Para "Super Lolo", minha "anjinha" e companheira de cachaça virtual...
Uma fic, um copo de birita, um abraço e um beijo no coração
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N/A: Neste primeiro capítulo saberemos o que Harry andou fazendo durante o começo das férias, como é sua relação doméstica com Sirius e também conheceremos sua nova e pequena amizade. E Harry terá seu aniversário mais louco e diferente de todos.
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Capítulo Um – O encontro em Londres
A água salgada molhava os pés descalços que tocavam a areia fina e branca. Em seu constante vai e vem, as ondas faziam aquele barulho característico, agradável e relaxante, que penetrava nos ouvidos de um rapaz de dezessete anos, completos exatamente naquele dia, chamado Harry Potter.
Aquela manhã de 31 de julho não estava sendo diferente de todas as outras manhãs que Harry tinha passado naquela casa na praia. Ele acordou e logo foi caminhar na areia, como sempre fazia. Talvez por nunca ter ido à praia quando criança, agora ele quisesse, inconscientemente, "compensar" isso, de forma que tinha se acostumado a aproveitar o máximo que conseguia essa nova rotina.
Ele não tinha se enganado quando achou que aquelas férias seriam as melhores que já tivera. Morar com Sirius era ter uma perspetiva muito diferente e inusitada das coisas. Era impressionante como os dois, juntos, conseguiam achar graça até nas coisas mais sem graça que existiam. Por exemplo, a comida péssima que Sirius cozinhava era motivo de piadas e risadas entre eles.
Na verdade, eles só não morriam de fome por dois motivos: ou Harry cozinhava, ou então eles saíam para comer. A segunda opção era melhor que a primeira. Até que dava para comer o que Harry cozinhava, já que ele às vezes tinha que cozinhar quando morava com os Dursleys, mas ele não conseguia fazer coisas muito diferentes, e então eles logo se enjoavam. Bem, ao menos Harry não deixava a comida queimar.
Tirando a parte da comida, a casa em que moravam era maravilhosa. Apesar de serem só ele e Sirius, Harry sentia como se tivesse encontrado seu lar. É claro que quando passava as férias na Toca se sentia muito à vontade, mas ainda assim ele era uma visita. Nessa casa não. Harry podia fazer coisas simples que nunca pôde fazer quando vivia com os Dursleys, como andar descalço pela casa ou então abrir a despensa sem ninguém vigiando ou reclamando. Tomava banho quando queria e dormia e acordava quando tivesse vontade. Sirius era bem liberal e despojado quanto à essas regras em casa. Aliás, ele não impunha regras dentro de casa.
Era bem engraçado se parasse para pensar. Apesar de Sirius ser seu padrinho, ele e Harry tinham uma relação muito próxima à de irmãos quando estavam juntos. Era como se Sirius fosse seu irmão bem mais velho, ou então uma mistura de pai e irmão. Esquisito, já que Harry não tivera experiência nem com irmãos ou com um pai, mas era assim que ele se sentia. Sirius fazia de tudo para agradar Harry, mas com aquele seu jeito descontraído; na verdade, a única coisa que ele reclamava sério era quando Harry sujava a casa com a areia da praia.
Naquela manhã do seu aniversário, Sirius tinha saído tão cedo que Harry nem conseguiu vê-lo ao acordar. Provavelmente tinha ido comprar algo na pequena cidade vizinha para o café da manhã, já que Harry não vira o carro amarelo quando saiu de casa. Mas era estranho, porque Sirius não costumava sair antes que Harry acordasse.
A apenas alguns poucos quilômetros havia uma pequena cidade, povoada apenas por trouxas, chamada Freshpeach. Um nome bem esquisito, foi o que Harry achou assim que o ouviu pela primeira vez. Mas Sirius explicou o que significava: Freshpeach era famosa na região pelos seus ótimos pêssegos. Aliás, passado algum tempo, Harry se encheu de comer tanto pêssego. Era costume na região dar pêssegos, ou qualquer outra iguaria feita com a fruta, para os novos vizinhos, como sinal de "boas vindas". Havia tantas coisas feitas de pêssego em casa que Harry achava que, depois que as férias acabassem, ele nunca mais comeria pêssego na vida.
A praia que ficava de frente à casa era bem comprida e, na maioria das vezes, deserta. Seu nome era "Praia das Andorinhas", porque esse era o tipo de ave que mais se via ali. Quem mais estava na praia eram mesmo os habitantes das casas de veraneio, que vinham passar as férias ali ou apenas os finais de semana. Mas Harry achava a grande maioria um bando de esnobes. Ele tinha feito apenas uma única amizade entre os vizinhos, e se Rony soubesse quem era acharia bem engraçado. E Hermione acharia uma gracinha.
Enviar e receber corujas era muito mais fácil agora, e Harry trocou bem mais correspondência com os amigos do que fizera nos últimos anos. Apesar de em toda Freshpeach e na Praia das Andorinhas os únicos bruxos serem Harry e Sirius, ninguém se importava muito com corujas voando pelo céu. E também não havia tia Petúnia ou tio Válter para reclamar do barulho de Edwiges.
Pelo que Harry sabia, as férias de Rony e Hermione também estavam sendo proveitosas, apesar de alguns contratempos. Rony mandou uma carta desesperada para Harry antes de ir visitar Hermione e seus pais (sem contar o resto dos parentes) junto com a família. Segundo ele, seria mais ou menos como um jantar para as famílias se conhecerem, e isso era apavorante sem dúvida. Obviamente, Fred e Jorge não perderam a oportunidade de caçoarem até a última geração de Rony por causa disso.
Um dia depois do tal jantar, Rony mandou mais uma carta para Harry, contando todas as aventuras que passou na casa de Hermione naquele jantar. O pior aperto que Rony passou (e também o episódio mais engraçado) foi a enxurrada de perguntas que a avó de Hermione fez. Harry ficou bem uns cinco minutos rindo quando leu na carta que a velhinha tinha cuspido vinho na roupa de Rony quando ele contou que todos na sua família usavam uma lareira para se locomoverem.
Aparentemente, Hermione não teve coragem de mandar alguma carta para Harry a fim de comentar o que aconteceu no jantar. Foi Rony quem disse que ela estava incrivelmente envergonhada; só faltava abrir um buraco no chão para se esconder. Harry poderia imaginar a cena.
Não fazia muito tempo que Rony tinha reafirmado seu convite para Harry passar alguns dias na Toca quando Hermione fosse para lá. Mas, sinceramente, Harry não estava com muita vontade de ir. Primeiro, porque estava bem feliz com Sirius, e segundo porque visitar a Toca significaria ver Gina, e ele não estava disposto a isso. Rony contou que ela estava bem atarefada com suas aulas particulares e com a quantidade de coisa que tinha para estudar antes dos N.O.M.s, que ela realizaria no começo do seu sexto ano. Na realidade, Harry estava bem mais tentado a chamar Rony e Hermione para passarem uns dias na sua casa (e Harry gostava muito de dizer "sua casa"), do que ir visitar os amigos na Toca.
Naquela ensolarada manhã de verão, Harry tinha chegado um pouco mais longe na sua caminhada. No final da praia havia uma velha mansão em ruínas que instigava a curiosidade do rapaz. Os habitantes de Freshpeach diziam que ela era mal assombrada, mas Harry, sendo um bruxo, não acreditava nessas coisas. Hogwarts também era mal assombrada se parasse para pensar, e nem por isso deixava de gostar de lá, mesmo convivendo com Pirraça e o Barão Sangrento. No entanto, Harry ainda não tivera a oportunidade de chegar muito perto da tal casa para verificar se os boatos eram verdadeiros. Estranhamente, Sirius também parecia ter um certo receio daquele lugar, e uma das primeiras coisas que pediu a Harry, ou quem sabe, exigiu, foi que o rapaz se afastasse de lá. E Sirius não podia ter colocado mais vontade em Harry de visitar aquela casa quando impôs essa proibição.
Harry parou de andar e colocou as mãos nos bolsos da bermuda. Uma camiseta branca estava pendurada no seu ombro sobre seu peito nu. A água do mar ia e voltava, molhando seus pés sobre a areia fofa. E ele continuava observando, ao longe, a velha mansão abandonada. Era como se aquele lugar o atraísse. Ele precisava ver aquela casa mais de perto, mas não queria aborrecer Sirius, ou mentir para ele. A sua convivência com o padrinho estava tão boa que ele não queria estremecê-la. E se havia um assunto que fazia nascer uma discussão entre eles era aquela casa.
Por outro lado, era difícil se controlar quando olhava para aquele lugar. Era como se uma vontade insaciável e inexplicável impelisse seus pés a andarem sozinhos na direção de lá. E era exatamente o que estava acontecendo naquele momento. Novamente, os pés de Harry começaram a se movimentar, um após o outro sobre a areia molhada. E seus olhos não deixavam de focalizar a tal mansão.
- Ei, 'Arry!
Uma voz fininha penetrou nos ouvidos do rapaz, fazendo-o parar. Ele tirou as mãos dos bolsos e largou-as, suspirando com desânimo e frustração. "Não agora, Agatha...", pensou desesperadamente.
Quando se virou, viu exatamente a pequena pessoa que imaginou ao ouvir a voz. Uma menininha de seis anos de idade estava parada alguns metros atrás dele, acenando freneticamente enquanto as ondas batiam-lhe nas pernas curtas e molhavam seu vestido rodado e floreado, um tanto esfiapado nas pontas por ser velho e surrado. Seus cabelos loiros escuros e despenteados eram agitados pela brisa marinha e batiam no seu rosto sorridente.
- 'Arry! – ela gritou novamente, acenando ainda mais.
Harry suspirou derrotado e começou a se aproximar da garotinha. Ele sabia que, se não fizesse isso, ela viria correndo atrás dele de qualquer maneira. É, não seria ainda naquele dia que ele visitaria a tal casa mal assombrada.
Agatha Prescott era filha de um casal humilde de jardineiros da mansão dos Kendals, apenas mais uma das famílias ricas e esnobes que possuíam uma casa de veraneio na Praia das Andorinhas. Uma menina tagarela e extremamente verdadeira, até demais na opinião de Harry, Agatha vivia correndo e brincando sozinha na praia até o dia em que ela e Harry se conheceram numa situação no mínimo peculiar.
Os Kendals possuíam um cão de guarda bastante feroz chamado "Mordedor", que fazia Harry se lembrar com muito desgosto de "Estripador", o cachorro favorito de tia Guida. Um nome bastante sugestivo: morder era exatamente a diversão preferida do "Mordedor", e Harry teve o desprazer de conhecê-lo bem no dia em que ele ainda não tinha mordido nada.
Na primeira semana em que tinha chegado à Praia das Andorinhas, Harry estava entusiasmado até demais. Queria conhecer tudo ao mesmo tempo, e a mansão dos Kendals lhe chamou atenção por ser a mais extravagante da praia. Ele se aproximou do lugar para tentar dar uma olhada, mas Mordedor estava solto naquele dia e saiu correndo atrás dele, louco por uma mordida no novo vizinho. Harry acabou entrando no jardim dos Kendals pela porta dos fundos e subiu em um pessegueiro para se esconder e, provavelmente, ficaria lá até o anoitecer se não fosse por Agatha. Sendo filha dos jardineiros da casa, ela passava grande parte do seu tempo nos jardins da mansão e ouviu os latidos do Mordedor.
"Ei, você é um ladrão?"
, Harry ainda se lembrava perfeitamente da primeira frase que ouviu com a voz fininha e esganiçada da menina."Não, mas esse cachorro acha que sim!"
"Mordedor não distingue um ladrão de quem não é, ele apenas quer morder."
, ela disse rindo. "Mas você não tem cara de ladrão para mim...", ela continuou, analisando Harry em cima da árvore. "Ladrões não tem cara de estudiosos e nem usam óculos."Agatha não conseguiu tirar Mordedor debaixo da árvore só pedindo, então ela usou uma de suas "habilidades especiais", como ela mesma denominava. A menininha tinha uma boa mira e adorava usar seu estilingue para atirar pedras nas andorinhas da praia, então, ela atirou uma pedra bem no focinho de Mordedor, que saiu correndo, latindo e choramingando. Harry pôde descer da árvore e, a partir daí, Agatha nunca mais o largou.
Até que era divertido, e Harry se sentia bem em fazer companhia para aquela menininha solitária. Agatha ensinou-o a fazer castelos de areia, e Harry costumava caminhar pela praia com ela sobre os ombros. E, às vezes, a mãe da menina fazia umas tortas e uns bolos bem gostosos para Harry levar para casa, o que era a salvação para ele e Sirius nos dias em que a comida estava muito ruim.
- O que você está fazendo aí sozinha, menininha? – Harry perguntou assim que se aproximou de Agatha, abaixando-se para ficar do tamanho dela.
- Eu estava procurando você. – ela disse sorridente, colocando as mãos nos cabelos do rapaz e enchendo-os de areia da praia. – Sei que dia é hoje, mamãe me lembrou de manhã.
- E que dia é hoje?
- Hoje é seu 'niversário!
Harry riu. Aquilo só podia ser obra do Sirius.
- Quem te contou isso?
Agatha escancarou a boca para encher-se de fôlego, exatamente como fazia quando queria falar muita coisa em pouco tempo.
- O seu padrinho falou pra meu pai que falou pra minha mãe que falou pra mim que tô falando pra você! – ela falou a frase toda em cinco segundos, sem parar nas vírgulas para tomar ar.
Harry sentou, sem se importar em encher a bermuda de areia. Ele cruzou os braços e olhou para a menina, que era do seu tamanho sentado. Agatha o encarava com seus olhinhos castanhos piscando freneticamente, como sempre fazia quando estava animada com alguma coisa.
- E por que você estava me procurando?
- Porque mamãe fez uma coisa para você e quer que eu te leve lá em casa para você pegar. – ela se jogou na areia para apertar a mão direita de Harry com suas duas mãozinhas. – Vamo, 'Arry!
Ele ainda deixou que ela o puxasse por um tempo, fingindo estar pensando na possibilidade, enquanto a menina gritava para que ele a acompanhasse, puxando seu braço. Cinco minutos depois, Harry se levantou, colocou a camiseta e seguiu Agatha, que começou a reclamar no seu ouvido que queria que ele a carregasse nos ombros.
Eles entraram, como sempre, pela porta dos fundos, e Harry, como de costume, olhava para os lados para, ao menor sinal de Mordedor, se esconder. Mas não era necessário. Sempre que ele estava com Agatha, o cachorro não se aproximava de medo de tomar uma "estilingada" no focinho novamente.
- 'Li. – Agatha, que estava agora sobre os ombros de Harry, parou com sua distração de bagunçar e encher de areia ainda mais os cabelos do rapaz, e apontou para a casinha próxima ao mesmo pessegueiro onde Harry tinha subido para se proteger de Mordedor algum tempo atrás.
- Hum, que cheiro bom... – Harry comentou assim que contornavam o canteiro das gardênias. – O que a sua mãe está fazendo?
Agatha abriu a boca para falar, mas se arrependeu a tempo do seu impulso impensado.
- Não posso contar. É surpresa.
Mas ela não precisava dizer. Pelo cheiro, Harry já desconfiava que fosse alguma coisa relacionada a pêssegos.
A casinha dos Prescotts era bem simples e aconchegante. Tudo era pequeno ali dentro, o que dava a impressão de que era uma casa de boneca. A Sra. Prescott, apesar de pobre, era bem caprichosa, e tudo era muito arrumado na sua casa. Apesar de pequena, Harry achava aquela casa um lar bem melhor do que a grande mansão dos Kendals, que ele já visitara certa vez junto com Sirius, quando os dois foram convidados em uma pequena recepção de boas vindas.
Um sino que ficava na porta tocou quando Harry e Agatha entraram na casa. A pequena sala de estar ficava de frente a um jardim que o Sr. Prescott tinha feito para si mesmo e a família nos fundos da mansão; o verdadeiro jardim dos Kendals ficava na entrada da casa grande, e era bem maior e muito mais exuberante. Mas a vista dos Prescotts era agradável do mesmo jeito. Por uma grande janela entrava a luz do sol e o cheiro das flores, iluminando a pequena sala de estar mobiliada com artigos simples de madeira. Uma pequena televisão que não pegava direito estava sempre ligada no canal de desenhos, o favorito de Agatha.
- Quem está aí? – a voz da Sra. Prescott veio da cozinha.
- Sou eu, mamãe! – Agatha gritou com sua voz fininha em resposta. – Eu trouxe o 'Arry.
O rapaz riu e falou baixinho para a menina:
- Você não deveria dizer "o Harry me trouxe"? "Nos ombros"?
- Não. – ela disse de um gole só, sua teimosia imperando. Depois de fazer amizade com Agatha, Harry começou a pensar que nunca faria um amigo que não fosse teimoso. Agatha poderia competir em tom de igualdade com Rony e Hermione, e só perderia porque os dois treinavam juntos há vários anos no quesito "teimosia aguda".
- Venham aqui na cozinha! – a mãe da menina gritou.
Harry ia na ponta dos pés para não sujar o tapete com seus pés cheios de areia, o que era bem complicado. De qualquer maneira, Agatha sempre acabava sujando a casa, pois ela vivia cheia de areia e adorava balançar a cabeça de um lado para outro, fazendo com que a areia grudada nos cabelos se espalhasse pela sala. Quando os dois chegaram na porta da cozinha, a Sra. Prescott estava fritando batatas no fogão.
A Sra. Prescott era uma mulher baixinha e gordinha, com ares de comilona. Lembrava muito a Sra. Weasley, com exceção dos cabelos que, diferente da mãe de Rony, eram loiros escuros, bem como os de Agatha. Ela vivia na cozinha, ou então na horta, colhendo legumes. Quando estava na cozinha, estava sempre experimentando receitas novas e comendo, por isso era gordinha. Já o Sr. Prescott era um homem já com muitos cabelos brancos para sua idade, também baixinho, mas bem magro, devido ao seu trabalho exaustivo nos jardins. Porém, pelo que parecia, ele não estava em casa no momento.
- Ah, olá, Harry! - a Sra. Prescott cumprimentou sorridente. – Que bom que veio! Quer batatas fritas?
- Não, obrigado, Sra. Prescott. – o rapaz respondeu, enquanto Agatha se ocupava em mexer no seu cabelo como se estivesse catando piolhos. – Eu ainda nem tomei café e prefiro não comer batatas antes disso.
- Ainda não comeu? Pois então sente-se e coma um pedaço de pão, menino!
- Não, obrigado mesmo. – ele insistiu, encabulado. – Daqui a pouco eu vou voltar para casa, e meu padrinho já deve chegar com o café.
- Bem, se é assim que quer. – ela disse descontente, colocando as batatas em um prato forrado com papel toalha. Harry sabia que a maior alegria da Sra. Prescott era oferecer da sua comida para as pessoas. – Você sabe que aqui nós comemos cedo... Já estou fazendo o almoço, como pode ver.
Ela se virou para pegar algo na geladeira e finalmente pareceu notar que Harry ainda estava de pé e pior, que Agatha estava sobre seus ombros.
- Agatha! – ela recriminou. – Pare de se aproveitar do Harry e desça já daí!
- Ah, mamãe... – a menina reclamou. – Eu ainda não terminei de fazer os rolinhos no cabelo do 'Arry...
- Oh! – a senhora exclamou exasperada. – Harry, pode colocar ela no chão que essa menina anda muito folgada!
Harry riu.
- Eu não me importo, Sra. Prescott...
- Mas eu me importo! – ela disse com as mãos na cintura larga. – Pode por ela no chão e se sentar na mesa, menino!
Ainda rindo, ele colocou Agatha no chão, e a garotinha bufou, colocou as mãos na cintura pequena e imitou a cara que a mãe tinha feito. Harry se sentou em uma das três cadeiras da mesinha redonda que ficava no canto da cozinha, enquanto Agatha catava algumas batatas fritas para comer.
- É para o almoço, Agatha! – a mãe brigou. – Assim você vai estar de barriga cheia quando seu pai chegar para comermos.
Agatha lambeu os dedinhos cheios de sal e veio se sentar em uma cadeira perto de Harry.
- Mamãe, você não vai pegar o presente do 'Arry?
- Ah, claro! – a mulher exclamou, batendo palmas. – Eu tinha me esquecido por um segundo.
- Sra. Prescott, não precisa, eu... – Harry começou timidamente, mas a mulher já estava abrindo a geladeira e tirando um pacote embrulhado em papel laminado de lá de dentro.
- Ora, menino, não é incômodo nenhum. – ela falou com seu jeito bonachão, colocando o pacote sobre a mesa. – Você merece, é um menino tão educado! É seu presente de aniversário.
Harry sorriu de volta para a mulher, enquanto Agatha sorria de orelha a orelha e, sorrateiramente, tentava abrir uma brecha no pacote. A Sra. Prescott deu um tapinha na mão da menina.
- Deixe de ser gulosa, menina! Isso é do Harry.
- É bolo de pêssego! – ela choramingou. – Eu adoro bolo de pêssego, é meu favorito!
- Mas não é seu!
Quando a Sra. Prescott deu às costas aos dois para voltar a mexer no fogão, Harry se aproximou da garotinha e sussurrou, piscando para ela:
- Mais tarde você vai lá em casa comer um pedaço.
Ela abriu um sorriso mostrando os dentes e esfregou uma mão na outra, piscando de volta para o rapaz.
Harry ainda passou mais algum tempo na casa, ouvindo as lamentações da Sra. Prescott e todas as suas recomendações. Agatha interferia à todo momento, sempre dizendo exatamente o que estava pensando (o que, muitas vezes, era algo para não ser dito). Quando finalmente pediu licença para sair, a Sra. Prescott fez-lhe prometer que, depois que experimentasse o bolo, contaria se ele e o padrinho tinham gostado ou não e, diga-se de passagem, a Sra. Prescott adorava mais do que qualquer um receber elogios sobre sua comida. Agatha queria acompanhá-lo até a praia, mas sua mãe não permitiu, dizendo que ela tinha que almoçar, de modo que a menina só acompanhou Harry até o portão, argumentando que era só para Mordedor não atormentá-lo.
Quando chegou em casa, Harry notou que o carro amarelo estava estacionado perto do portão. Ele subiu as escadas da varanda de dois em dois degraus, observando o movimento suave que a rede (um dos seus lugares favoritos da casa) fazia ao sabor da brisa marinha.
- Estou em casa, Sirius! – ele gritou assim que cruzou a soleira da porta.
- Venha aqui na cozinha! – pôde escutar a voz do padrinho.
- Oh, não... Não mais uma das suas experiências gastronômicas!
- Pára de ser implicante e vem logo!
Um cheiro gostoso (o que era bastante esquisito) vinha da cozinha e enchia as narinas de Harry. Assim que o rapaz pôs os pés na cozinha, parou, estarrecido. A mesa estava repleta de pães, salgados, doces e sucos, numa quantidade bem maior do que era necessário para duas pessoas. Sirius tinha exagerado daquela vez.
- E então, o que achou? – o padrinho perguntou, cruzando os braços e sorrindo para Harry, suas costas apoiadas no armário da despensa.
- Então foi isso que você foi fazer tão cedo? – Harry perguntou, ainda olhando maravilhado para a mesa farta, enquanto depositava o bolo preparado pela Sra. Prescott sobre a mesa. – Comprar um café da manhã especial?
- Claro! – Sirius respondeu com uma animação contagiante. – Eu precisava fazer algo especial no aniversário do meu afilhado, não é?
Harry sorriu largamente e apoiou suas mãos na pia, ao lado de Sirius, os dois observando a mesa caprichada.
- Dessa vez você exagerou. – Harry comentou rindo. – Aqui deve ter comida para umas dez pessoas!
- Pelo menos vamos ter comida boa por uns três ou quatro dias. Talvez até mais... – Sirius olhou intrigado para o pacote que Harry tinha trazido consigo. – O que é aquilo?
- O presente que a mãe de Agatha fez para mim.
Harry se sentou, servindo-se de um pão de ricota, enquanto Sirius abria o pacote, revelando um bolo amarelo coberto por frutinhas da mesma cor.
- Deixa eu adivinhar... – o padrinho franziu as sobrancelhas. – Algo com pêssegos?
- Puxa, como você sabia? – Harry perguntou irônico.
- Tive uma premonição. – Sirius caçoou, sentando-se de frente a Harry. – Era lá que você estava? Na casa dos Prescotts?
- Sim, Agatha me encontrou na praia e pediu que eu fosse lá.
- Ah, claro... sua amiguinha faladeira. Ainda não acredito que você fez amizade com uma garotinha de seis anos de idade, Harry!
- Qual o problema?
- Você deveria ter feito amizade com uma garota com dez anos a mais que ela! Aproveitaria bem mais... É o que eu faria.
- As garotas daqui são todas umas "patricinhas". – Harry falou, encostando-se na cadeira e engolindo um generoso gole de suco de laranja.
- O que vem a ser "patricinhas"? – Sirius perguntou fazendo uma careta, entendendo patavina.
- Elas só pensam em roupas, garotos e em falar mal das próprias amigas. Não gosto de garotas assim.
Sirius revirou os olhos.
- Será que você não aprende nada comigo, Harry?
- Lá vem besteira...
- Você não precisa gostar... – Sirius o ignorou e começou a filosofar. – Só precisa aproveitar...
- Sirius, eu não sou um galinha.
- Por acaso isso é uma indireta?
- Você está dizendo isso.
Ele bateu as mãos na mesa, fazendo o suco de Harry se movimentar perigosamente dentro do copo.
- Hoje, eu vou te ensinar algo sobre a vida, Harry.
- Ah, é mesmo? Estou ansioso... – Harry zombou, tomando mais um gole do seu suco antes que Sirius o derrubasse no chão. O padrinho sorriu marotamente, seus olhos faiscando.
- Nós vamos passar seu aniversário longe dessa cidadezinha pacata, Harry.
O rapaz depositou o copo sobre a mesa, olhando intrigado para o padrinho. O que ele estava aprontando?
- E para onde vamos?
- Londres.
Sirius estava tão ansioso por sair, que nem deixou Harry ver direito o que tinha recebido de presente dos amigos. O rapaz só teve tempo de desamarrar seus presentes e correspondências das patas de Edwiges, Pichitinho e duas corujas das torres antes que Sirius já estivesse gritando para que ele se arrumasse para saírem.
- Deixa eu ir dirigindo... – Harry pediu no exato momento em que Sirius abria o carro, quase saltitante. O padrinho o encarou com as sobrancelhas erguidas.
- Você?
- É claro. Pra quê você está me ensinando a dirigir quase todas as tardes?
Uma das coisas que Harry mais gostava de fazer era dirigir, mesmo que fosse aquele carro amarelo extravagante. Quando percorriam distâncias pequenas, Sirius aproveitava para ensinar Harry a conduzir o carro, o que deixava o rapaz bastante animado. Sirius só não permitia que Harry usasse a moto, pois tinha um ciúme quase doentio dela. Mas o rapaz se contentava só com carro. Harry ainda não tinha aprendido todos os comandos especiais dele, como voar (o que era o mais difícil) e desaparecer, mas podia usar o carro perfeitamente sobre o chão. Sirius posicionou o braço sobre a porta e olhou para Harry daquele jeito que o rapaz conhecia: o jeito que ele sempre fazia quando queria provocá-lo.
- Você promete que não vai nos meter em um acidente? Lembre-se: sou jovem demais para morrer.
Harry bufou e cruzou os braços.
- Eu prometo.
- Levante sua mão e diga "eu prometo em nome da minha magia".
- Sirius, isso não é um julgamento!
- Apenas faça!
De mal grado, Harry levantou a mão e fez o que o padrinho pedia, enquanto ele ria irritantemente.
- Só até Freshpeach. – Sirius falou assim que os dois entraram no carro e Harry colocou a chave na ignição. – Não quero você dirigindo na estrada, é perigoso.
- E desde quando você se importa com isso?
Sirius lhe lançou um olhar mortal, fazendo Harry rir.
Excetuando-se algumas "engasgadas" que o carro deu pelo caminho, até que Harry dirigiu bem, e mesmo Sirius teve que admitir isso. A cidadezinha de Freshpeach estava do mesmo jeito de sempre: sua maior atração ainda era a pracinha central, as velhinhas ainda passeavam pela rua fofocando, crianças corriam atrás do carrinho de algodão doce e casais namoravam sob a fonte. Assim que a estrada começou, Harry e Sirius trocaram de lugar, e o rapaz passou a apreciar a paisagem do banco do passageiro.
- Eu já mandei uma carta para o Ministério da Magia marcando uma data para seu teste de aparatação, Harry. – Sirius comentou assim que eles sobrevoavam, invisíveis, uma cidade, e o rapaz apreciava as pessoas do tamanho de formigas lá embaixo.
- Teste? – o rapaz repetiu, virando-se para olhar o padrinho. – Eu não vou nem treinar primeiro?
- Você faz tudo isso no mesmo dia, é claro que às vezes pode demorar mais um pouco dependendo do nível de magia do bruxo. – Sirius começou a explicar, enquanto o carro furava uma nuvem. – Mas fique tranqüilo, você não precisará de muito tempo para aprender. É óbvio que o seu nível de magia é alto, Harry.
O rapaz ainda não estava convencido o suficiente.
- Espera um pouco. Eu sempre ouvi falar que aparatar era algo muito complicado.
- E é mesmo. – o padrinho olhou de esguelha para ele, seriamente. – Mas só para quem tenta fazer isso sem acompanhamento de pessoas entendidas no assunto. É algo que você pode aprender em um, dois ou no máximo três dias; não é como uma das matérias de Hogwarts que você precisa ficar anos estudando para aprender direito. Aparatar é apenas um truque, e somente os funcionários do Ministério sabem explicá-lo de um jeito que as pessoas entendam.
- Quer dizer que se você tentasse me ensinar eu provavelmente me fragmentaria pela Inglaterra?
- Provavelmente.
- E quando vai ser o teste?
- Daqui a uma semana. Eu queria mais cedo, mas preferi marcar nesse dia porque assim você vai ter companhia.
- Companhia? Quem?
- Rony. O pai dele conseguiu marcar o seu teste para o mesmo dia que o dele.
Harry riu.
- É óbvio, o Sr. Weasley é Ministro da Magia.
- Sempre é útil ter bons contatos, não é? – Sirius brincou, enquanto descia o carro suavemente em uma parte deserta da estrada.
Não demorou muito tempo para chegarem em Londres. Depois de tanto tempo vivendo em Freshpeach, Harry estava um pouco desacostumado com a movimentação de uma cidade grande. Quando ele perguntou a Sirius aonde iriam, o padrinho fez mistério, mas Harry logo notou assim que pararam em frente a um bar sujo e escondido: o Caldeirão Furado.
- Vamos ao Beco Diagonal, então?
- Somente para eu resolver umas coisas, depois vamos dar uma volta pela Londres trouxa mesmo.
- Se você me avisasse eu poderia ter trazido a lista de Hogwarts. – Harry falou, assim que os dois saltaram do carro.
- Não viemos aqui fazer compras de livros chatos. Viemos nos divertir.
O que Sirius queria fazer no Beco Diagonal, além de se reabastecer de galeões e trocá-los por libras no Gringotes, era algo extremamente sigiloso, tão secreto que Sirius marcou um lugar e uma hora para se encontrarem depois que ele tivesse resolvido seu problema. Harry estava bem desconfiado que a coisa tinha a ver com seu emprego no Ministério, e ele até já estava tentando adivinhar qual seria esse trabalho. A qualquer hora dessas tentaria arrancar do padrinho esse segredo, ou pelo menos alguma pista.
Enquanto dava uma volta pelo Beco, Harry encontrou vários conhecidos seus que já estavam fazendo as compras para Hogwarts. Lilá e Parvati estavam comprando livros na Floreios e Borrões e apenas cumprimentaram Harry com acenos. No Artigos de Qualidade para Quadribol, Harry encontrou Peta Spencer e Colin Creevey, a artilheira e o batedor do time da Grifinória, respectivamente. Dênis Creevey, o outro batedor, estava mais além na loja de doces. Ernie Macmillan estava experimentando vestes novas na Madame Malkin.
Sirius chegou atrasado no lugar onde tinha marcado com Harry: a sorveteria Florean Fortescue. O dono do estabelecimento, Florean, fez questão de oferecer um sorvete triplo por conta da casa, e Harry estava saboreando-o enquanto observava os transeuntes do beco. Sirius chegou quando Harry estava quase terminando o sorvete.
- Desculpe. – ele falou abofado, sentando-se de frente ao rapaz. – Está esperando há muito tempo?
- Só uns dois dias...
Sirius fez uma careta e arregalou os olhos para o sorvete de Harry.
- Você comprou?
- Não, ganhei.
- Hum... Ser "Harry Potter" tem suas vantagens, não é?
- Às vezes.
- Sobrou algo para mim?
Harry entregou a taça vazia ao padrinho.
- Quem mandou você demorar?
Sirius encarou a taça com um olhar de cachorro carente.
- O que você foi fazer por aí, hein? – Harry perguntou tão rápido que Sirius engasgou com a própria saliva.
- Coisas minhas.
- Tem a ver com seu trabalho secreto?
- O que isso importa?
Harry se aproximou do padrinho e sussurrou:
- Você é um espião, Sirius?
Sirius teve um ataque de tosse que durou bem uns três minutos.
- Você é doido, garoto? – ele exclamou numa voz tão baixa que Harry teve dificuldade em ouvir. – Fala isso baixo!
- Então você é mesmo?
- Vamos conversar sobre isso depois.
- Ah, não, você não vai escapar de mim!
- No carro... – Sirius rosnou.
A primeira coisa que Harry fez quando os dois entraram no carro foi reiniciar o assunto.
- E então? Você é mesmo um espião?
Sirius revirou a boca e ligou o carro.
- Por que você quer saber?
- Porque quero saber.
- Grande resposta.
- Não foge do assunto. – Harry respirou fundo e cruzou os braços. – Sirius, eu sou seu afilhado, acho que sou confiável, não é?
- Você é confiável, mas tem coisas que não contamos nem às pessoas mais confiáveis. – o padrinho disse sabiamente e sem saber tocou num calo de Harry. – Aposto que tem coisas a seu respeito que você não me conta.
Sirius estava certo. Desde que começou a morar com ele, Harry ainda não tinha tido coragem de contar o que acontecera no final do ano, naquela detenção com sua ex-professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Samantha Stevens. Coincidentemente, a mesma mulher também era ex-namorada de Sirius, e Harry tinha beijado-a numa situação bastante esquisita. E ninguém sabia disso.
- Percebo que estou certo. – Sirius falou, depois do silêncio que Harry fez.
Harry suspirou.
- Ok, tudo bem pra mim se você não quer contar.
- Não é que não queira. Eu não posso, entende?
- Tudo bem.
O carro dobrou uma esquina.
- Mas você está certo. – Sirius continuou. – É o máximo que posso te dizer.
- Hum.
- Não fique bravo. – o padrinho riu. – Olha, se eu pudesse te daria os detalhes. Mas saiba que é bem divertido e eu gosto muito. Eu me sinto vivo com esse trabalho.
- Não estou bravo. Só estou pensando no que você disse. – Harry divagou, encostando o braço na janela e observando a rua.
- Que parte do que eu disse?
- Sobre não contar certas coisas.
Sirius sorriu, e seus olhos pareciam guardar um segredo.
- Quando você estiver pronto, Harry, pode me contar. Eu estarei te ouvindo.
Harry se virou para olhá-lo, intrigado. O padrinho parecia bastante concentrado no trânsito.
- Há alguma coisa que você sabe, Sirius?
Subitamente, ele ficou sério.
- Não. Só saberei quando me contar.
Harry se encostou no banco e voltou a olhar a rua pela janela. Os dois ficaram em silêncio por um bom tempo, apenas ouvindo seus próprios pensamentos.
Eles almoçaram em um restaurante que Harry mesmo escolheu. Sirius parecia um morto de fome e comeu tudo que tinha direito. Harry comeu o suficiente para ficar estufado e não querer comer por três dias.
Depois do almoço, Harry levou o padrinho ao cinema, e Sirius ficou maravilhado com a tela grande. Por três vezes ele lhe perguntou se aquilo não era mesmo feito com mágica, e quando Harry respondeu que não, Sirius não acreditou.
- Tem certeza que não usam magia?
- Tenho. Eu já disse isso vinte vezes, Sirius. Quer que eu te explique de novo como é o mecanismo?
- Não, é muito complicado.
Mas Harry ficou pensando no assunto, e quando eles pararam de andar para uma velhinha vestida de preto com uma cara de bruxa má passar por eles, Harry comentou:
- Mas às vezes tenho minhas dúvidas se Steven Spielberg é mesmo trouxa...
- Ahá! – Sirius exclamou. – Eu não disse? Não é possível que aquilo tudo seja feito por trouxas.
Harry deu de ombros e fez uma anotação mental para nunca mais pensar em voz alta perto de Sirius quando o padrinho começou a enumerar os motivos de por que cinema tinha que ser algo feito por bruxos.
A noite caiu quando Harry e Sirius estavam dando uma volta de carro pelos pontos históricos da cidade. Era uma noite quente e abafada de verão. Incrível como quase dava para esquecer que eles viviam em um mundo totalmente alheio àquilo; um mundo mágico onde estava havendo uma guerra. Mas Harry não queria pensar em seus problemas justamente no dia do seu aniversário. Já tinha pensado o bastante sobre sua relação sangüínea com o causador da guerra.
- Para onde vamos agora?
Sirius levava o carro por uns becos mal iluminados, bastante movimentados por jovens dos mais variados tipos: desde "patricinhas" até "punks". Harry achou engraçado um garoto com cabelo roxo, mas estranhamente, Sirius achou normal; ele disse que conhecia uma auror que vivia trocando as cores do cabelo e, na maioria das vezes, ela usava as cores mais esdrúxulas.
- É agora que eu vou te ensinar a aproveitar a vida, Harry.
Ele parou o carro a apenas uma quadra de um pub bastante movimentado. O lugar estava cercado de jovens de vários tipos. Harry se apoiou sobre a capota do carro e encarou o padrinho enquanto ele fechava o carro.
- Sirius, só uma coisa.
- O quê?
Harry riu.
- Eu só tô vendo jovens aqui, você não acha que você...
- Tá me chamando de velho, é?
- Bem...
Sirius também se apoiou na capota e fingiu um olhar ofendido.
- Pessoas da minha idade também freqüentam esses lugares, se quer saber. E eu não sou velho, só tenho... trinta e cinco.
Harry alçou as sobrancelhas.
- Trinta e sete. – Sirius admitiu rabugento.
No caminho para o pub, Sirius mexeu com duas mulheres, uma que parecia ter uns vinte e poucos anos, e outra um pouco mais velha. O estranho foi que a mais nova deu bola para ele, enquanto a mais velha nem ligou, apesar de ter olhado-o de cima a baixo por um bom tempo. Harry se sentiu um nada. Ele tinha dezessete, e Sirius, com vinte anos a mais, fazia mais sucesso. Tirou os óculos e guardou-os no bolso, e despenteou ainda mais os cabelos, deixando a franja cair sobre os olhos. O ruim era que ele não estava vendo nada direito, mas isso não fazia muita diferença. O lugar estava tão cheio que ele duvidava que conseguiria ver alguma coisa mesmo com os óculos.
O pub era iluminado por luzes coloridas e tinha aquele cheiro desagradável de perfumes diferentes misturados com suor e fumaça de cigarro. Quando Harry comentou isso com o padrinho, ele argumentou que Harry é que parecia ser o mais velho entre dois. E um velho chato. Harry se calou e passou a observar as pessoas, enquanto Sirius pedia bebidas no balcão comprido de granito.
Havia uma mulher de seus trinta e poucos anos que não tirava os olhos de Sirius. Ela tinha cabelos longos, extremamente pretos e escorridos, uma pele pálida e olhos tão negros que pareciam duas jabuticabas. Eles eram estreitos e davam a aparência de captarem tudo ao seu redor. Suas unhas eram pintadas de um vermelho berrante, e ela segurava um copo que, de longe, dava a impressão de ser uísque. Na outra mão, um cigarro que queimava rapidamente, e ela parecia não se importar. A mulher piscou para Harry e apontou com o copo Sirius ao lado dele.
- Eu pedi um coquetel de frutas para você, Harry, tudo bem? – Sirius perguntou, enquanto empurrava um copo grande, colorido e espumante para o rapaz. Na mão dele havia um copo com um líquido escuro.
Harry desviou o olhar da mulher e tomou um gole do seu coquetel, que no início tinha um gosto bem adocicado, mas queimava na garganta no final. Quando Harry levou a mão à garganta, pigarreando, Sirius riu e recomendou:
- Tem um pouco de rum nisso, vai com calma porque não está acostumado.
Harry se virou e olhou aquela mulher pelo canto dos olhos. Ela ainda observava Sirius com os olhos estreitos.
- Sirius, tem uma mulher que não tira os olhos de você... – Harry falou calmamente, indicando com o rabo dos olhos a mesa onde estava a mulher.
- Onde? – Sirius perguntou olhando de um lado para outro e quase se engasgando com sua bebida.
Harry quase teve que gritar no ouvido dele para que o padrinho escutasse alguma coisa no meio de toda aquela barulheira.
- Na mesa do canto, encostada na parede. Aquela que tem os cabelos pretos escorridos e usa unhas vermelhas.
Sirius moveu um pouco a cabeça para ver o lugar que Harry indicava, e o rapaz virou-se discretamente para trás, tentando ver a mulher também. Ela sorriu com os lábios fechados de um jeito sedutor, e piscou para Sirius com seus olhos pintados de preto. Quando Harry se virou para olhar o padrinho, os olhos dele estavam arregalados e sua boca escancarada.
- Oh, cara! É mesmo a Any?
- Você a conhece? – Harry perguntou, franzindo as sobrancelhas. Sirius tomou um generoso gole da sua bebida, e parecia que ele ia soltar fogo pela boca quando terminou.
- É claro que eu conheço. – ele retrucou alarmado, olhando de vez em quando para a mulher. – Ela estudou comigo em Hogwarts!
Harry olhou de esguelha para a mulher, que agora fumava soltando baforadas de fumaça redondas no ar.
- Bem que passou pela minha cabeça que ela parecia uma bruxa...
- Ai, o que eu faço? – Sirius perguntou, tomando outro gole da sua bebida. Harry, que estava observando uma garota de cabelos laranja dançar girando em torno de si mesma, se virou para olhar novamente o padrinho.
- Você vem perguntar pra mim? Não era você que ia me ensinar a aproveitar a vida? – Harry zombou, rindo.
- Claro, ria do seu padrinho.
- Qual o problema de ir lá falar com a tal mulher?
- Você diz isso porque não conhece a Any. – Sirius retrucou seriamente. – Por acaso você olhou para ela?
- O que ela tem demais tirando que é... – Harry olhou de esguelha novamente para a mulher, que ainda observava Sirius atentamente. - ...ligeiramente... das trevas?
Sirius riu.
- Boa definição. Tá, nesse ponto tudo bem. Ela só parece "das trevas", mas não é no sentido literal da palavra, você me entende, não é? – Harry entendia. – O problema não é esse. O problema é que ela era apaixonada por mim na época de Hogwarts.
- Hum... isso é ruim?
- É péssimo quando a mulher é tão manipuladora quanto Any.
Harry se virou no banco giratório e apoiou os cotovelos no balcão, de maneira que dava para observar a mesa da mulher.
- Então você está encrencado, Sirius, porque você vai ter que falar com ela.
- Você não está falando sério.
- Sirius, vai ficar chato se você não for. Ela já te reconheceu, e se você não for até lá, pela cara dela não duvido que ela venha aqui.
- Harry! – Sirius juntou as mãos, olhando para o rapaz como se estivesse vendo-o pela primeira vez na vida. – Você poderia ser um bom afilhado e ajudar seu padrinho, não é?
Harry fuzilou-o com o olhar.
- O que você quer?
- Vá até lá e a distraia enquanto eu saio discretamente pelos fundos.
- Nem por um milhão de galeões!
- Harry...
- Pra começar, eu nem conheço a mulher... não tenho assunto com ela...
- Fale que é o filho da Lílian!
Harry levantou as sobrancelhas.
- E o que isso tem a ver agora?
- Ela era amiga da Lílian.
O rapaz refletiu por alguns instantes.
- Eu não vou fazer isso. O problema é seu, Sirius, você tem que resolvê-lo. Quem manda você ter saído com metade da população feminina de Hogwarts na sua época?
- Metade não é o bastante. – Sirius sorriu marotamente.
- Às vezes eu desconfio que muito do que você diz seja generosamente aumentado. – Harry pressionou o padrinho com os olhos estreitos.
- Tudo o que eu já te contei sobre aquela época era verdade! – Sirius reuniu toda a sua dignidade que lhe restava. – Por que você está dizendo isso?
- Porque você está com medo de se aproximar da dama de preto.
- Eu não estou com medo! – Sirius bateu seu copo no balcão, e o garçom olhou cansado para ele.
- É cada um que aparece... – ele murmurou, levantando os olhos para o céu e começando a lavar alguns copos.
- Ah, é? – Harry desafiou. – Pois então quero ver você ir falar com ela!
- Pois eu vou!
Sirius se levantou decidido, olhou para o seu copo, balançou-o e engoliu o que restava da bebida de um gole só. Olhou para Harry desafiadoramente:
- Você vai ver o poder de um Black agora, Harry Potter!
O rapaz lançou-lhe um olhar displicente e tomou um pequeno gole do seu coquetel. Sirius se empinou e seguiu seu caminho para a mesa da tal mulher, enquanto Harry os observava. Sirius falou alguma coisa para ela assim que se aproximou da mesa, fazendo ela rir, e depois puxou uma cadeira. Harry parou de olhá-los assim que os dois começaram uma conversa bastante envolvente e animada. Ótimo, ele pensou, tomando mais um gole da sua bebida; agora que Sirius tinha arranjado companhia, o que ele faria?
Harry tinha que admitir para si mesmo o que Sirius sempre lhe dizia: ele não tinha jeito com garotas. Seu padrinho tinha bem mais charme que ele, e isso era inegável. Harry, além de ser desajeitado, tinha aquela estúpida timidez que o atrapalhava sempre. Ele não sabia como Sirius tinha lhe convencido a vir naquele pub, mas agora não tinha mais volta. Sirius parecia estar se divertindo, e Harry não seria o chato que pediria para ir embora.
Ele começou a movimentar o seu coquetel dentro do copo, observando a espuma que se formava e pensando no que seus dois melhores amigos diriam se soubessem o que Harry estava fazendo na noite do seu aniversário. Rony, depois de explicarem para ele o que era um pub, provavelmente acharia bem engraçado e interessante. Já Hermione reprovaria, do jeito que ela era uma garota toda certinha.
- Uma tequila, mon petit. – uma voz feminina, com um sotaque francês forçado, disse.
Harry olhou para a garota que tinha se sentado ao seu lado, exatamente no banco que Sirius tinha deixado vazio. Ela usava uma blusa preta colada ao corpo e uma saia de pregas roxa. Sua meia calça de rede revelava pernas bem delineadas, Harry não pôde deixar de notar. Os seus cabelos eram curtos e pretos, espetados para todos os lados com gel. Os lábios estavam pintados de roxo, bem como as unhas e os olhos. No pescoço, uma coleira de espinhos, e no nariz, um piercing. Harry se sentiu careta.
- Obrigada. – ela disse sem o sotaque, quando o garçom trouxe sua bebida. A garota levou a tequila aos lábios, suas unhas ressaltando sobre o copo, mas parou ao perceber que Harry estava observando-a. – O que foi, petit amour? – ela perguntou, novamente forçando o sotaque.
- Oh, nada. Me desculpe. – ele se apressou em dizer e tomou um pequeno gole do seu coquetel.
Ela sorriu e balançou o piercing que tinha no nariz.
- Está me achando esquisita?
- Não. Só estou me sentindo um pouco... deslocado depois de... ver você.
Ela riu agudamente e tomou um bom gole da sua tequila.
- Não se sinta assim. Você tem o seu estilo, mon amour. E eu tenho o meu. – ela olhou-o de cima a baixo. – E mesmo com seu estilo comportado, você ainda é uma gracinha, petit.
Harry ficou um pouco sem graça.
- Mas me conte. – ela bebeu mais um pouco. – Você está sozinho?
- Bem... – ele pensou por alguns instantes sobre o que deveria responder. Estaria ela se referindo a estar com uma garota ou ter vindo desacompanhado? Harry se decidiu pela verdade. – Vim com meu padrinho, mas ele já arranjou companhia.
- Oh, que meigo! – ela exclamou sorrindo. Harry se sentiu incomodado com a observação, então acrescentou:
- Eu moro com ele, sabe, e como queria sair me senti mal em deixá-lo sozinho em casa.
Harry não sabia de onde tinha tirado aquilo, só sabia que por mais que tivesse que inventar essas histórias, não deixaria que Sirius risse dele por uma semana por não ter conseguido conversar direito com uma garota.
- Ah, sim. – a garota respondeu parecendo mais aliviada. Harry se sentiu um pouco bobo. – Entendo perfeitamente. É muito legal da sua parte entrosar seu padrinho, quem é ele?
Harry apontou para a mesa onde Sirius e sua companhia riam alto.
- Uh, mas ele é um pedaço, hein?
Aquilo não estava indo bem. Por que Sirius era "um pedaço" e Harry tinha que ser apenas "uma gracinha"? Ele pigarreou e tentou mudar de assunto:
- E você? Está sozinha?
- Ah, estou esperando duas pessoas. – ela suspirou, movendo seu braço, e as inúmeras pulseiras de metal fizeram barulho. – Uma amiga e meu namorado. Sabe, eu vim direto, mas ela não tinha como vir, então eu pedi para ele ir buscá-la em casa.
- Oh, sim...
Então ela tinha namorado? Realmente Harry não tinha sorte.
- A propósito! – ela estendeu a mão cheia de anéis de espinhos. – Sou Lauren.
- Harry. – ele apertou a mão dela, sentindo os anéis pinicarem, e depois os dois deram um gole em suas bebidas.
- E então, Harry? Você está sem namorada?
A pergunta foi tão direta, que Harry o coquetel queimou mais do que o normal a garganta do rapaz.
- Erm... bem... eu posso conviver com isso por enquanto.
Lauren riu.
- Você é bem espirituoso, sabia? – Harry achou que ela acabara de ter uma primeira impressão equivocada dele. – A minha amiga que vai vir aí também está sem namorado.
- Ah, é? – Harry pensou em perguntar se ela era bonita, mas preferiu ficar calado.
Lauren baixou a voz, e ficou difícil ouvi-la no meio de toda aquela música e vozes altas.
- Eu estou querendo arrumar uma companhia para ela, mas ela fica doida quando eu digo isso. – ela riu.
- Talvez ela queira escolher sozinha. – Harry sugeriu.
- Ah, mas não pode. – Lauren disse convicta. – Ela é muito devagar... Sabe, perto de mim, ela é certinha demais...
Depois de ver Lauren, Harry começou a achar até Fred e Jorge certinhos demais também.
- Ela odeia quando eu digo que ela é certinha. – Lauren prosseguiu, rindo, e fez um gesto negligente com as mãos cheias de anéis. Harry achou esquisito como ela perdia fácil o sotaque afrancesado, mas achou melhor não perguntar o porquê. – Mas o que posso fazer se ela é?
Lauren tomou mais um bom gole de sua tequila e acabou com ela.
- Mais uma, mon petit! – ela levantou a mão e novamente forçou o sotaque. – Você não vai beber mais, Harry?
- Ainda não acabei o meu. – ele sorriu. De fato, ele demoraria para acabar; ainda estava pela metade.
- Como eu estava dizendo... – Lauren continuou, mas logo foi interrompida pelo garçom trazendo sua segunda dose de tequila. – Oh, obrigada, mon petit. – ela se virou para Harry, cruzando as pernas. – Como eu dizia, ela está sozinha, e eu acho isso muito estranho, porque ela é uma garota incrível!
Harry começou a duvidar. Talvez Lauren só estivesse tentando "desencalhar" sua amiga.
- Nós nos conhecemos desde pequenas, sabe? Éramos vizinhas. Mas agora nós só nos vemos nas férias de verão, porque eu me mudei pra França. Faço faculdade lá.
- Então é daí que vem o seu sotaque? – Harry não se segurou.
Ela riu mais uma vez.
- É sim, mas talvez você tenha percebido que ele é forçado. Na verdade, eu sou inglesa mesmo, mas acho o sotaque francês tré belle... gostaria de falar como eles falam...
Harry pigarreou para esconder seu riso.
- Mas então... Eu sou uns dois ou três anos mais velha que essa minha amiga... Ela tem... – Lauren franziu as sobrancelhas. – Quantos anos você tem, Harry?
- Dezessete. – ele sorriu e completou: - Estou fazendo aniversário hoje...
- Oh! – ela levou os dedos cheios de anéis à boca roxa. – Que interessante! Então vou ter que pagar uma bebida para você! Mon petit! – ela chamou o garçom novamente.
- Não, Lauren, não é necessário! Eu... ainda nem terminei a minha...
- Oh, mon amour, então... já sei. – ela chamou o garçom de novo. – Coloque essa bebida do meu acompanhante na minha conta, mon petit!
Harry ainda ia tentar argumentar, mas Lauren foi inflexível.
- Minha amiga deve ter quase a mesma idade que você. – Lauren falou, mirando Harry de cima a baixo. – Talvez um pouco mais nova... Se eu não me engano ela completa dezessete em dezembro ou janeiro... ou seria fevereiro?
- Você é amiga dela de infância e não lembra a data do aniversário dela? – Harry perguntou sem entender.
- Ah, eu sou desmemoriada assim mesmo. – Lauren riu. – Sou capaz de esquecer meu próprio nome, se não prestar atenção... Mas ela faz aniversário no inverno, tenho certeza.
Lauren se virou e parecia estar procurando algo com os olhos. Dois segundos depois eles se arregalaram, e ela levou as mãos à boca.
- Oh, não acredito! Eles chegaram!
Harry tentou enxergar alguma coisa, mas como ainda estava sem óculos, tudo estava muito embaçado. Além disso, havia tantas pessoas, que ele não conseguia entender como Lauren conseguiu achar seus amigos no meio de toda aquela gente.
- Eu vou chamá-los aqui, mon amour. – ela disse com um sorriso de orelha a orelha. – Então você vai poder conhecer minha amiga. Cuide da minha tequila enquanto estou fora!
Estranhamente, Harry teve o súbito pressentimento de que estava se metendo em uma encrenca. Mas não podia voltar atrás, já estava metido nisso até o pescoço. Só esperava que a tal amiga de Lauren não fosse feia... ou chata. Talvez estivesse pedindo demais.
Ele olhou para Sirius, que agora tinha se levantado e dançava alegremente com a tal de Any. "É, para quem não queria ir falar com ela, até que ele está bem animadinho...", Harry pensou sarcasticamente. Deu mais um gole no seu coquetel e logo ouviu o sotaque forçado de Lauren:
- É por aqui, petit. Ah, você não está envergonhada, está?
- É claro que não! – uma segunda voz replicou aborrecida. – É que você sempre me mete em confusão, Lauren!
- Relaxe e aproveite, petit. Você está estressada hoje!
- Você me estressa, Lauren! Quantas vezes eu já não repeti pra você não fazer isso?
- Vinte milhões de vezes, mas eu nunca ouço, e você já deveria saber.
- Só espero que ele não seja certinho. Se ele for entediante você me paga!
- Você acha que eu conversaria com alguém entediante? Além disso, certinha é você!
- Eu não sou certinha!
Harry tomou um grande gole do coquetel, sentindo a garganta ferver mais do que das outras vezes. Aquilo estava indo mal... péssimo...
- Chegamos, petit! Harry, mon amour, esta é minha amiga Kat.
Quando Harry se virou, achou que seus olhos o enganavam. Não, ele estava sem óculos e por isso não estava vendo direito. Ou então aquele coquetel estava afetando seu raciocínio. Ele rapidamente tirou os óculos do bolso e colocou-os no rosto. Mas seus olhos não o enganavam, infelizmente. Parada, ao lado de Lauren, e com a expressão mais estupefata do mundo, bem como Harry também deveria estar, estava a pessoa que ele menos imaginava que fosse encontrar dentro de um pub em Londres.
Katherine Willians.
