Disclamer: Tudo é do J.K Rowling, só essa ideia torta me pertence
Olhos de outono
Draco gostava do outono. Gostava da sobriedade, do vento intenso, da mortalidade da estação. Era a única estação que espelhava a humanidade. As outra estações lhe eram detestáveis.
O verão, por exemplo era muito quente, muito vivo, muito extremo, muito Gryffindor. Que estação detestável e enjoativa, pensava Draco. Outra coisa que o irritava no verão era a falsa felicidade que ele trazia, o falso êxtase. As pessoas sorriam demais nessa época, se esforçavam demais para ser felizes. Tão cansativo.
Pansy era verão. Tinha nome de verão. Tinha nome de algo vivo, singelo e feliz – e mesmo que não o fosse, aparentava ser, e era isso que importava e que sempre importou. Pansy também era enjoativa, todos aqueles abraços apertados e o cheiro muito doce, todos os beijos roubados, todos os sorrisos falsos. Pansy fingia bem e fingia o tempo todo, que nem o verão. Fazia todos acreditarem de que era feliz, de que era amável, quando era só amarga, triste e molhada – molhada de lagrimas, de desejo e de suor – a única coisa que tinha vida de verdade nela era seu cabelo, loiro, bonito, comprido, sedoso e brilhante como um raio de sol.
E assim como Draco sempre se cansava rapidamente do verão, ele sempre se cansava de Pansy. E ela chorava por isso, e Draco a lembrava de que as chuvas de verão eram igualmente cansativas. Um maldito ciclo vicioso. Até que chegasse o outono tudo era insuportável.
Então como um alivio para alma, vinha o outono, refrescante, forte, renovador.
E sendo o outono sua estação favorita, não era surpresa de que ele passasse rápido demais para que Draco aproveitasse, era apenas um borrão marrom. O inverno surgia como uma faca fria, com todos os seus tons de azul, branco e cinza. O inverno era evidência da morte, era a evidência do fim. Draco detestava fins, detestava ainda mais fins sem final, daquilo que acabou quando não deveria ter acabado, como o outono.
Daphne Greengrass era a personificação do inverno. A pele conseguia ser mais branca do que qualquer neve, seu cabelo platinado e triste era como o brilho fraco de um sol invernal, seus olhos eram tão negros como as árvores congeladas pelo tempo esperando a primavera. E mesmo assim tinha sua beleza. Draco já amara o inverno, também se identificara com a estação - ele jamais diria isso em voz alta mas sabia que ainda era inverno, como sempre foi, a diferença é que já não gostava disso - Até beijar os lábios sempre frios de Daphne, e tocar na sua pele fria. E sentir medo, medo de na verdade ser igual a Daphne, não queria ser tão frio, queria ter um pouco de calor, queria ter um pouco de outono.
Daphne jamais chorou por ele, por que não se chora no inverno, se neva, se esquece. Ele jamais foi importante para ela, e não quis sê-lo. Não depois dos lábios frios e dos olhos escuros congelados pela vida.
Então como um alivio para alma, vinha o outono, refrescante, forte, renovador.
Ainda havia a primavera. Aquele ar romântico que cerca a todos, o cheiro enjoativo das flores, as mãos dadas dos namorados, os sorrisos... O que era apaixonante para todos os outros, era apenas deprimente para ele. Como se amor existisse. Tinha vontade de rir de todos os eles por acreditar em tal estupidez. A primavera é dissimulada, manipuladora, forte.
Astória era uma primavera infinita. Não só nos seus vestidos floridos e românticos, não só nos sorrisos amáveis e nas palavras escolhidas a dedo. Ao contrário da irmã, tinha pele quente e olhos verdes vivos, pele rosada de sol e cabelos loiros, não vivos como os de Pansy, não mortos como os de Daphne, mas um belo meio termo. Era manipuladora, principalmente, conseguia o queria apenas com sorriso e gestos, foi assim que ela conseguiu a aliança no anelar esquerdo, não foi? Ela era enjoativa, ela era apaixonante, e sobretudo, era falsa.
Astória já chorara por ele, somente quando lhe era conveniente, não por amor mas por status, porque a primavera não suportaria ser trocada pelo outono. Ela não precisava do amor de Draco, não, amor é apenas a ilusão, os dois sabiam disso, mas ela precisava do status, precisava ser escolhida e amada por isso. Porque todos devem amar a primavera, Draco principalmente, é a primavera que germina a renovação, é só nela, ou melhor, com ela, que ele poderia deixar de ser inverno, pelo menos para os outros.
Então, como uma facada na alma ele via e sentia o outono.
A estação que mais gostava, a estação que mais queria, e a única que não poderia ter – ele era Draco Malfoy, deveria ter tudo que quisesse, mas não havia dinheiro que pudesse comprar o outono – mas ainda assim ele amava o Outono, ele amava marrom, ele amava Granger.
Foi num dia de outono. Morno e tedioso: Comum. Talvez pudesse ser um dia melhor se sua cabeça não doesse tanto, nunca fora um bom aluno, nunca precisou se esforçar para nada, e agora precisava, porque não só ele como sua família dependiam do conserto daquele armário. Se ele pelo menos não tivesse aquela marca no braço. Andou a esmo pelos jardins, não para contemplar a beleza, mas para sentir o vento frio e ter um pouco de paz.
A viu sentada à sombra de uma faia. Draco quase não a vira, ela e seus matizes marrons se confundiam com a paisagem. Tudo era marrom, tudo era calmo. Só que Draco sabia que o perfume meio cítrico, meio floral, não pertencia a paisagem, foi então que notou Granger. E sentiu saudades. Não dela, obviamente, mas do que fora um dia. Se tudo ainda fosse como antes ele apenas zombaria dela, apenas a humilharia, porque ela merecia, porque ela era uma sangue-ruim.
Riu de si mesmo porque sabia que já não havia sentido algum no sangue, não agora que sua vida dependia disso. Então era por aquilo que lutaria? Era por aquilo que viveria e talvez morreria? Pela merda de um sangue? Sendo racional percebeu o quão idiota era aquilo, trocaria sua vida pela purificação de um sangue, e ele nem sabia se queria que o sangue fosse mesmo purificado. Ele seria superior a quem se não existissem muggles e sangue-ruins? Eles eram necessários afinal. Granger era necessária.
Ainda a observando suspirou profundamente, cansado. Hermione, num repente, o olhou, o encarou com seus olhos feitos de outono, e mesmo que Draco soubesse que agora devesse humilhá-la, não conseguiu falar ou dizer nada. Não quis. Não lhe era tão importante, era apenas uma futilidade. Suspirou pesadamente e sentiu falta do antigo Draco. Ela levantou, passou por ele, e não olhou pra trás. E o vazio que sentiu depois disso, foi atribuído a fome; embora que de imediato, ele pensara nos olhos de outono.
N/Deh:
Feita pro Filthy tales, da seção Dramione do 6v.
primeiro capitulo de 4. baseado no quote da Lally Y K no Say a word:
"Estar com ela parecia os dias do Outono. Não era arrebatador como o verão com Pansy. Não era gelado como Daphne greengrass no inverno. Não era ameno e floral demais como Astoria Greengrass: era simplesmente outono. O ar seco e gelado das folhas que caíam amareladas das árvores. Os retratos de cores quentes, aquele sol que amorna sem arder. Simplesmente Hermione."
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