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Capítulo 01. Os Preparativos

Sherlock não se cansava do fascínio que era seu filho. John amava poder ver o bebê crescer e se desenvolver, mas quando ele lia os registros que Sherlock mantinha sobre o Junior, duvidava que um dia ele entendeu como uma vida podia ser tão incrível.

-Quero só ver quando o bebê puder experimentar comida. Aí sim, você vai virar um Doutor Frankenstein pior que o Ronald.

Os olhos de Sherlock até brilharam ("novas texturas, sabores e cheiros") mas ele manteve o rosto impassível.

-Você já decidiu o que vai fazer depois que a sua Pós com o doutor Byngton acabar? Vai ser cirurgião freelancer ou tentar entrar na equipe de um hospital grande?

-Se eu entrar na equipe de um hospital grande não terei tempo livre para você e os casos. E um cirurgião com sono não é uma boa pedida. Mas nunca se ouviu falar de um médico freelancer. Pelo menos não numa metrópole.

-Profissões únicas no mundo não é algo estranho nessa casa... - Sherlock piscou para ele.

-Tenho até Novembro para decidir. Falando em decidir, eu já tinha sofrido o diabo com um casamento, porque escolhi passar por isso de novo?

-Por causa das suas tendências masoquistas? A solução é deixar nas mãos da minha mãe e tias. Mycroft deixou que Anthea se virasse com a irmã de Lestrade...

-Na prática, o que isso significa?

-Que você só tem que listar que comida é alérgico, que flor você não suporta, que cor você não gostaria de encarar na cerimônia. E esse batalhão de mulheres que forma a nossa família vai brincar de casamento no nosso lugar, porque elas adoram o estresse de organizar uma cerimônia.

-Simples assim?

-A nossa parte é tirar as medidas do terno. Você quer casar de meio fraque? Branco ou preto?

-Mycroft vai fazer o quê?

-Gregory e ele vão se casar de preto, somente os detalhes em cores. O que foi?

-Estou tentando imaginar você de fraque branco. E estou gostando. Vai combinar com seu cabelo.

Sherlock odiava não ser moreno como Lestrade, porque nessas horas em que ele sentia as orelhas quentes, sabia que estava corando feito um garotinho. John sorriu abertamente e decidiu:

-Já casei de preto. Vamos de branco, dessa vez. Que tal, Junior? Você vai estar andando no casamento dos seus papais?

O bebê de três meses sorriu da sua cadeirinha de balanço. Sherlock pegou o controle remoto da cadeira.

-Se Nina não tivesse nos mandado, eu nunca imaginaria que houvesse cadeirinhas automaticas...

-O mundo da tralha para crianças é vasto, querido. Já andei dando uma olhada no catálogo. Graças a Deus não somos consumistas.

Desde o começo do ano, Therese estava se preparando para a fertilização. Após os exames e aprovação da sua saúde, ela veio a Londres para se submeter à parte final. Ronald explicou a ela e aos pais.

-Agora vamos fazer diferente do que foi feito com Sherlock, John e Nina porque a Therese é irmã do Greg. Eu vou fertilizar um óvulo dela com o sêmen do Mycroft e vou utilizar uma célula tronco do Greg para gerar um embrião com o material retirado do Mike.

-Mas daí não vamos saber qual técnica deu certo, doutor Frankenstein.

-Aí que tá a beleza da coisa, seus incrédulos. Eu posso ser um cientista louco, mas eu também gosto de poesia abstrata. Que o método funciona, já é provado. Não fui eu quem criou, então não preciso provar nada. Apenas observar os resultados.

-Será que vão vingar os dois?

-É uma possibilidade, mas não é certeza.

Qual não foi a surpresa de todos os envolvidos ao saber que não só os dois embriões se firmaram, mas eram DUAS MENINAS? Mycroft não conseguia parar de sorrir diante do ultrassom, enquanto Greg ria e chorava ao mesmo tempo. Mas a reação do clã Rutherford foi impagável:

-Tinha que ser o Mycroft mesmo. Ele fala do Sherlock, mas ele gosta de se exibir muito mais. DUAS!

-Vocês ficaram falando de material genético importado, mas o japonês não virou, o escocês do Watson não virou, olha aí, da França vira. Tivemos que voltar às raízes.

-Mas vão à merda. Duas meninas!

John ria diante daquela comoção toda. Sentiu um conhecido aperto no coração e uma leve inveja de seus cunhados. Olhou para o Junior rolando no chiqueirinho e tentou imaginar como ele seria em forma de uma garota. Sacudiu a cabeça.

-Não, parceirinho, melhor assim. Como menina, você ia ser muito linda e eu ia querer fuzilar cada garoto que esticasse o olho pra cima de você. E nem estou falando do outro ser ciumento dessa casa. Cristo, Sherlock já tem ciúmes da prima, imagine de uma filha! Agora estou com dó dessas meninas, filhas de Mycroft Holmes, o rei da vigilância.

Uma decisão prática que Mycroft tomou: fazer a cerimônia em Londres para que o sistema hoteleiro de Whiltshire não entrasse em colapso. E para a segurança de sua vasta família fosse assegurada. O clã Rutherford reservou um hotel inteiro para caber todo mundo que foi convidado. Nanny gostaria que o casório fosse feito em sua casa mas as noras concordaram que era melhor não ter trabalho com o pós-festa.

Harriet ligou para o John:

-Uns primos Watson querem ser convidados. Acho que é mais por conta da boca livre que por amor à família.

-Não fizeram questão de vir no meu primeiro casamento, porque se dariam ao trabalho de vir para o segundo?

-Para fofocar entre os vizinhos que nossa família é degenerada, que os dois filhos do nosso pai são gays?

-Pois então que o façam sem encher a pança às minhas custas. Não, Harry, de pensamentos homofóbicos já basta a mãe do Greg, que está fazendo novenas para o casamento não se realizar. E nem católica ela é. - John sorriu ao ouvir a irmã gargalhar do outro lado da linha – Você ri, mas deve ser muito chato para os Lestrades essa intolerância dela.

Chato não conseguia abranger todo o constrangimento que a família Lestrade sentia. Todos eles estavam muito felizes, Therese brilhava gerando as sobrinhas, os outros parentes e amigos mais próximos convidados fofocavam alegremente sobre o que esperavam desse novo casamento do Gregory... e a mãe dele só rolava os olhos, não querendo tomar parte em nada daquilo.

O velho René Lestrade foi se aguentando enquanto pode, porque ele não queria brigar com a esposa. Ele sabia que se começasse a argumentar, várias coisas poderiam aproveitar a oportunidade e vir à tona. Mas pelo bem dos filhos e dos netos, ele teve que intervir.

-Katie, isso não pode continuar. Você não pode boicotar o casamento do nosso filho.

-Por que não? Nem é um casamento de verdade. Dois homens não podem se casar, não me importa o que vocês pensam.

-Katherine Lestrade, por que diabos você vai dar munição para a família daquela destrambelhada da Sheryl continuar falando mal do nosso Greggy? Ele já não sofreu o suficiente? Agora que ele finalmente vai poder colocar a cabeça no travesseiro sossegado, ao lado de uma pessoa que valoriza ele como ele é, que não está interessado no dinheiro dele, que pode protegê-lo e ampará-lo na velhice, você fica aí, com frescuras de "o que vão dizer por aí?" Mulher, por favor, estamos velhos! Não devemos mais satisfação a ninguém, muito menos à família fofoqueira da nossa ex-nora. Não vou te obrigar a aprovar seu novo genro, mas seja gentil com a família do Mycroft. Seja gentil com o nosso filho, que até agora viveu só para agradar aos outros! Experimente a porra do vestido! - e saiu de casa, batendo a porta.

Foi o tempo dele ir para a casa de Therese, o telefone dela tocou. Quando ela abriu a porta para deixar o pai entrar, avisou:

-Mamãe mandou avisar que o vestido está meio largo na cintura, mas ela vai usar um cinto de tecido pra disfarçar. Ela não quer que aperte porque ela quer comer bem na festa.

Pai e filha ficaram se olhando durante alguns minutos até começarem a rir. Ao levar o pai para a cozinha para tomarem um chá, ela comentou:

-Você brigou com ela, não foi? Essa família não sabe resolver nada numa boa...

-Estou vendo há quase seis meses ela de cara amarrada, dando coice até na sombra por causa desse casamento e da sua gravidez. Precisei me posicionar porque já deu, não é? Greg merece todo nosso apoio pra compensar o que lhe vai faltar lá fora. Posso ser velho mas não sou burro. Muito menos cego. Sei como tratam os gays por aí.

-Paizinho, eu sempre te amei, mas agora mais do que nunca, sinto muito orgulho de ser sua filha. Não sei como o Greg se casar com um homem afeta suas convicções, mas esse apoio que você está dando me emociona muito. E me ensina muito sobre paternidade em relação aos meus próprios filhos.

-Não vou negar que eu acho meio estranho esse negócio de dois homens juntos. Nem quero imaginar como deve ser entre quatro paredes. No começo eu até ficava meio constrangido ao ver os dois se beijando. Mas seu irmão sorri com muito mais frequência, o olhar dele brilha como se fosse um adolescente, que pai eu seria não enxergando o quanto o Mycroft faz bem para o meu filho? Danem-se as convenções, o que o mundo julga "normal", diabos levem a opinião alheia. Interessa a mim a felicidade da minha família. E você gerando as sobrinhas também parece iluminada, Therese.

-É um pouco cansativo, gêmeas na minha idade. Mas ao mesmo tempo é um sonho realizado. Nem eu acredito às vezes... Será que vão ser morenas iguais a nós ou ruivas igual ao Mycroft?

-Vão ser muito lindas, de qualquer forma. E muito amadas, tendo os pais que tem. É esquisito, uma tia gerando as sobrinhas, mas ao mesmo tempo é muito família. Eu acho que o mundo não sabe mais o que significa "formar laços familiares".

-Paizinho, hoje você está muito filósofo. - Therese se levantou para beijar os cabelos brancos e levar as xícaras para a pia – Mas é isso mesmo, hoje ninguém mais tem noção de família como tribo, onde todo mundo se cuida e se protege. É uma pena. A família do Mycroft, eles são meio esnobes e até secos, se comparar com a nossa, mas eles são um grupo coeso.

René riu:

-Deu pra perceber pelo convite: "O Clã Rutherford tem o prazer de convidá-los para os enlaces de seus filhos muito estimados..."

- "... Sherlock E Mycroft, filhos de Violet Rutherford & Siger Holmes, com John Watson, filho de Emma & James Watson e Gregory Michel Lestrade, filho de Katherine & René Lestrade a se realizar..." céus, Watson, eu deveria ter escrito esses convites de casamento! Mais um pouco de pompa e pareceria que são os herdeiros da Coroa Britânica se casando.

John ainda estava corado de satisfação justamente com a suntuosidade do convite. Pigarreou:

-Suas primas capricharam mesmo na confecção destes...

-Hein? O estilo de escrever está entre minha avó e meu tio James. - Sherlock parou para observar o rosto do noivo, depois deu de ombros. - Tudo bem, eu não queria tomar parte nisso, se te agradou, para mim não faz diferença. Para o meu irmão também deve estar tudo de acordo, só sobra para o pobre do meu cunhado arcar com a esnobice.

-Greg aguenta, pode ficar tranquilo. Nem acredito que Ronald me convidou para trabalhar na clínica.

-Era óbvio, depois do show de perícia que você deu no parto do John William. Agora que você fez uma especialização com um renomado cirurgião então... Você pode até achar que é um favor, mas Ronald é calculista. Ter você no quadro da clínica, mesmo sendo um "cirurgião consultor" é um ótimo chamariz para aumentar a clientela. John, seja sincero, você não se importa mesmo que a tia Ruby seja nossa madrinha de casamento?

-Nina é a nossa fada madrinha, ela sabe disso. Se ela declinou do convite, pedindo que a sua tia Ruby fosse convidada no lugar algum motivo forte tem.

-Nosso casamento vai virar palanque de ativismo gay...

-Não creio. Mas se algumas patadas em luvas de pelica forem dadas, eu vou adorar. Muitas pessoas vão estar lá com seus preconceitos guardadinhos, porque elas querem aparecer ao lado de celebridades convidadas e comer bem, mesmo que seja às custas de quem elas desprezam. Pois então que paguem o preço!

Sherlock se aproximou de John e puxou-o pela cintura.

-Humm... Capitão Watson nervosinho... Gosto disso... - desceu os lábios pelo cabelo, orelha e sussurrou – eu sei como acalmá-lo... - lambeu a volta do pavilhão – será que ele permite?

John estava arrepiado até o último pelo, mas manteve a voz firme:

-Prossiga, Holmes... Eu me interesso e muito pelas habilidades demonstradas pelos meus subordinados.

Sherlock soltou John, que estranhou a princípio, depois sorriu, ao ver que o noivo começava a desabotoar a camisa.

-Strip-tease?

-Quase. - Num movimento, Sherlock baixou a calça e as boxers, virou-se de costas e abaixou a camisa nos ombros. Segurando-a, começou a rebolar dentro dela, observando as reações de Watson pelo espelho.

John tirou o suéter, a camisa e a camiseta branca, abriu o botão da calça e o zíper, agarrou o corpo maior travando os movimentos, uma das mãos segurando o peito, a outra descendo pela virilha.

-Gosto dos seus métodos de pacificação, Holmes. - não conseguiu reprimir um gemido quando a sua perdição rebolou procurando fricção maior além do zíper – mas você tem uma bunda muito atrevida que precisa aprender quem manda aqui.

-Sim, capitão. Mostra pra ela...

-Quer que eu mostre, né, safado? Incline-se na poltrona e abra as pernas. AGORA!

Sherlock obedeceu com as pernas trêmulas. Ah, aquela voz de comando...

N/A: Calma, gente, a lua-de-mel vem depois. Um finalzinho com o "militar kink" só pra dar um aperitivo. Vamos pra cerimônia 09/07/2016.