1º Capítulo – Ele não está feliz.

Sara acordou, empapada de suor. Gritava "não" e "Grissom". Lembrou-se que tudo não passara de um pesadelo. Nada era real. Mas os gritos, o suor, a angústia, o coração batendo como louco, pronto a lhe escapar pela boca; tudo isso, era bem real.

Tomou um pouco d'água, apagou a luz do abajur e tentou dormir, novamente. Mas não conseguiu. Levantou-se, foi até a cozinha e abriu a geladeira. Pegou uma garrafa de cerveja e foi até a sala, bebendo no gargalo. Chegou até a janela do 23º andar, onde vivia, em San Francisco e lá ficou até o dia amanhecer.

Fazia já três meses, que ela estava lá. Olhou a bela vista da cidade da janela de sua sala. Estava mais descansada, longe de crimes, corpos mortos e sangue. Dormia à noite, como uma pessoa normal. Mas não conseguira se encontrar ainda.

Encostada à janela, bebendo sua cerveja, relembrou tudo o que lhe acontecera, desde a noite, em que ela largara tudo, assim, de repente... Vida estabelecida...Amigos... Emprego... Grissom, principalmente Grissom... Como sentia falta dele! Do seu lar, das suas coisas, suas velhas manias.

Ainda não conseguia se resolver se sua saída dramática, fora um ato de coragem ou de idiotice. O que sabia com certeza era que não podia continuar, do jeito que estava. Sentia-se mal, respirava um ar sufocante. Sentia o peito oprimido e não conseguia se sentir feliz.

Ficar no deserto entre a vida e a morte, também não ajudou em nada a sua situação já precária. Quando ela conseguiu se livrar daquele inferno, colocada sem motivo aparente, que não fosse a mente doentia de uma doida, foi "castigada", duramente. Fora arrancado da companhia dos seus amigos e de Grissom, no trabalho.

Sentiu um pouco de frio, saiu de perto da janela e acomodou-se numa poltrona. O dia já amanhecera. Em breve ela teria de se arrumar, para ir ao trabalho.

Trabalho... No 1º mês, não fizera nada. Só dormira muito. No 2º mês, o corpo sadio pedira algo, para fazer e suas economias, não davam para ela ficar na folga. Ela conseguira um trabalho no FBI, puramente administrativo. Num escritório, das 9 às 5 h. Era isso ou lecionar. Assim de imediato, era o que podia arrumar. E não achava a opção de ensinar Física a jovens turbulentos, nem um pouco atraente. Não precisava que nada testasse seus nervos no momento. Muito menos, sua paciência.

Foi tomar uma chuveirada, pensando no pesadelo que tivera: era a 3ª vez essa semana, era sempre o mesmo, rigorosa e completamente igual, todas as vezes.

Sabia que sonhos eram elucubrações de seu cérebro, ela não era nenhuma menina assustada, tampouco uma pessoa supersticiosa, mas seu pesadelo lhe parecia tão real, que lhe assustava. Esfregou o rosto com força, como se pudesse mandar aquele sonho mau, embora pra longe, com a água.

Escolheu um vestido estampado, colocou uma sandália vermelha e fez uma maquiagem bem leve e, enquanto se via no espelho, pensava em Grissom. Ainda o amava! Na verdade, nunca havia deixado de amá-lo. Mas precisava deixar Las Vegas e se afastar de tudo, por uns tempos. Sentia que estava no seu limite.

Foi até a cozinha comer seu cereal matinal e pensou em ligar para Catherine, e saber como estava Grissom, verificar se havia uma chance remota de seu sonho se realizar. Lembrou-se que a essa hora, os CSI's começavam a dormir e não era conveniente incomodá-la com isso. Telefonaria mais tarde, pois teria que falar com alguém ou pressentia, que sua insônia, voltaria.

Na hora do almoço, isolou-se um pouco, teclou seu celular e ficou esperando alguém atender. Finalmente, uma voz pastosa de sono atendeu:

- Willows...

- Catherine é você? Aqui é Sara! – E sua voz sai um pouco tremida, pela emoção.

Catherine demorou um pouco para falar de volta. Sara fala Alô! Alô, impaciente. A voz volta clara. A dona da voz, já despertou, completamente.

- Onde você está? Em San Francisco, ainda?

- Sim. Estou no trabalho...

- Que estranho ouvir sua alusão a trabalho que não seja CSI.

Sara sorriu. Para ela também era difícil se imaginar fazendo outra coisa. Tirou o foco de sua pessoa.

- Como vai todo mundo?

- Vão todos bem! Com muita saudade, mas bem. Menos Gil, é claro!

- Por quê? O que ele tem? – E um vinco de preocupação, apareceu em sua testa.

- Ele não deixa transparecer muito, você sabe como ele é. Mas quem o conhece bem, assim como eu, sabe que alguma coisa vai mal: ele não é feliz!

Ela não sabia como entrar no assunto, sem alarmar a outra.

- Vocês por acaso, estão trabalhando em algum lugar montanhoso?

- Não. Por que?

- Por nada. Curiosidade, apenas. – Engoliu em seco. –Red Rocks, por exemplo?

- Ok, Sara, agora chega! Desembucha! O que você está sabendo, que nós não?

Ela mesma reconhecia, que aquela conversa não tinha pé, nem cabeça.