Título: Sobre Ciclos e Luas
Sinopse: "-não estou dizendo que você é feminino... Claro, desconsiderando o fato de que você também tem um ciclo mensal."


— Hmm — Srius murmurou, embora com a boca cheia de cereais, com o tom de quem se lembra de algo importante. — Sabem o que eu andei pensando?

— Nem sabia que podia fazer isso. — Remus resmungou por trás do Profeta Diário, em seu típico mau-humor matinal.

James, no entanto, que canalizava toda a sua atenção nos absurdo de Sirius, ao invés de fazê-lo nas aulas, se empertigou na cadeira. Peter também desviou os olhos de seus ovos mexidos.

— O que será que aconteceria se mandássemos um lobisomem para a lua?

Remus engasgou com o suco de dente-de-leão. Abaixou o jornal com os olhos arregalados.

— Por que alguém iria fazer isso? — James ergueu as sobrancelhas. — Digo, pra que mandar o que quer que seja para a lua?

— Como você tem a mente pequena, Prongs. —Remus começou, com aquele tom didático que fazia os outros três se impacientarem — Os trouxas fazem isso há um tempo considerável. Saberiam disso se prestassem atenção em Estudo dos Trouxas.

— 'Tá, mas... Pra quê? — James continuou, com sua visão simplista que exasperava o lobisomem.

— Querem prestar atenção no que realmente importa? — Sirius se interpôs, aparentemente pensando que imaginar um lobisomem na lua fosse mais importante do que décadas de conhecimentos astronômicos. — O que aconteceria?

— É, é uma pergunta interessante. — James voltou sua atenção para Sirius.

— Provavelmente ele morreria em questão de segundos, seus idiotas, não tem oxigênio fora da atmosfera. — Remus considerou sensatamente.

— Bom, e como é que os trouxas fazem isso? — James ergueu as sobrancelhas. — Ainda mais sem usar magia.

— Os trouxas se viram excepcionalmente bem sem magia, Prongs, e você saberia disso se prestasse atenção em Estud-

— Moony, esqueça. Isso nunca vai acontecer. Agora diz, como é que eles fazem? — Peter apoiou os cotovelos na mesa, parecendo genuinamente interessado.

— Bom, eles tem todo um aparato especial. Como tanques de oxigênio e trajes espaciais feitos d-

Alô! Vocês estão perdendo o foco! Prongs, me ajude aqui!

— Ah, sim. Lobisomens. Eu não sei. Acho que o Moony explodiria. Seu problema peludo entraria em pane. Mas a lua, na lua, é sempre cheia? — ele coçou o queixo meio barbado, e Remus se enervou.

— Padfoot, de onde é que você tira essas ideias? — e foi preciso esconder uma conotação de divertimento, porque certamente os outros se estenderiam naquele assunto ridículo caso a percebessem.

— Na verdade eu me surpreendo de nunca ter pensado nisso antes. — voltou-se para seu cereal, ainda parecendo matutar sobre o assunto.

Remus agradeceu pelo encerramento da conversa. Seus olhos voltaram ao Profeta Diário. Peter se serviu de novas fatias de bacon e James olhava para Remus com curiosidade, o cenho levemente franzido como quando estava pensando em algo profundo.

— Ah! — exclamou Sirius de repente, batendo a colher na borda da mesa e sobressaltando os outros três. — Uma vez eu li que os trouxas mandaram um cachorro para o espaço.

O licantropo voltou a se mostrar por cima do jornal, visivelmente espantado com o fato de que Sirius soubesse daquilo.

— Como é que você sabe?

— Quando estou em casa finjo ler esses livros sobre trouxas — ele sacudiu os ombros, se divertindo com o fato —, sabe como é, a velha Walburga fica louca.

James e Peter riram, mas Remus continuou o olhando com censura.

— Era fêmea. E ela morreu em poucas horas. — sua voz era um pouco fria, como se não aprovasse o fato de que um animal indefeso tivesse tido aquele destino. — É uma pena que você ainda não fosse nascido, porque eu te ofereceria como cobaia sem pestanejar.

Os três riram, coisa que sempre irritava Remus quando estava tentando conversar algo sério.

— Falando em fêmea, você parece uma naqueles dias com todo esse seu mau-humor matinal. — Sirius pontuou, e teve certeza de que levaria uma pancada na nuca se estivesse ao alcance do lobisomem. — Ah, não estou dizendo que você é feminino... Claro, desconsiderando o fato de que você também tem um ciclo mensal...

James e Peter gargalharam mais alto do que o normal, e atraíram olhares curiosos dos outros alunos. Havia poucos alunos atrasados se apressando em roubar algo do café-da-manhã. Estavam atrasados para a primeira aula.

— Seu problema peludo é bem-humorado quando vamos dar umas voltas na Floresta Proibida, sabia? — James analisou com o resquício do riso na voz.

— Deve ser porque ele não tem vocês três falando impropérios na cabeça dele durante a noite inteira. — Remus murmurou, virando-se para James com uma carranca horrorosa, na opinião de Sirius.

— Você é um pulguento muito mal agradecido, Moony. E olha que eu já cansei de cuidar dos seus sangramentos depois desses seus ciclos...

— Oh, Merlin, você é nojento, Padfoot. — James murmurou.

Novas risadas. Remus o olhou boquiaberto, instintivamente tocando o braço direito, onde havia uma cicatriz especialmente profunda. Parecia meio dividido entre achar graça e sentir-se ofendido com o dito. Reconhecendo isso, Sirius se apressou.

— É brincadeira, vai. Adoro cuidar dos seus sangramentos.

James e Peter fizeram sons de asco diante do mel na voz do animago.

— Vou sair daqui antes que vocês me façam vomitar. — James torceu os lábios que pretendiam imitar enjoo, mas se traíram com um sorriso.

— Merlin, me deu um refluxo. — Peter levantou-se, catando o resto dos ovos com as mãos e os afundando na boca de modo muito pouco elegante.

— Já alcançamos vocês, Prongs. — Sirius ergueu as mãos sobre a mesa, encontrando as de Remus e acariciando o dorso de ambas carinhosamente. — Preciso beijar Moony apaixonadamente até ele perder o ar antes de irmos.

Os outros dois tamparam os ouvidos, fazendo menção de sair de perto da mesa, enquanto Sirius ria e Remus corava intensamente. Entretanto, James voltou-se para os dois antes de se retirar.

— Ah, Padfoot. Tem um jeito ótimo para curar esse mau-humor insuportável do Moony pela manhã. Acho que ele prefere um sexo mais bruto, tente isso da próxima vez.

James! — Remus amassou o jornal nas mãos e o atirou na direção do animago, mas o errou por muito, pois ele se afastava correndo e puxando Peter pelas vestes. — Sirius! — Ele ralhou, aparentemente frustrado por não ter mais em quem descontar seu constrangimento. — Pare de rir! Céus, acho que ir para a lua não parece tão desagradável assim...

Sirius levantou rindo, atravessou o salão rindo, e puxou Remus pelas vestes rindo, quando alcançaram um espaço deserto entre uma coluna de mármore e outra. Parou de rir só quando prensou os lábios do lupino nos seus, e beijaram-se docemente — daquele modo que certamente faria James botar o café-da-manhã para fora. Seu riso pareceu se transferir para Remus, coisa que ele odiava, mas acabou quebrando o beijo e, no fim, era sempre tão irritante e tão bom o modo como todos eles conseguiam acabar com seu mau-humor matinal.

— Vamos logo ou vamos nos atrasar — Remus sorriu, puxando o animago pelo pulso.

— Precisamos mesmo ir, Moony? — Sirius lançou aquele olhar de cachorro pidão, que normalmente funcionava, exceto quando estava tentando contornar assuntos acadêmicos.

— Sem chances, Sirius. E não me olhe assim. — foi categórico, e Sirius suspirou quando aceitou acompanhá-lo pela escadaria de pedra.

— Mmm. Padfoot. — chamou depois de um tempo.

— Sim?

— Prongs tem razão, sabe.

Sirius riu sonoramente, deixando aquela expressão inacreditavelmente pervertida aparecer em seu rosto. Aquela informação era muito mais útil do que qualquer outra coisa que jamais teria encontrado em um dos livros maçantes de Remus Lupin.


NA: Muitíssimo obrigada a quem chegou até aqui! Nos vemos logo!