Nota do autor:
Esta história foi minha primeira fanfic, feita para servir de base em um estudo universitário de um jornalista lá de Pernambuco. Embora tenha dado
um tapa na fic, agora que reencontrei o arquivo, não mexi muito para evitar de perder a alma da história.
Disclaimer: The Amazing Spider-Man, ou o amigão da vizinhança ou os outros personagens aqui referidos, são propriedades da Marvel
Interteiniment group, uma subdivisão da Walt Disney Company (ou o que quer que seja). Esta história é uma forma de homenagear, estes que
por décadas, comeram meu suado dinheirinho, em histórias, bonecos, desenhos e filmes. Não me processem, pois meus advogados são Jennifer
Walters (A.K.A. Mulher Hulk) e Mattew Murdock (e, sim... ele se veste de vermelho!).
Picado por uma aranha radioativa, o jovem Peter Parker transformou-se no escalador de paredes. Stan Lee vomitaria nesta estréia de.
Homem Aranha.
Acostumado com a vida simples de Forest Hills, Peter Parker ainda sente um certo desconforto, em seu novo papel como membro dos Vingadores.
- Parker! Cadê aquele moleque estúpido? – vociferava um certo mutante esquentado.
- Tá gastando aquela teia escrota pela cidade – disse Cage – afinal o que ele fez para te tirar do sério hein, nanico?
- Ele encheu minha bota com teia! Sabe quanto tempo leva pra sola do pé cicatrizar? Vou ficar semanas andando feito donzela!
Quanto mais zangado Logan ficava menos atenção ele prestava ao fato de que, exceto Tony Stark, todos os moradores da cobertura estavam
presentes e riam do desconforto do mutante canadense.
- Na verdade esta idéia foi minha – disse Mary Jane – Considere um pagamento por ter usado as garras no treinamento daquela vez.
Após um minuto de incredulidade dos demais, Wolverine resmunga algo impróprio: - CDF viado de merda! – e saiu, como previsto, pisando
cuidadosamente.
Enquanto isso uma distraída figura balança-se entre os prédios, e detém-se ante a visão da ponte do Brooklin, que tantas vezes significou para
ele noites vazias e chorosas pelo amor perdido naquele lugar.
Do alto do prédio em que se encontra, segurando uma garrafa d´agua, retira sua máscara e propõe um brinde ao infinito:
- Aos amigos ausentes. À todos aqueles que se foram porque eu não pude salvá-los, eu sinto muito... Gwen, eu... – ele completaria a frase, mas
detém-se ao ouvir uma voz vinda de trás dele:
- Alguém já disse que você deveria falar com seu médico? Eu falaria! – graceja o dono da voz – enquanto o outro coloca sua máscara.
- Fósforo? O que você acha que está fazendo? Não tem ninguém para encher o saco ou quer me pagar por projetar um carro que não funciona –
disse relembrando uma vez em que ele foi contratado para ser garoto propaganda de uma fábrica de motores e ele teve que pedir à Jhonny
Storm para projetar-lhe um "buggie-aranha".
- Por falar nisso, espero que você ao menos tenha aprendido a dirigir. Quase me matou do coração daquela vez. E respondendo sua pergunta
anterior, o Reed pediu-me para encontrá-lo.
- E por que não mandou o sinal de sempre? – perguntou referindo ao final de fogo com o símbolo do aranha, que significa um pedido de encontro
na coroa da estátua da liberdade.
Jhonny, que nunca havia visto seu amigo na defensiva por tanto tempo, pensa, que talvez tenha interrompido um momento importante para o
escalador de paredes – Então o que eu digo ao elástico?
- Se o maior gênio do nosso tempo diz que precisa de sua ajuda, como negá-lo? – diz o aranha, caminhando em direção ao seu velho desafeto
dos tempos de aspirante a heróis.
- Ei aranha, que tal se você se abrisse e contar o que estava te chateando?
- Não se preocupe eu vou estar bem em pouco tempo – diz o Aranha, despejando o resto da garrafa d´água na cabeça de Storm – viu? Já estou
melhor. O último a chegar vai lavar as meias do Coisa.
No laboratório de Reed Richards, uma verdadeira convenção de heróis científicos reuniram-se para um questionamento deveras incomum: a
existência de Deus e, conseqüentemente de um paraíso. Quase todos os superpoderosos presentes na sala já tiveram uma experiência parecida,
mas como classificá-las?
Entre os apegados à fé, estavam o inventor Forge, o X-man fera (que já fora um vingador) e o próprio Richards. Do outro lado, apegados à dúvida
da existência da Divindade, estavam o Homem de Ferro, o ex-vingador Hank Pym e, para surpresa de muitos, o doutor Banner, que mantinha a
racionalidade momentânea do Incrível Hulk.
Para resolver esta questão, decidiram construir uma máquina, capaz de transportar um ser humano para o momento da criação do universo, para
testemunhar o Big Bang, a criação do universo. Com uma corrente de segurança não haveria problemas para o usuário e este poderia "ver" a
presença de Deus ou não.
Havia, contudo, alguns problemas:
• A pessoa que fosse enviada necessitaria ter um conhecimento científico mínimo para mandar informações compatíveis e coletar amostras;
• Precisavam que a pessoa já tivesse experimentado uma viagem cronológica recente, já que as partículas cronais, não desaparecem de
imediato;
• E por último, precisavam de alguém que não tivesse a mente fechada para possibilidades, nem tão cético que não possa achar um possível traço
de divindade, nem tão fervoroso, que não ache uma razão científica se houvesse.
Quando foram apresentados estes dados, a lista ficava resumida a dois indivíduos: Rick Jones e o Homem Aranha. Jones estava se recuperando
dos efeitos do envelhecimento acelerado que sofrera enquanto possuía uma parceria de corpos com o novo Capitão Marvell, já o paradeiro do
aracnídeo era largamente conhecido como seu status de vingador oficial. Pensando nisso, mandaram o Tocha Humana convidá-lo para uma
reunião em que explicariam o plano e agiriam, desde que tivessem a anuência do herói, que estava acostumado a ser motivo de desconfiança
entre seus pares.
Ao chegar no novo edifício Baxter e entregar as meias fedidas do Coisa para um contrariado Storm, que reclamava do golpe sujo, o Aranha ficou
estupefato ao ver o verdadeiro conclave de gênios no local.
- Ah! Se eu soubesse que era um congresso científico de heróis eu tinha colocado um smoking por cima do uniforme – diz o recém-chegado.
- Ei magrelo, venha até aqui – diz Banner.
- Ai Alfacinha, você sabe como recepcionar um amigo – retruca, tirando um meio sorriso do gigante esmeralda.
- Temos uma proposta de pesquisa científica para fazer a você – diz o homem por trás da armadura de ferro.
- Ora chefe, é meio difícil falar não para você e manter meu contra-cheque no fim do mês.
- Queremos mandar você para testemunhar o início do Universo e nos contar sobre a existência de Deus – interrompe Hank MCcoy, pulando na
direção do amigo para cumprimentá-lo.
- Isso torna minha carta de demissão desnecessária?
- Não se preocupe, você terá toda a segurança de que este rol de gênios pôde prever – diz Forge.
- Podemos pensar em um cordão umbilical extra, já que você esta receoso – ressalta Richards.
- Lembre-se, que antes de sermos heróis temos uma responsabilidade com a humanidade, devido a nossa capacidade intelectual. Não podemos
ser tão inteligentes e usar isso somente para espancar malucos megalomaníacos com mau-gosto para roupas – disse Hank Pym – foi justamente
pensando nisto, que resolvi sair dos Vingadores e dedicar-me ao estudo científico.
- Tá. Esse argumento é irrefutável, mas por que eu? – pergunta o herói.
- Lembra quando ouve aquele conflito com os sem-mente, em Times Square, que você foi jogado no crepúsculo temporal junto com o Doutor
Estranho? – pergunta calmamente Reed Richards.
- Sim, mas o que isso tem a ver? – retruca já sentindo o seu sangue gelar com a resposta.
- Você foi contaminado por partículas cronais enquanto rodou pelo seu passado.
- Isso me lembra que eu desloquei o ombro lutando com o Duende Verde daquela vez. Cara, como eles pegaram pesado comigo. Imaginem viver
todas as suas lutas ininterruptamente? E não foram só as lutas, foram as tragédias pessoais, cada vez que eu falhei, que eu pequei, que eu
cheguei mais tarde e não deu para salvar...ou que a teia não foi como devia – emociona-se nosso herói, lembrando das mortes que nunca
superou, talvez mais do que outras grandes tragédias.
- Compreendo sua relutância, mas, embora não possamos garantir que nada irá dar errado, garantimos toda a sua segurança, dentro dos limites
humanos. E, principalmente, que não iremos abandonar você, caso dê algo errado – diz o Homem de Ferro, pousando a mão no ombro do seu
colega Vingador.
- Você poderá garantir seu nome junto com outros como Gagarin, Armstrong e outros. Lembre-se que cada um de nós deverá ser lembrado pelo
que fizemos e não pelo que deixamos de fazer – disse Hank MCcoy.
- Além do mais, isso vai lhe render um bônus de viagem e um adicional de insalubridade, maravilhoso no seu contra-cheque – sorri Tony Stark.
- Tudo bem, tudo bem, eu me rendo – diz Parker derrotado.
Enquanto isso, Ricardo Cruz, engenheiro elétrico brasileiro, que trocou a luz e o calor do nordeste brasileiro, por um salário confortável na New
York Citty Eletricity Company, uma concessionária de energia elétrica do país, - deteve-se em um túnel aparentemente sem saída.
- Estranho.
- Que passa? – disse Carlos Santiago, hondurenho, colega de trabalho do brasileiro, com uma ponta de esperança de encontrar o famoso
crocodilo que vive nos esgotos.
- Mira! – disse o brasileiro, que aprendera o portunhol (união informal do português com o espanhol) – alguém esteve roubando los cabos de
forças.
Santiago pega seu comunicador e passa um chamado à Central para que a contagem de tempo para o desligamento da rede para reparos.
- Malditos ladrões de cobre! Sempre atrapalhando meu dia! – resmunga o engenheiro – acerte o desligamento para cinco minutos.
De volta ao edifício Baxter, o tempo para o início do experimento está cronometrado em 4:30' e contando. Notando a inquietação de seu valoroso
"funcionário", Tony Stark aproxima-se e, quando estão sozinhos, diz:
- Não se preocupe Peter, está tudo sob controle.
- Tony, caso aconteça alguma coisa comigo, prometa que outros não sofram com os meus inimigos, principalmente a minha família.
- Tem a minha palavra de que sua família terá o máximo em conforto e segurança, você garantiu isso a tanta gente que é o mínimo que nós
podemos fazer por você, além de te buscar e forrar o chão do tapete do QG. Eu que não vou encarar tua família e dizer uma coisa dessas. Faça
um favor a todo mundo, Peter... volte vivo.
- Um minuto – diz Reed Richards.
- Quem quer ser enviado para o momento de nascimento do universo e ter seus átomos nulificados para, com sorte, conseguirem reunir-se em
uma sub forma talvez apreciada por todos os que lhe conhecem? Eeeeeeeuuuuuuu!
- Acionar! Gritou Tony Stark, com o Banner não se agüentando de excitação.
Um clarão é visto pela sala e, nela podemos ouvir uma ultima piada do herói aracnídeo:
- Eu acho que não estamos mais no Kansas, Totó.
Imediatamente após o desaparecimento da máquina que continha nosso herói, toda aquela região subitamente entra em um apagão, quando no
momento que a telemetria passaria a transmitir os dados conforme programado.
Em outro lugar um abismado Homem-Aranha vê um padrão de estrelas em chamas, chocando-se umas contra as outras, enquanto um mar de
fogo vem languidamente em direção a ele. Parker não é feito de nervos de aço, mas, aquele espetáculo é igualmente lindo e aterrador.
- Impressionante! – diz um boquiaberto Homem-Aranha. Um leve zumbido em sua cabeça o alerta para a aproximação do vagalhão de fogo.
Imediatamente o herói aperta um botão do bracelete, transformando o espaço em volta de seu corpo em uma casca de um material que parece
uma redoma de vidro. Embora não acreditasse na resistência da redoma ele apostou tudo em uma viagem maluca atraído por uma coisa: a
confiança que os outros cientistas tinham nele. Cientistas que muitas vezes arriscaram tudo pelo bem da Terra, sem esperar nada em troca. E,
mesmo que todos não consigam trazê-lo de volta, a visão das estrelas ardendo fora uma das mais maravilhosas que ele já vira.
Quando as chamas estavam perto de engolfar a cápsula protetora, uma intensa espuma escura envolveu-o. Pela primeira vez em muito tempo,
ele sentiu-se como se estivesse dentro do simbionte alienígena que deu origem a um dos maiores algozes de sua vida: Venom, a fusão de Eddie
Brock e o simbionte alienígena, ódio de uma carreira destruída por alguém que traiu a profissão aliada à dor da separação do simbionte.
Não é o caso. Eles não existem antes do Big Bang. Toda a estrutura racha-se e dissolve a camada protetora, revelando um branco inexplicável.
Para qualquer lugar que o aracnídeo olhe só há um branco de doer os olhos. De repente, uma figura interpela-o:
- Vai um cachorro-quente?
- O que? – diz o espantado herói.
- Um cachorro-quente. Qual o nível de compreensão que a humanidade está atualmente? Eu sou capaz de jurar que vocês já deviam ter
descoberto o cachorro-quente – suspira o vendedor de cachorro-quente, lamentando-se.
- Quem é você?
- Deus.
- Deus?
- Deus.
- Mas... Deus?
- É. Deus, Deus.
- Eu nunca esperei que Deus, em sua infinita sabedoria, fosse me vender cachorro-quente!
- Na realidade, eu gostaria de lhe oferecer uma paejada, mas eu não sabia se você tem tempo para ficar por aqui. Afinal, vocês heróis nunca tem
tempo para os prazeres da vida.
- Hã...como eu devo lhe chamar? Deus, Odin, Zeus, Gaia, Krishna, Buda...
- Stanley. Melhor, me chame de Stan. Meus amigos me chamam assim. Seus amigos o chamam como?
- Peter. Espera um pouco. Se você é Deus, não deveria saber essas coisas?
- Você já conversou com alguém onisciente?
- Uma vez ou outra – disse Peter pensando no ser que chamaram de Beyonder, que foi responsável por um conflito sem tamanho entre heróis e
vilões.
- O Beyonder pensa que é onisciente. Existe uma diferença nisso. É algo que qualquer néscio saberia. Ah! Lembrei-me que você também
enfrentou Thanos na época em que ele conjurou a manopla do infinito. Agora, aceita um cachorro-quente?
- É verdade! Eu tinha me esquecido disto – admite Parker, dando uma mordida no lanche oferecido – Deus, digo Stan, esse é o melhor cachorro-
quente que eu já comi.
- O melhor do universo que ainda vai nascer. Agora você sabe o problema que é conversar com alguém onisciente. Eu poderia, se quisesse,
arrancar todas as respostas do seu cérebro, mas ao invés disso prefiro conversar com você. Isso sim é uma arte – diz Stan, exibindo um sorriso
franco.
O herói passa a olhar mais atentamente para o homem ao seu lado. Se por um lado, ele não oferece nenhuma prova que é quem diz ser, conhece
falou da manopla do infinito, algo que apenas aqueles que tinham uma relevância no cenário universal sabiam da existência.
Ele é um homem de meia idade, cabelos fartos ainda, mas, com uma aparência de Professor Pardal encoberta por um boné de vendedor
ambulante, usava óculos escuros e um bigode que, assim como os cabelos já começava a mudar de tom para o grisalho.
Ele parecia o tipo de "velhinho" que todo mundo gostaria de se tornar, aqueles que parecem que o tempo não fora um senhor absoluto. Para
quem os males dos anos pareciam ter trazido apenas experiência ao invés de amarguras.
- Ora! Obrigado pelo comentário.
- Onisciência?
- Sim.
- Estou satisfeito agora. Eu tenho algumas dúvidas que eu gostaria de respostas.
- Mande bala.
- Por que os poderes?
- Para extrair o melhor e o pior de cada um. Você mora em Nova York. Quantos ricos e mendigos bondosos você já ajudou como Aranha? E como
Peter Parker? E quantas outras pessoas insensíveis, sejam magnatas ou operárias, você já ajudou, para ter sua ajuda cuspida na cara na
primeira oportunidade? É só mais um teste. Como a vida.
- E qual o grande desígnio que preparou para mim?
- Lhe transformar em um dos seres únicos do universo.
- Mas eu pensei que todo ser fosse único.
- E é. Você acha que eu daria o gosto de dar o cardápio antes do banquete?
- Tá, entendi. Para onde a humanidade caminha?
- Todo ser no universo é único. Kree, Skrul, Shiar, Humano, Titã, todos são seres especiais em seu contexto. Mas eu lhes dei algo chamado livre
arbítrio. Vocês têm, cada vez mais, o modo de vida autodestrutivo como realidade de vida. Mudar ou não é decisão de vocês.
- Por que as coisas ruins acontecem com pessoas boas?
- Para que estas se superem. É fácil ser um herói com as contas em dia. O difícil é ser herói com as contas no vermelho. Com os vilões é a mesma
coisa, eles ganharam os poderes e resolveram aproveitá-lo em benefício próprio. Cada um escolhe seu caminho. Veja o exemplo de Wanda
Maximoff, a Feiticeira Escarlate, cooptada por um mutante poderoso, ela enveredou por um caminho, não se ajustou e caminhou para a redenção
pessoal, tornando-se uma das peças mais importantes para a estrutura dos Vingadores. Destruídos os Vingadores, nenhum final deste porte
pôde retirá-la do status de heroína.
Parker ficou em silencio meditando as palavras do misterioso interlocutor. Havia sabedoria nelas. Não a sabedoria que ele ou Reed esperava, mas
a sabedoria de quem viveu mais tempo de que qualquer outro e pode falar do que se passou.
- Agora Peter, venha comigo. Tenho uma proposta para fazer e gostaria que ouvisse com atenção – dito isto, stan pegou uma caneta e, para
surpresa do solitário herói, riscou uma porta no espaço branco, abriu a porta imaginária e saiu em uma sala de um escritório.
- Sente-se. Aceita alguma coisa, café, licor, whisky? Já sei. Vou chamar minha assistente: Amorzinho, pode trazer dois cafés?
- Sim senhor! - responde uma voz no interfone.
Um minuto depois, entra uma garota loira, aparentando um pouco mais de 20 anos. Entra com uma bandeja, dá uma sexy olhada para o
convidado do seu chefe, aproxima-se e sussurra: aceita um café... gatinho?
- Gwen? Gwen! ...
- Sim? – brinca o simpático velhinho.
- É você mesmo? A minha Gwendolyne?
- Sou eu mesma – respondeu a loira. – apesar de ter sido sua namorada, eu não sou sua. Agora eu pertenço ao universo, você entenderá
quando chegar a sua hora.
- Eu...eu...se eu não tivesse...se eu tivesse...
- Peter, se minha mãe tivesse bigode, eu teria dois pais. Aconteceu. Simples assim. Não há porque ficar se martirizando durante todos estes anos.
Todo mundo morre, aquela foi minha hora. É como Yng e Yang. Partes de um todo. Vida e morte, amor e ódio, paz e guerra. O que me doeu todo
este tempo, é saber que se martirizou e ainda se martiriza. Acha que eu não estava vendo você na ponte horas atrás?
- Você já parou para pensar que a culpa é minha? – pergunta em lágrimas o jovem.
- Você acredita nisso? Foi você que me levou ao alto daquela ponte? Que me jogou de cima daquela ponte? Para mim foi o pai dos meus filhos.
Norman Osborn. O homem que se aproveitou de uma fraqueza minha, minha tentativa de consolá-lo. Eu sim, tenho que lhe pedir perdão por ter
desrespeitado nosso amor. Você não merecia isso. Mas aconteceu. E eu sinto orgulho do homem que eu amo e do modo como ele se comportou,
diante de dois filhos ilegítimos que achavam que você era o pai deles.
- É muita falação! Chega de rasgação de seda. E acompanhem-me – disse Stan.
Ao sair da sala Peter Parker é levado por corredores lilás, que levaram os três para um salão de gala, aonde um grupo de pessoas os
aguardavam.
- Ah! Que bom que estão todos aqui. Creio que vocês já os conheçam, mas em todo caso, permita-me apresentá-los: minha assistente
Gwendolyne Stacy e o herói uniformizado conhecido por Homem-Aranha e batizado como Peter Parker.
Quando ia ralhar com o velhinho - afinal sua identidade secreta estava sendo exposta para espíritos e ele receava sobre se algumas delas
resolvessem dar uma passadinha em um centro espírita – o jovem olhou melhor as faces dos ocupantes da sala.
- Olá rapaz, há quanto tempo – disse o mais próximo, fumando seu habitual cachimbo.
- Ora ora. Eu sempre quis saber quem estava embaixo da máscara. Não é de se jogar fora – comenta uma animada voz feminina.
- É, meu sobrinho é um grande homem. Deve estar destruindo corações.
- Meu filho é realmente um partidão – uma segunda voz feminina entra na conversa – como diríamos na minha época, um pão.
- Ele puxou a mim.
Quando Peter se acostuma com a luminosidade da nova sala, ele pôde perceber que conhecia todos os ocupantes. No entanto, seu cérebro
demorou a sair do torpor que entrou ao reconhecer o Capitão Stacy e seu notório cachimbo; ladeada por sua sucessora no cargo de chefe de
policia, Capitã Jean DeWolf, cuja morte custou a Peter a dor de quem quase ultrapassou o limite do "não matarás". Seu Tio Ben era de longe a
única pessoa que podia dizer o que ele estava pensando. E ele não decepcionou o sobrinho: "não se preocupe, Peter. Não, você não está
alucinando. Apresento-lhe seus pais: Richard e Mary Parker".
Logo, os dois saem de onde estão e convidam o filho para seu primeiro abraço em família, que prontamente é aceito, enquanto todos os outros
ocupantes da sala eram testemunhas de um encontro adiado há toda uma vida.
Estranhamente em silencio, Peter nota a falta de alguém que lhe era importante e perguntou a todos: Harry não está aqui? Ele já reencarnou?
Falando nisso, vocês reencarnam?
- Sente-se. Você talvez não vá gostar da resposta – diz Gwen, acompanhada por Stan. Como a loura não encara o recém–chegado, cabe a Stan
dar a notícia:
- Como você sabe, Harry cometeu inúmeros crimes sob o manto do Duende Verde. Estes crimes fizeram com que ele não possa estar entre nós.
O olhar de Peter passou de perplexidade para raiva. Ele conhecera o jovem Osborn desde sua adolescência, viu o jovem querer prova seu valor
ao pai sem sucesso inúmeras vezes. Alguém que deveria estar no céu, por todo o sofrimento da vida, essa pessoa era Harry Osborn.
Cada momento da vida em comum, quando eles dividiam o apartamento, o casamento de Harry e Liz, o período no qual fora inquilino deles,
vivendo com Mary Jane no Soho.
- Isso não está certo! Não pode! Eu me recuso a acreditar que exista um paraíso sem que nele exista o perdão. Stan, você falou até agora que é
Deus, desfaça isso! Eu sei que não posso te pedir mais nada e que você já me deu tudo o que eu precisava, mas eu não quero e nem posso ir
embora agora e saber que meu melhor amigo está no inferno.
- Eu não posso fazer nada. Sou apenas um empregado.
- Você não é onipotente?
- Essa não é a questão Peter. O que faria um ser onipotente andar na linha, a não ser uma estrutura burocrática? Para evitar que o poder me
corrompa, eu me coloquei abaixo na esfera hierárquica daqui, logo tenho que respeitar a ordem de meus superiores – diz o todo-poderoso
empregado do paraíso.
- Então não há o que fazer? – pergunta Gwen, que conhecia Osborn na escola também, quando saiam em casais junto com Mary Jane.
- Infelizmente, eu não tenho este direito, mas a verdade é que se eu fizesse isso, a estrutura do paraíso seria reduzida a uma pilha de
escombros demolidos. Não é possível ser cego essa realidade.
Peter começa a estranhar a força que Stan coloca para dizer algumas palavras, quase com se ele estivesse... passando uma mensagem! Ele olha
o "velhinho" de maneira interrogativa e percebe que este apenas sorri.
Vamos Parker, pense – diz para si mesmo – quais foram as palavras que te chamaram a atenção: Direito; burocrática; hierárquica; demolidos e...
cego! Qual a relação entre elas?
O que elas te lembram?... Todas as palavras estão de alguma forma ligadas à vida de Matt Murdock! Demolidos é a chave. Demolidos ou
demolidor, a identidade de Murdock, o advogado cego. Por cego, entenda não obvio, ou seja, nas entrelinhas, como se chama entrelinhas em
termos jurídicos? Precedente! É isso, um precedente jurídico, algo que já tenha acontecido. Hierarquicamente, não se pode ignorar um
precedente. Então é isso, existe um precedente e algo me diz que meu argumento deverá ser algo demolidor. Espera!
A palavra cego. Cego pode ter um outro sentido? Não faria sentido ele me dar a dica que haveria um precedente, se não me desse uma dica do
que é esse precedente... "Em terra de cego, quem tem um olho é rei..." Jesus é chamado de Rei dos reis. Sim! A história de Jesus é o precedente.
Todos olham para Parker que ficava fazendo gestos frenéticos para si mesmo e murmurando palavras desconexas, até que este pára e diz:
- Stan, há um jeito de salvar Harry e para isso, eu invoco o precedente jurídico criado pela passagem de Jesus pela terra.
- Você conhece a história do meu filho? Então sabe como ela terminou, certo? Mesmo assim não desiste?
- Não. Eu farei o que for preciso.
O outro coloca seus óculos escuros e lhe diz: - Entende agora o porquê de adorar o livre-arbítrio? Já que você vai fazer isso, eu devo fazer os
preparativos.
Seus pais chegam até ele e lhe dizem em desespero: - Você tem noção do que está fazendo. Isso não pode ser verdade. Você não imagina o que
lhe espera.
Gwen veio e lhe abraçou soluçando. Embora quisesse ver Harry bem, estava apavorada em pensar na possibilidade de viver a eternidade sem ver
novamente o único homem que amou.
Jean, o capitão Stacy e Ben Parker não participaram da tentativa de dissuadi-lo. Sabiam que isso fazia parte do homem que Peter era e não
haveria outro jeito. Além do mais, na experiência militar dos três – visto que Ben servira o exercito e lutara na Coréia – haviam feito promessas
semelhantes à camaradas de armas.
