Disclaimer: Death Note não me pertence, créditos a Ohba e Obata.
Spoilers: Nomes verdadeiros.
Itens: Crime Passional, Mentiras e Mitologia.
Casal: Raito x L.
Música: When You Hurt Me The Most, Stream of Passion.
Observação: Fanfic feita para o I Challenge de Morte, organizado pela StonePixie (Comunidade AnimeSpirit)
Capa feita por mim e disponível no meu perfil.
Justiça Fatal
O ar estava frio
Na noite em que eu fugi
Seus olhos eram mais
Do que eu poderia aguentar
Eu corri tão rápido
Eu corri como nunca
E ainda não fui capaz de escapar
A voz do professor ecoa em minha mente, mas as palavras não são registradas por meu cérebro. Eu sei que ele fala sobre Nêmesis, a deusa grega cujo nome é usado, hoje, para determinar o oposto de alguém, uma pessoa que ao mesmo tempo em que é diferente também é igual. Viro meu rosto, meu olhar caindo sobre a imagem de um rapaz sentado a duas carteiras de onde estou. Se eu tivesse que determinar minha Nêmesis, eu o escolheria. Yagami Raito. O único em toda escola que está no meu nível intelectual, o único que consegue prender minha atenção, atiçar meu interesse. E meu desprezo.
Tenho meu olhar retribuído pelo olhar castanho de meu colega. Não me movo e nem ao menos desvio meu olhar. Silenciosos, parecemos travar uma guerra sem motivo e sem lógica, mas isso não importa para nós, pois essa é a nossa natureza. Procuramos sempre ser o melhor, o primeiro e essa competição se restringe a nós dois, já que temos plena consciência que somos os únicos que são capazes de participar. Um sorriso nasce nos lábios de meu amigo, um sorriso que eu reconheço, desejo e temo. Provacação, sedução.
O sinal toca e o professor encerra a aula. Levantamo-nos e caminhamos para fora da sala. Sinto que meus passos têm, como sombra, os passos de Raito. Viro e entro em um corredor vazio. Minhas costas logo batem contra a parede dura, mãos fortes seguram minha cintura firmemente e uma respiração quente atinge minha pele juntamente com o toque suave de lábios macios.
- Por que me olhava daquele jeito? – a pergunta é feita em um tom de voz baixo e o olhar castanho mira meu rosto, um leve brilho avermelhado tomando conta das íris escuras – Tão firme e profundamente, parecia me analisar.
- Nemêsis. – respondo, despertando a curiosidade em meu amigo – Pensava em como você é minha Nemêsis, tão parecido e ainda assim tão diferente de mim.
O sorriso nos lábios finos aumenta. Dedos tocam minha face, meus lábios, meu pescoço e sinto como se uma faca afiada fosse deslizada por minha pele, ameaçando derramar meu sangue, me matar com apenas um toque. Mas é exatamente isso que Raito é, um perigo, uma ameaça sempre constante. Profundamente mortal e mortalmente sedutor.
- Se pensar bem, nós realmente somos a Nemêsis um do outro. – ele diz, a face próxima a minha – Não é mesmo, Lawliet?
A chance de responder não me é concedida. Em troca, um beijo é oferecido, o qual aceito sem relutar, mergulhando nas sensações que Raito me provoca, deixando-me envolver pela forma firme como ele domina o ato, mas sem esquecer a aura de perigo que ele emana e que, ao invés de me assustar, só me seduz ainda mais.
- Hoje à noite. – ele diz, sem dar margem para contradições – No lugar de sempre.
Assinto, concordando com os termos dele. Respiro fundo, observando Raito se afastar, saindo do corredor e entrando em outro. Pego minha mochila, que não havia notado que tinha deixado cair, e sigo o mesmo caminho.
Passo por meus colegas sem realmente notá-los, minha mente completamente focada em minha Nemêsis. Eu sei que é errado me deixar seduzir, deixar que ele me beije, que faça sexo comigo, mas, ao mesmo tempo, sinto que, se não fizer nada disso, irei quebrar em mil pedaços. Pequenos e transparentes pedaços que, com certeza, irão refletir o quanto cai, o quanto me deixei envolver por Yagami Raito.
Distraidamente, noto um professor colocando um aviso no mural. Aproximo-me e leio. Mordo meu lábio inferior com força, agora consciente da morte de mais um aluno. As mortes começaram há alguns meses, todas iguais. Por envenenamento. Mas o pior não é saber das mortes, mas sim conhecer quem as comete.
Abaixo meu rosto, sentindo o sangue escorrer por meu lábio, por meu queixo e então vejo a gota vermelha cair no chão. Sempre me considerei parecido com Diké, a deusa grega da justiça, constantemente de olhos abertos, preocupado em fazer com que a justiça seja cumprida, mas ultimamente a última coisa que tenho sido é justo.
Lentamente, afasto-me do mural, caminhando até a escada e subindo-a. Esse é um caminho que conheço muito bem, embora não devesse. Chego ao último andar e empurro uma porta velha, pesada. A passagem me dá acesso à outra escada, que leva até o sótão, um lugar esquecido por todos no internato.
Subo os degraus frágeis, a madeira chiando sob meus pés. Jogo minha mochila no chão, meus olhar observando o escuro e silencioso aposento. Um quarto. A cama, de casal, permanece coberta pelo lençol branco, novo. A janela oferece a visão do céu nublado, melancólico. Viro meu rosto, vendo o grande espelho colocado próximo à cama. Caminho em direção a ele, meus olhos fixos em meu reflexo.
Lentamente, desabotôo a camisa do uniforme, deixando que o tecido escorra por meus braços, alcançando o chão. Toco minha pele, sentindo as marcas, as cicatrizes causadas pelos toques dele. Carícias afiadas como lâminas, cortando minha pele, derramando meu sangue. Líquido vermelho tomado por lábios macios, quentes. Veneno. Talvez Raito esteja me matando do mesmo modo como mata os outros alunos, me envenando, só que sem me dar o prazer de uma morte rápida. Não, ele quer me torturar. Ele gosta de me torturar.
Toco a superfície fria do espelho, minha mente reaviando as lembranças de antigas conversas. Perguntas verdadeiras, respostas mentirosas. Por que está comigo? Porque eu quero. Não, você precisa. Precisa me controlar, para que assim eu não diga a ninguém o seu segredo. Por que mata? Não mato. Mentira. É você quem os mata, eu vi o veneno em sua mochila.
Desvio meu olhar ao notar um brilho fraco em cima da mesa. Estico a mão e pego o bisturi, passando-o suavemente por meu tórax, como se o estivesse apresentando às marcas que ele deixou em minha pele. Quantas cicatrizes eu poderia criar com esse pequeno objeto? Deslizo a lâmina por meu pescoço, parando-a em cima de minha artéria. Um pouco mais de força e tudo estaria acabado.
Justo? Não. E nem viável. Não abriria mão da minha vida por ele. Afasto o bisturi, segurando-o firmemente entre meus dedos. Seria apenas mais uma vítima e nada teria mudado. Eu preciso me libertar do controle dele, mas esse não é o caminho. Sorrio para meu reflexo. Temo que até o caminho que eu desejo esteja bloqueado. Mesmo longe, não poderia dizer a ninguém o que sei. Não por falta de provas ou evidências, mas porque sei que, por maior que seja minha vontade, nenhuma palavra deixará meus lábios. Controle inconsciente.
Encosto a ponta do bisturi no espelho, deslizando a lâmina como se estivesse cortando o tórax de meu reflexo. Se não posso agir do meu jeito, devo, então, agir do jeito dele. Minha Nêmesis, meu oposto... Não tão oposto.
- Não deveria brincar com objetos cortantes. – a voz baixa atinge minha orelha, arrepiando-me – Pode acabar se machucando, Lawliet. – mãos quentes tocam minha cintura com força, possessivas, puxando-me de encontro ao corpo dele.
Sorrio para meu reflexo e ele sorri de volta. Assim como Raito. Minha decisão está tomada, agora eu só preciso jogar.
Viro-me e empurro-o, fazendo-o cair sobre o colchão. Lentamente, me aproximo, sentando-me sobre suas coxas, meus lábios tocando o pescoço pálido enquanto minhas mãos abrem os botões da camisa social. Um gemido escapa dos lábios entreabertos. O som acaba por aumentar meu sorriso, escondido pelos beijos e mordidas que distribuo pela pele macia, deixando-a avermelhada.
Ergo meu rosto para em seguida abaixá-lo, meus lábios beijando a boca bem desenhada, saboreando seu gosto pela última vez. Deslizo minhas mãos pelo tórax quente até alcançar os braços, continuando o caminho até as mãos, roubando o bisturi.
Ergo-me, sentindo as mãos de Raito escorregarem por minha cintura, agarrando minha bunda. Toque firme, prazeroso. Olho nos olhos castanhos, levemente avermelhados, e vejo o brilho da insanidade. Tanta loucura, tanto prazer em machucar. Não tenho como resistir. Depois de tanto tempo, fiquei viciado nessa insanidade, tão viciado que, agora, afogo-me nela pouco a pouco.
Mantenho meu sorriso enquanto encosto o bisturi no peito ofegante, pressionando-o, rasgando a pele. Atento, observo e aproveito cada sensação refletida nas íris avermelhadas. Dor. Prazer. Surpresa. Não paro, continuo afundando a lâmina no peito de meu amante. O prazer some do olhar insano, restante apenas a dor e a loucura. Unhas afundam em minha pele, cortando e marcando minha cintura, mas a dor se torna apenas mais um prazer para mim, tão grande que me faz terminar a trilha, enterrando o bisturi no coração outrora pulsante.
Observo o brilho da vida deixar os olhos castanhos e então me inclino, beijando os lábios finos uma última vez. Levanto-me e volto a me aproximar do espelho. Sangue suja minhas mãos e minha alma, condenando-me pelo crime que cometi. Com força, soco meu reflexo, em uma vã tentativa de espantá-lo. Doce engano.
Minha real face é apenas multiplicada, refletida em cada pedaço da superfície trincada. Tenho consciência de que o que fiz foi errado, mas não sinto o mínimo arrependimento. De um modo distorcido, o que fiz foi justiça. Justiça para todos os inocentes mortos pela loucura de Raito.
Dou as costas ao espelho, caminhando para a cama e retirando o bisturi do corpo imóvel. Toco meus lábios com a lâmina, sentindo o gosto de sangue em minha língua. Ser o herdeiro de tal loucura foi o preço a pagar por esse ato de justiça. Mas não me tornarei um criminoso como Raito foi. Não, estou acima disso.
Sou a justiça. Doce e fatal justiça.
Nem dor nem amor sobraram para seu escravo
Meu coração está despedaçado e você mantém o sorriso
Eu quebrarei a promessa e direi a mim mesma
As palavras que me libertarão de você
Me bata com mais força agora
Me jogue no chão
A dor é mais doce
Vinda de sua mão
Pegue seu ódio e conduza-o pelo meu coração
