Nota explicativa: O Projeto Like A Brother My Ass foi criado pela seção Sirius/Remus do fórum 6 Vassouras, e tem o objetivo lindo e apertável de divulgar o ship incentivar a criação de fics.
Capa da fic: link no profile.
Coração de Guerra
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De escolha própria escolheu a solidão
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Vocês não entendem.
Remus pensava, toda vez que ouvia as pessoas comemorando a derrota de Lord Voldemort. Eles não entendiam. O lorde não tinha importância alguma. Não quando seus amigos estavam mortos. E ele se sentia terrivelmente egoísta quando pensava nisso.
"Não foi sua culpa, Remus."
Mas isso não fazia sentido. Não quando ele passara os últimos dez anos considerando como melhor amigo o homem que agora estava preso em Azkaban. Não, ele podia ter percebido antes. Ele devia ter percebido antes. E então nada disso teria acontecido.
Já é primavera e Lily não vai poder cuidar do jardim. Nem nessa e nem em todas as outras.
Havia flores crescendo ironicamente ao redor das ruínas. Remus escolhera passar suas tardes lá, olhando para os destroços da casa dos Potter. Se castigando por ter deixado que acontecesse, por não ter percebido. E, principalmente, por ainda não ter encontrado, em meio às suas lembranças, algo que pudesse considerar como um indício do que aconteceria.
Sirius não fez isso.
Foi a primeira coisa que pensou, quando soube da tragédia. Ainda se condenava por ter pensado nele antes de qualquer outra coisa. Antes de James e Lily, que estavam mortos. Antes de Harry, marcado e órfão. Antes de Peter, despedaçado.
Sirius nunca faria isso.
Ele tinha certeza. E era estranho como, exatamente no momento que se confirmou a traição, todas as desconfianças que Remus um dia nutriu contra os olhares fugidios e o comportamento estranho de Sirius caíram por terra. Já não importava mais que ele estivesse o evitando nos últimos meses. Haveria uma explicação para tudo isso.
Sirius não pode ter feito isso.
Talvez ele tivesse sido torturado. Talvez estivesse louco, e por isso ria quando matou Peter e os trouxas. Havia uma explicação, é claro que havia. Mas, mesmo que houvesse, isso não mudaria o fato de que eles estavam mortos. E tudo que ele tinha, de repente já não existia mais.
Por que você fez isso, Sirius?
Ele se lembrava do silêncio respeitoso dos membros da Ordem. Um copo de firewhisky sendo posto em sua mão direita. Alguns olhares piedosos em sua direção. Havia sido enganado. Todos haviam. Por que só ele merecia pena?
"Harry foi enviado para a casa dos tios."
Harry. Sirius tinha dito para que chamassem o garoto de Harold. Lily torceu o nariz, mas o rosto de James se iluminou.
"James, eu não acredito que você está considerando isso", ela reclamou; a barriga já estava enorme. "Sirius não estava falando sério."
"Não, mas Harry é legal, não é?"
E Remus ficou aliviado, terrivelmente aliviado, quando soube que o menino estava longe. Não podia olhar para ele. Não podia olhar nem para si mesmo.
"Não foi sua culpa, Remus"
Ele tinha certeza de que era isso que James diria. Mas, mesmo assim, ainda não fazia sentido. Nada mais faria. A guerra tinha acabado. Ele quase sentia falta dela. E se sentia cada vez mais egoísta porque enquanto o país finalmente respirava aliviado, o peso em seus ombros só aumentava. No fim das contas, ele pensou, de que adiantava salvar vidas, se as mais importantes foram perdidas?
Nós não devíamos ter nada a ver com isso, não é?
Remus lançou um último olhar à casa, depois à estátua, e então finalmente parou diante do túmulo de James e Lily. Jurou diante deles que nunca mais voltaria a Godric's Hollow. Quase pôde ouvir James lhe dizer, por cima do seu ombro, que estava tudo bem. Mas não estava.
Eu estou sozinho, James.
Por muito tempo achou que as pessoas estariam melhor sem ele. E agora que finalmente pretendia se isolar, teve medo. Não havia mais para onde não fugir, não havia mais quem o segurasse e dissesse que ele era importante. Pelo menos ninguém em quem ele acreditasse.
"A Ordem não acabou, Remus. Ainda há Comensais..."
Não havia mais nada que importasse. Não havia pelo que lutar, agora que eles se foram. Metade da Ordem estava morta, senão mais. Frank e Alice, irremediavelmente loucos. Também eram pais da geração pós-guerra. De garotos que cresceriam ouvindo o heroísmo dos pais, mas não pela boca deles.
Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.
A realidade de ser o último chocou Remus. O último sobrevivente daquele grupo... não, daquela família. Daquela família feliz. Os melhores dez anos da sua vida. Nunca os teria de volta. O que lhe restava agora era não morrer. Não poderia se dar a esse luxo agora.
Com o frio impresso nos ombros, em plena primavera, Remus saiu do cemitério.
Estava sozinho. Sempre estaria.
