um ar muito mais adulto.
Dumbledore o abraçou calorosamente:
- ...Não use mais o professor antes do nome, Tiago. Não precisa. – em seguida ele baixou os olhos para uma criança de pouco mais de um ano, de cabelos negros e olhos muito verdes – Olá, Harry, como está lindo! Tem os olhos da mãe. Espero que cresça e fique que nem ela.
- ...Porque se crescer e virar o pai, naturalmente, transformarar-se-á num trasgo. – sorriu Snape.
Tiago virou-se para o bruxo, com raiva.
- Não tenho mais idade para entrar nas briguinhas infantis de Hogwarts com você, Severo. Agora sou um pai de família. – disse, parecendo orgulhoso.
- Naturalmente. – sorriu Snape, com as mãos para trás. E pensou "é fácil usar a família como desculpa para não admitir que se tornou de vez um borra botas" - ...E boa tarde, Lílian. Não achei que fosse sair de casa de novo outra vez. Você está tão... tão... tradicional. – encerrou, sem ânimo.
Lílian, ao lado de Tiago, segurava o filho no colo. E não lembrava em nada a Lílian de anos atrás, líder dos aurores supremos. Vestia roupas largas, vestido longo, como uma bruxa dona de casa, que cuida da família. Os seus cabelos, ainda vermelhos, mas sem aquele brilho e cuidado de antes, estavam para baixo da cintura, amarrados numa trança, um pouco ressecados pela falta de tempo para cuidá-los. E havia engordado muito durante a gravidez, e não havia conseguido perder os quilos após. Mas também, não se importava. Ficava apenas em casa, cuidado da casa e da família, não se animava em mudar muito, havia se acostumado e Tiago também não reclamava ou fazia questão.
- Minha esposa não precisa da sua opinião, Severo. – disse Tiago, ríspido.
- Ui, meu Deus. – disse Snape, levemente afetado – Ainda que tenha casado e procriado com a dona... ainda assim não tem segurança no próprio taco? Não quero roubar ela de você com um elogio, amigo.
- Eu não sou seu amigo! – avançou Tiago, batendo o peito em Snape.
- Tiago, não ligue para ele. – sussurrou Lílian, olhando para os pés do marido – Por favor.
- Venha cá, bruxo de merda, venha mostrar para mim o quanto é bom. – insultou Tiago.
- Por que eu faria isso? – disse Snape, doce – Você tem um poderoso cargo administrativo no Ministério. Quer um motivo para ferrar a imagem dos Aurores e se pôr como vítima dos bruxos delinqüentes da Elite? Não irei alimentar seu remorso e seu sentimento de "eu sou uma vítima" por não ter conseguido permanecer no cargo, muito menos ter subido para a Elite dos Supremos.
Tiago continuava querendo avançar em Snape, mas não o fazia.
- Eu vou chamar a guarda bruxa, e registrar seus insultos, Severo! – ameaçou.
Lílian continuava pedindo para Tiago parar. Harry, no colo da mãe, começava a querer chorar.
- Ah, você tem poder? – sibilou Snape – Então... use-o, Tiago. Se é que o tem, mesmo.
Uma voz muito calma apareceu, cortando a discussão:
- Ei, Harry, porque chora, meu pequeno?
Os dois bruxos olharam, e era Lupin, tirando o surrado chapéu, chegando em Harry, mexendo com o bebê e fazendo ele parar de chorar. Parou de chorar e começou a fazer bolhinhas de saliva, encantado com a cruz de prata que Lupin carregava.
- Não escutou sua esposa pedindo para não brigar, e seu filho chorando, Tiago? – perguntou Lupin, amistoso – Precisa treinar mais um pouco para melhorar, heim, paizão de primeira viagem?
- A família é minha, eu sei como lidar com ela. – foi a seca resposta que escutou.
Lupin pareceu ignorar a resposta atravessada do amigo. Sabia que ele há tempos estava muito estressado com o serviço e a família. Tiago sempre fora um bon-vivant e com certeza ter se tornado um homem adulto e pai de família lhe parecia muita responsabilidade. O jovem auror pegou Harry no colo, e o garoto queria porque queria pegar a cruz.
- ...Cruz linda, de quem ganhou? – perguntou Lilian.
- Do Joaquim, o cristão português.
Lílian imediatamente se calou. Tiago olhou Lupin, levemente bravo:
- ...Se esse maldito padre tivesse ido à minha casa comigo lá, teria saído esfolado vivo. Uma pena que estava só Lílian e Harry. – em seguida ele tirou Harry dos braços de Lupin, dizendo, meio rápido – E por favor, Lupin... não fique com ele no colo. Sabe como é... pode fazer mal. Ele ainda é pequeno.
- Deixe de ser um pai tão ciumento. – riu Dumbledore, olhando Lupin, que baixou a cabeça. Obviamente que Tiago se referia a Lupin ser lobisomem. O cargo público no Ministério tinha lhe subido tanto à cabeça que ele achava que faria mal se seu filho, fruto de uma família exemplar e tradicional, fosse visto no colo de um lobisomem – A propósito, Lupin, como foi em Paris?
- Foi legal. – sorriu Lupin – Veja que cruz linda ganhei do Joaquim.
-...Você está ferido. – sussurrou Lílian, de cabeça baixa, recebendo Harry de Tiago, de novo, que dizia "segure ele, meu bem, não sei segurar direito".
- Ah, não foi nada. – disse Lupin, sorrindo, calmo. Seu braço esquerdo estava enfaixado, a queda da catedral havia lhe cortado o braço e ele tinha gases enroladas.
- ...Mas está sangrando ainda. – sussurrou Lilian, percebendo as gases manchadas.
- É normal. – retrucou, levemente impaciente.
Continuaram a conversar. Lílian volta e meia olhava aquele ferimento, parecendo preocupada.
- Onde arrumou isso? – perguntou Dumbledore.
- Um demônio apareceu em Notre Dame, dá para acreditar? Queria aquele livro. Acabei me arranhando na luta.
- Vocês continuam andando atrás de capetas do cristianismo com esse padre maluco? Francamente que tipo de bruxos são vocês? – ralhou Tiago – O ministério tem muitos serviços parados, e vocês, aurores, estão ajudando um padre português cristão lunático a caçar demônios!
- Dumbledore ainda é nosso líder. – disse Lupin – Não a área Administrativa do Ministério. Se o nosso mestre não nos impede de ajudar Joaquim, nós não hesitaremos em ajudar. – e em seguida sorriu - Sei quais são os serviços parados do Ministério, Tiago, e se nós temos você para ficar lá contando esses papéis parados, por que iremos deixar a nossa ação e a nossa diversão de lado?
Tiago se calou. Virou-se para Dumbledore, e esticou o Profeta Diário:
- O jornal já anunciou a comemoração dos cinco anos da Extinção do Mal. E já divulgou os principais órgãos do governo que irão receber as partes do corpo daquela bruxa das trevas. Eu não irei perder nenhuma das cerimônias. Assistirei todas com orgulho.
Snape examinou o jornal, correu os olhos pelos lugares descritos no jornal e comentou, etéreo:
- Me dou ao direito de fazer a pergunta que Leah faria se estivesse aqui: "...Afinal de contas, onde a porra do Ministério vai exibir meu lindo par de peitos e minha irresistível bunda? Eles merecem destaque!"
- ...Ninguém vai homenagear Lílian? – estranhou Dumbledore, olhando o jornal, ignorando a alfinetada de Snape, e perguntando, simplório – Porque não mudam a celebração da "Retalhação da Mulher Demônio" para a "Aclamação e Ovação à Grande e Pura Heroína que Salvou o Mundo Mágico"? É tão mais agradável glorificar Lílian e deixá-la passar palavras de paz ao público durante uma palestra do que partir o corpo de Leah em vários pedaços e sair pendurando ele por aí.
- ...Minha esposa não pode se envolver mais com essa mesquinharia e esses assuntos, professor. – disse Tiago, segurando Lilian pelos ombros – Não é mais o papel dela. Ela tem uma nova vida. Bem.. até mais para todos.
- Compreendo. – disse Dumbledore. E, quando eles deram as costas, ele fez questão de lembrar – E... Tiago. ...Eu já lhe disse: não use mais o professor antes do meu nome. Não faço questão. – e lhe deu um sereno e educado adeus com a mão – E passem bem, todos vocês.
E assim, a família Potter sumiu de vista, subindo a avenida, deixando novamente os aurores no passeio, olhando o movimento no cair da tarde.
N.A 1: Bem vindos à DOOMSDAY, fic que finalmente encerra a "Trilogia L²"! Trilogia L² porque vocês sabem, o 'casal' principal da fic é Leah e Lilian. Leah vocês sabem, é personagem original da EdD, e Lílian é Lílian Evans, que é só Lilian Potter na historia da JK. XD Essa trilogia eu fiz porque o pessoal queria muito ter uma idéia de como era a relaçõa explosiva entre as arquiinimigas Leah e Lilian, na fanfic Espada dos Deuses. Mas eu acabei fazendo essa "AU" (Alternative Universo), que são três fics que tem as duas, mas que não mudam nada nos acontecimentos da EdD original, e mto menos tem algo a ver com os livros. Essa fic final, aliás, se distancia DEMAIS de todo o universo de bruxos, acabando sendo mais uma saga com pano de fundo cristão. /
N.A 2: Como eu já havia dito, essa fic vai ser slash. Ou seja, se você nõa curte slash, melhor nem ler. Eu também não gosto de slash, mas eu resolvi topar o desafio de tentar escrever uma fic q fosse slash e aceitável pra mim, sem ser vulgar. me desejem sorte!
N.A 3: Sem nada a acrescentar. Como vocês viram, as coisas mudaram MUITO desde o final da Medo do Escuro. E, roa essa, o herói do capítulo é... LUPIN! Gosto dele, e ele vai ter mais atenção nessa fic. Ou seja, podemos colocar ela como sendo L³: Leah, Lilian e Lupin! HAHAHHAHAHAHAHAHHAHA Até o próximo ato!
