1. Capítulo – Questões
Na Inglaterra, assim como na Espanha, Itália, Argentina e Brasil, o futebol é como se fosse uma religião. Os jogadores são ídolos e, após um jogo vitorioso, os seguidores os adoram. Assim acontecia com Edward Cullen. Era cedo da manhã quando deixou o portão de sua propriedade e, mesmo com todas as entrevistas e fotos que deu após o jogo, percebeu paparazzis à espreita, em frente à sua residência. Maçado com tanto assédio, suspirou, levantou os vidros do carro e seguiu rumo à universidade.
Era vantajoso que aproveitasse privilégios oferecidos pela universidade para pessoas como ele, jogador e estudante. Como por exemplo: não precisar ir à aula após voltar de um jogo fora do país como o que ele teve sábado contra o Barcelona, ainda que já tivesse faltado aula quinta e sexta para se recolher a concentração. Porém, obedecia ao lema de seu pai:o dever supera o cansaço. Não deixaria de ir.
Seria um trajeto de dez minutos tranqüilos até a Universidade, se não tivesse que agüentar sua irmã Alice discutindo moda com sua prima Rosalie. Isso além do mau humor do seu irmão de criação James, depois de uma noitada.
—Dá para falar mais baixo aí?— James se virou para trás e repreendeu as meninas. Edward dirigiu os olhos ao retrovisor e notou a prima fazer uma careta, censurando James.
—Fica na sua, mané!— Edward ralhou brincalhão. —Quem mandou encher a cara ontem.
James encostou a cabeça no vidro e ficou em silêncio.
Todos sabiam que o vício de James não era bebida. Desde a morte do General Anthony, pai de Edward e Alice, James se afogou no vício da cocaína. Para agravar, Rosalie, prima de Edward e ex-namorada de James, terminou o namoro. Isso contribuiu para o uso desordenado da substância.
—Desculpe, Edu, hoje não tô legal.— Ele se retratou e recostou novamente a cabeça no vidro.
Ele tinha muito para se desculpar com Edward, mas não só por isso. Se James fosse um viciado pacífico, seria uma pessoa fácil de se lidar. Mas, ultimamente, devido a seus atos impulsivos e descontrolados, ele só podia ir a locais reservados para o Clube Liverpool, condicionado a estar acompanhado por Edward, permitido somente em consideração a Lyon. Entretanto, quase sempre havia transtornos. Como aconteceu no dia anterior, quando, a fim de comemorar o título recebido no último jogo, os jogadores do Clube Liverpool reservaram uma casa de festas.
Jeff, zagueiro do time, ficou responsável por convidar umas garotas, e Rilley, atacante e amigo de Edward, ficou por conta de fechar o local e avisar os demais integrantes do time. Às seis horas do domingo reuniram-se no local. O pub mais badalado da cidade de Liverpool, no Mathew Street, rua comumente freqüentada pelos Beatles no auge do sucesso. Os convites eram Vips, distribuídos somente para integrantes do time, desde reservas a jogadores. todavia, estes podiam trazer convidados em números de seus convites.
—Tá cheia de carne nova no pedaço, Lyon.— Jeff comentou, quando entregava uma cerveja a Edward. —Você é a estrela hoje. Tem direito de escolher.— Apontou para as mulheres que dançavam na pista. Edward sorriu e fixou, indolente, seus olhos lá, analisando uma por uma das garotas que dançavam.
—Estudando quem vai ser sua presa?— Rosalie se aproximou e abraçou Edward na cintura. —Deixa eu te ajudar.— Cerrou os olhos e apontou o dedo, fingindo avaliar. —Nenhuma dessas me agrada.— Resmungou com um bico, pegou a garrafa de Guinness da mão dele e tomou no bico.
—Sai fora, Rosalie. Elas têm que agradar a mim.— Brincou, e ela levantou sorridente a mão para bagunçar seu cabelo.
James encostou-se ao lado de Edward, no oposto a Rosalie. Ela ignorou a aproximação e continuou bebendo a cerveja, com os olhos fixos na pista de dança. Enquanto seu primo conversava com James, ela ficou calada, só depois de um tempo comentou: Gostei da ruiva de cabelos longos.— Sugeriu com um sorriso de canto.
Desconfortável com o claro antagonismo de Rosalie e James, Edward virou frente a ela. Indiscretamente, Rosalie apontou para uma garota na pista. Edward acompanhou seu olhar. —A roupa dela é discreta — Rosalie disse. —A maquiagem é leve. Ela não dança vulgar. — Analisou com o cenho franzido. —Além do que, se o sapato dela não for falsificado, ele faz parte da coleção exclusiva da Gucci. Só foram feitos dois sapatos desses. E se um deles é o dela, ela é uma mulher que tem personalidade.
Edward atentou para os detalhes que Rosalie apontou, em seguida sorriu. Era até uma exceção que alguém a agradasse. Para ela, todas eram sem sal, interesseiras e biscates.
Divertido, cruzou os braços no peito e arqueou uma sobrancelha. —Ah, é? E o que essa sua sandália aí quer dizer sobre você?— Apontou sorrindo para sua sandália jeans. Era bastante alta, de amarrar na perna. Da mesma estampa do short jeans curto e rasgado que ela usava.
—Que eu sou uma gostosona livre e desimpedida a procura de um cara legal. De preferência que não tenha nenhum vício.— Olhou com desdém para James ao lado de Edward. Os ex-namorados se encararam por um instante, e James, amargo, virou o rosto. —Primo, ouça o que eu digo—Segurou o rosto do primo nas mãos. —Aquele é o tipo de mulher para você. Não essas Marias-chuteiras que você vem comendo.
—Ah, tá, obrigado pela dica.— Rolou os olhos, deu um tapa brincalhão em sua traseira, e ela saiu sorrindo.
Minutos depois, uma mulher se aproximou.
—Olá, Lyon. Sou Marília.— A morena se apresentou e o beijou no rosto.
—Prazer, Marília.— Correspondeu atencioso, já acostumado com o assédio feminino. —Esse é meu irmão James.— Apontou para o irmão e, mal educado como James era, olhou-a da cabeça aos pés, ignorou-a e saiu. Sem jeito, Edward torceu o lábios.
—Oi, Marília.— Uma loura os interrompeu. —Você disse que iria me esperar.— Enfrentou-a com o olhar. Edward percebeu o impasse por sua companhia e estendeu a mão à nova garota.
—Lyon.— Sorriu, convencido, e aproximou-se para beijar o seu rosto.
—Deisy.— Disse com um risinho coquete. Edward percebeu que teria diversão fácil, pôs os braços conciliador sobre ombros das duas e seguiram rumo ao bar.
—Gostando da festa, Deisy?
—Melhor agora com você.— Disse e apalpou descaradamente sua nádega. Ele sobressaltou, mas riu. A noite renderia como planejava, pensou. O leão não iria a caça. A presa vinha.
Ele pediu uma bebida para cada e sentaram num sofá de canto, próximo a pista de dança, a fim de conversar um pouco antes de vazar dali para um lugar mais íntimo.
—O que vocês fazem?— Iniciou.
Por um instante, as garotas se olharam indecisas. E quando enfim uma delas começou a responder, ele olhou desatento para a pista de dança. Inconscientemente, fixou o olhar na menina que Rosalie apontou mais cedo, analisando-a detalhadamente. Era uma ruiva com carne nos lugares necessários, completamente proporcional e bem torneada. Ela vestia uma bermuda xadrez balonê, blusa de alças simples, preta, colada e o sapato o qual Rosalie se referiu era um sapatinho de boneca. O estilo de vestir era discreto perto das dezenas de modelos que desfilavam pela casa com saltos imensos e roupas chamativas. Seu jeito de dançar era único. Seus olhos estavam fechados, enquanto sorria sozinha, com as mãos acima da cabeça, provavelmente curtindo algum tipo de liberdade. Por um momento Edward teve a impressão que era exatamente isso. Ela usufruía de seu anonimato... Coisas que às vezes ele gostaria de fazer.
—... Por isso. Entendeu? Mas e você?— Uma delas, a qual o nome ele não lembrava, tirou-o da distração.
—Eu o quê?— Perguntou desentendido, embaraçado por ter perdido o tema.
—Você, além de estrela do time, faz mais o quê?
—Ah, faço Engenharia Nuclear.
Elas fizeram um comentário que ele não registrou e, distraído novamente, olhou para a pista, notando nesse instante James se aproximar da ruiva. Preocupou-se, pois se ele estivesse usado algum tóxico, o que era muito provável, poderia dar problema. Resolveu ficar por perto e prestar atenção nele, já que dançava muito eufórico.
Repentinamente, sentiu uma mão entrando em sua blusa. —Não precisamos conversar, Lyon.— Sussurrou a loura, acariciando nesse tempo sua barriga.
A morena aproximou a boca do seu pescoço e adicionou: Está tarde... Estamos conversando tem tempo e isso é perda de tempo para nós três.— Lambeu seu pescoço, frisando três. Ele entendeu as intenções, sorriu concordando e recebeu duas bocas no pescoço e orelha.
—Tudo bem, meninas, mas não posso sair daqui agora. Estou com meus irmãos e...— A mão que estava em sua barriga foi para o botão da sua calça, e a dona da mão se inclinou. Ele suspirou de expectativa e relaxou no sofá. Rá! E ele querendo conversar! Realmente, para que conversar se no final só queria um pouco de prazer?
Jogou a cabeça para trás e se deliciou com a língua em sua orelha e a boca deslizando por sua barriga. Nossa, não tinha nem dado tempo de endurecer direito e a morena já entrava com a mão em sua boxer. Era nessas horas que ele adorava a fama. Suspirou, com a mão pequena lhe torneando com habilidade, ele olhou para a promessa de seus lábios carnudos e sorriu malicioso. Elas eram diretas. No final, eram tudo a mesma coisa. Dariam um pouco de prazer para se promover à custa de qualquer celebridade.
Piscou, avaliando se a mesa os protegia de olhares, e, ao fazer isso, seu olhar captou um movimento na pista. James recebia naquele instante um empurrão da ruiva que Rosalie indicou, e é lógico que Edward sabia no que ia dar. Frustrado, tocou o rosto da garota que lhe tomava. —Lindinha, dá um tempinho.— Ela parou e lhe olhou meio perdida, mas sentou ao seu lado e voltou a beijar seu pescoço e orelha. Tenso, não conseguia mais entrar no clima, então, indignado, sentou direito, se recompôs e olhou de novo para a pista, chateado por ter que ficar de olho no marmanjo do seu irmão.
—Vamos deixar isso para depois, meninas.— Levantou rápido do sofá e foi em direção à pista, a tempo de presenciar James apertando o braço da menina. —James.— Chamou-o entre dentes e se colocou ao lado dele. —James, solte-a.
Os olhos de James estavam vermelhos, o nariz cheio de coriza. Ele não notou Edward, pelo contrário, sorriu e fungou no pescoço dela. Novamente, ela o empurrou e o olhou com olhar fulminante. Encolerizado, Edward olhou em volta e notou alguns olhares sobre eles. Inferno! Isso não podia estar acontecendo.
—Lui faire lâcher prise maintenan.— Ela disse rápido, com os dentes trincados, a voz cheia de fúria.
—O que?— Edward perguntou, com James ainda inclinado sobre ela.
—Faça ele me soltar agora.— Ela grunhiu, esquivando-se enojada.
—James.— Disse próximo ao seu ouvido. —Solta ela, cara.
Só naquele instante James pareceu notar sua presença. Sua mão afrouxou lenta, a seguir abaixou o olhar, envergonhado. Ele tinha a respiração ofegante, sinal claro de usuário. Olhou mais uma vez para a garota, soltou totalmente a mão e saiu de fininho. Embaraçado com a situação, Edward passou a mão no cabelo e permaneceu lá, parado. —Desculpe... Er, ele está passando por problemas sérios.— Explicou, inclinado para falar próximo devido ao som alto.
Ela lhe olhou com altivez. —Ele não é o único no mundo com problemas. Isso não justifica sair por aí agarrando os outros contra vontade.— Respondeu rispidamente.
Mesmo com toda a hostilidade dela, Edward achou-a interessante. Era a primeira pessoa em tempos que lhe tratava com indiferença.
—Não vai mais acontecer.— Justificou novamente, contendo o sorriso.
—Espero.— Ela respirou fundo,mais calma. Ele aproveitou para observá-la. Ela tinha a pele pálida, o rosto oval, nariz pequeno e olhos azuis. Ela ergueu uma sobrancelha em questionamento ao flagrá-lo inspecionando-a.
—Edward Cullen.— Ele estendeu a mão amigavelmente. Ela olhou para algo por cima do ombro dele, hesitou e não levantou a mão. Ele quis rir da tirada, apreciando momentaneamente o fato de alguém não se matar para conhecê-lo ou ficar perto dele.—Prazer mesmo assim. Qual o seu nome?
Ela riu incrédula.—Você não precisa disso. Não é porque tem um irmão idiota que precisa forçar amizade. Vamos esquecer isso e, por favor, me deixa dançar.— Disse incisivamente, virou de lado e voltou a dançar.
—Você sabe quem sou?— Forçou, falando perto do ouvido dela e sentiu um perfume delicioso misturado ao cheiro de seu cabelo. Talvez, ela fosse estrangeira, pensou, já que iniciou falando francês.
—Deveria saber?— Juntou as sobrancelhas, depois deu de ombros. —Bom, não sei e não quero saber. Garotos deste tipo de festa representam problema.— Ganhou espaço para dançar, jogou as mãos para cima e deu uma sutil movida, indiferente à sua presença.
—Você assiste futebol?— Edward tentou de novo, agora com seu ego enorme sendo afetado. Como alguém em Liverpool não sabia quem ele era?
Ih, Edward, isso é tudo que você queria horas atrás, ter uma vida normal, passar despercebido. Você chegou até a ter inveja dessa menina que dançava usufruindo de seu anonimato!– Lembrou-o seu cérebro. Tudo bem, tinha hora que não gostava de ser tão famoso, mas o desinteresse da garota lhe atingiu.
Ela parou de dançar e lhe olhou da cabeça aos pés, desacreditada com a insistência.
—Quer saber? Eu não gosto de futebol, não conheço você e não gosto de conversar com desconhecidos.— Virou-se para sair.
Impulsivamente, Edward segurou em seu pulso, impedindo-a de lhe ignorar, ato seguido sentiu uma descarga elétrica que automaticamente lhe fez soltá-la.
—Me fala seu nome.— Ele insistiu. Ela ficou parada, de costas, o cheiro de seu cabelo próximo chegando ao nariz dele. Ele desceu o olhar, fazendo uma nova avaliação. Mais bonita ainda pela retaguarda, notou, e decidiu que não aceitaria não como resposta.
Depois de uma pausa ela se virou, jogou o cabelo em seu rosto e lhe olhou por baixo dos cílios. —Cygne. —Soprou. Ponto pra ele!
—Edward Cullen.— Sorriu presunçoso e estendeu a mão para cumprimentá-la novamente. Ela olhou uns segundos sua mão, depois torceu os lábios num pequeno riso sarcástico e finalmente estendeu sua mão.
—Prazer.
—Todo meu.— Disse e acariciou o dorso com o polegar, sentindo a maciez da pele. Ela puxou sutilmente a mão, mas ele não soltou, fascinado pelo prazer de quebrar uma resistência. Ele notou o olhar dela novamente por cima do seu ombro, virou o rosto para olhar para trás, procurando o que ela via, e não avistou ninguém. Estranho. —Fique um pouco e dance comigo, cisne?— Pediu. Ela arregalou os olhos e forçou sua mão a sair da dele. —Ou você prefere ser chamada de Cygne?— Arqueou a sobrancelha confuso com o que a tinha feito retesar.
—Tenho que ir.— Disse virando-se rápido, dando a seguir alguns passos.
Ele seguiu-a até chegar a um corredor. Ela não ia escapar assim. Ninguém lhe dizia não.
—Por que já vai?— Questionou ressentido. Ela parou, balançando a cabeça em negativa. Provavelmente estivesse surpresa com o quão patético ele se comportava. Até ele se surpreendeu com sua insistência. Seria ego ferido ou curiosidade?
—Não somos amigos.— Ela disse friamente, ainda de costas, em frente ao corredor que direcionava aos toaletes femininos.
—Podíamos ser.— Afastou seu cabelo, se inclinou e inspirou ousadamente o seu perfume. Ela deixou que ele roçasse vagarosamente o nariz em seu pescoço, fechou os olhos, em seguida empurrou-o abruptamente.
—Não, não podemos.— Afastou-se e entrou rápido no banheiro. Ele fechou o punho contrariado e encostou-se à parede, determinado a esperar ali até que ela saísse. Ele iria confrontá-la e saber qual o seu problema. Queria saber se ela não dava a mínima para quem ele era ou se determinou a desdenhá-lo propositalmente.
—O que você está fazendo aqui, Edward?— Rilley, o galego do time, perguntou logo que o viu. —Com tanta mulher dando sopa por aí você está escondido aqui neste corredor!— Brincou, abraçou seu ombro e lhe puxou rumo à pista. Edward olhou furtivamente para a porta do toalete, esperando ainda que ela saísse, não resistiu ao Rilley e o seguiu para o bar. Um pouco de longe, viu de relance a porta se abrir, porém, o que viu foi alguém sair de sobretudo e capuz, indo em direção contrária do corredor, para saída lateral da casa noturna.
Um pouco frustrado e ao mesmo tempo intrigado, sentou nas banquetas do bar e pediu algumas doses de chocolate suíço. No restante da noite, algumas meninas se aproximaram, mas ele estava preocupado demais com James para se soltar. James estava embaixo da escada e algo lhe dizia que era melhor ficar alerta com o irmão, até porque Rosalie e Alice estavam na pista, e como James ainda não tinha superado a separação, alguma situação complicada poderia se desencadear por causa do seu ciúme de Rosalie.
Uma buzina tirou-lhe das distrações com a lembrança da noite anterior, fazendo-o acelerar. O trajeto normalmente era rápido, porém quando saíam atrasados o engarrafamento era inevitável. Sua sorte era que as vagas no estacionamento da faculdade eram reservadas. Ninguém ousava estacionar nelas independente da família Cullen ir ou não para Universidade. Mesmo quando íam em somente um carro, por respeito, ninguém usava a vaga sobressalente.
Apressado, entrou no estacionamento e, para sua surpresa, tinha um Land Rover estacionado justo na sua vaga. Era até cômico. Que ousadia!
—Quem foi o idiota?— James resmungou, fazendo menção de abrir a porta para descer.
—Fica de boa. Vou lá falar com ele.— Parou seu Bugatti prata atrás do Land Rover, que coincidentemente ocupava exatamente as duas vagas, e abriu a porta, sendo seguido pelas meninas.
No instante em que desceu, foi assediado pelos transeuntes. Era o primeiro dia de aula depois de um jogo, então tinha que se conformar em cumprimentar a universidade toda, o que era entediante para ele. Os vidros do Land Rover estavam fechados e eram totalmente escuros. Discretamente, Edward aproximou o rosto do vidro do motorista para verificar a ocupação, e, inesperadamente, a posta se abriu bruscamente, o que quase o jogou para trás.
Pacientemente, Edward encostou-se ao carro ao lado e esperou que o dono do Land Rover descesse. Saiu do off road um homem louro, de cabelos curtos, com compleição forte, óculos escuros e um rádio de comunicação no ouvido. Um protótipo de seguranças do presidente dos EUA. Com discrição, Edward dirigiu o olhar para dentro do carro e observou o enorme painel computadorizado, onde tinha arsenal no porta luvas aberto. Conjecturou que o grandalhão devia ser da polícia ou um terrorista, embora sua aparência não fosse de muçulmano. Ainda assim, ficou apreensivo, pois se iniciasse uma desavença, ele e James não teríam chances. Cauteloso, pôs as meninas atrás dele e deu dois passos a frente.
—Bro, na boa. Eu só queria saber se você vai demorar nesta vaga. Ela é reservada.— Apontou para a placa Cullen logo à frente. Tentava ao máximo ser educado, torcendo para que ele fosse um cidadão liverpooliano e que tivesse assistido ao jogo de sábado, no qual fez dois gols. Facilitaria o diálogo.
O homem o olhou sério da cabeça aos pés e tocou em seu rádio comunicador no ouvido. Em seguida, abriu a porta traseira do carro e, de burca muçulmana, tampada da cabeça aos pés, somente com uma telinha na região do rosto, desceu uma mulher.
—Você vai ficar bem?— O homem louro perguntou à muçulmana. Ela virou o rosto em direção a Edward, congelou alguns segundos, depois olhou de volta para o homem a frente e assentiu movendo a cabeça. Ele continuou.—O mais rápido possível minha autorização sai, então você não vai mais ficar sozinha.— Ela assentiu novamente. —Se aquele viadinho idiota não fosse um covarde ele poderia ficar com você.— Ele disse, ela oscilou a cabeça em negativa e tremeu como se estivesse rindo.
Foi surpreendente o tratamento do grandalhão com a mulher. Talvez ela fosse a mãe dele, Edward pensou, pois como ela estava de burca não tinha como saber se era jovem ou velha. Certamente um homem daquele tipo não ia ser tão cuidadoso com uma namorada ou irmã.
—Hum Hum...— Edward coçou a garganta, interrompendo o monólogo do homem louro.
—Dá um tempo, idiota. Vou deixá-la no portão e depois a porra da vaga é sua.— Rosnou mal humorado.
Edward olhou para as meninas e Rosalie parecia hipnotizada com o MIB. Um tremendo mau gosto. Já Alice fazia uma careta aversiva em direção a muçulmana.
Assim que chegaram ao portão de entrada, eles pararam. —Isy...— Ele falou e sua conversa foi repetida dentro do Land Rover. —Qualquer coisa tem um localizador em sua bolsinha. E se precisar falar comigo é só ativar o rádio de comunicação. Estou por perto. Em três minutos chego aqui, se você precisar de mim.
—Não se preocupe, Emmett. Com certeza hoje não vai ser pior que sexta feira.— Era a voz da muçulmana, que soou soprado como um sussurro. Pelo timbre era de uma pessoa jovem, porém com algum sotaque.
—Odeio muçulmanos.— Alice comentou maldosamente.
—Não devia ser preconceituosa quanto à etnia, Alice.— Repreendeu, mas não podia censurar. Era normal em britânicos essa superioridade.
—Você é bondoso como a mamãe.— Ela debochou. —Bondoso demais. Esse terrorista louro é muito folgado. Você tinha que ter chegado se impondo.
Edward notou que o armário voltava, então andou de volta ao Bugatti.
—Por ser partidário meu pai morreu rápido, Alice.— Rebateu e entrou no carro. Doía falar no velho. Quando o general morreu não estava muito satisfeito com Edward. Com suas notas, menos ainda com seu futebol.
—Ow, otário...— O homem louro chamou, já de dentro do Land Rover, com o braço para fora do vidro.
—Você está falando com quem?— Alice se intrometeu em sua defesa.
—Com o otário do seu irmão.— Ele provocou. Edward manteve-se impassível. Uma exposição com discussões era o que ele menos desejava. Encarou-o sério, mas não respondeu. —Naquele jogo de sábado era para você ter feito mais dois gols, idiota, mas como você quer ser estrela, pensa que joga sozinho, fez só dois. Aquilo é um time, seu mané. Não é porque você é o mais caro que tem que brilhar sozinho.— Insultou, queimou pneus na ré, acelerou e saiu.
Calmamente, Edward estacionou, sendo observado por sua irmã boquiaberta e por seu irmão, que tinha acabado de acordar de um cochilo.
—Vou matar esse terrorista.— James disse entre dentes.
—Você não vai matar nada. —Alertou. —Anda, levanta que estamos atrasados.— Desceu, ativou o alarme e pôs o braço nos ombros de Alice, seguindo rumo ao portão.
—E ae, Lyon!— Os cumprimentos e assédios o seguiu pelo corredor.
—Assina aqui, Lyon. Vou mandar para minha irmã que torce para o Barcelona.— Ben, um colega de sala com descendência oriental, segurou uma camisa do Liverpool para que Edward assinasse. Alice olhou-o irritada com o incômodo no ambiente escolar. Mas ignorando o olhar de Alice, Edward colocou a camisa sobre o seu caderno, pegou sua caneta de autógrafos e assinou. Ben agradeceu e afastou-se.
Chegando ao corredor de sua sala, quase toda a turma estava ao lado de fora. Ao ver Edward, iniciaram palmas calorosas. Edward torceu o lábio sem jeito e sua irmã afastou-se emburrada por saber que o pedido de discrição não era agradeceu as palmas educadamente e afastou-se, ato continuo foi cercado por Heidi, sua ficante da universidade.
—Tem um tempinho hoje para mim?— Ela perguntou manhosamente.
Ele sorriu matreiro, trouxe sua mão até a boca e beijou-a. —Mais tarde.
Ela sorriu, e ele entrou em sala.
Existiam umas regras que seus colegas acadêmicos eram conscientes. Primeira: não confundir o Lyon, jogador, com o discente Edward Cullen; segundo: não bajular; terceiro: não forçar. Somente meninas como Heidi tinham uma exceção, abrindo aspas somente para o fato de não forçar.
Ele entrou na imensa sala e, por não gostar de se misturar, era seu costume sentar-se sozinho ao fundo, no canto, onde fora reservado a vaga em frente da sua mesa, a lateral e a cadeira de trás, para que ninguém sentasse perto dele. Sua estratégia de isolamento era um costume repetido há anos.
Conforme caminhou rumo à sua mesa, ouviu risinhos e cochichos, e não se deu conta do que se tratava. Continuou seu trajeto, cumprimentando com o olhar seus colegas de sala, até que chegou ao local onde sentava. Só então entendeu o motivo dos risinhos ao se deparar com alguém sentada em seu lugar. Era cômico que em um dia só, elesinvadissem sua rotina duas vezes.
Parou em frente a ela e ouviu sons altos de risos por trás dele. Não eram mais risinhos discretos, eram escárnios. E ele sabia que não riam dele. Tranquilamente, descansou a mão na cintura e, ao notar que ela não percebeu sua presença, pigarreou. Ainda assim, ela não ergueu o olhar em sua direção.
—É uma brincadeira, não é?— Disse baixo, ao tempo que colocava seu material na mesa ao lado dela. Ela permaneceu de cabeça baixa. Por um instante, ele teve a vaga impressão de conhecer o perfume dela de algum lugar. Olhou para trás e notou ainda ser alvo da atenção da turma. Decidido a não dar mais espetáculo e cessar o tumultuo expectativo, puxou a cadeira, fazendo barulho, e sentou-se na cadeira ao lado da muçulmana.
Edward observou a pessoa ao seu lado, e ela continuou cabisbaixa. Suas mãos enluvadas pareciam tremer. Ele pensou por segundos nos motivos dos risos dos alunos, compreendendo que eles não esperavam uma repreensão. Queriam constrangê-la, pois muçulmanos não eram bem vindos no país, principalmente usando trajes rígidos como a burca. Algumas mulheres islãs no país usavam somente o lenço, mas por algum motivo a pessoa a frente usava a burca fechada, com a treliça cobrindo o olho.
Ela levantou o rosto e o virou em sua direção pela primeira vez. No instante que ela lhe viu, virou rapidamente o rosto. Segundos depois, olhou-o novamente e segurou o olhar em sua direção. A tela que cobria seus olhos não permitia que ele a visse claramente. Mas ele sabia que ela lhe encarava. Elesentia.
Ele ergueu a sobrancelha e esperou que ela se tocasse e desse o fora do seu lugar. Todavia, o que ela fez foi suspirar e desviar de novo o rosto. Ele conjecturou que talvez a idéia dela de sentar ao fundo fosse exatamente a mesma que a sua: passar despercebida. Mas infelizmente ela tinha sentado no seu lugar, o lugar que ele sentava há quatro anos. Isso era inadmissível e agora que não chamavam mais atenção, teriam que resolver isso.
—Se não é uma brincadeira, devo lhe informar que esse lugar que está sentando é meu.— Disse baixo, tentando não os expor. Viu-a respirar fundo, porém ela não se moveu. —Eu sei que não tinha como você saber, mas sinceramente não vou sentar em outro lugar.— Ela abaixou a cabeça, olhando para as mãos. —Você pode sentar aí hoje, mas amanhã quero sentar novamente em meu lugar.— Ela nada disse, e ele olhou para frente. —Você entende a minha língua? Ah sim, entende. Você conversou com o seu lacaio em um inglês nítido.— Ela assustou-se com a informação e virou o rosto em sua direção. —Não se preocupe. —Adiantou. —Eu sei que você não pode falar comigo. Já estudei a sua religião. Só quero que você balance a cabeça e diga que amanhã irá procurar outro lugar.— Ela desviou novamente o olhar e passou a estalar os dedos. Ele aceitou a reação como concordância e voltou sua atenção a frente, perguntando-se de onde conhecia seu perfume.
Após alguns minutos que a aula de Física iniciou, o reitor apareceu na porta.
—Senhores alunos, hoje no intervalo a Universidade Liverpool irá homenagear o jogador que nos presenteou com um belo fim de semana. —Anunciou.
Merda! Edward amaldiçou irritado. Já disse centenas de vezes que não queria esse tipo de tratamento aqui, porra.
Após a adulação pública do reitor, os alunos olharam para trás. —Você merece, Lyon!— Alguns esmurraram o ar em apoio. Sem saída, Edward forçou no rosto um sorriso de agradecimento.
—Edward, você pode vir aqui?— O reitor chamou, Edward levantou, atravessou o corredor e o seguiu até o corredor.
—Edward, a muçulmana está no seu lugar...Você está incomodado?— Perguntou preocupado e colocou a mão em seu ombro.
—Esse problema já foi resolvido.
—Ah, ok.— Disse meio constrangido. —É que... Ela é noiva ou esposa do sheik Collins, magnata do petróleo. Lembra dele?— Edward assentiu. O sheik era amigo de sua mãe, como iria esquecer. —Pois é, ele é um dos nossos maiores incentivadores da Universidade e exigiu que ela pudesse vir estudar aqui. Os alunos não aceitam muito bem o fato, e se ela não vestisse à caráter talvez nem soubessem que ela é muçulmana. Porém eu sei que você é diferente. É um cara político. Você sabe como devemos fazer indulgências em alguns casos...— Elucidou. Edward não entendeu suas intenções. —Bom, o que eu quero dizer é que como você é celebridade na universidade, seria bom se você desse alguma atenção para ela. Quem sabe assim ela teria uma aceitação maior.
Insultado com sua sugestão, Edward olhou-o desacreditado.
—Eu não vou fazer isso. Meus irmãos não gostam de Islamitas. Peça a outra pessoa. Se estou evitando ser alvo, vou ficar de amizade com uma muçulmana só para chamar a atenção? Não mesmo. O senhor sabe que estou cheio dessa atenção toda. Inclusive essa exposição de hoje sem minha expressa autorização.— Disse impaciente, deixou-o falando sozinho e voltou imediatamente para a sala. Sentou e em todo o tempo a muçulmana olhava para frente, copiando, respondendo, parecendo hábil em todos os exercícios. No intervalo ele se dirigiu ao pátio, deparando-se com imprensa, jornais, fotógrafos. Logo que o viu, Alice veio em sua direção.
—Edward, o reitor está querendo se promover ás suas custas.— Resmungou chateada sua irmã super-protetora. Ele decidiu não reclamar. Reclamar só alimentaria sua indignação. Suportou tudo calado, entrevistas e fotos ao lado do reitor. Terminou o circo, voltou rápido para a sala. Desejava fugir para que o restante dos alunos que costumavam babar seus ovos não lhe alcançassem. Determinado a ficar só, foi o primeiro a voltar a sala, porém, frustrado, notou que a muçulmana já estava lá. Aparentemente não tinha se movido da cadeira. Ele ainda estava indignado, mas observá-la era algo intrigante. Pobre garota. Não simpatizava com seu povo, mas isso não lhe fazia odiá-la como alguns britânicos.
Caminhou até o fim do corredor, onde estava sua mesa e arrastou a cadeira antes de sentar, fazendo barulho para que ela saísse da distração. Era nítido que ela queria fugir do tumultuo do pátio. Ele observou-a e, como ela, ele queria se abstrair dali. Ou mesmo ser invisível. Queria ser um aluno normal. Isso era pedir muito?
A próxima aula era de Teoria Avançada da Mecânica Nuclear. Durante toda a aula ela fazia cálculos e anotações. Uma aluna dedicada, deduziu. Por alguns momentos ele teve dúvidas nos exercícios, pois tinha faltado às aulas de quinta e sexta, porém se conteve em não perguntar nada a ela, até porque, era seu costume fazer tudo sozinho. Lógico que essa auto-suficiência e até mesmo orgulho em não precisar de ajuda e, principalmente, em não ajudar, já lhe acarretou problemas na universidade, pois já reprovou em duas matérias que necessitavam justamente de trabalhos em equipe. Mesmo assim, preferia sempre arcar com o seu prejuízo, a pedir ajuda. Os professores até que aliviariam, caso pedisse, mas ele não pedia. Não gostava de favoritismo.
Aquele dia, como em muitos após os jogos, foi entediante. Os paparazzi não tinham desaparecido. Recebeu telefonemas e mais telefonemas para propagandas de roupas íntimas masculinas, antitranspirantes, carros, isso além dos diversos agendamentos de entrevistas.
Os seus treinos ocorriam à noite, mas depois de uma temporada de futebol, o treinador concedeu uma semana de folga, o que deu a Edward todos os dias à noite para sair, caso quisesse. Porém, por ser metódico, evitava sair durante a semana para diversão. Sim, as opiniões dos caras do time tinham fundamento quando diziam que Lyon é almofadinha, caxias. Todos sabem que 90% dos jogadores não continuam os estudos após fazerem sua fortuna, porém, Edward não podia ser como eles. A sua vida não era somente a de jogador de futebol. Ele tinha outro objetivo... Aliás, seu pai tinha outro plano para ele. E mesmo que ele tivesse morrido, Edward iria cumprir o que ele planejou. Pensando nele, procurava não perder tempo de estudos.
No dia seguinte Edward teve a mesma rotina. Estacionou na sua vaga habitual e, para seu alívio, quando chegou à sala a muçulmana estava sentada em uma cadeira no fundo, mais para o meio da sala, distante dele.
Ele sentou satisfeito e prestou atenção na aula de Biofísica. Entretanto captou pelo canto do olho os colegas de classe jogando papeizinhos na muçulmana, arreliando-a. Ela mantinha o rosto heroicamente virado para frente, mostrando firmeza, ignorando os papéis, piadas e ofensas que lançavam contra ela. A Mestra percebeu a movimentação e caminhou até o fundo.
—Algum problema, Isy?
A muçulmana olhou para os alunos, manteve a postura estóica uns segundos, depois balançou a cabeça, negando o fato. A Mestra torceu os lábios, olhou pesarosa para ela e caminhou impotente de volta a frente. Edward notou os ombros da muçulmana subir e descer em um suspiro.
A semana de folga em treinos seguia rápida, entre mesuras, entrevistas e fotos. Às vezes eram compromissos entediantes, todavia necessários em seu mundo. Além de brilhar nos campos, ele precisava da afeição dos torcedores.
Em sua rotina o que tinha de diferente era a nova atenção que, involuntariamente, ele dava a muçulmana ao vê-la sendo alvo de cochichos e papéis. Se ela não queria atenção, era justamente o que tinha.
Na quinta-feira, ele entrou em sala, voltando de um intervalo, e Mike e Ben brincavam com algo que aparentemente era uma bolsa em formato esférico, acolchoado. Logo notou que era da muçulmana, pois ela os olhava com a mão estendida, e eles continuavam rindo e jogando o objeto no ar.
—CULLEN...— Alguém lhe chamou e, no susto, olhou em direção a eles, quando Mike jogou a bolsa em sua direção.
Tudo foi registrado num borrão. O rosto da muçulmana em sua direção, os olhos expectativos dos meninos e o restante da sala parado, provavelmente esperando o que faria.
Num átimo, aparou a bolsinha redonda em sua coxa e, sem pensar nas consequências, deu o que esperavam: um pouco de espetáculo. Jogou-a no ar, aparou com o pé, depois fez algumas embaixadinhas na coxa. Os meninos se animaram e incentivavam, sorrindo e aplaudindo. Ele continuou com as manobras exibicionistas, esquecendo por um instante onde estava. Entregou-se, alternando os movimentos, jogando com o pé para trás, aparando no tornozelo, fazendo o objeto passar por cima dele, voltando-o para sua coxa.
Só se deu conta do que fazia quando o barulho aumentou completamente e percebeu as pessoas fazendo uma roda em sua volta. Sabendo que devia cessar o show, olhou para os meninos, que estavam babando, e se preparou para chutar de volta.
—Edward...— O som da voz de Alice o fez instantaneamente virar o rosto e deixar o objeto cair ao chão. Ela lhe olhava reprovadora, e , sem jeito, passou a mão no cabelo. Ele não deveria ter quebrado as regras e agido como um idiota exibido em classe, mas se tinha algo que despertava seu outro lado era a imaginação de estar com uma bola. Alice se aproximou e o puxou até sua cadeira. —O que é isso? Deu para se enturmar com essas pessoas agora?— Sussurrou aborrecida. Ele respirou fundo, sem respostas, e olhou para o lado.
Discretamente a muçulmana levantou de sua cadeira e foi em direção a sua bolsinha no chão. Ela a pegou, abriu, tirou de dentro algum objeto eletrônico, depois virou o rosto por segundos em sua direção.
—Só estava brincando.— Justificou baixo para Alice, fazendo uma careta, se chutando mentalmente por ter sido conivente com a implicância com a garota.
—Deixe para se mostrar em campo.— Disse carrancuda e o fez rir. Era uma graça que aquele serzinho pequeno, morena e de olhos verdes, achasse que era superior a tudo.
—Tudo bem, ratinha.— Sentou sobre sua mesa. —O que queria?— Ela ficou ao lado da sua mesa, olhando com desdém para a muçulmana, que mexia no aparelho.
—Vim te avisar que o Rilley está querendo falar com você. Ele te ligou e você não atendeu.
—Ok. Avisado.— Sorriu, ligando seguidamente seu celular. —Agora vá para o prézinho que lugar de bebê é no fraldário.— Brincou. Ela sorriu e saiu rebolando, olhando com altivez para a turma que se dispersava para seus lugares.
Minutos mais tarde, o professor iniciou a aula. Entretanto, Edward estava distraído demais para participar. Seus olhos estavam nos movimentos da muçulmana. Prestava atenção em sua linguagem corporal, já que não podia ver seu semblante. Ela tinha os ombros caídos, prendia a bolsinha esférica nos dedos e mantinha o aparelho na mão, aparentemente tentando consertar. Isso o fez sentir um pouco de peso na consciência por ter quebrado-o.
Passou-se algum tempo, a viu organizar seus materiais e sair da sala. Sem notar o que fazia, mas invadido por curiosidade, ele levantou do seu lugar, pediu licença para o mestre e foi atrás dela, observando-a de certa distância. Avistou o segurança dela no portão falando frenético no celular. Delicadamente, ela chegou perto dele e colocou a mão com cautela em seu braço. Ele a olhou, aparentemente aliviado e desligou o celular. Edward sentou em um banquinho e continuou olhando disfarçado para eles. Ela tirou o aparelho de sua bolsinha e entregou na mão dele. Ele pegou o objeto, avaliou, fez careta, depois pôs no bolso, em seguida colocou a mão nas costas dela e a conduziu até o Land Rover.
Algo nela chamava a atenção de Edward, e isso o irritava. Era uma idiotice que quisesse saber por que o segurança tinha tanto cuidado com ela. Tudo bem que ela era mulher ou noiva de um sheik, mas e daí? Na universidade tinha muitas pessoas ricas, talvez não tão milionárias como o sheik, mas ricas. O que ela tinha de especial? Sem respostas para suas questões, voltou para sala e o restante da aula passou-se tediosamente.
Sexta-feira, como em todas as semanas de folgas, a turma do futebol iria se reunir em um pub. Era para isso que Rilley estava ligando no dia anterior.
—Que horas vamos sair?— James entrou no seu quarto, com seu jeito calmo quando estava de cabeça limpa, e sentou na cama.
—Umas onze.— Edward respondeu, terminando de vestir sua blusa preta de manga longa e botão, por cima de uma camiseta vermelha e calça jeans escura. Passou em frente ao espelho e deu uma sacudida no cabelo louro escuro, passando em seguida seu Clive Christian exclusivo. Olhou para a cama e James estava deitado, olhando para o teto.
—Que foi, cara? Não vai se arrumar?
James sentou, olhando-o triste.
—Edu, sinto tanta falta do general.— Suspirou, melancólico. Sempre que ele tocava nesse assunto podiam imaginar sua reação seguinte. Com certeza ele se intoxicaria. O que era uma merda, pois Edward não queria que ele estragasse sua noite novamente.
Fazia menos de seis meses que seu pai tinha morrido em um ataque terrorista, em uma missão de paz. Edward chorou sua morte poucos dias, pois para ocupar todos os seus espaços de tempo, ocupou-se com treinos, saídas, viagens, não se dando chance de quebrar. James fez o contrário, ele se afundou ao tentar descobrir quem fizera isso e, frustrado, perdeu o rumo ao não descobrir muita coisa. Após as buscas, ele começou a se comportar de maneira estranha; introvertido, virando um estúpido às vezes. Assim, acabou perdendo sua namorada de anos.
—James, temos que levar a vida adiante.— Disse Edward. —Tenho certeza que o velho não ia querer que desistíssemos de tentar levar a vida à frente.— Sentou na cama, ao lado dele. —Eu também tenho saudade, mas tenho que prosseguir. Guardo na memória a imagem do pai vivo, não dele morto. Assim, consigo levar numa boa.
James suspirou, sentou e pôs uma mão sobre o seu ombro. —Você é meu orgulho, Leãozinho. E mesmo que o velho não tenha dito para você, você era o orgulho dele também.— Disse abraçando seus ombros.
Edward sorriu forçado, não se permitindo debruçar sobre o tema.
—Pára de boiolagem e varre essa bunda da minha cama!— Deu um tapa em sua cabeça e levantou, indo depois para frente do espelho novamente. —Dez minutos para você, otário.— Disse quando ele passava pela porta. James sorriu mais animado e saiu.
Alice foi para a casa de festas no carro dela com Rosalie, o que era bom, pois se Edward resolvesse esticar com alguma garota, cada um voltaria no seu carro. James foi com Edward por comodidade, já que sempre bebia e as meninas não gostavam de ir com ele. Mas se Edward resolvesse esticar, ele iria voltar de taxi.
Entraram e de cara Edward encontrou o pessoal do time. —E ae, Lyon?— Rilley o cumprimentou com um soco no punho, para em seguida lhe puxar e dar um beijo em seu rosto, com uma chave em seu pescoço.
—Pára de viadagem, seu porra, se não vou te comer.— Edward sorriu, tentando se soltar. Rilley apertou a chave e bagunçou seu cabelo.
—Eu sei que você me quer, mais tarde eu te dou.— Piscou. —Mas, de entrada tem umas carnes frescas na área. Jeff convidou umas modelos.— Ele continuou pendurado em seu pescoço, o puxando para uma rodinha de quatro meninas: três louras e uma ruiva. Todo mundo via que eram garotas de classe. Não daquelas que você tem que desembolsar dinheiro em si, mas daquelas que saem com você só para sair na mídia, ou melhor, para ganhar ibope ou contar em seus currículos.
Edward analisou-as e notou uma cutucar a outra, mordendo os lábios, naquele típico recado com os olhos 'vamos te dividir, gostoso'. Ele sorriu para elas, e enfim o veado do Rilley soltou seu pescoço, passando depois os braços em volta de duas louras na rodinha e saindo com elas.
—E ae, meninas, já beberam alguma coisa?— Edward pôs as mãos nos bolsos da calça, sempre desajeitado no contato inicial. Sorte que leãozinho não precisava caçar. Elas vinham. E embora soubesse que não precisava ter muita conversa com esse tipo de garota, ultimamente pelo menos tentava.
—Já bebemos. Pega sua bebida que a gente te espera ali.— A loura apontou para um canto escuro do pub, ele concordou com uma piscada, e ela saiu com a ruiva.
Ele direcionou ao bar, sentou e matou logo dois copos de uísque escocês, vendo se assim encarava o tranco. Já fazia uns dias que não dava uma metidinha, então não ia enrolar muito, já que as garotas estavam à disposição. Do bar, deu uma avaliada na pista de dança e, para sua surpresa, algo lá lhe chamou a atenção. Cygne, a menina que o ignorou domingo estava lá, despreocupadamente, dançando. Bom, por que mesmo lembrou o nome dela? Perguntou-se intrigado. Ah, talvez por significar cisne em francês. Essa era a explicação óbvia.
Interessado, parou seu olhar nela, que novamente dançava sozinha, usando um short listrado, salto alto e uma blusa colada vermelha. Algo tão básico, mas que nela, com aquele jeito singular, ficou apelativo. Estou olhando para a roupa da menina de novo?! Nossa, uma semana sem sexo subiu para cabeça e me transformou em um boiola avaliador de moda.Só faltava essa!
Bebeu mais uma dose de uísque e, sem encontrar explicações para o seu repentino interesse, balançou a cabeça e olhou para o canto, onde as meninas o esperavam. Resolvido, respirou fundo, levantou e foi em direção a elas, já sentindo o calor do álcool nas veias. Mal aproximou, foi atacado. As duas o imprensaram na parede, passando a mão em seu peito, cada uma de um lado, e beijaram seu pescoço e orelha.
É, sem conversa novamente, pensou. Direto ao ponto.
Por que ultimamente seu eu interno reclamava tanto disso? Ninguém queria conversar ali! Humm, estava bom. Ele precisava disso para relaxar. Se elas queriam ser vistas com Lyon, tinham que fazer por merecer. Quem sabe no fim da noite ele saía lá fora e se deixava ser fotografado com elas por algum paparazzo idiota. Isso dependia do quanto elas iriam fazer bem feito.
Depois de um tempo lhe beijando, a mão de uma delas desceu e abaixou seu zíper, se enfiando dentro da sua calça. Ele ofegou, apertando sua cintura.
A loura ajoelhou, a mão enfiada na calça com olhar de determinação, quando, inesperadamente, parou em sua frente uma figura que o olhou de cima abaixo, com a sobrancelha erguida.
—Cullen?— Disse com repugnância.
Surpreso, ele congelou.
—Pois não?— Rapidamente se recompôs. Mesmo escuro, era notório que ela tinha visto o que estava rolando, ou o que ia rolar.
—É esse o sobrenome dos idiotas, não é?— Ironizou, lhe fulminando com o olhar. A garota que estava ajoelhada olhou para cima, e ele ajudou-a a levantar, segurando sua mão.
—Qual o problema?— Devolveu o tom, não entendendo o porquê de sua hostilidade.
—Seu irmão está na minha cola de novo, e como você é a babá dele, resolvi vir te avisar antes dele fazer algum show no meio da pista.
Ele suspirou indignado por isso estar acontecendo na sua vida. Era a segunda vez na semana que James estragava seus planos. Frustrado, suspirou, e na mesma hora afastou o rosto de uma das meninas, restringindo seus beijos no pescoço, que mesmo com a interrupção ela não parou de dar.
—O que você quer que eu faça?
—Não sei. Amarre-o em uma coleira, se for preciso. Gente da raça de vocês não deviam sair de casa.— Falou entredentes, encolerizada.
—Qual é a sua, garota? Você é muito sem noção. Você sabe com quem está falando? —Deu um passo à frente e ela lhe encarou firmemente, com o olhar queimando-o.
—Com quem?— Olhou-o com desprezo, astúcia em sua postura. —No mínimo deve ser algum idiota, como seu irmão, que pensa que o mundo é dele, ou é mais um desses britânicos frios que só pensam em si.— Disse com fúria, e ele balançou a cabeça desentendido de sua raiva. Se ela estava chateada com James não precisava descontar tudo nele. —Solta o meu braço!— Grunhiu. E só então ele percebeu que tocou-a. Algo nela lhe descontrolava e o fazia agir impulsivamente, de uma maneira que não estava acostumado. Soltou-a e, sem jeito, olhou para os lados. As meninas que estavam atrás dele tinham saído discretamente, os deixando a sós.
—Tá... O que você quer que eu faça? Ou melhor... Por que você veio falar comigo?— Controlou sua voz, disposto a entender seus motivos.
—Porque o drogado é seu irmão. Além disso, sei que se for falar com os seguranças, e ele for expulso daqui, isso pode te prejudi...
—Como você sabe que ele é meu irmão?— Interrompeu e se aproximou do seu rosto, segurando em seu pulso. —Quem te disse que se ele for expulso daqui vai me prejudicar?— Inquiriu. Ela pareceu confusa e tentou se soltar, desviando do seu olhar, com o semblante aparentemente nervoso.
—Me solta, Cullen.— Encarou-o com a respiração ofegante. Seu rosto estava a um palmo do dela, a respiração próxima. O hálito dela era bom. Pôde sentir o gosto na língua. —Solta.— Disse entredentes. Ele observou os movimentos de sua boca e notou o quanto ela era linda, arredia e, acima de tudo, apetitosa.
Como nunca acontecido, nos poucos segundos que olhou sua boca, ela despertou nele a mais primitiva das sensações: vontade de caçar aquela criatura indócil, domá-la, prevalecer e subjulgá-la com um beijo selvagem. Assim, ela nunca mais esqueceria quem ele era.
O tempo pareceu congelar enquanto se encaravam. Sua íris intensificou o tamanho, e ela abriu os lá ém, antes que a sensatez evaporasse, ele suspirou e vagarosamente a soltou.
Contra a sua vontade, deu um passo atrás, ansiando amenizar a situação desconfortável.
—Olha só, desculpe por isso e pelo meu irmão.— Esfregou os dedos em sua testa, sem jeito em lidar com o assunto. —Ele não é de perseguir assim alguém. Não sei o que está acontecendo. Mas pode deixar que estou indo conversar com ele.— Afastou um pouco para sair. Ela ficou parada, com o olhar em sua direção. —Você vai?— Perguntou. Ela ficou meio congelada, o olhar fixo em sua boca.
Repentinamente, ela inclinou e pôs a mão no ouvido, fazendo uma careta como se estivesse com algum tipo de dor, depois abriu os olhos meio espantada e deu as costas, indo apressada para o toalete.
Ele acompanhou os seus movimentos parado, pensando em uma maneira de resolver o problema para que ela dançasse em paz. Porém, o que viu em seguida o deixou perdido. Ela pediu que conversasse com o seu irmão, mas aparentemente ia embora, pois saiu rápido do banheiro, feito um furacão e foi para a porta lateral com uma bolsa grande na mão.
Frustrou-se novamente, pois pensou que dessa vez iria ter a chance de descobrir o porque do tratamento ríspido. Não podia ser só por causa do James, pensou, inconformado. Deu alguns passos e alcançou a porta lateral. Porém não havia nenhum sinal dela no estacionamento. O único movimento que viu foi um Audi saindo, mas quem dirigia era um garoto louro de cabelo amarrado atrás. Ele o cumprimentou com um aceno. Edward pensou conhecê-lo de algum lugar, mas não se lembrava de onde. Correspondeu o cumprimento e voltou para o pub, intrigado. Ela sumiu.
Segunda-feira, ao chegar à universidade, o Land Rover dos terroristas estava estacionado ao lado das suas vagas. No mesmo instante que Edward abriu sua porta, a muçulmana desceu. Não deixou de notar que dessa vez ela estava sentada na frente. E mesmo com a tela transparente que cobria seus olhos, percebeu a direção que ela olhava. Ela olhava para ele. Na mesma hora se perguntou se devia pedir desculpas por ter brincado com sua bolsa quinta feira, já que ela não veio na sexta...Nunca, menos perto de Alice.
Por segundos, ela segurou o olhar em sua direção, com o queixo levantado. Deve ter durado pouco tempo, mas foi tão desconfortável que foi como se durasse minutos. Sem saber como agir, desviou o olhar e encostou-se ao seu carro, esperando seus irmãos.
—Vamos, Isy?— O grandalhão chamou-a e ela caminhou em direção a ele.
—Aff, esse povo de novo perto da gente.— Alice reclamou enquanto fechava a porta.
—Eu acho ele um gato.— Rosalie sorriu e no mesmo instante olhou para o James que estava calado, olhando de um jeito hostil em direção aos islãs.
—Não sei por que colocam essas pessoas para estudar na mesma universidade que pessoas normais. Por mim, eles poderiam ficar em seus países.— Alice disse.
Edward ativou o alarme e seguiu calado em direção ao portão. Elas ficaram para trás. Novamente Edward presenciou a despedida dos islãs, notando o cuidado dispensado a ela. Eles se separaram, e ela caminhou, de modo discreto, desviando das pessoas pelo corredor.
Edward ficou a cerca de cinco metros dela. Ela segurava os cadernos presos ao peito como se fosse um escudo protetor. Onde passava, os rostos viravam com desprezo até que ela saísse de suas vistas.
A sala deles era a última, e em frente a sala tinha uma turma de acadêmicos fora, conversando. Quando a muçulmana caminhou por eles, alguém colocou o pé propositalmente, e ela tropeçou, caindo e derrubando os seus cadernos no chão. Por uns segundos ela ficou ajoelhada, como se não tivesse certeza se podia levantar, ou se valia a pena. Os alunos gargalhavam e ninguém fez menção de ajudá-la.
Edward não soube qual foi o real motivo da sua atitude, mas no momento em que viu aquilo acontecer diante dos seus olhos, andou rápido, agachou, pegou os seus cadernos e ofereceu a mão para que ela levantasse. Nos segundos seguintes tudo que se ouviu foi silêncio, por um acaso, alguns cochichos. Ela não aceitou sua mão, mas ergueu o queixo, olhou em volta, em seguida levantou, apoiando a mão enluvada no chão.
Ele estendeu os cadernos para ela, ela lhe olhou por segundos, os pegou, balançou a cabeça em agradecimento e entrou na sala. Desconcertado, Edward suspirou e olhou em volta. Todos o olhavam, inclusive Alice que estava parada com a sobrancelha levantada.
—Lema no futebol: cortesia.— Explicou, sorriu sem graça, e ela se aproximou, buscando falar de uma distância que só os dois ouvissem.
—Que eu saiba, aqui você é só um estudante.— Censurou. E ela estava certa. Se queria passar despercebido, não podia tomar partido. Não tinha explicação... Isso era inaceitável. Ele não podia se deixar envolver.
Continua...
