A história desta fanfic não tem nenhuma relação com a outra fanfic de minha autoria: "Sem Motivo". Nesta história Sylphid não passa de um personagem secundário que é pouco amigo de Valentine e Radamanthys não teria feito o que fez com Valentine. A fanfic se passa depois da guerra santa. Quando todos os espectros teriam sido revividos e passaram a continuar no submundo para cuidar e organizar as almas dos mortos. Essa fanfic foi feita de presente para minha amiga ShiryuForever94, e o Kyoto Wyvern dessa história é inspirado no que ela faz em nossos rpgs.
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Mudanças
--Capitulo 1--
O ruivo olhou para cima e suspirou, vendo o céu cinzento e imutável acima de sua cabeça. Apesar do céu nunca mudar e nunca ser realmente dia ou noite no mundo dos mortos, lá era usado o dia cronológico dos humanos, de vinte e quatro horas. Algum tempo depois da guerra santa, onde todos haviam morrido, os espectros haviam sido revividos e incumbidos de cuidar das almas dos humanos. E Valentine de Harpia, junto com mais alguns espectros, fora colocado para cuidar do Cocyte, o inferno de gelo para os que cometeram graves traições. Cuidavam do extenso local por turnos de quatro horas. Depois das quais tinham o tempo livre para treinar ou descansar.
Apesar das guerras terem acabado, todos os espectros tinham ordens de continuarem os treinamentos, pois sempre poderia aparecer um inimigo. Valentine, que servia ao kyoto Radamanthys de Wyvern, era um de seus principais espectros, mas felizmente, em sua opinião, não tinha que manter muito contato com ele. Radamanthys era um homem muito autoritário e arrogante, alem de outros adjetivos, e Harpia apreciava mais o sossego do Cocyte.
Valentine geralmente, quando era visto acompanhado por alguém, estava caminhando com Sylphid de Basilisco, uma das únicas pessoas com quem mantinha algum contato. Todos que os viam achavam que eram grandes amigos algo do gênero, mas na verdade eram apenas dois solitários que por falta de opção acabaram amigos. Sylphid servia a Ayacos de Garuda e cuidava da sexta prisão. O lago de sangue fervente destinado aos assassinos. Nunca conversavam muita coisa. Não era uma amizade animada, por assim dizer. Mas era o suficiente para não se sentirem sozinhos. Era. Após algum tempo, algo de meses, meses que demoraram uma eternidade para passar, o Basilisco foi se distanciando, mais do que o normal para a verdade dizer. Pois próximos nunca realmente foram, apenas conversas em termos gerais e tempo gasto sem que realmente quisessem aquilo.
Harpia no momento estava trajando sua sapuris, apoiado numa pedra, olhando de um lado ao outro aquela imensidão gelada. Não sabia por que ainda se preocupavam em cuidar do Cocyte, por que por 'acaso' as almas estavam congeladas dentro do mar de gelo e não poderiam dali escapar sozinhas. Mas também não podia reclamar, era apenas por que ficava ali que não tinha que agüentar os outros espectros. E sabia que só era daquele jeito por que o cocyte era extremamente frio e por que ele bem tinha sua fama de reservado um tanto rebelde. E esse era outro ponto. Os outros também não se aproximavam dele e o achavam um tanto contraditório. Afinal, onde é que já se viu um espectro que não gostava de violência? Era brigão é verdade, já participara de muitas lutas, mas a guerra santa o mudara. Se fosse pra lutar no presente momento, só o faria por um motivo justo. Era chamado de fraco, todos achavam que tinha pouco cosmo e não entendiam como um espectro daqueles poderia ser um dos principais de Radamanthys. Ninguém é claro, se lembrava do fato que os cosmos podem ser ocultados, e era isso o que Valentine fazia todo o tempo.
Olhou o simples relógio que levava, onde afirmava que faltavam menos de dez minutos para seu turno acabar por aquele dia. Desencostou-se da pedra e começou a caminhar, sabendo que levaria agora um bom tempo até chegar às fronteiras do cocyte, onde se situava sua pequena casa. Enquanto caminhava viu Sylphid passando por ali, estranhou, já que a sexta prisão era um tanto... Muito longe dali. Acenou para ele, mas o Basilisco pareceu não ver nada e continuou seu caminho.
--Valentine p.o.v. —
"Apesar de não ser a primeira vez que ele fingia não me ver, doeu. Apesar de não sermos amigos muito próximos ele era a única pessoa com quem eu conversava. Sei que afasto as pessoas, mas tenho meus motivos. Só que... Eu só tinha a ele... Cada vez mais... E cada vez mais eu o sinto mais distante... Parece que ele desistiu de mim, desistiu de tentar me entender. Meu amigo... Eu algum dia pude realmente dizer isso? Eu posso pensar quantas vezes eu quiser, posso tentar lembrar o tanto que for preciso, não preciso de muito esforço pra saber que ele nunca nem mesmo foi verdadeiro comigo. Mas não tenho raiva dele. Não consigo sentir raiva dele. Só me sinto triste...
E ao mesmo tempo... Tão estranho... Eu olho essa imensidão de gelo, da qual eu geralmente não saio, e me vem à cabeça lembranças de toda a minha vida, e realmente... Em nenhuma delas eu estou acompanhado por alguém. Por um amigo. São todos apenas conhecidos que se afastaram... Mas nunca antes este sentimento de vazio se instalou em meu peito desta forma. Depois da guerra eu penso estar menos cego em relação a essas coisas... Mas... Não sei realmente o que pensar... Estou tão sozinho ao ponto de não conseguir nem ao menos raciocinar?
... Estou tão sozinho a esse ponto?
... Estou tão...?
... Estou...?
... Eu sou...?
... Eu sou tão...?
... Eu sou tão... Descartável assim?"
--Fim do p.o.v. --
Os pensamentos que passaram pela mente do ruivo não levaram uma fração de segundo, afinal, o tempo psicológico pode ser tão mais rápido quanto lento em relação ao tempo cronológico. Olhou por sobre o ombro, vendo o loiro se afastar e depois novamente olhou para frente, balançando a cabeça. A expressão era impassível para quem o visse. Mas somente para quem prestasse muita atenção, e pudesse ver os olhos verdes tão claros que a franja escondia, veria o quão vazios eles começavam a se tornar.
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Radamanthys de Wyvern andava apressado para a saída do castelo de Hades, o olhar dourado repleto de fúria. Havia, mais uma vez, discutido com os outros Kyotos. Não era segredo nem para Athena a rivalidade acirrada que existia entre eles, sempre brigando e se desafiando. Aquela, especialmente, havia sido uma discussão por demais acalorada. Os ânimos dos três juízes se exaltaram bem à frente de Hades, durante uma reunião sobre a burocracia do submundo e sobre os espectros que serviam a cada um dos kyotos. E tudo o que Radamanthys queria no momento era alguém em quem descontar sua fúria. Geralmente nesses momentos gostava de lutar contra algum de seus espectros, num treino um tanto quanto violento. Quando lutava, pra valer ou não, o loiro era sempre cruel, estrategista. Afinal, sempre fora, além de tudo, um assassino a mando de Hades. Mas no momento não achava bom se aproximar de ninguém, sua ira era tamanha que com certeza mataria qualquer um, e certamente receberia uma punição do seu Deus por destruir o próprio exercito.
Passava pelo Cocyte, quando, pelo canto do olho, viu o espectro de Harpia passando um tanto distante. Como sempre quando via qualquer pessoa, vieram a sua mente as lembranças do espectro. Nunca realmente conversara com ele, a não ser uma formal troca de palavras. O ruivo era um de seus espectros mais fortes, e o kyoto ouvia os espectros falarem sobre ele agir tão mecanicamente quanto um robô. Balançou a cabeça e continuou caminhando, deixando de dar atenção ao espectro. Sua mente registrou, distraída, que, pela primeira vez, Valentine não caminhava com o porte altivo e inatingível de sempre.
Ao sair do Cocyte encontrou novamente os muros de pedras cinzentas que caracterizavam todo o resto do submundo. Imediatamente caminhou para fora da trilha, que era usada para rapidamente atravessar as prisões, e se pôs a descarregar a raiva contra um alto paredão de pedra, gritando sua raiva e rebeldia por não poder fazer nada contra os Kyotos.
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Ao ouvir a porta batendo Valentine se deixou cair de joelhos no chão de sua casa. Fazia dois dias que Sylphid havia passado por ele no cocyte sem falar uma palavra. Desde então, as vezes que 'conversaram' podiam ser contadas nos dedos de uma mão apenas. O loiro insistia que realmente não o tinha visto, e se negava a falar qualquer outra coisa. Harpia olhou para os lados, reparando na aparência impessoal de sua casa. Tudo impecavelmente organizado. Cores neutras que não chamavam a atenção e nenhum tipo de decoração a não ser um antigo e grande relógio de corda que nem ao menos funcionava. Naquele momento sentiu falta de objetos. De coisas, de bagunça, de qualquer 'algo' que o pudesse distrair dos pensamentos. Levantou-se, cambaleando por alguns segundos e depois conseguindo se firmar em pé.
Andou pela casa, passando a mão pelas paredes nuas, das quais não pendia um retrato ao menos. Podiam procurar o quanto quisessem, não achariam uma fotografia que fosse naquela casa. O ruivo não gostava delas. Não gostava daqueles rostos que pareciam o acusar e rir-se dele cada vez que passava. Todas as fotos que tinha queimara e não tinha a mínima intenção de tirar outras. Chegou ao seu quarto, abrindo a porta. Não sabia o que o fazia tão sereno, tão... Nostálgico? Não, não era essa a palavra. Pensou mais uma vez, conseguindo então a palavra. Letárgico. Sentia-se daquela forma. Impedido de pensar, como se tudo o que se passasse a sua frente fosse apenas um filme, um sonho. Sabia que aquilo não era causado apenas por Sylphid. Era causado pela percepção de que realmente estava sozinho.
Não gostava daquela sensação. Pra ser sincero, a odiava. Odiava se sentir fraco, impedido de tomar uma decisão. Solitário. Olhou para a janela fechada, quase agradecendo por não ter que ver aquele estagnado céu cinza. Olhou-se no espelho de corpo inteiro que havia no canto do pequeno quarto. A pose altiva estava de volta, mas dava pra perceber o jeito que as mãos tremiam às vezes. As olheiras profundas no rosto branco. Os olhos, verdes claros e opacos. O cabelo quase vermelho, com a franja cobrindo os olhos e o resto dele desordenadamente espalhado pelas costas. Tocou a superfície do espelho com a mão, perguntando-se quem era aquela pessoa, que podia dizer não conhecer. Suspirou derrotado e resolveu desistir daquele drama todo. Seu turno naquele dia estava terminado e não tinha mais nenhuma obrigação. Foi até o banheiro, tomando um comprimido de sonífero e então se encaminhando novamente para o quarto.
Deitou-se na cama já sentindo o efeito do remédio. A visão desfocava e aos poucos escurecia, como todo o resto. Rendeu-se a um sono agitado, cheio de pesadelos, e que duraria até a próxima manhã, provavelmente.
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Acordou desorientado, como sempre acontecia quando tomava aquele remédio. Piscou os olhos, tentando expulsar o sono e se sentou na cama. Bocejou, lembrando-se de seu 'sonho' e logo depois fez uma careta. Melhor esquecer aquilo. Olhou o relógio, vendo que faltavam ainda uma hora e meia pra seu turno começar. Dormira quase 13 horas. Levantou-se e foi até o banheiro, atirando as roupas no cesto e entrando embaixo da água fria, aquilo ajudaria a despertar.
Depois de colocar a roupa e rapidamente comer algo saiu porta a fora, sentindo o gélido vento do cocyte o acertar em cheio, fazendo-o estremecer ligeiramente antes de seu corpo se acostumar com a temperatura. Começou a ronda inicial de uma hora, andando e verificando as fronteiras do inferno de gelo.
Não surpreendentemente, não viu nem sombra de alguém passar por ali. A não ser, é claro, das almas meio enterradas. Estava 'entretido' em seus pensamentos quando sentiu alguém apoiar a mão em seu ombro. Afastou-se ruidosamente, soltando um suspiro aliviado ao ver que era Sylphid. O loiro olhou-o com uma sobrancelha levantada, estranhando a reação do ruivo. Ouviu-o murmurar num tom sério, mas baixo como sempre. Nunca o tinha visto levantar o tom de voz, pensando bem, nem mesmo em lutas.
"Não. Não me toque..."
Valentine realmente não gostava de contato humano fora de lutas. Não sabia o motivo, mas simplesmente, quando o tocavam, perdia a cabeça e queria sempre se afastar o mais rápido possível.
Passado esse estranhamento inicial conversaram, se é que se podia se chamar de conversa um troca quase inexistente de palavras, por algum tempo e depois Sylphid foi embora, dizendo que tinha de cuidar da sexta prisão. Mas ele e o ruivo bem sabiam que a sexta prisão, a aquele horário, estava cheia de espectros e não precisaria de cuidados.
O ruivo olhou-o, havia desistido de tentar entende-lo. Balançou a cabeça e continuou a ronda. Finadas às quatro horas de 'trabalho', dirigiu-se a sua casa e tirou a sapuris, ficando apenas com a roupa de treino. Uma camisa comprida, mas sem mangas cor bege e uma calça de corte reto, de algodão, preta.
Pela primeira vez em muito tempo, abriu a janela de seu quarto, deixando o frio vento do cocyte entrar e se espalhar pelo cômodo. Inspirou fundo, sentindo o frio lhe invadir o corpo, mas não reclamou. Debruçou-se na janela, pensativo.
--Valentine p.o.v.—
Pergunto-me o que aconteceu... Poucos dias se passaram, antes eu sentia tanta falta dele, e até acreditava que era por ele que me sentia sozinho. Compreendo agora que esse vazio não se deve apenas ao fato do Basilisco ter se afastado. Se fosse assim, eu não o teria afastado com tamanha... Irritação.
Ponho a mão sobre meu coração, que bate devagar, calmo, ignorando meu estado atual. Acho na verdade, que o distanciamento de Sylphid, somado a outras coisas, apenas me abriu os olhos. Olhar essa paisagem fria ainda dói, mas não tanto, apenas me deixa frio, sem vontade de lutar, sem vontade de mover... Com vontade de me entregar, desistir...
Fechei a janela e agora caminhava por minha casa. Reconhecendo como sempre as coisas, e uma vez mais sentindo falta de algo. Penso novamente em tudo, repetindo num ciclo vicioso todos meus pensamentos e conclusões sem chegar a uma única resposta. Mas não posso fraquejar, por mais que queira. O próprio ato de fraquejar não me é normal. Nunca desisto de nada. Mas desisti agora... O que me impede de desistir é Hades. Jurei fidelidade eterna a ele e ao Kyoto que sirvo. Não me é permitido falhar, nem ficar fraco desta forma apenas por meus sentimentos.
Chega disso... Desde quando sou tão melancólico?
--Fim do p.o.v.—
Balançou a cabeça com este ultimo pensamento, e após fechar novamente a janela saiu da casa. Resolvendo que naquele dia iria caminhar um pouco, treinar em um lugar que não fosse à planície de gelo que se encontrava. Sentia o frio lhe chegando até os ossos e por isso resolveu deixar um pouco do cosmo escapar da 'contenção'. Imediatamente a sensação ruim, física, passou. Sentia, agora, o vento lhe tirando a franja do rosto, lançando seus cabelos compridos para trás, mostrando para quem quisesse ver a face quase tão branca como a neve, que tinha aqueles olhos serenos e sem brilho algum... Atormentados. O rosto anguloso, cheio de sombras e a boca de lábios finos, em arco, que parecia incapaz de um sorriso verdadeiro.
Chegou, então a fronteira do cocyte, não foram precisos nem meia dúzia de passos para sentir o frio passar completamente. Recolheu o cosmo, não querendo alertar ninguém. Queria ir até a prisão dos suicidas. Apesar do humor negro, aqueles lamentos sem fim eram a única coisa que poderiam distraí-lo no momento. E também, na floresta de arvores retorcidas estavam as Harpias malditas que eternamente flagelavam as almas que haviam sido transformadas nas grotescas plantas.
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O kyoto caminhava uma vez mais pelo inferno. Havia terminado tudo que precisaria arrumar e treinado todos os espectros que necessitavam. Agora, sem sua armadura, passeava pelo submundo, checando todas as prisões. Partira da primeira, onde fora discutir 'amigavelmente' alguns assuntos com Minos. E então começara a andar pela trilha que o levaria até o palácio de Hades. Após algum tempo de haver passado pela sexta prisão, viu-se entrando na escura floresta daqueles que haviam desistido de suas vidas.
Para eles existiam dois castigos, virarem as árvores que eram destruídas por Harpias, ou então passar a eternidade afogando e sendo afogados no lago que rodeava por aquele local. Ele achava aquele lugar tenebroso, além de que sempre passava aquele vento frio, como se assobiasse alguma coisa que deveria ser ouvida. Estava calmo, por isso percebia tudo ao seu redor, e facilmente pode ouvir os estalos a sua direita, afastados da trilha. Indicavam passos. Alguém andava por ali. Poderia ser algum espectro, mas era estranho, a maioria não gostava de 'passear' em uma floresta cheia de lamurias e monstros alados.
Vencido pela curiosidade e pelo tédio, resolveu se esconder, ocultando a poderosa cosmo energia e esperou quem quer que fosse, se aproximar. Devia ser um dos soldados rasos, nem espectros, pois o cosmo que sentia era muito baixo. Ouviu os passos cada vez mais próximos. E então viu um rapaz, muito magro, alto e de cabelos ruivos, passar pela frente das arvores, parar em meio à trilha como se sentisse algo e então virar-se para onde o Kyoto estava.
Radamanthys se surpreendeu até, embora a face exibisse a mesma indiferença irritada de sempre. Como alguém que tinha tão pouco cosmo pudera senti-lo quando ele ocultava o seu? Ao reconhecer o espectro entendeu. Era um de seus soldados mais fortes. Valentine. Estranhou o fato de ele não estar no cocyte e ainda estar sem a sapuris, mas não disse nada. Apenas ficou olhando o Harpia, cujos olhos não podia ver. Como se seus pensamentos fossem ouvidos, um forte vento, cheio de lamentos, passou, jogando os cabelos quase vermelhos para trás. Mais uma surpresa lhe passou ao ver aqueles olhos. Eram verdes, claríssimos, e estranhamente... Vazios. Passavam-lhe um sentimento estranho que não gostava muito. O deixava levemente incomodado. O silêncio reinava e restavam apenas aqueles olhos parecendo de vidro o encarando. Mas não os viu por muito tempo.
Valentine, que ficara olhando-o por esse momento, curvou levemente o corpo num movimento respeitoso que fez os cabelos voltarem a cobrir o rosto e então começou a se afastar pela trilha. Vira os olhos dourados do kyoto luzirem estranhamente ao verem os seus e sentiu certo incomodo, saindo dali então.
Wyvern ficou vendo-o se afastar. Ia falar algo antes dele se curvar e desaparecer, mas a visão daqueles olhos tão estranhos o fizera perder as palavras. Mantivera a pose, mas encontrava-se agora curioso sobre o espectro. Por que ele estava daquele jeito? Quando ficara assim? Por que aqueles olhos tão estranhos pareceram fugir dos seus? Como deviam ser eles brilhando? Rapidamente balançou a cabeça, aquelas perguntas não estavam indo por um bom caminho. Continuou o caminho, indo pela trilha, que alias, era o mesmo caminho pelo qual o espectro havia ido. Mas... Onde ele estava? Resolveu tentar deixar aquilo de lado e foi em direção ao castelo de Hades, tão perdido em pensamentos que não viu a sombra do espectro parada em cima de uma das arvores.
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Depois que viu o kyoto se afastar pulou do galho que estava num salto elegante e equilibrado. Alcançou o chão sem barulho algum fazer. Colocou as mãos nos bolsos e continuou a andar. Achara o jeito de Radamanthys um tanto diferente. Normalmente ele o olharia com descaso, falaria uma ou duas palavras rudes e continuaria seu caminho. Não ficaria parado encarando-o como se algo em si o incomodasse, nem ficaria tão calado com aquela expressão indecifrável.
Bloqueou os pensamentos sobre ele. Não gostava do 'chefe' afinal de contas. Continuou andando. Quando via algum espectro agilmente protegia-se em alguma sombra. Queria evitar quem quer que fosse. Chegou à primeira fronteira com o cocyte. De um lado havia geleiras e corpos meio afundados no gelo e do outro altas paredes e picos de pedra. Foi por este ultimo caminho. Deixou mais uma vez um pouco de seu cosmo se elevar e começou a treinar. Movimentos ágeis e limpos. Precisos. A respiração pouco a pouco rareando pelo esforço físico, a expressão compenetrada de sempre. Depois de algum tempo parou e olhou seu relógio, era melhor ir indo pra 'casa'. Olhou as mãos, vendo que haviam ficado vermelhas por causa dos socos contínuos nas pedras. E as unhas estavam roxas, assim como os lábios dele, demonstrando um frio que ele parecia não sentir.
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Espero que gostem da fic... ela tá indo a passo de tartaruga, mas tá indo...
A.M.
