Disclaimer: Inuyasha não me pertence.
Capítulo 1
Era sexta-feira a noite, e como toda ela, nos encontrávamos reunidos na casa dos Taisho. A casa era grande, uma mansão, mostrava o quão bem sucedida era a família Taisho. O senhor Taisho, dono de uma das maiores redes de restaurantes do país, junto com os seus dois filhos e mais uma centena de competentes empregados, mantinham a estabilidade da empresa por anos. Inuyasha, o filho mais novo, ainda não tinha terminado a faculdade mas já ajudava seu pai com a empresa. Sesshoumaru, filho mais velho e sucessor da empresa, trabalhava ao lado do pai e já tomava grande parte das decisões dentro da empresa. Mas ai você me pergunta "o que você está fazendo em um lugar desse?"
"Rin", me chamaram, "Passa a pipoca, please".
Enchi minha mão antes de passar o pote de pipoca para Kagome.
Toda sexta-feira era dia de "filme". Eu e meus amigos nos reunimos para passar a noite juntos jogando conversa fora. As vezes passávamos a noite aqui, quando a senhora Taisho nos permitia, é claro. Não que ela tenha negado alguma vez, ela é uma pessoa maravilhosa. Ela é a segunda esposa do senhor Taisho, mãe de Inuyasha.
"Só eu que estou achando esse filme sem graça?", comentou Inuyasha enquanto pegava o pote de pipoca da mão de Kagome.
"Você acha todos os filmes de romance sem graça", falou Kagome, puxando o pote de volta e passando para Sango.
"Semana passada assistimos um de terror, como você tinha pedido, hoje é a nossa vez, não é meninas?", Kagome olhou para mim e para Sango esperando uma confirmação, essa, por sinal, só veio da Sango.
Não sou muito fã de romance e para Kagome não querer arrancar a minha cabeça se eu dissesse que concordava com Inuyasha, preferi não falar nada.
"Mas admito que seria melhor assistir esse filme com Miroku ao meu lado" comentou Sango, fazendo biquinho.
"Ele não vem mesmo?", perguntou Kagome enquanto enchia a boca de pipoca e com a outra mão fazia carinho na cabeça de Inuyasha que estava deitado no sofá ao lado dela.
"Sim", Sango suspirou, desapontada, "Ele tem que enviar um report até as meia noite de hoje e como vocês o conhecem, ele deixou para fazer de ultima hora", completou.
O filme passava na tela da televisão mas ninguém em particular prestava atenção nele, estávamos todos entretidos conversando e comendo. Kagome e Inuyasha namoravam a dois anos, se conheceram na faculdade, o começo do namoro foi uma fase bastante turbulenta, com bastante choradeira e ciúmes de Kagome por causa da ex de Inuyasha, Kikyou. Sempre sobrava para mim e Sango limpar a barra de Inuysha. Sabemos que ele é um cara legal e que faz Kagome muito feliz, por isso tentávamos sempre manter os dois juntos. Mas passada essa fase tudo se tornou um mar de flores como vocês podem ver. Claro que ainda brigam de vez em quando, mas é normal, uma briga "saudável", briga de casalzinho. Já a relação de Sango e Miroku sempre foi turbulenta, Miroku era um mulherengo antes de conhecer Sango, agora, diz ele, que essa fase é passado, agora ele se dedica a uma única mulher. Ainda não confio muito no Miroku para entregar Sango a ele, mas por hora faço vista grossa pois vejo que Sango está feliz.
"Okaerinasai", escutei a senhora Taisho falando em um dos muitos cômodos daquela casa.
"Tadaima", falou uma voz firme e séria.
No mesmo momento reconheci aquela voz.
Sesshoumaru.
Meu coração deu pequenos pulos de felicidade, o momento que eu mais esperava naquela noite estava para acontecer. Vou poder vê-lo finalmente.
"Inuyasha está com os amigos dele lá na sala", informou a senhora Taisho. Do outro não se ouviu nada.
"Rin, sua felicidade é contagiante", Inuyasha rolou os olhos, ironizando.
Minha ansiosidade e felicidade claramente visíveis para os ali presentes não me incomodava nem um pouco.
"Não sei por que tanta felicidade só para ver aquele-", Inuyasha foi cortado.
"Inuyasha", Sesshoumaru falou assim que apareceu na porta, com o tom de voz frio e apático de sempre.
Inuyasha não precisou olhar para saber que Sesshoumaru estava olhando para ele, ou melhor, estava fuzilando-o com os olhos. Inuyasha não disse mas nada, apenas bufou.
Eu não tinha tirado os olhos dele. Ele estava impecável como sempre. Seu rosto sempre sério e perfeito, seu porte firme e seguro. Meu coração martelou mais rapidamente, e assim que ele desviou o olhar de Inuyasha e o pôs sobre mim, senti ele parar. Ficamos assim por um tempo, com os olhares travados, sem piscar, escutei Kagome falar alguma coisa, mas não dei muita importância, no momento só prestava atenção nele. Sesshoumaru.
"Rin", ele me chamou, quebrando o silencio entre nós, "Venha", foi tudo que disse.
Se virou e saiu da sala, seu cabelo seguindo o ritmo do corpo e balançando nas costas.
"Sesshoumaru-sama!", pulei do sofá que estava sentada e sai correndo atrás dele.
""Sesshoumaru-sama"? Ela ainda chama ele assim?", questionou Inuyasha.
"Sim, afinal ela sempre chamou ele assim desde de pequena", respondeu Kagome, "Mesmo Sesshoumaru sendo do jeito que ele é, ele sempre permitiu Rin perto dele." completou.
"Eles têm um relacionamento estranho, mesmo para amigos de infância", comentou Sango.
"Chega de falar deles e vamos prestar atenção no filme antes que ele acabe", disse Kagome, encerrando a conversa.
Sim, é como a Sango disse. Somos amigos de infância. Eu tinha uns seis anos de idade quando o conheci e ele já tinha lá seus doze anos. Eu adorava me aventurar pela floresta que tinha ao lado da minha casa, depois de brincar bastante eu me escondia no meu esconderijo secreto, no meio dessa floresta, um lugar que só eu conhecia. Até que um dia encontrei alguém lá. Um menino, de cabelos prateados na altura dos ombros, estava sentado e encostado em uma árvore, lendo calmamente, aproveitando o vento suave e a luz do sol em seus pés.
"Quem... quem é você?" perguntei, com minha voz infantil.
Ele apenas me olhou.
"Esse é meu esconderijo secreto, você não pode ficar aqui!", falei, brava por terem descoberto meu cantinho precioso.
Ele demorou um século para me responder.
"Eu moro aqui", ele disse simplesmente.
"Você mora no meio da floresta?", perguntei, esboçando uma curiosidade infantil.
Ele me olhou torto.
"Não. Essa jardim faz parte do quintal da minha casa", respondeu sem muito interesse.
E ainda sem muito interesse voltou a atenção para o livro nas mãos. E isso foi tudo. Várias e várias vezes eu voltava lá e o encontrava sempre no mesmo lugar, as vezes com o mesmo livro, outras com livros novos, livros difíceis para uma criança da idade dele ler. Eu sempre tentava conversar com ele, ele as vezes me respondia, as vezes só olhava, outras nem isso. Mas eu nunca deixei de ir lá, sempre tinha esperança de encontrá-lo, e uma pequena parte de mim acreditava que ele esperava o mesmo. E como podem ver, até hoje corro atrás dele e, para a minha alegria, sempre que fico para trás, ele anda devagar para que eu possa acompanhá-lo. E por um momento sempre foi nós dois. Apenas nós dois.
"Rin", ele me chamou novamente.
Agora estávamos no quarto dele, ele tinha sentado na cama e eu estava em pé, ainda na porta.
"Pensei que não viria hoje", comentou.
"Sim, mas consegui terminar todos os meus trabalhos ontem e aqui estou, surpreso?", sorri abertamente me aproximando mais e sentando no chão na frente dele.
"Vejo que está gostando do curso", falou, descruzando as pernas e se apoiando nelas, ficando mais próximo de mim.
Estou gostando sim, mas mais importante que isso era não perder a oportunidade de te ver, pensei.
"Você chegou tarde hoje, problemas na empresa?", perguntei, esboçando preocupação.
Ele fechou os olhos e suspirou.
"... Também", disse por fim.
"Tem algo que eu possa fazer para ajudar?", perguntei um pouco mais preocupada.
Me aproximei mais dele, ficando quase cara a cara. Ele abriu os olhos e capturou meu olhar de preocupação, ficamos assim por um momento até ele me surpreender esbanjando um pequeno sorriso de lado.
Meu coração que estava calmo até poucos segundos atrás disparou novamente acelerado. Raras eram as vezes que ele deixava suas emoções transparecer no rosto. Sua poker face sempre foi perfeita e sempre estaria naquele rosto perfeito. Por isso eu adorava quando ele quebrava a seriedade de sempre do rosto dele. Eu adorova mas ao mesmo tempo odiava. Esse sorriso. Ele era cheio de mistérios, sentimentos que eu não conseguia entender e isso me frustrava. Bastante. Eu o entendia, entendia cada movimento, cada olhar, cada suspiro. Mas tinha momentos, esses momentos, em que eu me perdia completamente nele, tentando entender sem conseguir. Eu o entendia porque ele me permitia, e nesses momento, momentos em que me sentia perdida, ele se trancava e me deixava de fora, abandonada.
"Rin", o sorriso morreu dos lábios dele, "Eu-", ele foi cortado pelo toque de celular dele.
O resto da frase ficou no ar e eu desapontada por não conseguir capturar o que ele ia dizer. Ele desviou o olhar de mim, procurou o celular no bolso da calça, olhou fixadamente para a tela do celular antes de atender, até que ele colocou o telefone no ouvido.
"Kagura", ouvi ele dizer.
Dessa vez foi o meu sorriso que murchou.
Ah.
Aí está ele. Esse sentimento profundo e malvado. Sentimento que faz até a pessoa mais bondosa do universo se tornar maligna por um breve momento.
"Sim", Sesshoumaru continuou falando ao telefone, "Agora? Rin está aqui também".
A menção ao meu nome me tirou dos meus pensamento e me fez voltar à realidade.
"Vou deixar vocês a sós, estarei lá embaixo", eu falei.
Sesshoumaru me olhou de lado com uma cara de questionamento. Normalmente eu não me importaria de escutar toda a conversa dele com Kagura. Sempre me intrometi nos assuntos dele e ele nos meus, não que isso fosse algo ruim, pelo contrário, isso mostrava o quão forte era o nosso relacionamento. Caso Sesshoumaru não quisesse que eu escutasse a conversa, era ele que pedia licença.
"Privacidade de vez em quando é bom, algo que eu aprendi recentemente", falei me justificando.
Sorri e me retirei do quarto antes mesmo que ele falasse algo.
Voltei para a sala e percebi que o filme já tinha acabado e ninguém mais estava prestando atenção na televisão. Os refrigerantes foram trocados por cerveja e vinho e todo mundo já estavam um pouco alegre demais. Eu não bebo bebida alcoólica, não gosto e gosto menos ainda de como as pessoas ficam depois que o álcool toma conta do cérebro delas. Sim, agora tenho certeza que vocês estão me achando uma velha, sendo que eu sou a mais nova de todos. Mas eu realmente não me importo.
"O que vocês aprontaram enquanto eu não estava aqui?", perguntei, fingindo estar brava.
"Não aprontamos nada, mamãe", respondeu Inuyasha fazendo uma voz infantil.
"Venha, Rin, sente-se aqui", chamou Sango, dando palminhas no assento vago ao lado dela no sofá, "Estávamos conversando sobre os piores professores que tivemos", completou.
Ficamos conversando a noite toda enquanto latinhas de cervejas eram descartadas uma após a outra. Fui na cozinha buscar um saco de lixo para colocar a toda a sujeira, quando estava voltando me deparo com Sesshoumaru encostado na porta da cozinha me olhando com uma sobrancelha levantada. Suspirei com o quão lindo ele estava, tinha acabado de tomado banho aparentemente, dado que a toalha ainda estava pendurada no pescoço. Tinha tirado o terno e vestido uma roupa mais confortável para dormir.
"O que foi?", perguntei, indicando a sobrancelha levantada.
"Kaede irá limpar amanhã", ele disse simplesmente.
"Você acha que eu vou deixar a velha Kaede, que ela não me ouça, limpar aquilo tudo sozinha?", falei, passando por ele e voltando para a sala.
Assim que eu cheguei escutei Sango me chamar e vir correndo em minha direção.
"Riiin", ela falou antes de pular em cima de mim. Se não fosse por Sesshoumaru ter me segurado pelas costas eu teria caído com tudo no chão junto com Sango.
É, acho que alguém bebeu demais.
"Riiin", ela falou de novo, "O que você acha do Kohaku?", me perguntou com a voz embriagada.
Eu apenas olhei para ela, sem entender.
"Kohaku, meu irmãoo", disse.
"Eu sei que Kohaku é seu irmão" eu disse, ajudando Sango a tentar se manter em pé.
"O que você acha dele?", ela insistiu.
"Como assim o que eu acho dele? Ele estuda comigo e é meu amigo. Fim", respondi.
Essa conversa estava indo para uma direção perigosa e eu não estava gostando nada. Eu ajudei Sango a voltar para o sofá onde Inuyasha já roncava abertamente, e Kagome, a que parecia mais sóbria dos três, estava quase caindo no sono também. Olhei para Sesshoumaru que ainda estava de pé, apenas observando toda a cena. Ele deu de ombros e se encostou na parede, ignorando o meu pedido de ajuda silencioso.
"Sango, acho que você já devia-", fui cortada.
"Você daria uma chance para ele? Ele é legal", ela falou, devagar e pausadamente, como se tivesse pensando em cada palavra que ia dizer. Mas isso era apenas por causa do efeito do álcool. "Você também é legal, se dariam bem juntos...", completou por fim.
Ah. A conversa chegou onde eu não queria que ela chegasse. Especialmente na frente de Sesshoumaru.
"Sango, já conversamos sobre isso", falei, aparentando suavidade.
"Mas-", insistiu.
"Mas nada Sango. Agora vá dormir, você já passou das contas", deitei ela no sofá mesmo e lá ela ficou.
O tempo passou em silencio, salvo pelo ronco de Inuyasha. Senti o olhar de Sesshoumaru nas minhas costas, não pude ver sua expressão ou o que o olhar dele estava transmitindo e antes mesmo de eu me virar eu escutei a voz de Kagura.
"Sesshoumaru", ela chamou, parando ao lado dele na porta. "Senti sua falta!", falou, sorrindo de orelha a orelha e laçando os braços ao redor dele.
Me virei a tempo de ver ela depositando milhares de beijos na face perfeita dele. Ele apenas deixou os olhos fechados esperando a sessão de beijos terminar.
"Kagura, já basta", ele falou, com um tom um pouco irritado.
"Anw, cade o meu?", ela perguntou, fingindo tristeza.
Ele suspirou, tirou os braços dela do pescoço dele, aproximou mais os dois corpos, colocando as mãos dele na cintura dela e aproximou os rostos. Ficaram se olhando por um tempo e quando Kagura ia falar algo, ele aproximou os lábios e a beijou.
Ah. Mais uma vez. Mais uma merda de vez. Essa queimação atrás dos meu olhos. E pior que isso, só a pontada lá no fundo do meu coração. Não sei quanto tempo passei olhando para eles, sem conseguir desviar o olhar, tatuando essa imagem em minhas memórias.
Mais uma vez.
Eu não me mexi até eles se soltarem um do outro. Desviei meu olhar e coloquei-o sobre Inuyasha. Eles ainda queimavam, mas eu não podia permitir que eles derramassem lágrimas. Não na frente deles. Me aproximei de Inuyasha, a fim de desviar minha mente da imagem que tanto me fere, e o balancei.
"Ei, seu ronco está atrapalhando o momento", Inuyasha resmungou alguma coisa e se virou, se livrando das minhas mãos e voltando a dormir pesadamente.
Eu sorri. Melhor dizendo, forcei um sorriso, forcei a me olhar para aqueles dois sorrindo.
"Kagura, quanto tempo!", falei por fim, torcendo para que não percebessem o choque que eu tinha levado a momentos atrás.
Kagura olhou para mim e seu sorriso só ficou maior.
"Riiin!", ela veio correndo e me abraçou forte e me encheu de beijos assim como fez com Sesshoumaru.
Eu também a abracei. Um abraço sincero, afinal de contas éramos melhores amigas.
Ah, essa dor. Essa doce dor. Culpa. Remorso. Mas acima de tudo, amor.
Perdoem meus erros de português hehe
