– Dean? – o moreno abriu os olhos e fitou a figura do irmão mais velho, que terminava de vestir o casaco esverdeado, deixando-lhe sem resposta. – Dean. Dean!

– Só vou dar uma volta, Sam – o caçula dos Winchester se sentou na cama, fitando as costas do irmão, visivelmente confuso. Desde quando Dean dava uma volta? E desde quando falava naquele tom, tão sério, tão... digno de um Sam Winchester? – Volta a dormir, tá legal? Eu volto logo. Só vou tomar um ar, Sammy.

O Winchester mais jovem não conseguiu responder. Só observou Dean sair e bater a porta do motel atrás de si. Sam franziu o cenho, ainda fitando a porta, como se esperasse que o irmão voltasse rindo, dizendo que era apenas uma brincadeira.

Saltou da cama ao ouvir um ronco de motor conhecido e correu para a janela a tempo de ver o Impala negro se distanciando do motel e sumindo na noite. Passou os olhos esverdeados pelo quarto. Só depois de alguns instantes que Sam notou a ausência das coisas de Dean. Caiu sentado na beira da cama em que estava dormindo minutos antes.

The road is long

A estrada é longa

Dean o abandonara. Agora fazia sentido. O repentino afastamento do irmão. A ausência das brincadeiras ácidas e do humor sarcástico.

Não demorou a alcançar o celular e discar com urgência o número do telefone de Dean. Ouviu-o tocar uma, duas, três vezes antes de cair na caixa postal.

– Não... não, Dean – discou novamente. O mesmo resultado. – Merda, Dean!

Por pouco não atacou o celular na parede. Levantou-se, começando a andar em círculos pelo quarto com passos apressados. Quando passou pelo interruptor, acendeu a luz. Já havia perdido o sono há muito tempo. Levou alguns minutos para perceber que era verdade. Dean o havia abandonado. Havia o deixado ali.

Parou quando passou pela cama do mais velho, notando alguma coisa. Além de estar impecavelmente arrumada, havia um tipo de bilhete. Sam se aproximou e pegou o papel, o desdobrando. Reconheceu a letra de Dean no mesmo instante.

Oi, Sammy...

Tá, isso aqui é meio gay, eu sei, mas... nem sei porque tô escrevendo isso. Você deve tá me xingando pra caramba porque eu fui embora e não disse nada, não é? Eu te conheço, maninho.

– Dean, seu idiota – murmurou o moreno, se sentando na cama do irmão para ler.

Foi mal, Sammy. Eu sei que eu tava um porre. E você sabe disso também. Eu não tô agüentando mais, Sammy. Me desculpa, mas não dá.

With many winding turns,

Com muitas curvas sinuosas,

That leads us to

Isso nos leva

Who knows where

Quem sabe onde

Who knows where

Quem sabe onde

– Dean, o que você está pensando? – murmurou Sam.

Você deve tá falando: o que esse maluco tá pensando. Acertei, não é? Cara, eu te conheço. Por isso não dá mais. E não tô falando de você. Tá, tô sim. É que... Sam, eu não ia agüentar sem você, cara. Eu sei que posso continuar esse trabalho sozinho. Eu podia... eu não consigo mais sem você, Sammy.

– Claro que consegue, Dean... – murmurou o Winchester caçula. – Você sempre foi o mais forte da gente, cara, você sabe...

Eu agüentei até o quanto consegui, Sammy. Cuidei de você. Mas, ao mesmo tempo, você é quem cuidava de mim, Sam. Cara, você não sabe o quanto isso me fez bem. Lembra quando você disse que ia comigo atrás do papai? Eu não mostrei, mas, cara, você não sabe o quanto eu fiquei feliz naquele dia. A gente junto, caçando, era o que eu mais queria. Ser uma família, mesmo sendo só a gente.

But I'm strong

Mas eu sou forte

Strong enough to care

Forte o suficiente para cuidar

Ah, He ain't heavy

Ah, ele não é um fardo

– Dean... – Sam engoliu as lágrimas. – Dean, seu babaca.

Você é meu irmão, Sammy. Vai ser sempre meu irmãozinho. Meu maninho pirralho que eu sempre tinha que salvar o rabo.

Cause he's my brother

Porque ele é meu irmão

– Cretino. Eu também tinha que salvar seu rabo.

Sammy... eu fiz o maldito pacto por você... e por egoísmo, também... eu não ia conseguir viver sem você, maninho. Eu não podia continuar, não sozinho. Eu precisava de você do meu lado. Eu precisava cuidar de você. É o meu trabalho, cuidar do meu irmãozinho, sempre foi, e eu nunca vou reclamar disso...

So on we go

Então vamos em frente

His welfare is my concern

Seu bem-estar é minha preocupação

No burden is he,

O fardo não é dele,

To where, we'll get there

Para onde formos, chegaremos lá

– Dean, seu cretino idiota... – o Winchester caçula secou os olhos marejados, logo voltando a ler a carta do irmão mais velho.

Você nunca foi um fardo pra mim, Sammy. Mesmo reclamando, eu gostava de cuidar de você. Gostava mesmo. E acho que eu te mimei fazendo isso, seu pirralho.

Sam riu com nervosismo. Até naqueles momentos Dean conseguia ser um cretino irônico e que o irritava.

But I know

Mas eu sei

He will not uncomfort me

Ele não fica desconfortável comigo

Ah, He ain't heavy

Ah, ele não é um fardo

Ah, Sam, eu sei que você gostava de ser mimado, não é? Até hoje não lembro porque você foi embora. Aquelas brigas idiotas com o papai, eu acho. Se eu não estivesse perto, vocês dois se matariam, não é? Ah, cara...

– Com certeza eu e o pai nos mataríamos – sorriu Sam.

Você é meu irmão, Sammy... às vezes eu sinto falta daquela época em que você era um pirralho, sabe? Com uns 5 anos... ficava me enchendo de perguntas, mas eu não queria responder. Não queria que você crescesse tão rápido.

Cause he's my brother

Porque ele é meu irmão

The road is long

A estrada é longa

Nos metemos em muita confusão, não é, maninho? Passamos por muita coisa. Eu não queria essa vida pra gente, cara. A gente não ganha nada mesmo... por que continuar? Eu estou cansado, Sammy, e eu sei que você também não agüenta mais.

– Oh, Dean...

With many winding turns,

Com muitas curvas sinuosas,

That leads us to

Isso nos leva

Who knows where

Quem sabe onde

Who knows where

Quem sabe onde

Pro pai sempre foi fácil decidir, desde que a mãe morreu. Nossa felicidade versus a vida de um monte de gente. Mas não é fácil pra mim, Sammy. Eu queria que a gente fosse feliz, que a gente tivesse uma família de verdade.

– Dean...

But I'm strong

Mas eu sou forte

Strong enough to care

Forte o suficiente para cuidar

Ah, He ain't heavy

Ah, ele não é um fardo

Cause he's my brother

Porque ele é meu irmão

Nem eu sei por que tô dizendo essas coisas... acho que... ah, cara. Você vai me odiar. Eu tenho certeza.

– Do que você tá falando, idiota? – murmurou Sam, passando os dedos pelos cabelos fartos, tirando alguns fios de cima dos olhos.

Sam entreabriu a boca ao terminar de ler a carta do irmão. Pegou o celular e pensou em discar para Dean, mas sabia muito bem que ele não atenderia. Discou para Ellen. Não demorou muito para a dona do Roadhouse atender.

– Ellen, eu preciso falar com o Ash – disse, depois que a mulher atendeu. – É urgente.

O que houve, Sam? – indagou Ellen.

– Depois eu explico, mas agora eu preciso falar com o Ash – insistiu o moreno.

Ok, só espera um pouco – Sam suspirou, aliviado, apertando na mão livre a carta que Dean lhe deixara. – Ele está vindo.

– Valeu, Ellen.

E aí, Sam – o caçula suspirou aliviado ao ouvir a voz de Ash. – A Ellen disse que você quer falar comigo urgente.

– Preciso saber onde o Dean está, Ash.

Ele não está com você? – indagou Ash.

– Isso é tão óbvio? – indagou Sam, com certa irritação na voz.

Não precisa ficar estressado – disse Ash. – Me dá... uns 20 minutos.

– Ok, me liga assim que descobrir – pediu Sam, desligando. Olhou para o celular por um momento e discou o número do irmão com urgência. – Anda, Dean, atende...

When the going gets rough,

Quando o caminho ficar duro

I've got a brother

Eu tenho um irmão

When the going gets tough,

Quando o caminho ficar penoso

I've got a friend

Eu tenho um amigo

Ah, you must call me

Ah, você tem que me chamar

Alô?

– Ah, Dean, graças a Deus – Sam suspirou. – O que deu em você, cara?!

Ah, isso... – o Winchester mais velho suspirou também. – Sammy...

– Volta pra cá agora mesmo!

Não posso.

– Claro que pode, Dean! – disse o moreno. – Volta, vamos conversar direito, cara.

Sinto muito, Sammy – pediu o loiro. – Não dá.

– Seu idiota, você não pode simplesmente me deixar pra trás desse jeito! – irritou-se Sam, se levantando e recomeçando a andar pelo quarto. – Droga, Dean! Volta, cara.

Já disse que não, Sam – disse o mais velho.

– Dean, vamos conversar direito – insistiu o mais novo, se sentando em sua cama. – Por favor.

Desculpa, Sammy.

– Dean! – chamou, sem sucesso. O Winchester mais velho já havia desligado o celular. Suspirou, espantando as lágrimas. – Merda, Dean, seu idiota... – se animou quando o celular tocou, mas viu que era o número do Roadhouse. Atendeu. – Ash?

Já sei onde o Dean está – disse o rapaz.

– Onde? – Sam se levantou num salto. – Fala logo, Ash!

Tá bem, não precisa se estressar – disse Ash. – Ele está em Lawrence, Kansas.

– Ele está aonde?!

Aonde você ouviu – disse Ash.

– Valeu, Ash, me ajudou pra caramba.

Sam desligou e se sentou na cama novamente. Era verdade que estavam perto de Lawrence, mas Dean devia ter dirigido muito rápido para estar lá. Ou, provavelmente, o mais novo dos Winchester deveria ter passado muito tempo lendo a carta do irmão.

Sam se levantou e rapidamente juntou suas coisas. Deveria ter um ônibus para Lawrence. Jogou a mochila nas costas e guardou a carta de Dean no bolso da frente do casaco. Pagou as noites que ficaram no motel barato e se dirigiu à rodoviária próxima.

Yeah, yeah

Yeah, yeah

All you must call me

Tudo o que você tem que fazer é me ligar

He, he's my brother

Ele, ele é meu irmão

He's my brother

Ele é meu irmão

Não demorou muito para o ônibus chegar. Sam embarcou e se sentou num dos bancos vazios no fundo. Fechou os olhos por um instante, sentindo o ônibus começar a se mover. Sorriu levemente. Dean achava que escaparia dele tão fácil? Passou os dedos por fora do bolso do casaco aonde deixara a carta do irmão. Ele ia ter uma bela surpresa.

[...]

– Oi – Sam sorriu levemente para a recepcionista do motel barato. – Você sabe me dizer em que quarto está o dono daquele Impala 67? – ele apontou para o carro pela janela.

– Ah, o rapaz loiro e bonitão? – Sam concordou, reprimindo o riso. – Ele está no quarto 203, querido. É seu...?

– Meu irmão – completou Sam, sorrindo levemente. – Obrigada pela informação.

O mais novo se afastou da recepção e seguiu para o quarto que a mulher indicara. Encostou o ouvido na porta, sorrindo vitorioso ao ouvir o barulho do chuveiro ao longe. Girou a maçaneta, mas constatou que a porta estava trancada, então suspirou, puxando um cartão do bolso. Passou os minutos seguintes se ocupando em tentar abrir a porta, e não demorou muito. Ele entrou, sorrateiro, e fechou a porta atrás de si sem barulho, a trancando novamente.

Sam sorriu ao ver duas camas de solteiro no quarto. Aproximou-se da mais arrumada e depositou sua mochila, se sentando enquanto fitava a porta entreaberta do banheiro, de onde podia ouvir claramente o barulho do chuveiro.

"Dean, seu cretino idiota", pensou, sorrindo. "Achou mesmo que eu ia deixar você fugir assim?"

Sam se levantou ao ouvir o barulho do chuveiro parar, então cruzou os braços. Viu Dean sair do banheiro já vestido e com uma expressão de choque no rosto ao vê-lo ali. O caçula se aproximou, deixando os braços caírem.

– Dean, o que você acha que tá fazendo, cara?

– Sammy? Como me achou? – indagou o mais velho, ignorando a pergunta do outro.

– Ash – disse Sam, simplesmente, depois segurou os ombros de Dean, o fitando. – Por que você veio pra cá?

– Sei lá – Dean desviou o olhar. – Foi o primeiro lugar que me veio. O que você tá fazendo aqui, Sam?

– O que você acha, seu idiota? – indagou Sam. – Vim atrás de você, é claro. No que você tava pensando?

– Sammy, você...?

– Eu vi – o moreno soltou um dos ombros do irmão e puxou a carta que ele deixara do bolso. – Mas, Dean...

– Então? – indagou o loiro, meio ansioso.

– Dean, por que você fugiu, cara? – indagou Sam.

– Eu... sei lá... não queria que você... ferrei com a nossa relação, não é?

– Não, não ferrou – Dean fitou o irmão caçula, visivelmente espantado.

Sam sorriu levemente, guardando a carta no bolso, e elevou as mãos até o rosto do irmão. Aproximou-se timidamente dele e selou os lábios nos de Dean num beijo tranqüilo, temendo ser rejeitado.

Dean aproveitou o momento que o irmão guardava a carta para enxugar os olhos marejados. Arregalou os olhos esverdeados um pouco, chocado, ao sentir as mãos de Sam em seu rosto e corou levemente ao sentir os lábios do caçula tocarem os seus num beijo calmo. Sorriu e permitiu que o moreno aprofundasse o beijo.

– Sammy... – Dean ofegou depois que se separaram do beijo, alguns minutos depois, por falta de ar.

– Há meses venho tentado lhe dizer, Dean – ofegou Sam. – Eu também te amo, e não só como irmão.

– Merda, Sammy, eu achei que... – o loiro sorriu levemente. – Que você ia me odiar. Somos irmãos. Essa coisa toda...

– Que se dane essa merda toda – sorriu Sam. – Droga, Dean, eu amo você.

– Eu também amo você, Sammy... meu Sammy...

Abraçaram-se. Sam procurava naquele calor conhecido dos braços do irmão aquela paz conhecida que só sentia quando abraçava Dean, aquela sensação boa de que sempre estaria protegido.

– Dean?

– Sim, Sammy?

– Me promete que não vai mais me deixar? – pediu o caçula.

– Eu prometo, Sam. Eu vou cuidar de você.

Ah, He ain't heavy

Ah, ele não é um peso

Cause he's my brother

Porque ele é meu irmão