Capítulo I
Não estava dormindo há muito tempo quando ouvi o barulho de asas vindo da janela semiaberta, e estremeci quando uma coruja meio desastrada entrou, largando um bilhete em cima de mim. Pisquei um pouco, ainda atordoado, e tateei para desamassar o pergaminho.
Sirius
Preciso de ajuda.
James
Sirius havia voltado de uma missão na França fazia poucas horas, e o cansaço da viagem ainda estava cobrando seu preço. Em uma situação normal, nem levaria a sério o bilhete e voltaria a dormir. Mas aquela não era uma situação normal. Era guerra.
Resmungando, amassou a nota na mão e se arrastou para fora do sofá ("eu dormi aqui?", murmurou confusamente), franzindo a testa para a frase curta e tremida que James havia lhe enviado.
Aparatou quase tropeçando, e a soleira do chalé dos Potter em Godric's Hollow o cumprimentou melancolicamente. Bateu, e como esperado, foi atendido na hora.
- Obrigado por vir, Pads. – James estava pálido, e o deixou entrar com um ar sombrio. Sirius o fez sem cerimônia – afinal, já entrara naquela sala um milhão de vezes – e notou que Lily não tinha corrido para abraça-lo, como sempre fazia. Em vez isso, estava sentada no sofá, mais magra e bastante trêmula, segurando cheia de ansiedade uma trouxinha de cobertas azul, onde um o afilhado recém-nascido de Sirius dormia profundamente.
- Que houve? – perguntou já num tom mais preocupado. A súbita tensão do ambiente o despertou quase por completo. Nos tempos em que estavam, seu organismo estava acostumado a ir de dormente a alerta em pouco tempo.
No momento em que perguntei, Lily caiu no choro. Dei um passo em frente para ampará-la, mas James foi bem mais rápido, segurando-a nos braços e sussurrando algo em seu ouvido. Ela não respondeu; ficava balançando a cabeça e ninando Harry nos braços. Preocupado e desconfortável com o silêncio, repeti a pergunta, e Prongs fez sinal para que eu me sentasse. "Dumbledore esteve aqui ontem. Queria falar conosco."
- E o que ele queria? – perguntou, se inclinando para frente e sorrindo de leve para a boca minúscula do bebê, que se mexia delicadamente entre os braços da mãe.
- Veio com uma conversa estranha, dizendo que estava ontem no Cabeça de Javali, procurando um novo professor para Adivinhação, quando a moça teve um surto de Visão. Disse que ela fez uma profecia, algo assim.
- E o que ela disse?
- Parece que falou de um menino, nascido no fim de Julho, que podia ter chance de derrotá-Lo. Poderia ser Harry.
- James, o menino acabou de nascer. – Sirius apontou para o embrulho. – Dumbledore parou para pensar nisso? Só a ideia já é um absurdo!
- Também pensei assim até ele dizer que um comensal que ouviu levou a sério o que ela disse. – a voz de James subiu uma oitava com o nervoso. – Voldemort está atrás de nós.
Quando ele terminou a frase, me recusei por um tempo a acreditar. Mesmo com o clima que estávamos vivendo, mesmo com a Ordem, ter Voldemort em pessoa te procurando era coisa séria. Nós sabíamos mais do que ninguém o que isso realmente significava. Não fazia um ano que perdíamos Dorcas Meadowes para Ele. Era uma boa bruxa, uma boa pessoa, e principalmente, uma boa amiga.
Mas Dorcas era crescida, formada, e duelava muito bem. Mas Harry... O garoto mal conseguia abrir os olhos ainda. Que poder sobrenatural uma criança daquele tamanho poderia ter? Troquei um olhar significativo com ele, e em silêncio, pedi que continuasse.
"Dumbledore nos deu uma chance. Podemos esconder a casa."
"Mas como?"
"Fidelius." Ele respirou fundo, como se a ideia estivesse tomando corpo justo naquela hora. Prongs estava exausto. "Por isso te chamei aqui."
