Vagalumes
Já esquecera quantas vezes contara o número de retângulos de madeira que formam o chão do seu sufocante quarto.
Jogou-se na cama, desejando incomodar-se com a dor do impacto ao bater as costas no colchão duro.
Mais um dia que acabava. Ou semana. Sei lá, não faz diferença para ela.
Colocou os fones e ligou a música no máximo.
Broken hearts and broken bones
Com murmúrios acompanhava as batidas da bateria, de olhos fechados imaginava-se vivendo.
You're the one I wanna refill
Vivendo, respirando. Crescendo. Num ato súbito, jogou o celular na parede. Não precisava se enganar.
Ao abrir os olhos percebeu a presença da enfermeira gorda, assassinada no mesmo local que ela se matou.
- Vá embora! Merda! – Gritou. Será que um dia se tornaria um fantasma rancoroso e sem noção como aquele?
Sentou-se na cama, fitando a janela.
Era uma noite linda. Com direito a lua cheia e tudo mais.
- Argh! Que ódio! – Exclamou ao se pegar sonhando com uma vida que nunca teria.
Uma lágrima estúpida rolou, e ela a pegou antes de chegar à altura do nariz.
Pequenas luzes a fizeram voltar o olhar para o jardim. Luzes que se moviam freneticamente.
Vagalumes! Algo diferente naquela mesmice absurda a qual se condenou.
Correu escada abaixo, chegando na entrada de sua prisão. Mas eles já não estavam mais lá. Se é que estiveram um dia, tinha que reconhecer a possibilidade. Louca e sem noção do tempo.
Cabisbaixa, voltou para a casa. Derrotada como um homem que perdera sua fé. Sim, sentiu-se assim por um motivo tão tolo, porém novo.
Passou pela cozinha, lavando o rosto. Perdera o corpo, não queria perder a sanidade.
O contato com a água a lembrara daquele dia... E aquele dia a lembra dele.
"Vá embora!" Ela repetia em sua cabeça. Não queria admitir que sentia a falta dele, depois de tudo que ele fez.
Subiu as escadas, contando os degraus. Suspirou e foi até seu quarto, desejando o colchão duro onde eles fizeram amor.
Chorou. Muito. Não conseguia se conter.
Tanto ódio, tanto amor. Tudo tão mesclado com uma agonia que não sabia dizer do que. Por ter se matado, por ter o pai assassinado, a mãe estuprada pelo único cara que amou. Tudo tão rápido, tudo sem noção.
O que vem depois da morte, seria isso, então? Continuar presa no local que mais odiou? Isso é apenas a morte ou o inferno que tanto falam?
- Era isso que você queria?
Ele. A voz dele.
Tirou a mão do rosto molhado para encará-lo.
- Peguei para você, Violet.
Nas mãos dele residia um pote de vidro com luzes dançando. Vagalumes.
American Horror Story não me pertence.
Lucy Leeches.
