Lana acordou particularmente cedo naquela manhã. Um pouco antes do necessário. Eram 6:27am quando ela se virou para o lado, esfregou os olhos e encarou os números que brilhavam na tela do despertador.
A mulher sentou-se na cama e passou as mãos pelo cabelo desgrenhado. Ao olhar para o travesseiro à sua direita, um vazio tomou conta de seu peito. Ela tocou a fronha intacta e suspirou.
Faziam anos que ela e Fred eram um casal e foi preciso apenas doze meses em outro país para que os dois decidissem que ainda queriam ficar juntos.
O homem se fora há apenas dois meses porém Lana ainda sentia uma onda de saudade todas as vezes que acordava de manhã e se deparava com a cama vazia. Eles ainda estavam juntos, não se engane. Apenas... Separados.
Fred havia sido transferido para a Austrália e precisaria passar um ano lá. Se gostassem dele, provavelmente teria de ficar de vez.
Lana, por outro lado, não podia abandonar a série que estrelava. Estavam no auge da terceira temporada e já haviam renovado para a quarta. A morena não podia simplesmente matar Regina Mills e fugir para outro país com seu amado. As regras eram claras.
Porém o acordo era outro. Uma vez por mês, Lana visitaria Fred. Viajaria na sexta-feira de manhã e voltaria segunda-feira à noite. Adam e Eddy não tinham ficado muito felizes com isso, mas entendiam o que ela estava passando, e desde que não tivessem de dar horas extras para os outros atores, Lana poderia perder dois dias de gravação nos quais, Regina não apareceria de qualquer jeito. Por fim, Fred viria um final de semana por mês também. Eles alternavam quem ia para onde em quais feriados, férias e festas. Bastava uma desculpa, e o casal já estavam no aeroporto esperando um pelo outro.
Os garotos haviam ficado com a mãe, nos Estados Unidos e sempre que podiam, iam visitar o pai. Tentavam não ir sempre que Lana ia, afinal, já eram grandes o suficiente para entender que os dois precisavam de privacidade. E apesar de sempre ouvirem "estou indo para lá, querem ir?" da parte de Lana, a maioria das vezes, recusavam. Porém sempre que queriam ir, chamavam a madrasta. Os quatro se davam muito bem. Bem até demais. E Lana se orgulhava disso, queria ter seus próprios filhos algum dia, mas ainda não era a hora certa para isso. E enquanto esperava, curtia os DiBlasios.
Já que o pai estava fora do país, a morena periodicamente buscava os meninos na casa da mãe deles e os levava para jantar. Ou para o cinema, talvez boliche ou até mesmo ir à praia.
Quando qualquer um deles precisava de um refúgio, ou apenas respirar outros ares que não fossem os da própria casa, acampavam no apartamento de Lana. Às vezes passavam semanas lá. E a mulher gostava da companhia. Principalmente agora que o apartamento de sete quartos estava reservado apenas para ela.
Lana esticou os braços e bocejou. Uma pequena luz entrava por um vão entre as cortinas. Uma linha clara se estendia pelo chão, passando por cima do tapete, o vestido que ela usara na noite passada e a bolsa preta que ela tanto gostava.
A mulher levantou e sentiu uma pontada de dor no fundo da cabeça. Sabia que ia passar assim que tomasse uma aspirina, porém precisava lavar o rosto antes. Andou poucos metros até o banheiro e se olhou no espelho.
Os olhos castanhos que a encaravam, não aparentavam tão cansados, mas sim, devastados. A última vez que Fred viera, fora uma semana atrás e o casal discutiu feio. Algo sobre ciúmes por partes de ambos. Lana usou a oportunidade de estarem juntos para dizer que Regina talvez tivesse um novo par na série. Porém a confirmação não estava muito longe. O que levou Fred à loucura, disse coisas loucas e maldosas. Algo como uma nova secretária gostosa. A morena se sentiu traída, ela estava sendo sincera e ao invés de entender que esse era o trabalho dela, Fred esfrega na cara da mulher que poderia ter contratado qualquer um, mas preferiu uma mulher... Gostosa. Aquilo era o cúmulo do ridículo. Ela não podia acreditar no que ouvira.
Lana ficou chocada com a afirmação e Fred não dormiu no apartamento que eles dividiam. No dia seguinte, pegou o primeiro avião sem nem mandar uma mensagem para a morena, que não tinha muita certeza se realmente queria ir para a Austrália na semana seguinte.
A mulher esfregou as bolsas que encontravam-se embaixo de seus olhos e encolheu os ombros. Estalou o pescoço e sorriu ao se lembrar como Fred sempre fazia uma careta quando ouvia isso, e quando estava por perto, beijava sua nuca, como se aquilo houvesse machucado a moça, e seus breves beijos pudessem curá-la de uma dor que ainda não existia.
Lana abriu a torneira e posicionou as mãos embaixo da água que corria, para jogá-la em seu rosto. O resquício da maquiagem de ontem borrou-se mais um pouco e a morena não se importou. Após escovar os dentes, a mulher fechou a torneira e se virou contra o espelho. Apoiou as costas na pia e cruzou os braços.
Apesar de estar brava com Fred, sentia falta dele. E nem podia ligá-lo naquele momento. Era madrugada na Austrália e a mulher não queria acordá-lo. Eles quase não se falavam mais. Lana ficava até tarde gravando e tinha eventos e pegava os meninos para sair e era convidada para festas e tinha photoshoots e saía com Ginny e Emilie e ensaiava com Bex... O dia da mulher tinha de ter umas 40 horas para dar conta de tudo. E quando finalmente chegava em casa, era tarde demais para ligar para o outro lado do mundo. Deixando para apenas conversar quando o visse pessoalmente.
Fred por outro lado, agia como se não se preocupasse com o horário. Ligava quando queria, quando podia. Às vezes acordava Lana no meio da noite, porém a maior parte das vezes, a mulher caía no sono. No início isso perturbava o homem mas com o tempo, ele percebeu que a vida dela estava diferente agora e ela precisava descansar. Mesmo assim, Fred insistia em ligar nos momentos mais inoportunos. Durante as gravações, durante a noite, enquanto Lana estava dando uma entrevista, etc.
E por ela nunca poder atender, o homem ficava irritado. O que só deixava a conversa cada vez mais difícil, considerando que ele sempre reclamava das vezes que não se falaram. Lana tentava explicar porquê não teria atendido e pedia milhões de desculpas, até que alguns dias depois, recebia um buquê de flores na porta, com um cartão "Está tudo bem. Eu te perdoo -F"
O problema é que Lana estava ficando cansada de "ser perdoada". Ela não estava fazendo nada de errado. Foi Fred que fora embora, foi ele que a deixou por uma "secretária gostosa". Ela sabia que estava sendo dura e julgando as ações do marido. Mas era tão difícil ficar longe dele. Era tão difícil estar junto e perto. E quando de fato estivesse perto, ter que pedir desculpas ou brigar ou se defender de algo que, bem ou mal, era o trabalho dela.
Lana levou as mãos aos ombros e inspirou o máximo de ar que pôde. Estalou mais uma vez o pescoço e tirou a blusa que fazia parte de um conjunto de baby doll de ceda. A peça de roupa caiu com delicadeza no chão frio do banheiro e a mulher a deixou para lá. Andou até o box e ligou a água quente. Enquanto esperava a temperatura da água se tornar agradável, abaixou o short e a calcinha e os jogou perto da blusa. Agora tudo que ela, alguns minutos antes vestia, estava acumulado num mini bolo de roupas sujas. A mulher estendeu o braço a ponto de tocar a água e o líquido quente a acertou, consequentemente, ela recuou o corpo.
Abriu a porta de vidro e entrou no box. Se posicionou embaixo da água e deixou que a mesma corresse por todo o seu corpo. Naquele momento, tudo estava certo. Não havia nada para estragar o sentimento de calma que inundava a alma da morena. Exceto o seu telefone tocar. Que foi o que aconteceu.
Lana murmurou um "droga" ou algo do tipo e engoliu a saliva. Saiu do box e se enrolou na toalha que estava pendurada. Sem tempo para se secar, andou até onde sua bolsa estava. Ajoelhou no chão e enquanto procurava seu celular, a água escorria de seu corpo de encontro ao piso de madeira. Ela cuidaria daquilo depois, no momento estava preocupada em saber quem a ligava num momento tão inoportuno.
"Amor" era a palavra estampada em cima de "Antender ou Ignorar". Lana sabia que ali vinha encrenca e suspirou antes de clicar na tela e levar o celular ao ouvido.
"Oi, meu amor." Ela podia ouvir o sorriso na voz de Fred.
"Oi, Fred. Bom dia."
"Ah, ainda tá de manhã aí?"
"Não são nem 7 horas ainda..."
"O que foi?" Ele realmente parecia preocupado.
"Como assim o que foi? Eu que deveria te perguntar isso, né? Foi você que pegou um avião e foi embora sem nem dizer tchau." A mulher se levantou e pegou o tapete do banheiro, arrastando-o até onde havia se abaixado.
"Ah, Lana..."
"Olha, Fred, eu estava indo tomar banho porque preciso trabalhar. A gente resolve isso outra hora, tá bom?"
"Não, Lana. Eu quero te falar que tá tudo bem entre a gente."
"Não. Não tá. Você foi embora, lembra? Pode estar tudo bem pra você, mas pra mim não tá, não." Ela afastou algumas lágrimas que queriam encher seus olhos. "Olha Fred, não vem com essa de 'eu te perdoo' não, tá? Eu não fiz nada de errado, ok? Você foi embora e eu realmente preciso ir trabalhar. Como eu disse antes, a gente se fala mais tarde."
"Lana... Vamos consertar as coisas? Por favor?" Ele fez a voz que derretia o coração da morena. Tudo o que ele queria, pedia naquela voz, e na maioria das vezes, Lana fazia.
"Não tem o que consertar, tem? Você foi embora e dias depois me liga como se nada tivesse acontecido?! Não é assim que funciona, Fred."
"Eu sei que não é. E eu estou tentando compensar você pelo que eu fiz. Eu sei que foi errado o que eu disse e eu sinto muito. Eu tô com saudade."
"Eu também, Fred." Os ombros dela relaxaram e ela fechou os olhos. "Mas isso não muda o fato de que eu estou brava com você." A morena sorriu torto e imaginou o que Fred faria caso estivessem discutindo isso cara a cara; Ele provavelmente andaria até ela, seguraria seus ombros e sussurraria:
"Eu sinto muito. E eu te amo muito."
E beijá-la-ia com delicadeza, amor e carinho. Porém, por ora, as palavras eram o suficiente.
"Eu também te amo." Ela sorriu e pôde sentir que tudo, finalmente estava bem.
"Agora vai trabalhar porque alguém tem que vir para cá semana que vem, né?"
"Então... Em relação a isso..."
"O que foi? Você não vem?"
"Eu não sei. Adam disse que tem grandes chances da Première para a temporada 3B ser nesse final de semana. Mas se for, eu vou no próximo sem falta." A voz da morena foi morrendo conforme a frase foi saindo. E ela sentiu uma nítida diferença na voz de Fred quando ele respondeu.
"Tá bom, Lana. Faz o que você quiser, tá? A gente se fala depois. Tchau".
E antes que a morena pudesse responder, o celular já apitava, indicando que Fred havia desligado. Ela estava tão farta desse tipo de atitude do marido. Lana bufou e largou o telefone.
Toda a paz do banho já havia sumido, portanto ela simplesmente tomou uma chuveirada rápida e enrolou-se no roupão azul que tinha pra essas ocasiões.
Lana passou pelo despertador e percebeu que ainda tinha uma hora pra ficar em casa e se arrumar antes de ter que fingir, mais uma vez, que estava tudo bem entre ela e o Fred e ir para o trabalho.
Desceu as escadas até a cozinha, onde pegou apenas uma maçã.
Abocanhou a fruta enquanto andava até a sala para verificar se tinha alguma correspondência. Abaixou-se e pegou os envelopes que haviam sido colocados por baixo da porta. Algumas contas, alguns convites para eventos beneficentes, festas e premières. A atenção da morena, porém, ficou presa em um envelope vermelho quase vinho, que apresentavam as letras "LP" em dourado.
Lana mordeu a maçã e a segurou com os dentes. Colocou o resto da correspondência na mesa de centro e abriu o envelope vermelho. Dentro havia um papel dobrado no meio, da mesma cor do envelope. A morena desdobrou o mesmo e identificou aquilo como o convite para a Première de Once Upon a Time. A data era exatamente na semana que deveria visitar Fred. Dentro do envelope, também tinham dois pequenos papéis, que eram os verdadeiros convites. Uma para ela... E outro para Fred.
Ele não viria. Não era possível. Ele já estava chateado o suficiente com esse assunto. Lana não tinha certeza se ao convidá-lo, o deixaria ainda mais irritado ou não. Por ora, preferiu esquecer esse detalhe e juntou o envelope junto aos demais na mesa de centro.
Terminou de mastigar a maçã e jogou o talo no lixo. Bebeu um grande copo d'água e por fim, subiu as escadas para finalmente se arrumar e ir para o trabalho.
Lana entrou no closet e sem escolher muito, pegou uma calça jeans e uma blusa cinza discreta. Estava bem à vontade com o conjunto e enquanto separava o que precisava, escovava os dentes. O sapato era uma sapatilha cinza, no mesmo tom da blusa.
A morena apoiou a bolsa no braço e pela terceira vez, passou pelas escadas que a levavam ao primeiro andar do apartamento.
No caminho do trabalho, a mulher parou numa cafeteria qualquer e comprou o café mais forte que eles tinham. Quando estava chateada, gostava de afundar as mágoas na bebida quente. Aquilo a fazia ficar acordada, com os pensamentos à mil. Tão acelerados que não conseguia pensar no mesmo tópico durante muito tempo. E o assunto que ela estava tentando evitar, logo saiu de sua mente: Fred.
Dirigiu mais algum tempo até o set de filmagens, onde estacionou o carro na sua vaga marcada. O grande copo de café ainda não tinha acabado quando ela entrou no estúdio e encontrou Ginny. A amiga estava conversando com Josh, porém veio até a morena quando a viu.
"Nossa, amiga. O que você tá tentando esquecer?" Lana ficou surpresa pela mulher a sua frente a conhecer tão bem.
"Ah, sabe como é." A morena sorriu "sinto falta do Fred." Foi a primeira coisa que ela conseguiu dizer enquanto balançava o copo e sorria. Pelo visto, Ginny acreditou.
"Adam quer a gente na sala de reunião daqui a pouco. Falta só a Jen agora..." Ela olhou no relógio de pulso e soltou um meio sorriso.
"Você sabe o que ele quer?"
"Aham..." Ginny mal podia conter o sorriso. Os dentes lutavam para serem mostrados e Lana estava curiosa. Consequentemente sorriu com a amiga. E ambas demoraram alguns segundos para perceber que Josh havia se juntado à elas.
"Oi, Josh!" Lana sorriu por conta própria dessa vez e o homem a abraçou.
"E aí, Laninha" Ele a chamava assim por sem bons dez centímetros mais alto que ela. Na verdade, todos no estúdio a chamavam assim, porém, Josh havia começado com aquilo. E já não a incomodava mais.
Ginny olhava para o relógio a cada cinco segundos. Mal conseguia esconder o que estava sentindo.
"Querida, pare com isso. O tempo não vai passar mais rápido." Ele sorriu, abraçou a mulher e piscou para Lana, que soltou uma risadinha enquanto Ginny comprimiu os lábios e encarou Josh. "Mas a gente pode ir andando até a sala, se você quiser."
Os três caminharam juntos por todo o corredor conversando, brincando e rindo. Aquela era a melhor parte de trabalhar com os amigos, fazer esquecer o que não se quer lembrar. E Lana era imensamente grata por tê-los ali, mantendo a mente da mulher longe de Fred.
"Bom dia!" Lana deu o último gole no café após a frase e sentou-se no braço sofá de couro que abrigava Emilie, Bex e Colin. Emilie apoiou o braço na coxa de Lana e segurou a mão livre da amiga. A morena soltou um sorriso sincero e iluminado.
A conversa fluía alegre e animadamente entre as pessoas do cast. Ginny, apesar de conversar, não parava de olhar para o relógio, e Lana, apesar de estar se sentindo mais em casa do que nunca, não conseguia ficar completamente à vontade com aquela situação.
Poucos minutos se passaram, até que Jen entrou seguida por Adam e Eddy. A loira se sentou ao lado de Ginny, que a olhou em reprovação. Claramente a morena estava muito ansiosa para o que os escritores iam dizer.
Antes que qualquer um pudesse falar alguma coisa, Ginny segurou a mão de Josh e sorriu de orelha a orelha.
"Nós vamos ter um bebê" O sorriso mal cabia no rosto da mulher e algumas amigas soltaram uns gritinhos de felicidade. Colin arregalou os olhos e olhou diretamente para Josh. Ninguém sabia como reagir.
Jen abraçou a amiga e então todo mundo se levantou para fazer o mesmo. Por fim, Lana agarrou Ginny pela cintura e apertou contra o próprio corpo. Se tinha alguém que ela se aproximara no cast, era a própria Ginny. Ninguém poderia estar mais feliz por ela e Josh do que Lana, que se sentou junto dela, fazendo com que Jennifer fosse para o outro sofá.
"Bom, como vocês já sabem a parte principal da reunião..." Adam olhou para Ginny enquanto falava. A mulher corou. "Só tenho mais uma coisa para falar." Ele pigarreou e ajeitou os scripts que se encontravam na frente dele. "Eu e o Eddy decidimos que vamos dar uma chance à Regina." O homem apontou para Lana e todos os olhares foram direcionados à ela, que arregalou os olhos de surpresa.
"Uma chance?"
"Sim, vamos trazer um par romântico para ela." Lana sorriu. Não imaginava que Regina teria outro interesse amoroso tão recentemente. Quer dizer, ninguém esperava isso.
"E quem vai ser?" A morena tentou conter o sorriso. Enquanto as pessoas mais próximas lhe davam tapinhas nas costas.
"Essa parte a gente queria decidir com você, Lana. Ou se quiserem ajudar, estamos completamente aberto a sugestões." Eddy sorriu enquanto falava.
Nos minutos que se seguiram, nenhuma palavra sequer foi entendida. Cada um recitava personagens de contos de fadas. Conversavam entre si tentando decidir qual seria a melhor escolha para Regina. Nomes como: Pinóquio, Hans, Tarzan, Chapeleiro maluco, Aladdin e Hécules foram alguns dos absurdos que tocaram os ouvidos de Lana. Que achava aquilo tudo muito confuso.
A morena se levantou e bateu o pé enquanto tentava arrumar um pequeno espaço no qual pudesse falar. Após alguns segundos, todos se calaram e olharam para a mulher parada no meio da sala.
"Eu já sei." Ela sorriu e olhou para os escritores. "Nada de Hércules ou Aladdin." O olhar que acompanhava a frase foi direcionado para Bex, que tinha dado as sugestões. Consequentemente a ruiva corou. "Robin Hood." O sorriso de Lana mal cabia no próprio rosto e o cast não entendia porque ela estava tão contente com o escolhido. Todos na sala esperavam que ela continuasse a falar, porém isso não aconteceu. A morena se sentou e cruzou as pernas, esperando perguntas? Talvez, mas ninguém disse nada durante vários minutos. Provavelmente estavam absorvendo a sugestão.
"Por que ele, Laninha?" Foi Colin que perguntou. Sua voz era rouca e Lana engoliu em seco antes de responder.
"Bem, ele é um homem honrado, que pode mostrar o caminho certo para Regina. Quer dizer, ele rouba dos ricos para dar aos pobres, não é?! Ele é a pessoa certa pra dar pra ela os motivos certos para continuar. Porque, bem, ela já perdeu o Henry. Ele voltou mas não a reconhece. Não acredito que ela tenha muita esperança na vida agora. E quem melhor para dar para ela essa esperança do que o homem mais honrados dos contos de fadas?!" A morena sorriu. Eddy anotava alguma coisa na parte de trás de algum script. Colin a olhava com uma ponta de curiosidade. Ginny estava aninhada no colo de Josh. O resto do cast ainda parecia pensar num par para Regina.
"Eu acho uma boa ideia" Emilie sorriu enquanto soltava as palavras. "Acho que você tá certa, Laninha. Regina precisa de esperança e nada melhor do que Robin Hood pra dar isso para ela."
"Eu concordo, Emilie." Adam olhou para Eddy enquanto falava. Esse segundo afirmou com a cabeça. "Então está decidido! Vai ser o Robin Hood."
A sala toda sorriu e vários parabéns foram jogados para Lana, Ginny e Josh.
"Antes de irem, peguem aqui os scripts da semana que vem." Eddy levantou e estendeu os papéis para os atores. Ao entregar o de Lana, disse "Ahm, você pode ficar, por favor? A gente precisa conversar sobre o que vai acontecer agora." A morena afirmou com a cabeça e sentou-se novamente no sofá, esperando que todos saíssem.
Bex foi a última a pegar o script e fechou a porta atrás de si, dando total privacidade para os três que ainda se encontravam na sala.
"A audição pro papel de Robin Hood vai ser semana que vem e a gente gostaria que você estivesse lá pra poder contracenar e ajudar a escolher o ator." Lana sorriu e olhou para o cronograma da semana seguinte.
"Eu só vou ter a quarta-feira livre das filmagens." Ela apontou para esse dia da semana e olhou para os escritores.
"A gente pode começar na quarta e se precisar, a gente te dispensa de uma ou duas cenas." Adam riu e piscou. O que arrancou um sorriso da morena. "Mas... Hoje você tem que filmar, então é melhor ir logo pra maquiagem porque estamos ficando sem tempo." O homem se levantou e abraçou Lana. "Parabéns pelo novo personagem."
"Vocês vão tirá-lo de mim, não é?" Ela disse brincando e os escritores se entreolharam. "Adam! Eddy! Ela não pode ser triste pra sempre." Lana riu e arqueou as sobrancelhas. "Desde que ele volte... Vai estar tudo certo."
"Vamos pensar sobre isso." Eddy sorriu e andou até a porta, abrindo-a para que Lana saísse. E foi o que ela fez. A morena andou até a sala de maquiagem sem conseguir afastar da mente que finalmente teria um par. As coisas finalmente iam começar a dar certo para Regina.
Ao entrar na sala, Ginny, que estava sendo transformada em Branca de Neve, sorriu. Metade do cabelo da amiga já estava comprido e a outra metade, curtinho, rente a pele. Lana sentou-se do lado dela enquanto esperava que sua maquiadora começasse.
"Então quer dizer que Regina vai ter um namorado..." Ginny brincou.
"Então quer dizer que você vai ter um bebê!" Lana riu alto e a amiga sorriu. "Eu tô tão feliz por vocês dois, sério, parabéns!" A morena sorriu e os olhos de Ginny mostravam uma fileira de lágrimas. "Ei, não chore." Lana segurou a mão da amiga e a apertou, lutando contra as lágrimas, ela mesma.
O celular de Lana tocou antes que qualquer uma das duas pudesse falar mais alguma coisa. A morena afastou a mão das de Ginny e remexeu a bolsa atrás do telefone.
"Amor". Mais uma vez?! Ela não estava com cabeça para falar com Fred agora. Não queria que ele acabasse com a felicidade das duas. Até porque, teria de contar sobre Robin Hood. E algo dentro dela falava que não era o momento ideal. Nem para falar de Regina, ou de Ginny ou até mesmo da Première. Lana simplesmente clicou em "Recusar" e enquanto colocava o aparelho de volta na bolsa, olhou novamente para a amiga e sorriu.
"Não vai atender?" Ginny encarava Lana pelo espelho. A maquiadora estava prendendo uma parte do cabelo que exigia que a mulher ficasse naquela posição.
"Ah, não... Dessa vez, não." Lana sorriu sem jeito e a própria maquiadora começou a transformá-la na Rainha Malvada. Hoje ela e Ginny gravariam um flashback e a morena estava bem mais atrasada do que a amiga.
"Quem era?"
"Fred" Lana balbuciou, tentando não mexer muito o rosto, com a intenção de evitar borrar a maquiagem.
"Você realmente não vai falar com ele?"
"Deveria?" A maquiadora passava sombra em Lana, que agradeceu por não ter de olhar para Ginny nesse momento.
"Claro. Ele é seu marido."
"Mas agora eu tô conversando com você."
"Eu posso esperar, eu não estou do outro lado do mundo." Lana engoliu em seco e teve de concordar.
"Tá bem... Eu vou ligar pra ele. Mas apenas quando eu acabar a maquiagem, tá bem?!" Ela tentou sorrir para mostrar confiança, porém não fora bem sucedida. Ginny logo percebeu que algo estava errado.
Longos e silenciosos minutos se passaram e ambas estavam prontas para trocar de roupa e gravar. Enquanto andavam na direção dos camarins, Lana ligou para Fred.
"Oi, Lana."
"Oi... Eu não pude atender agora porque tava meio ocupada aqui..."
"Ocupada... Tudo bem."
"O que você queria, querido?" A morena apenas usou essa palavra porque Ginny estava do seu lado. E a mulher já achava que tinha algo errado.
"Só pra avisar que você não precisa vir daqui a duas semanas, não. Matt me ligou mais cedo e eles vão vir pra cá."
"Ah... Tem certeza?"
"Tenho." O homem estava sendo frio. Seu tom de voz mostrava exatamente o que Lana temia: Rancor.
"Hum... Eles confirmaram a data da Première hoje... Vai ser na sexta que vem. Você vai comigo?"
"Acho que não. Tenho muito trabalho para fazer" obviamente era mentira. Todo mundo sabia que Fred se recusava a trabalhar no final de semana "e eu tenho que resolver umas coisas aqui de casa. Vai ter que ficar pra próxima."
"Ah, tudo bem então." Lana tentou sorrir, porém seu sorriso era fraco. "Então a gente só se vê mês que vem, né?"
"É, acho que sim."
"Então... Até mês que vem."
"Até."
"Eu te amo."
"Eu também." A indiferença na voz do homem era grande e a morena sentia-se como se fosse desmoronar ali mesmo. Estava tão cansada da situação.
Porém apenas desligou a ligação e guardou o celular na bolsa. Os minutos seguintes foram silenciosos, até Ginny quebrá-los.
"Você quer falar sobre isso?"
"Definitivamente não." A morena corou e encolheu os ombros.
"Tudo bem." Ginny abraçou Lana e sentiu uma onda de cabelo invadir sua boca. Ao tentar cuspi-los, arrancou da morena um sorriso frágil.
O dia passou se arrastando aos olhos de Lana, que procurava qualquer desculpa para ficar sozinha. Todos no set perceberam que tinha algo errado. A morena era a pessoa que mais falava dentro do cast, ela era a alma do estúdio e, claramente, naquele dia, ela arrastava uma nuvem negra consigo.
A própria Lana percebia isso e quando o clima ficava pesado demais, a morena simplesmente colocava um sorriso no rosto, soltava uma piada e estalava o pescoço. O cabelo extra pesava contra seus ombros, o que incomodava a mulher.
Ao chegar em casa, foi direto para o banho e sem jantar, dormiu até o dia seguinte.
Quarta-feira chegou mais rápido que o esperado.
Lana acordou com a janela do quarto batendo. O dia lá fora estava escuro e chuvoso. Um pouco do piso estava molhado, mas nada que a pudesse preocupar. Hoje conheceria seu novo par romântico e nada, nem Fred atrapalharia aquilo!
A morena tomou o banho mais rápido que pôde e vestiu a primeira roupa que viu. Uma saia comprida preta com detalhes dourados perto do chão e uma blusa branca de botão. Estava bom, tinha que estar bom. Lana estava tão ansiosa que nem lembrou que não gostava daquela saia.
Pegou a bolsa em cima da mesa e saiu de casa. Tomaria café no estúdio. Não podia perder nem mais um segundo em casa quando seu Robin Hood estaria na rua, a sua procura.
Ao chegar no estúdio, foi direto para a sala dos escritores, onde deveria encontrar Adam e Eddy.
"Bom dia!" Ela sorriu ao vê-los.
"Bom dia, Lana." Adam sorriu enquanto Eddy afastava da própria boca, o copo de café.
"Está pronta para hoje?" O homem ainda segurava o copo com o líquido quente, porém sorriu.
"Sim! Pronta e ansiosa" Ela sorria de orelha a orelha "mal posso esperar para conhecer todos eles."
"Bom, marcamos as audições para daqui a uma hora. Então a gente se encontra na sala de espelhos às 9h?"
Sala de espelhos era um grande salão onde aconteciam os ensaios, audições e por vezes, algumas entrevistas. Duas das quatro paredes eram revestidas por espelhos que cobriam do chão ao teto. Lana gostava daquela sala. Quase ninguém ia lá quando não tinham visitantes no estúdio. Era bem quieta e tinha outro pró: Tinha um piano no canto do salão. A morena adorava tocá-lo quando estava esperando para gravar outras cenas.
"Claro." Lana sorriu e saiu da sala dos escritores. Antes de ir pro salão, queria trocar de roupa e tirar aquela saia que ela achava um tanto feia. Foi até seu camarim e ficou grata por não ter visto ninguém que conhecia e consequentemente, não ter precisado parar para conversar.
Fechou a porta atrás de si e vasculhou alguma roupa de Regina que ela própria usaria. A ganhadora foi uma calça não muito justa que sua personagem usou durante uma cena de menos de dois minutos. Desde então, ficara pendurada no camarim. Apenas esperando para que Lana precisasse dela.
Jogou a saia em cima da cadeira que tinha no canto do cômodo e num movimento rápido, puxou a calça para cima, fechando o zíper e o botão.
A morena mal conseguia segurar a ansiedade e olhou no relógio. Ainda faltavam 50 minutos.
Lana andou até a cafeteria, onde pagou por um copo de café e chicletes de canela. Suas duas coisas favoritas no mundo. A mulher bebeu metade do líquido quente em uma golada, e a outra metade, foi ingerindo devagar enquanto andava até o elevador.
A sala de espelhos se encontrava quatro andares a cima e ela realmente não queria subir de escadas. Apertou o botão para subir e antes que o veículo pudesse chegar, a morena havia bebido todo o café. Para beber mais rápida que ela, só Bex. A ruiva era mais do que viciada na bebida e podia ingerir vários copos por dia.
Lana jogou fora a embalagem de papel que alguns segundos antes, abrigou o líquido e apertou mais uma vez o botão. Onde diabos estava o elevador? A morena olhou no relógio. Só faltavam 30 minutos agora.
Impaciente, a mulher resolveu tomar as escadas. Subiu os quatro andares e ao chegar onde desejava, arfou. Algumas pessoas da iluminação posicionavam luzes e projetores para as audições, alguns outros homens limpavam as lentes das próprias câmeras. No centro da sala, havia uma mesa com três cadeiras, e do outro lado, apenas uma. Lana andou até a mesa e pegou o scrip que estava ali em cima. Afinal, ela precisava saber que cena leria com os talvez-futuros-Robin-Hoods.
"Lana." Eddy sorriu ao entrar na sala e se deparar com a moça.
"Oi!" Ela apoiou os papéis em cima da mesa e se virou para os escritores.
"Já tá pronta para começar?" Dessa vez, fora Adam que falava.
"Claro."
"Então, eu vou pedir pra você sentar no canto já que vai atuar com eles, tudo bem?"
"Aham." A morena se sentou e colocou um chiclete na boca. O resto do pacote apontou para os escritores, que recusaram.
"Então vamos começar." Adam se sentou ao lado de Lana, empurrando o script para ela.
