Capítulo I
Isabella fechou os olhos, saboreando a amora madura. Sem dúvida, aquela era a maior delícia do verão. Então, examinou a grande amoreira, cujos galhos apresentavam-se repletos de frutas. Concluiu que poderia apanhar o suficiente para fazer uma torta e, ainda, vários potes de geléia. Colocou a cesta no chão e começou a trabalhar. Selecionando as amoras mais tenras e maduras, apanhava-as e atirava-as na cesta com rapidez. Enquanto suas mãos se movimentavam, a mente divagava. Como era infantil a sua irmã, mesmo aos dezesseis anos. Fora por sugestão dela que Bella se embrenhara no bosque da propriedade vizinha. Rosalie queria comer torta de amora na sobremesa do jantar e, com olhos azuis brilhantes e cachos dourados agitando-se de entusiasmo, pedira à irmã mais velha que apanhasse as frutas, quando saísse para o campo, a fim de colher ervas.
Bella suspirou, perguntando-se se Londres acabaria com aquela espontaneidade fascinante. Mais importante, tinha esperança de que a tão planejada viagem à capital pudesse libertar Rosalie daquela existência monótona. Seis meses haviam se passado, desde que sua mãe, Reneé, lady Swan, sucumbira a uma forte gripe, deixando as duas filhas sob a guarda de seu primo, James, lorde Swan; Cinco meses intermináveis na mansão Swan, em Northamptonshire, esperando que os advogados fizessem o inventário, haviam convencido Bella de que elas não encontrariam nenhuma ajuda ali, mas sim grandes estorvos. James era, sem dúvida, o mais enfadonho dos homens. Victoria sua esposa afetada, tediosa e deselegante, era absolutamente inútil. Se sua avó não houvesse aparecido, como a proverbial fada-madrinha, seria melhor nem pensar em que teria sido das duas irmãs.
Descobrindo-se subitamente incapaz de se mover, baixou o olhar para a bainha do vestido, presa por um galho espinhoso. Felizmente, usava seu velho vestido de fustão. Apesar dos sermões de tia Sue sobre as roupas de luto, Bella insistia em usar o vestido verde e fora de moda para suas expedições pelo campo. A saia, desprovida dos inúmeros saiotes, praticamente aderia às suas formas esguias. Imperturbável, examinou os pequenos rasgos produzidos pelos espinhos.
Quando voltou a se erguer, o calor do sol pareceu-lhe ainda mais forte. Obedecendo a um impulso, soltou os cabelos castanho-avermelhados, que alcançavam sua cintura. Sentindo-se mais fresca, voltou a colher amoras.
De uma coisa estava certa: não teria surpresas em Londres. Nem todos os esforços de sua avó seriam suficientes para lhe arranjar um marido! Os grandes olhos castanhos como chocolate eram sua melhor e única verdadeira qualidade. O restante de sua aparência estava irremediavelmente fora de moda. Seus cabelos eram escuros, em vez de loiros, preferidos no momento. A pele pálida nem se aproximava da tonalidade rosada que cobria as faces de Rosalie. O nariz era bem feito, mas a boca era grande demais, e os lábios, excessivamente carnudos. A moda exaltava as boquinhas pequenas e delicadas. Além de tudo isso, Isabella era muito alta e esguia para a forte preferência por curvas voluptuosas. E, para coroar a sua certeza, tinha vinte e dois anos e gosto pela independência! Definitivamente, não era o tipo que atraía a atenção dos jovens cavalheiros da época. Rindo consigo mesma, colocou mais uma amora madura entre os lábios generosos.
Ser relegada ao plano das velhas solteironas não a incomodava nem um pouco. Tinha dinheiro suficiente para viver confortavelmente pelo resto de sua vida, e ansiava pelos anos que passaria em Swanland. Recebera atenção considerável dos cavalheiros da região, mas nenhum deles havia despertado nela o desejo de trocar sua existência independente pela respeitável, condição do matrimônio. Enquanto as outras moças arquitetavam planos e armadilhas, a fim de conseguir colocar no dedo o tão importante anel, Bella não via motivos para imitá-las. Somente o amor, aquele sentimento estranho que ainda não tocara seu coração, seria capaz de fazê-la mudar de idéia. Na verdade, não conseguia imaginar o cavalheiro cuja atração a seduziria e a fizesse mudar de vida. Fazia muito tempo que era dona de si mesma, livre para fazer o que quisesse. Estava sempre ocupada com atividades que a agradavam. Sentia-se segura e feliz. Rosalie era muito diferente.
Entusiasmada pela vida, Rosalie ansiava por um estilo muito mais brilhante. Embora fosse ainda tão jovem, tinha um enorme interesse pelas pessoas, e os horizontes de Swanland eram estreitos demais para ela. Jovem, meiga e dona da beleza que a moda exigia, certamente encontraria um jovem elegante e de boa posição, capaz de dar tudo o que seu coração desejava. E era essa a principal razão daquela viagem a Londres.
Bella observou, durante um longo momento, uma amora particularmente grande, quase fora do seu alcance. Com um súbito sorriso, estendeu a mão na direção da fruta tentadora. Seu sorriso se transformou em choque e surpresa quando um braço forte enlaçou-a pela cintura. Antes que tivesse tempo de saber o que acontecia, viu-se apertada em um abraço ardente. Teve um rápido vislumbre de um rosto pálido. No instante seguinte, foi beijada com paixão e intensidade.
Por um momento, sua mente paralisou-se. Então, a consciência retornou. Ora, não era inexperiente. Sabia que a ausência de reação a libertaria mais depressa do que qualquer outro tipo de atitude. Sendo uma mulher prática, forçou-se a demonstrar indiferença.
Infelizmente, sua avaliação da ameaça fora errada. Apesar das instruções claras que recebia, seu corpo recusou-se a cooperar. Horrorizada, Bella sentiu uma súbita onda de calor varrer suas entranhas, seguida pelo impulso quase incontrolável de retribuir aquele abraço. Nenhum de seus admiradores havia se atrevido a beijá-la assim! O desejo de reagir com ardor àqueles lábios exigentes crescia a cada segundo, fugindo ao seu controle. Aflita, ela tentou se desvencilhar, mas dedos longos enroscaram-se em seus cabelos, imobilizando sua cabeça, ao mesmo tempo em que o braço em torno de sua cintura apertou-a ainda mais. A força do corpo contra o qual sentia-se pressionada confirmava o fato de que não havia nada que ela pudesse fazer. Em meio ao caos de pensamentos que se tornavam, rapidamente, incoerentes, surgiu a conclusão de que o homem não era cigano nem vagabundo. Certamente, não era da região. O breve vislumbre daquele rosto indicara elegância negligente. À medida que seus sentidos mergulhavam em um oceano de desejo, sensações desconhecidas foram assumindo o controle de seu corpo. Então, de maneira abrupta, o beijo foi habilmente interrompido.
Com a mente atordoada, Bella ergueu os olhos para o rosto claro. Os olhos castanho-dourados, iluminados pelo brilho inconfundível do divertimento, estavam fixos nos dela. Furiosa, ela ergueu a mão para esbofeteá-lo, mas ele foi mais rápido e segurou seu braço, impedindo-a.
Então, ele sorriu com ar provocante.
— Não creio que deva me bater. — murmurou — Como ou poderia saber que você não é a filha do ferreiro?
A voz suave era, definitivamente, de um homem educado. Lembrando-se da própria aparência, com seu velho vestido verde e cabelos soltos, Bella corou até a raiz dos cabelos.
— Se não é a filha do ferreiro — ele continuou —, quem é você?
Diante do tom levemente zombeteiro, ela empinou o queixo.
— Sou Isabella Swan. Agora quer fazer o favor de me soltar?
O braço em torno de sua cintura não se moveu.
— Ah... Swan, de Swanland?
Tudo o que Bella conseguiu fazer foi balançar a cabeça, pois não era fácil conversar, colada a ele como estava. Quem era aquele homem, afinal?
— Sou Edward Cullen. — ele declarou com simplicidade. Por um momento ela pensou não ter ouvido bem, mas examinando-lhe as feições arrogantes, sentiu as dúvidas se dissiparem.
Bella ouvira os rumores. Sua velha amiga, lady Denali, cuja propriedade envolvia aquele bosque, morrera enquanto estavam na mansão Swan. Seu sobrinho-neto, o marquês de Cullen, havia herdado Denali Park. A notícia pusera o distrito em polvorosa. Em um pequeno condado como aquele, a possibilidade de ter um dos líderes da sociedade como novo vizinho gerava, no mínimo, grande curiosidade. Quando o vizinho em questão era o marquês de Cullen, a agitação era total.
A esposa do reitor comprimira os lábios com desdém.
— Ora, querida, nada me faria travar amizade com um homem como aquele! Sua reputação é chocante!
Quando Bella perguntara como ele conquistara tal reputação, a Sra. Ateara se lembrara, de repente, quem estava à sua frente e tratou de encerrar a conversa, com a desculpa de ter de servir os bolinhos.
Na casa da Sra. Clearwater, ouvira o marquês ser acusado de jogador viciado, mulherengo sedutor e libertino. Embora não tivesse experiência em sociedade, Isabella possuía grande bom senso. Se Lorde Cullen continuava a freqüentar a Ton, como era chamada a nata da sociedade londrina, as fofocas eram, provavelmente, exageradas. Além do mais, era difícil imaginar a respeitável lady Denali como tia- avó de um libertino.
Forçando a mente a abandonar a contemplação daqueles olhos dourados hipnóticos e lábios tão bem esculpidos, Isabella tratou de revisar sua opinião do marquês. Ora, estava claro que o homem era ainda mais perigoso do que sugeria a sua reputação!
Seus pensamentos mostraram-se com clareza em seu semblante, em uma verdadeira procissão que se iniciou com surpresa, passando por reconhecimento, incredulidade e choque. Os olhos castanho-dourados brilharam. Para quem se cansara dos rostos bonitos porém insípidos das jovens da Ton, cujos sentimentos jamais eram mostrados, os traços fortes e expressivos era infinitamente atraentes.
— Precisamente. — murmurou, na esperança de vê-la corar de novo, e foi recompensado pelo rubor mais delicioso quê já vira.
Deliberadamente, Bella fixou os olhos no ombro dele. Embora não fosse baixa, o topo de sua cabeça mal alcançava o queixo dele. Nunca em sua vida sentira-se tão indefesa.
— O quê, exatamente, a Srta. Isabella Swan está fazendo no bosque de minha propriedade?
O tom autoritário a fez erguer os olhos de novo, conforme ele esperava que acontecesse.
— Então você realmente herdou o Park de lady Denali!
Ele assentiu, libertando-a com relutância, mas sem desviar os olhos dos dela.
— Lady Denali sempre nos permitiu apanhar o que quiséssemos, no bosque. — Bella respondeu em tom imperioso — No entanto, agora que o senhor é o proprietário...
— A senhorita vai continuar a apanhar o que quiser, quando quiser. — Edward interrompeu-a com um sorriso — Prometo não confundi-la com a filha do ferreiro da próxima vez.
— Obrigada, lorde Cullen! — ela se Curvou com ar irritado — Cuidarei de avisar Maria.
O comentário apanhou-o de surpresa e, aproveitando o momento, Bella virou-se, decidindo que, nas circunstâncias, a melhor tática de guerra seria bater em retirada.
— E quem é Maria? — o lorde indagou.
— A filha do ferreiro, quem mais? — ela retrucou, indignada.
Ele soltou uma risada e segurou a cesta, impedindo-a de fugir.
— Acho que estamos quites, Srta. Swan. Por favor, não vá embora. Sua cesta ainda está pela metade, e a amoreira tem frutas de sobra. Sei que não pode alcançá-las, mas eu posso. Se esperar alguns instantes e segurar a cesta, logo estará cheia de amoras.
Só então Bella deu-se conta de que suas qualificações eram inadequadas para lidar com um cavalheiro como aquele. Inexperiente nos relacionamentos sociais, não sabia o que fazer. A esposa do reitor esperaria que ela se, retirasse imediatamente. Por outro lado, sua curiosidade pedia que ficasse. Tinha de considerar, ainda, que aquela criatura autoritária não a deixaria partir com tamanha facilidade. E, além de tudo isso, uma vez que ele a posicionara ali, com a cesta na mão, e já estivesse apanhando as amoras mais suculentas dos galhos mais altos, seria uma grande falta de cortesia virar-se e sair. Assim, Bella ficou onde estava, aproveitando a oportunidade para estudar o homem que exercia um efeito tão inesperado sobre ela.
Sua impressão inicial de elegância negligente não fazia jus ao belíssimo paletó feito sob medida. A honestidade a forçou a reconhecer que os ombros largos que coroavam os músculos esbeltos contribuíam de maneira significativa para o efeito de poder másculo que ele exercia. Os cabelos eram de uma cor diferente, como bronze e eram curtos, como ditava a moda, e fios ligeiramente mais longos enfeitavam-lhe a testa. Os olhos castanho-dourados eram tão diretos que chegavam a desconsertar. O nariz reto, a boca firme e o queixo quadrado indicavam que ali estava um homem habituado a dominar o seu mundo. Bella, porém, vira aqueles olhos e lábios suavizarem em expressões de humor, tornando-o muito mais acessível. Na verdade, o sorriso de lorde Cullen era, sem dúvida, devastador para moças mais jovens e impressionáveis do que ela. E, também, havia aquela aura sutilmente atraente, que se classificaria como um dos assuntos que moças de boas famílias jamais discutiam. Lembrando-se da reputação do marquês, ela não encontrou nenhum traço de libertinagem em sua aparência. Sua atitude, porém, não deixava dúvidas quanto à existência do fogo que dera origem à fumaça.
Adivinhando corretamente boa parte dos pensamentos que cruzavam a mente de Bella, Edward observava-a sem ser percebido. Ah, mas ela era uma jóia rara! Os traços clássicos emoldurados pelos fartos cabelos escuros eram lindos, mas os olhos... Como enormes bombons de chocolates, claros e límpidos, espelhavam os pensamentos dela. Os lábios, que ele já experimentara, eram macios e sensuais. Seria fácil tornar-se viciado neles, assim como em tudo nela. No entanto, se pretendia alimentar aquela amizade, teria de ser cuidadoso.
Então, retirou a cesta das mãos dela, apanhou seu rifle de caça e anunciou:
— Vou acompanhá-la até sua casa, Srta. Swan. — percebendo que ela abria a boca para protestar, impediu-a — Não, não discuta. No círculo social de onde venho, uma jovem jamais sai de casa sozinha.
O tom zeloso dele fez os olhos de Bella faiscarem. As táticas de lorde Cullen eram mesmo difíceis de combater. Como não encontrasse nada para dizer ou fazer, que pudesse alterar a decisão dele, acompanhou-o com relutância.
— Aproveite para matar a minha curiosidade. — ele continuou, em tom casual — Por que estava perambulando pelo bosque sem sequer a presença de uma criada?
Sabendo que ele a provocava, Bella reprimiu a irritação.
— Sou conhecida por todos na região, e na minha idade não sou considerada uma jovem que necessite de acompanhante todo o tempo.
O lorde riu.
— Ora, minha cara, você não é tão velha! E está muito claro que realmente precisa de acompanhante.
O que ele acabara de comprovar.
— No futuro, lorde Cullen, trarei uma acompanhante, sempre que me sentir tentada a visitar o seu bosque! — Bella retrucou, perdendo a paciência.
— Uma atitude sábia. — ele murmurou baixinho.
Sem pensar, ela disse:
— Ainda não vejo a necessidade disso. O senhor mesmo disse que, da próxima vez, não vai me confundir com uma garota da vila.
— O que significa que, da próxima vez, saberei quem estou beijando.
Bella parou para fitá-lo, ultrajada. Edward soltou uma risada e tocou-lhe a face com a ponta de um dedo.
— Repito, Srta. Swan, precisa de acompanhante. Não se arrisque a andar pelo meu bosque, ou por qualquer outro lugar, sozinha. Caso os cavalheiros da vila não tenham lhe contado, a senhorita é adorável demais para se aventurar sozinha, apesar da sua "idade avançada".
Os olhos dourados mantiveram-se fixos nos dela e, enxergando algo mais que simples divertimento no brilho que os iluminava, sentiu-se estranha, incapaz de dizer qualquer coisa. Irritada, furiosa e atordoada, virou-se e retomou a caminhada.
Pelo canto do olho, Edward estudou o rosto zangado ao seu lado, e seu sorriso tornou-se ainda mais largo. Procurou por um assunto inócuo em meio às muitas informações que sua tia-avó havia lhe fornecido, antes de morrer.
— Se não estou enganado, Srta. Swan, perdeu sua mãe recentemente. Creio que minha tia-avó contou-me que a senhorita estava vivendo com parentes no norte.
Bella virou-se para fitá-lo.
— Então o senhor a viu, antes de sua morte?
Por alguma razão, o tom ligeiramente incrédulo magoou Edward.
— Pode não acreditar, Srta. Swan, mas eu visitava minha tia-avó com freqüência, pois gostava muito dela. No entanto, como raramente ficava por mais que um dia, não é de admirar que a senhorita, assim como a maior parte dos moradores da região, desconheçam esse fato. Estive com ela durante os três dias que precederam sua morte, e como era seu herdeiro, ela se esforçou para me informar sobre as famílias vizinhas.
Tais palavras fizeram Bella corar, mas em vez de desviar os olhos, confusa, ela continuou a fitá-lo.
— Então, deve saber que éramos muito amigas. Fiquei infeliz por não tê-la visto de novo.
Pela primeira vez, Edward baixou os olhos.
— Ela teve um fim calmo e sem dor. Morreu enquanto dormia, e, considerando tudo o que sofreu nos últimos anos, só podemos encarar sua morte como um alívio.
Isabella assentiu, também baixando os olhos.
— A senhorita e sua irmã planejam ficar em Swanland indefinidamente?
O rosto dela iluminou-se.
— Ah, não! Iremos para a casa de nossa avó, lady Merion, no início do próximo ano.
Esme, lady Marion, ex-lady Swan, passara pelos corredores gelados da mansão Swan como uma brisa de verão, carregando consigo o calor do glamour londrino. E assumira o comando. As irmãs, juntamente com tia Sue, a idosa solteirona que desempenhava o papel de acompanhante para as duas, haviam sido prontamente despachadas para Swanland, em Hampshire, onde esperariam até o final de seu ano de luto. Deveriam apresentar-se à lady em fevereiro. O que aconteceria dali por diante fora apenas insinuado e, definitivamente, lady Esme cuidaria de tudo. Lembrando-se da avó, Bella sorriu.
— Ela pretende nos apresentar... — notando o leve arco formado por uma sobrancelha escura, ela se sentiu particularmente sensível, e continuou em tom defensivo: — Rosalie é considerada uma jovem muito bonita, e acredito que encontrará um bom marido.
— E a senhorita?
— Não tenho planos de casamento. Pretendo aproveitar meus dias em Londres para conhecer a cidade e as pessoas.
Ergueu os olhos e surpreendeu-se com a intensidade com que ele a fitava. Diante do sorriso enigmático que curvou aqueles lábios atraentes, uma idéia ocorreu-lhe.
— Conhece lady Esme Merion?
O sorriso tornou-se largo.
— Creio que toda Londres conhece lady Esme. No meu caso, ela é uma grande amiga de minha mãe.
— Por favor, conte-me como ela é. — percebendo a surpresa dele, explicou: — Não a vejo desde criança, exceto pela noite que ela passou na mansão Swan, quando foi até lá para nos informar que deveríamos ir para Londres.
— Bem, sua avó sempre foi uma líder da moda, e é bem relacionada com as melhores famílias de Londres. É amiga íntima de lady Stanley e da princesa Emily. Ambas freqüentam o Almack's, requisito indispensável para quem quer fazer parte da Ton. Para a senhorita, isso não será problema. Lady Esme é muito rica e vive em uma bela mansão, em Cavendish Square, deixada pelo segundo marido, George, lorde Marion. Eles se casaram alguns anos depois da morte de seu avô, e George morreu há cerca de cinco anos. Lady Esme tem gênio bastante forte, além de ser um tanto autoritária. Por isso, é melhor nem tentar passear em Londres sozinha! Por outro lado, tem excelente senso de humor, e todos conhecem sua generosidade para com os amigos. É, também, excêntrica, e raramente sai de Londres, exceto para visitar amigos no campo. Enfim, duvido que encontre uma senhora mais capaz de apresentar a senhorita e sua irmã à sociedade com sucesso.
Bella ponderou á breve biografia e comentou:
— De fato, ela me pareceu muito elegante.
— E é.
Chegaram ao portão que recortava o alto muro de pedra. Bella parou e estendeu a mão para a cesta.
— Este é o jardim de Swanland.
— Nesse caso, vou deixá-la aqui. — Edward declarou de pronto. Decidira acompanhá-la até sua casa apenas para desfrutar da companhia dela por mais tempo, mas não pretendia ser visto com ela, pois sabia o tipo de fofoca que resultaria disso. Levou a mão dela aos lábios, dizendo: — Mas não se esqueça do meu conselho! Se pretende continuar nas graças de sua avó, não saia sozinha pelas ruas de Londres, pois as jovens que fazem isso não ficam sozinhas por muito tempo. Até logo, Srta. Swan.
Sem perder tempo, Bella abriu o portão e entrou. Atravessou o jardim, apressada, sem sequer parar para apreciar o perfume das flores. Na varanda, parou e respirou fundo, sentindo-se aliviada por se ver à sombra, pois suas faces ardiam. Ao ouvir os passos da criada no corredor, chamou-a.
— Leve estas amoras para a cozinheira, por favor, Clare. E diga à minha tia que vou me deitar até a hora do jantar. Acho que fiquei tempo demais no sol.
Mais precisamente, ficara tempo demais na companhia do marquês Cullen!
Furiosa consigo mesma, subiu a escada e se fechou em seu quarto. Sentada diante da janela, tentou ordenar os pensamentos caóticos. Aquilo era ridículo! Deixara sua casa como uma moça de vinte e dois anos, serena e confiante, totalmente segura de si: seu mundo independente. No entanto, lá estava ela, menos de uma hora depois, sentindo-se como Rosalie se sentiria se o filho do juiz piscasse um olho para ela! Afinal, já fora beijada antes, e não deveria fazer diferença quem a beijava. O fato de esse detalhe fazer tamanha diferença exacerbava ainda mais o seu humor, já abusado por um par de olhos dourados. Olhos muito perceptivos. Durante dez minutos, Bella fez a si mesma um sermão sobre a estupidez de criar interesse por um libertino.
Sentido-se fortificada, tentou considerar os acontecimentos sob a luz da razão. Sem dúvida, deveria sentir-se ultrajada, pronta a rotular o marquês como patife desprezível. No entanto, apesar de sua irritação, era honesta demais para não admitir que parte da culpa coubera aos seus trajes impróprios. Além disso, a reação de uma jovem ao se descobrir nos braços de Edward deveria ser totalmente diferente do comportamento que ela tivera. Em sua defesa, havia a certeza de que, se houvesse desmaiado nos braços dele, que escolha ele teria, senão esperar até que ela se recuperasse? Então, a situação teria sido ainda pior. Seguindo tal linha de pensamento, Bella convenceu-se de que não fizera nada repreensível depois que o, marquês a libertara. Na verdade, ele acabara se tornando um informante valioso, no que dizia respeito à sua avó.
O que continuava a perturbá-la era o que havia acontecido antes que aquele abraço íntimo demais se encerrasse. Levou os dedos aos lábios, que ainda ardiam. A lembrança do corpo musculoso pressionado contra o seu ainda era uma sensação física.
Então, decidiu deixar de lado os acontecimentos daquela tarde, afastando com determinação o marquês e seus feitos para o canto mais remoto de sua mente. Não tinha a menor dúvida de que ele já teria se esquecido dela e de tudo o que acontecera no dia seguinte.
Enquanto trocava o vestido velho pelo belo traje de musselina que havia escolhido para usar naquela noite, avaliou a possibilidade de encontrá-lo de novo, por acaso. Conhecendo a fundo os costumes locais, sabia que seria praticamente impossível que o marquês a encontrasse socialmente. E, como ele mesmo admitira, não costumava ficar em Denali Park por muito tempo. Bella disse a si mesma que estava aliviada. E, para garantir que tal alívio não fosse perturbado, decidiu que, no futuro, convenceria a irmã a acompanhá-la em suas expedições.
Apanhou a escova e penteou os cabelos, prendendo-os em um coque simples. Lançou um olhar rápido para ao espelho e, satisfeita por ter liquidado o assunto referente ao marquês, desceu para jantar.
Duas semanas depois, ao retornar à mansão Cullen, sua residência em Cavendish Square, situada quase em frente à mansão Merion, o marquês encontrou uma pilha de cartas e convites à sua espera. Examinando-os, foi para a biblioteca. Retirou da pilha um envelope roxo e manteve-o bem afastado do rosto, a fim de fugir do perfume forte. Reconhecendo a caligrafia rebuscada de sua última amante, uma criatura espetacular, de posição invejável, franziu o cenho. Abriu a carta e leu as poucas linhas. Então, arqueou as sobrancelhas. Um sorriso que Isabella Swan jamais reconheceria curvou-lhe os lábios. Atirando carta e envelope na lareira, sentou-se à escrivaninha.
Dez minutos mais tarde, um lacaio atendeu ao chamado da sino, encontrando o marquês selando um envelope.
— Entregue esta mensagem imediatamente.
— Sim, milorde.
Sozinho de novo, Edward considerou a provável reação que sua carta provocaria. Assim terminava mais um de seus casos. Estendendo as pernas diante da lareira, pôs-se a pensar no interminável desfile de suas belas amantes. Enquanto isso lhe proporcionava uma reputação invejável diante da Ton, aquele jogo começava a entediá-lo. Depois de mais de dez anos na cidade, eram poucos os vícios em moda quê ele ainda não experimentara, e suas atividades começavam a se tornar previsíveis demais.
Voltou a pensar em Tânia, comparando sua beleza madura com os encantos da jovem de olhos chocolates, cujo rosto não saía de sua cabeça. A insatisfação que sentia com sua vida atual devia-se, em grande parte, àquele encontro no bosque de Denali Park. Por sua culpa, claro.
Edward Antony Masen Cullen, aos trinta e um anos, quinto marquês de Cullen e um dos nobres mais ricos do reino, deixou que a mente vagasse de volta à primeira vez em que ele ouvira o nome da Srta. Swan, durante uma conversa que tivera com a tia-avó, na noite que precedera sua morte. Sendo uma velha senhora direta e objetiva, ela o fitara com olhar frio, interrogando-o sobre suas intenções quanto a casamento. A conversa tivera início com a seguinte frase: "Sei que sua mãe jamais tocará no assunto, por isso estou me aproveitando do fato de que, por estar morrendo, você pode me mandar para o inferno".
Como apreciasse aquele tipo raro de franqueza, Edward admitira não ter planos de casamento, ainda, e aceitara ouvir um verdadeiro sermão, que ele não teria suportado de qualquer outra pessoa.
— Não posso culpá-lo por não querer se casar com nenhuma daquelas mocinhas insípidas e inúteis que são apresentadas todos os anos. — a tia-avó declarara em tom desdenhoso — Também não suporto aqueles choramingos! Mas por que não procura em outras paisagens? Existem muitas jovens adoráveis que, por uma razão ou por outra, nunca foram a Londres. — diante do olhar cético do sobrinho-neto, continuou: — Não pense que, por serem moças do campo, seriam incapazes de viver entre a tora. Há Isabella Swan, por exemplo. Jovem, bonita, dona de uma herança considerável e tão bem-nascida quanto você. O único motivo pelo qual não foi apresentada é que passou os últimos seis anos administrando a propriedade da mãe viúva. Reneé Swan deveria apanhar por não tê-la levado a Londres anos atrás! Bem, agora é tarde demais, pois ela está morta.
— Quem? A bela Isabella? — perguntara Edward, confuso.
— Não, tolinho! Reneé! Ela morreu há alguns meses, e as filhas foram passar algum tempo na mansão Swan. É uma pena, pois eu adoraria ver Bella de novo. Ela não tem nada de insípida ou de inútil.
— E por que, embora não tenha sido apresentada à sociedade, essa jovem não está casada? Não acredito que os cavalheiros do campo sejam tão lentos!
Kate soltara uma risada.
— Imagino que seja porque nenhum cavalheiro conseguiu mostrar a ela uma boa razão para se casar! Veja a situação do ponto de vista dela. Tem boa posição, bastante dinheiro e independência. Para que se casar?
Edward exibira um sorriso maroto.
— Atrevo-me a dizer que posso sugerir algumas excelentes razões.
— Não duvido! Mas não faz diferença, pois não creio que você vá conhecê-la. A menos que Esme Merion se interesse. Escrevi uma carta para ela. Talvez ela procure as netas. Há Rosalie, também, a irmã mais nova. Outra beldade, embora de estilo diferente. Terá de ser apresentada, em breve, mas Rosalie esgotaria a paciência de um santo, e como você, definitivamente, não é um deles, ela não serve para você. Mas já chega de falar das irmãs Swan. Apenas as usei como exemplo.
E assim a conversa seguira por outros caminhos.
A idéia de que sua tia-avó havia, de fato, tentado fazê-lo olhar para Isabella Swan como uma esposa em potencial ocorrera a Edward logo depois de conhecê-la.
Ao longo dos dez últimos anos, ele se recusara terminantemente a considerar qualquer das jovens exibidas para sua aprovação no Almack's, e em festas da Ton. O que causara consternação em membros da família, especialmente suas duas irmãs mais velhas, Jane e Irina, que não se cansavam de lhe apresentar candidatas. Sua posição fora apoiada pela mãe e pela tia-avó, Kate. As duas pareciam compreender o tédio sufocante que se apoderava dele, depois de alguns minutos de tentativas de conversar com uma das debutantes insípidas. Edward sabia que sua mãe adoraria vê-lo casado, mas ela havia confidenciado a uma amiga que, a menos que a moda mudasse, isso jamais aconteceria. Quanto a Kate, ela nunca tocara no assunto até aquela noite.
Como Kate o conhecia tão bem quanto sua mãe, era perfeitamente possível que ela houvesse tentado chamar-lhe a atenção para a Srta. Swan.
— Bem, tia Kate — ele murmurou com um sorriso —, conheci a sua Bella, e de uma maneira muito mais direta do que você jamais teria sonhado!
Oiiii!
Fic nova. Na verdade essa é uma adaptacao de Escândalos de Pimavera de Stephanie Laurens.
Todos os direitos da historia pertecem a autora e os personagens pertencem a Stephenie Meyer.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Este Livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos e de fã para fãs.A comercialização deste produto é estritamente proibida.
Esperto que tenham gostado da deixem de comentar e dizer o que acharam.
O proximo cap será postado amanhã.
Beijinhos.
