Após frustrar o ataque das tropas de Kai, Yona e seu grupo permaneceram por mais algum tempo nas terras da tribo do fogo, auxiliando no tratamento dos feridos, e também, por insistência de Tae Jun, pois segundo o aliado fiel de Yona, o mínimo que eles mereciam era desfrutar de um pouco da hospitalidade de Saika.
A situação entretanto, se tornava tensa a cada dia, uma vez que o fanatismo pela lenda fundadora de Kouka, despertada pela manifestação viva dragões salvando a região, começava a criar situações embaraçosas, e até mesmo assustadoras para o grupo da princesa. Zeno considerava que não deveriam demorar muito por aqueles cantos. O grupo deliberara ficar até as comemorações terminarem para seguirem caminho,
Ogi também se encontrava em Saika, queria continuar observando a ação do grupo de Yona, os desdobramentos políticos que esta ação geraria para o reino… queria também saber mais sobre o ataque de Kai, pois caso os reinos entrassem em guerra, informação privilegiada poderia fazer muita diferença nas batalhas. Tendo contato direto com a capital, também poderia fornecer informações de lá, que julgasse valiosas ou estratégicas.
Soube que o Rei Soo Won se deslocaria para uma missão de intuito desconhecida em breve, e fora informado também, que na ausência do rei, Keishuk estava disposto a eliminar a filha do general da tribo da água: Lili, mesmo que isto causasse uma crise diplomática, uma vez que enxergava na moça apenas a aliada da princesa Yona, destilando por ela o mesmo ódio que destinava à herdeira do imperador Il.
Mesmo ciente de que Yona não poderia lhe comprar nenhuma informação, mas por simpatia por ela e Lili, Ogi pediu para lhe falar em particular - nem ela nem Hak abriram mão da presença do ex-general durante a conversa, uma vez que eles de qualquer forma compartilhariam a informação um com o outro. Yona se sentiu extremamente alarmada, queria reunir todo seu grupo e ir imediatamente em socorro da amiga, quanto tempo teriam? Uma semana? Hak obviamente ponderou que seria muito arriscado que ela ou ele se aproximassem da capital mais do que já fizeram.
Ogi sugeriu que um dos dragões, com ajuda de seus contatos no comércio em torno do castelo, seria suficiente para retirar a moça em segurança, seria uma viagem arriscada, mas se saíssem escondios e à noite, com ajuda das duas damas de companhia de Lili, ganhariam horas, até mesmo um dia, de vantagem sobre os guardas do conselheiro do rei.
Yona não estava convencida de mandar apenas um de seus dragões, levou o assunto para discutir com todo grupo. Yoon também ponderou "Você ou Hak se aproximarem da capital está fora de cogitação! Arriscaríamos todos nossos esforços até o momento!" Yona, impulsiva por seu instinto de salvar a amiga, por sua vez respondia "Mas não posso abandonar Lili nesta situação! Ela não mediria esforços ou riscos para me salvar, e se ela está no castelo, sob o olhar de Soo Won, se arriscando para observar os movimentos da capital, somos de certa forma responsáveis!" Hak a interrompeu "Você é muito importante para nós para permitirmos que você se arrisque assim, com os ânimos alterados e tantos boatos rondando todo reino, não deixarei que você se envolva nisto, ainda não é sensato para nós irmos até a capital." Todos os dragões concordavam com Hak! Zeno ponderou "Além disso, levantaria muitas suspeitas se a senhorita partisse antes do festival que estão planejando na tribo do fogo em comemoração à vitória contra o exército de Kai".
Yoon então sugeriu: "Por que não segue a sugestão de Ogi e envia um dos dragões, se apenas um se ausentar? A ausência de apenas um não levantará suspeitas no festival, além disso, nenhum deles é conhecido na capital, e se entrar furtivamente com ajuda dos contatos do informante na capital. Jae-ha, com seu poder de dragão, conseguiria tirar Lili à salvo do castelo." O dragão verde, silencioso até o momento, reclamou: "Eu já te disse mamãe, que me parte o coração vocês me tratarem como um cavalo!" Hak provocou o dragão "Seu pervertido, sei que seu motivo é bem outro, não consegue imaginar perder o festival na tribo do fogo, e a chance de visitar o distrito da luz vermelha, se arriscando na capital…"
Yona então interrompeu-os "Não é má ideia, Jae-ha com sua habilidade poderia tirar Lili do castelo sem ser percebido, e escolta-la com segurança até Suiko", Hak deu uma risadinha "Mais ou menos em segurança, princesa… você vai deixar sua amiga aos cuidados desse tarado?" Jae-Ha deu um sorriso de lado, e respondeu "Yona querida, sabe que não sou capaz de negar a nenhum pedido seu… poderia sim, escoltar sua amiga de volta à sua tribo sã e salva - diferente de que alguns pensam, antes de ser um amante da beleza, sou um cavaleiro." Hak deu uma risadinha, Yona o olhou brava… "Então, está decidido! Jae-ha será o responsável por tirar Lili de Kuuto e levá-la à salvo para Suiko. Amanhã, Ogi nos passará os detalhes e os nomes de seus contatos na capital, e traçaremos um plano, não quero de nenhuma forma, que você corra riscos desnecessários, afinal, todos vocês são imprescindíveis para mim!" Jae-ha apenas sorriu, pegou a mão de Yona e galantemente depositou-lhe um beijo "Tudo que você quiser, Yona querida!"
Lili estava apreensiva. Sua intuição havia entrado em estado de alerta desde a partida de Soo Won, pois suspeitava que havia se tornado desprotegida e vulnerável no castelo com a ausência dele. O jovem rei havia partido para uma expedição misteriosa junto da sua escolta pessoal há cerca de um dia, o que a irritava imensamente. Certamente, ele estava planejando alguma coisa, e ela gostaria muito de descobrir o que era. Mas ardiloso como ele era, havia conseguido frustrar suas tentativas de acompanhá-lo ao deixar o castelo antes do amanhecer.
Parte dela temia que a expedição fosse apenas um pretexto e na verdade ele estivesse indo atrás de Yona e os seus amigos, mas pensou melhor e constatou que racionalmente ele não seria capaz de fazer isso. Não por falta de escrúpulos (ela sabia muito bem que o rei tinha assassinado o tio), mas sim porque ele não obteria vantagem alguma disso. Kouka havia acabado de sair de uma crise diplomática que quase culminou em uma guerra com Xing, e para completar tinha sido atacada recentemente pelo Império Kai, então não podia se dar ao luxo de descartar força militar. Mesmo uma que não estivesse exatamente ao seu lado.
E acima de tudo, Lili esperava que Su Won tivesse o bom senso de não iniciar um conflito com ela. Por ser mulher, podia parecer politicamente dispensável, mas era uma figura influente em sua tribo. Ela havia se tornado respeitada pelos seus esforços para combater o tráfico de Nadai e por bravamente resistir ao enforcamento quando foi capturada por Sei. Talvez estivesse equivocada, mas havia adquirido prestígio na Tribo da Água com essas atitudes e estava disposta a usar esse poder para defender Yona, se fosse necessário.
''Dama Lili?'', Tetora a interrompeu, ''Você parece preocupada''
''Hã?'', ela respondeu, alheia. ''Desculpe, só estava distraída. É só que a partida do rei me parece muito suspeita. Ele deixou o castelo com alguns guardas e não avisou ninguém para onde ia.''
''Considerando sua posição, ele deve ter tido algum contratempo. Os deuses sabem como aquele homem pode ser imprevisível. O rei mal partiu e dama Lili já está sentindo falta?'' Tetora gracejou.
"Sinceramente, isto sequer passou pela minha cabeça, vocês sabem que meus motivos para estar aqui são tudo, menos romance…!"
Foi a vez de Ayura comentar: ''De fato é suspeito. Especialmente depois dos últimos eventos''. Haviam rumores borbulhando na capital que o Império Kai havia invadido a Tribo do Fogo recentemente, mas um estranho grupo liderado por uma garota ruiva havia aparecido no campo de batalha e salvado o exército de ser massacrado."
Ela podia entender de onde a preocupação da sua mestra vinha.
''Lili, Soo Won pode ser inescrupuloso, mas não é nenhum idiota. Ele não teria a coragem de começar com uma inimizade conosco, teria? Ou então com o resto de Kouka?'
O fato é que com o nível de popularidade que Yona e os dragões haviam atingido, a versão de Soo Won sobre a morte do tio tinha começado a perder credibilidade. Então, se algo acontecesse com Yona, ele não apenas confirmaria os boatos, mas também se tornaria uma figura infame para o resto do país. Ele se tornaria odiado, e isso dificultaria seu reinado. Pois se quisesse governar por muito tempo, precisava da simpatia do povo.
Lili assentiu, imperceptivelmente. Ela gostaria de acreditar nisso, mas havia um porém. Uma coisa que ela havia presenciado e decidido não relatar para suas guarda-costas. Durante a crise diplomática com Xing, ela havia testemunhado Keishuk, conselheiro do rei, ordenar o assassinato de Yona ao se encontrar com ela. Inclusive, se ela não tivesse chegado justamente naquele momento para oferecer ajuda, suspeitava que ele teria conseguido o que queria. Desde esse evento desagradável, Lili tinha a estranha sensação que as ambições dele superavam o desejo apenas de estar à sombra de Soo Won.
Lembrar os olhares de Keishuk fazia uma sensação gelada lhe descer pela espinha… seria intuição, ou apenas insegurança o que sentia?
No dia imediato, Jae-ha partia em sua missão de resgate, à caminho de Kuuto. Com ajuda dos contatos de Ogi, não foi difícil entrar pelos portões da cidade, disfarçado de comerciante. Se tivesse sorte, talvez uma das guarda-costas da Lili transitasse por ali, observaria durante o dia, se não fosse possível se comunicar, esperaria para à noite entrar às escondidas pelos telhados do castelo, estava informado da localização dos aposentos das moças, vigiaria e observaria a melhor maneira de retirar a nobre dama, sem que sua ausência fosse notada de imediato.
Talvez estivesse com sorte, pois avistou uma bela mulher transitando pela feira experimentando frutas e guloseimas. Quando se aproximou de um canto mais vazio do mercado, que se comunicava com alguns becos mais vazios, o Dragão Verde a abordou. Tetora viu surpresa, o homem esbelto e logo o reconheceu, "É o dragão verde! O resto do grupo está com você?" - perguntou amistosa - "Não, venho em uma missão de certa urgência, senhorita, foi princesa Yona que me enviou. Acreditamos que Dama Lili corre perigo dentro do castelo, na ausência do rei."
A guarda-costas o olhou com seriedade, suas palavras confirmavam seus instintos de proteção. "Onde está Lili no momento?" Perguntou Jae-Ha preocupado. "Está com Ayura, vim buscar algumas frutas frescas para nosso café da tarde."
Jae-ha então lhe informou da intenção de tirar Lili do castelo, logo na noite seguinte. Nesta, ele observaria a guarda e pensaria na estratégia mais segura de fugir sem levantar suspeitas. As guarda-costas ficariam responsáveis por confirmar as suspeitas, levantar informações, e depois partirem para Tribo da Água, relatando ao general líder sobre tudo que aconteceu. Enquanto isso, Jae-ha e Lili já teriam viajado também para lá em segurança, e se encontrariam. Yona e o Grupo Faminto e Feliz, também se dirigiria para lá, em uma semana, e todos juntos pensariam em como lidar com essa crise.
Tetora retornou sem levantar maiores suspeitas, Lili e Ayura conversavam tranquilamente em um dos jardins do castelo, apesar da guarda-costas sentir os olhares mais hostis do que o normal sobre elas. Tetora convidou as amigas a se recolherem mais cedo, logo após o jantar, para ter privacidade para informar-lhes o plano de Yona. As três ficaram apreensivas, mas se preparariam para que no dia seguinte, para que a fuga fosse o mais discreta o possível. De antemão, Lili ajuntou todos recursos financeiros que levara para o castelo, em uma bolsinha que carregava junto a si, para no caso de um ataque, não fosse pega de surpresa.
Checaram as portas e janelas, e foram dormir. Lili não conseguia pegar no sono, pensando no perigo iminente, e na amiga, que estando também sempre em perigo, pensou nela e lhe enviou ajuda. O sono começava a vencê-la, quando viu algo se movimentar nas sombras e saltar para cima dela, a menina ainda alcançou o punhal que deixara ao seu lado na cama, mas foi imobilizada pelo assassino que lhe prendia segurando as duas mãos acima da cabeça, com sua mão forte, e o restante de seu corpo com sua pelve.
Lili sentiu a tontura da adrenalina em seu sangue, apenas os olhos frios eram vistos pela máscara, e eles a encaravam, na mão livre uma faca prestes a enterrar-se em seu coração. Tudo aconteceu muito rápido, a janela se abriu, e algo atingiu o assassino na jugular, uma lâmina, que o deixou ferido e desacordado, sangrando no chão.
Por alguns segundos, a moça ficou atônita, descalça em sua camisola, no meio do quarto olhando o assassino caído no chão tentando entender o que havia acontecido. ''Dama Lili'', uma voz estranhamente familiar a chamou. Ela se virou de imediato e se sobressaltou ao perceber quem era o dono da voz levemente rouca e melodiosa. Casualmente parado na varanda do seu aposento, esguio, com uma das mãos no quadril, se encontrava um homem elegante e bem apessoado.
A luz da luz desenhava sua silhueta de cabelos longos e presos em um rabo de cavalo, no luar eram verdes como esmeralda. Aquele era… o Dragão Verde. Jae-ha lhe estendeu a mão dizendo "Venha comigo, se apresse, temos apenas alguns minutos antes de outros como ele chegarem… infelizmente, não será possível nosso plano de fugir incógnitos do castelo."
Atordoada, com trajes de dormir, e levando apenas a bolsinha com as economias que havia separado antes de deitar-se, Lili caminhou em direção ao homem, que lhe pegou no colo sem nenhum esforço, e deu um salto preciso, voando em direção à noite.
