N/A:
Ah, mais um surto, como sempre :)
Agradeço à todos que
comentaram nas minhas outras oneshots, obrigada mesmo gente! Mesmo
que talvez alguns nem vejam meus agradecimentos, não poderia deixar
de registrá-los, mesmo que em outra oneshot :)
Disclaimer: todo aquele blá blá blá de que ninguém me pertence e coisa e tal.
De
Acordo com a Teoria
por
Bells L. J. P.
James
abriu a porta, hesitante e silenciosamente. Podia ouvir os soluços
dela. Estava chorando, que nem Alice o alertara. E ele sabia que a
culpa era dele.
Sentiu
uma punhalada atingir seu peito.
O remorso pesava a cada dia mais
naquela última semana. Tinha sido um idiota, e o pensamento de que
provavelmente a teria perdido para sempre por causa de sua estupidez
em deixar que o orgulho ferido e o sentimento de vingança falassem,
por um momento, mais alto do que seus sentimentos por ela, o
atormentava.
E ela estava tão perto, tão intimamente
próxima.
Fechou os olhos com força, respirando fundo, e adentrou
a sala, tentando fazer o mínimo de barulho possível e fechando a
porta atrás de si.
Os soluços torturantes de Lily permaneceram,
e por alguns minutos foi o único som a quebrar o silêncio.
Ela
não havia percebido que James estava ali, e, no entanto, ele não
conseguia se pronunciar, se mostrar presente. Não tinha forças nem
ao menos para se aproximar dela.
Aquele choro simplesmente doía
nele, o machucava,
fazendo com que aquela cena estúpida se repassasse em sua cabeça
como um filme.
(flashback)
Ter
os lábios dela pressionados sobre os seus já havia sido o
suficiente para que um frio percorresse sua espinha. Quando o beijo
se aprofundou, sentiu como se houvesse somente os dois no mundo, como
se nada mais importasse. Antes que desistisse, James começou. -
Gostou, Lily? – sua voz era doce – Ou deveria dizer O sorriso de Lily não se
desfez, mas sua expressão era confusa. - James, o que- -
Potter. – James interrompeu, sorrindo irônico – Me chame de
E
então o sorriso dela abandonou por completo sua delicada face,
enquanto se afastava um passo dele. - Não estou entendendo. –
comentou, inocentemente. - Então deixe-me explicar. – seu
tom de voz ainda era debochado – Desde que tínhamos onze anos,
você me considerava alguém extremamente arrogante, um ser
desprezível, e começou a deixar isso bem claro a partir do quarto
ano, quando eu te chamei para sair pela primeira vez, acrescentando
que eu era também galinha e indigno de confiança, me fazendo passar
por diversas humilhações públicas. – parou para tomar fôlego, e
continuou antes que ela pudesse rebater – De acordo com você, eu
só estava interessado em acrescentar o seu nome em uma lista
qualquer sobre as garotas com quem eu saia, e faria contigo o que
você alegava que eu fazia com as outras: te usaria e então te
jogaria fora. – respirou fundo, receoso de continuar. Mas não
refreou as palavras que pareciam entaladas em sua garganta por tanto
tempo, arrependendo-se no exato momento em que elas escapavam por sua
boca – Acontece, Evans, que isso nunca passou de uma teoria
estúpida sua, pois você não me conhecia, e então não podia me
julgar. Mas agora você me conhece, e sabe que eu nunca fui da
maneira que você sempre julgou, e por isso, suponho, resolveu
tentar. Depois de três anos lhe pedindo uma chance e ouvindo todo o
tipo de desaforo, aqui estamos nós. Mas e se eu quisesse, por um
momento sequer, comprovar a sua teoria idiota, Evans? Isso
significaria que, de acordo com você mesma, eu já posso colocá-la
na lista que você sempre supôs que eu tivesse. Já a usei, Evans.
Suponho que, de acordo com todas as afirmações feitas por você ao
longo dos últimos três anos, esteja na hora deu te jogar fora. –
fechou os olhos por pouco mais de um segundo, puxando ar, e, quando
os abriu, deparou-se com as esmeraldas que tanto apreciava quase
nubladas de tão marejadas. Uma lágrima escapou por uma delas, sem
que Lily sequer piscasse.
Esperara aquilo por muito tempo. Três
anos, especificamente.
Entretanto, havia planejado outra coisa
para aquele momento.
Há poucos meses, desde o início do ano,
eles estavam se aproximando. E, conforme isso acontecia, ao mesmo
tempo em que a felicidade ocupava todo o seu ser, um sentimento de
vingança também crescia, aos poucos, junto à seu orgulho – até
o momento, ferido -, que o fazia lembrar-se martirizado de todas as
humilhações que ela o fizera passar, do quanto ele havia sofrido
por ela.
Vê-la, ao invés de causar o mesmo calor de sempre,
começou a tornar-se uma forma de sofrimento, que gerava raiva. Raiva
dela.
Mas ele não conseguia esquecê-la, e muito menos evitar a
amizade colorida que crescia cada vez mais entre ambos.
E então,
tomado pela confusão de seus sentimentos, ele tomou a decisão da
qual mais se arrependera em sua vida: seria cruel com ela, faria com
que ela sofresse, pois ele também sofrera.
Achava que, apenas
depois de vê-la sofrendo por ele, conseguiria tê-la sem que isso
lhe causasse mais dor do que felicidade.
Sirius e Remus ainda o
tentaram convencer do contrário. Tentaram fazer com que ele
enxergasse que, se ele estava confuso, deveria afastar-se, esperar
que seus sentimentos se acertassem.
Mas ele estava decidido.
E
lá estava ele, em um corredor vazio com a ruiva que havia tomado seu
coração para si, beijando-a pela primeira vez, como sempre
ansiara.
Estava encostado na parede, com Lily perfeitamente
encaixada contra seu corpo, colada a ele. Uma de suas mãos envolvia
a cintura dela, enquanto a outra agarrava de forma abrupta - porém
delicada - seus cabelos, como se, inconscientemente, ele estivesse
com medo de que ela lhe escapasse.
Lily, por sua vez, mantinha as
duas mãos remexendo nos cabelos já suficientemente rebeldes e
bagunçados dele.
James não queria que aquele momento acabasse.
Se pudesse, teria parado o tempo. Chegou até mesmo a esquecer-se de
seus planos enquanto a beijava, mas eles logo foram lembrados quando
os dois se separaram ofegantes, os lábios vermelhos e levemente
inchados.
Lily sorriu, radiante, enquanto ainda recuperava o
fôlego.
Seu rosto estava sem expressão, como
ele nunca vira antes, e seu lábio inferior tremia de leve. Ele sabia
o que aquele tremor significava quando se tratava de Lily: o choro
estava por vir.
E então ela piscou, parecendo acordar de um
transe, fazendo com que uma quantidade inacreditável de lágrimas
escorresse por sua face, que agora se contorcia em uma expressão de
tortura.
As batidas do coração de James falharam, tal como sua
respiração. O remorso já o havia atingido quando ele soltou
aquelas palavras cruéis, mas não da forma como estava atingindo
agora.
Ele não pôde imaginar que vê-la sofrer lhe causaria
tanta dor, tanta angústia. E, portanto, era tarde demais para
desfazer o que ocorrera há menos de dois minutos.
Abriu a boca,
procurando, inutilmente, algo para dizer. Mas, antes que ele pudesse
pronunciar qualquer coisa, Lily já havia lhe virado as costas e
sumia pelo corredor. E ele se sentia um covarde, um idiota, um
imprestável. Escorregou pela parede em que ainda estava encostado,
afundando a cabeça entre as mãos, deixando que as lágrimas
escorressem também pelo seu rosto.
Estava tudo acabado, e somente
por ele ter agido com uma crueldade que não fazia parte dele.
(fim do flashback)
Após
mais um soluço vindo do canto extremo da sala de aula vazia, James
fez força para aproximar-se. Já havia sido covarde demais durante
toda aquela semana. Primeiro, por ter feito algo tão cruel; e,
segundo, por ter esperado tanto tempo para ir falar com ela, mesmo
que isso não fosse resolver as coisas. Ele simplesmente precisava
fazer isso, não poderia deixar a situação do jeito que estava, com
os dois se ignorando enquanto mantinham um semblante triste.
Precisava se desculpar, e agüentaria calado se ela pisasse em cima
dele de forma muito pior do que ela costumava fazer.
James acendeu
a luz, não conseguindo pensar em outra maneira de se pronunciar.
Os
soluços de Lily cessaram no mesmo instante, e ele pôde, enfim,
vê-la: sentada no canto mais obscuro da pequena sala, com os joelhos
dobrados e a cabeça entre eles, as mãos envolvendo as pernas juntas
ao corpo e os longos cabelos acaju presos em um coque mal feito.
Ela
não ergueu a cabeça, com medo de ver quem entrara lá justo quando
ela mais queria ficar sozinha. E se fosse ele?
Ouviu
o barulho de passos se aproximando, e permaneceu imóvel.
James
sentou-se ao lado dela, devagar. Pigarreou, sem saber exatamente como
agir.
Lily levantou o rosto molhado hesitantemente, e o fitou com
os olhos ainda lacrimejados. Sentiu sua respiração falhar por um
momento. O que ele estava fazendo ali, afinal? Já não bastava ter
dito todas aquelas coisas e depois tê-la ignorado por uma semana,
como se não estivesse explícito a todos o quanto ela estava
triste?
- Lily – disse James, em um fio de voz –, precisamos conversar.
- Não, não precisamos, Potter. – ela respondeu, e seu tom não era rude e nem grosseiro; era triste – E não tinha voltado a ser Evans?
James respirou fundo, não conseguindo sustentar o olhar dela.
- Tinha, por um momento. Mas eu prefiro Lily. - respondeu, no mesmo tom triste que o dela.
Lily suspirou, fazendo menção de se levantar.
- Não! Fica, por favor! – James pediu, segurando-a pelo braço antes que ela conseguisse estar de pé.
Lily voltou a se sentar, meneando a cabeça. Dobrou os joelhos novamente, mas não os envolveu com seus braços, e encostou-se na parede atrás de si.
- Não temos o que conversar, Potter. – disse, encarando algum ponto indefinido a sua frente.
- Eu tenho o que conversar, Lily. Se você não quiser falar nada, apenas me ouça, por favor. – falou, implorativo.
Lily respirou fundo, e o silêncio tomou conta do local por longos minutos, até que ela o quebrou.
- Como sabia que eu estava aqui? Mapa do Maroto? – Lily sabia do Mapa e da capa da invisibilidade desde que se tornara amiga dos Marotos.
- Exato. Mas não foi minha primeira alternativa. Falei com Alice antes. Perguntei se ela sabia onde você estava e se ela recomendava que eu viesse falar contigo. – ele respondeu, fitando um ponto indefinido a sua frente, assim como ela.
Lily riu. Um riso frio, sem vida, que fez o coração de James congelar por um momento: aquela não era a Lily que ele conhecia e por quem ele havia se apaixonado. A ruiva era uma das pessoas mais vívidas e animadoramente felizes que ele conhecia. Perdendo, talvez, apenas para Sirius.
- Alice às vezes se sai uma ótima melhor amiga. – disse, irônica, imaginando corretamente que a loura havia respondido à James que ele já deveria ter falado com Lily há muito tempo e que ela provavelmente estaria em uma sala isolada e inutilizada sozinha por estar chorando.
- Ela apenas
procura fazer o que acha melhor para você. – James respondeu,
adivinhando os pensamentos dela.
Lily bufou, fechando os olhos.
Ele voltou seu olhar a ela, e sentiu algo pesar no estômago com a
expressão de sofrimento dela.
- Lily, eu realmente preciso falar com você. – disse, deixando o desespero transparecer no timbre de sua voz.
- Sou toda ouvidos. – ela respondeu, calma, permanecendo na mesma posição e com os olhos ainda fechados.
- Lily, sobre a outra noite – sua voz tremia -, digo, sobre o que aconteceu após nos beijarmos semana passada-
- Se o assunto é esse, desista. – ela interrompeu, abrindo os olhos, mas sem encará-lo – Não temos o que conversar sobre isso.
- Você disse que me ouviria! – James protestou, sua voz perdendo a força e tornando-se, novamente, quase inaudível.
- Já ouvi o suficiente naquela noite, Potter. – disse, e James pôde perceber que o lábio inferior dela começara a tremer, assim como sua voz – E sabe de uma coisa? Você tem razão. – uma lágrima solitária escorreu de um de seus olhos vividamente verdes – Que direito eu tenho, afinal, de achar que estaria tudo bem após passar tantos anos te odiando e te maltratando e, de repente, mudar completamente o meu conceito e o meu comportamento contigo ao ver que eu te julguei errado? É totalmente compreensível que, para você, eu pareço ignorar o fato de que você também tem sentimentos!
- Lily, você está sendo dura demais consigo mesma. Em nenhum momento eu achei que você ignorasse os meus senti-
- Será que é tão difícil assim entender como eu estou me sentindo, Potter? – ela interrompeu, passando a fitá-lo, seu rosto encharcado pelas lágrimas que começaram a escorrer de seus olhos – O erro foi meu, e não seu!
- Como é? – James estava dividido entre a dor de vê-la chorar por culpa dele mais uma vez e o desentendimento – Lily, eu não deveria ter dito aquelas coisas!
- Você não teria dito se eu não tivesse dado motivos para isso! – Lily elevou consideravelmente o tom de voz, intensificando seu olhar sob o dele – Entende agora? Eu errei, e não você.
James ficou sem reação. Não queria admitir, mas o que ela tinha dito era a mais pura verdade. Então a culpa era dela, afinal? Ele realmente não esperava por aquilo.
Com um soluço, o choro de Lily se intensificou. Ela baixou os olhos, não conseguindo mais encará-lo.
- Lily. – James disse,
simplesmente, com a voz doce. Passou um braço pelo ombro dela,
puxando-a carinhosamente para si. Ela não demonstrou resistência, e
encostou a cabeça no peito dele.
Beijando a testa dela, James
passou a brincar com algumas mechas ruivas que estavam soltas de seu
coque.
Aninhada confortavelmente no peito dele, totalmente envolta
por seus braços, Lily fechou os olhos, deixando os soluços
provocados pelo choro incessante ocorrerem naturalmente.
- Me perdoe. – ela murmurou, fungando.
- Me perdoe você, Lily. – ele respondeu, enxugando o rosto dela com a mão que antes mexia em suas madeixas.
Ela levantou seu rosto para ele, com a cabeça ainda encostada em seu peito.
- Eu não mereço alguém como você, Potter. – disse, encarando-o tristemente.
- Merece alguém muito melhor. – ele rebateu, forçando um sorriso maroto em seu rosto.
Lily deu a mesma risada sem vida de antes.
- Alguém pior, você quer dizer. – corrigiu, sem quebrar o contato entre o olhar de ambos.
James afastou uma mexa ruiva do rosto dela.
- Não diga uma bobagem dessas. Você é a pessoa mais maravilhosa que eu conheço.
- Com certeza devo ser a mais cruel também.
- Suas qualidades são incontáveis, Lils. E eu não te acho uma pessoa cruel. E, de qualquer forma, eu fui mais cruel do que você, porque eu tinha consciência do meu erro e de que eu te faria sofrer quando falei aquelas coisas. – ele sentiu seu estômago embrulhar ao lembrar-se novamente daquilo.
- Você estava sofrendo. – ela justificou, enxugando novas lágrimas com as costas de uma das mãos.
- Está vendo o quanto você é perfeita? Conseguindo justificativas até para uma coisa dessas, sempre colocando os outros a sua frente. Você está sofrendo agora e não está sendo cruel comigo. – ele rebateu, de imediato.
- Será que podemos esquecer esse assunto de crueldade? – ela revirou os olhos – Eu mereço estar sofrendo por você depois de tudo o que você já sofreu por mim, Potter.
James abriu a boca para responder, mas ela foi mais rápida.
- Era evidente que isso ia acontecer, não é? – disse, baixando os olhos – Quer dizer, isso é até um pouco clichê: Depois de tudo, eu me apaixonar. – completou, o tom de voz diminuindo a cada palavra.
James sentiu a respiração falhar
e as batidas de seu coração descompassarem.
Logo, toda a dor e
remorso deram lugar a uma felicidade e alegria que ele nunca havia
sentido em tal intensidade, nem mesmo quando ele e Lily haviam
começado a se aproximar.
Levantando o rosto dela delicadamente, ele uniu os lábios dos dois, mas ela imediatamente pousou as duas mãos no peito dele, empurrando-o de leve.
- Não, Potter. – disse suplicante, com a voz embargada.
- James. – ele corrigiu, escorregando a mão que estava no rosto dela para seu pescoço, puxando-a para si, unindo seus lábios novamente.
Depois de poucos segundos, ela o empurrou mais uma vez.
- James – ainda em súplica -, não torne isso mais difícil.
- Quem está tornando isso difícil é você, Lils. – respondeu, sua boca repuxando-se em um sorriso. Não a deixaria escapar dessa vez. Nunca mais.
- Mas... – ela abriu e fechou a boca algumas vezes, antes de continuar, seus lábios querendo formar um sorriso – Depois de tudo?
James riu, para depois encará-la docemente.
- Eu quero você, Lily. E nada pode mudar isso.
Abrindo o mesmo sorriso radiante que ela dera
depois do primeiro beijo dos dois, uma semana antes, Lily o puxou
pela gola da camisa, beijando-o intensamente.
Após longos
minutos, os lábios dela passaram a percorrer o pescoço dele,
subindo até a sua orelha.
- Eu te amo. – sussurrou, mordiscando-a de leve, sentindo o maroto se arrepiar.
- Eu também te amo. – ele respondeu, depositando um beijo na região temporal dela e deitando-a de costas no chão da sala.
- Ah, eu já imaginava, apesar de tudo. – ela rebateu, sorridente, usando o mesmo tom convencido que James costumava usar, fazendo-o rir.
- Lils, namora comigo? – pediu, passando de leve seus dedos pela bochecha ainda molhada dela.
- Claro que sim. – ela
respondeu, de imediato, já fechando os olhos para o beijo ardente
que sabia que James a daria.
E assim ele o fez.
