Parte I
Eu estava apavorada. Eu não sabia há quanto tempo eu me escondia em meu quarto, fingindo não existir, fazendo com que minha presença não fosse notada. Phil havia voltado para casa com seus amigos, bêbados e drogados, mais uma vez. Eu sabia que se eu não me escondesse, que eu seria feita de empregadinha servindo-os de cerveja barata e drogas, acender baseados para eles era uma das coisas que eu era obrigada a fazer, e logo depois de ser humilhada e de ser chamada de nomes terríveis, viria o pior... Eles abusariam do meu corpo e se eu tentasse fugir ou escapar eu teria uma arma apontada para a cabeça de minha mãe ou da minha própria, enquanto eles me obrigavam a me subjugar a suas vontades. Phil olharia tudo aquilo com seus olhos mortos com sorriso sombrio e nojento, esperando pela sua vez.
E minha mãe estaria drogada demais para se importar, ou para tentar impedi-los de me fazer de objeto.
E quando eles fossem embora, se eles fossem, eu me arrastaria até o chuveiro, me encolhendo como uma bola embaixo da água fria, para lavar os machucados e tentar limpar minha alma.
Como eu vim parar aqui?
Há cinco anos eu era uma garotinha de 11 anos feliz. Eu tinha um pai e minha mãe sorria toda vez que o via, e o sol parecia brilhar mais forte naqueles momentos. Charlie, era como meu pai se chamava, ele era chefe de policia e um dia ele foi chamado com urgência em sua folga, ao que parece estava tendo um tiroteio no banco central de Los Angeles. Ele nunca mais voltou para casa depois daquele dia. Minha mãe desmaiou em seu funeral. E eu era apenas uma garotinha desesperada que não entendia porque aquilo havia acontecido com seu pai.
Um ano depois mamãe bebia todos os dias e eu havia assumido a responsabilidade de cuidar dela, e no dia seguinte ela não saia de seu quarto, eu sabia que ela dormia com a camisa favorita do meu pai, afinal ela não havia deixado jogar nada que foi dele. Em um desses dias algo havia mudado, ela havia voltado para casa acompanhada por um cara estranho de cabelos cumpridos e bigode sujo.
Então depois desse dia minha vida virou de cabeça para baixo, literalmente. Aos 13 fui obrigada a experimentar todos os tipos de drogas pelos amigos de minha mãe e do Phil, como um animal de laboratório, enquanto todos assistiam chapados e riam. Desde então não havia um único dia em que eu não fosse estuprada.
Aos 16, depois que todos foram embora e Phil e mamãe estavam desmaiados de tão chapados que estavam, fugi de casa. Como eu nunca mais havia ido à escola, e nem mais havia visto nenhum parente desde o funeral de Charlie, eu não conhecia mais ninguém nesse mundo. Eu não sabia para onde ir, estava sozinha, com frio, fome e sede. Eu era mais magra que o normal e todas as minhas roupas eram largas em mim.
Andei por muito tempo, sem um lugar exato para onde ir, fui parar na frente de um grande e bonito hotel. Ele era bem elegante, coisa de gente rica mesmo, e ali na escuridão me encolhi em um canto, perto do beco onde o lixo era jogado fora, eu já era mais do que acostumada com o cheiro de podridão e de comida em decomposição, aquele era um cheiro presente em minha vida, pois quando eu não estava servindo os amigos do Phil eu ficava trancada em meu quarto, e minha mãe passa mais tempo chapada do que sã para se preocupar em limpar a casa ou fazer comida, o que eu comia eram restos das festas que eram dadas em casa. Fiquei observando pessoas entrando e saindo do hotel, devia estar tendo algum tipo de festa ali, pois todas as pessoas que estavam naquele local eram muito bem vestidas. Fiquei ali parada imaginando como poderia ser minha vida, se naquele dia meu pai não houvesse saído de casa, talvez eu teria uma vida perfeita, a vida que toda garota de 16 anos sonhava em ter.
–Olá. –ouvi uma voz rouca me chamando, eu não havia sentido a aproximação de ninguém então me assustei, encolhendo-me mais ainda em meu canto. –Calma menina não vou te machucar.
Fiquei olhando para cima apavorada, pensando em correr o quanto antes dali. Olhei para os lados, apavorada procurando uma saída. Encolhi-me mais um pouco já sentindo as lagrimas escorrendo.
–Calma, não vou te machucar. –o estranho de voz bonita repetiu e se abaixou na minha frente e secou uma lagrima que pendia em meu queixo. Ele virou meu rosto de um lado para o outro e suspirou forte, então enfiou a mão dentro do casaco tirando um objeto prata e brilhante de lá o colocando em seu ouvido. –Emmett traga o carro ate o outro lado da rua. –ele deu a ordem e se levantou estendendo a mão para mim. –Venha, eu vou cuidar de você. –fiquei surpresa, porque desde a morte de meu pai nunca ninguém mais cuidou e pela primeira vez em muito tempo, eu me senti segura, ali naquele beco escuro com aquele estranho de voz bonita e a promessa de que cuidaria de mim.
O carro preto parou a meio fio, um homem grande e corpulento veio para o nosso lado.
–Edward quem é essa? –era assim que o estranho de voz bonita se chamava então?
–Me ajude a leva-la para o carro. –fiquei surpresa quando ele, Edward, me pegou em seu colo com facilidade.
–Para onde vamos? –o tal de Emmett perguntou, abrindo a porta para que Edward entrasse comigo em seu colo.
–Para o apartamento no centro. –ele me embalou em seus braços por todo o trajeto, eu não entendia por que ele me tratava daquela forma, além de meu pai, nenhum homem havia me tratado bem como ele estava fazendo. –Como é seu nome menina bonita? –ele perguntou quando o carro estacionou em frente a um prédio elegante.
–Bella. –sussurrei com a voz rouca, afinal durante muito tempo eu não tive a necessidade de falar.
–Bella, eu sou Edward Cullen. –olhei em seus olhos pela primeira vez, eles eram tão verdes e sinceros, ele tinha uma expressão carinhosa enquanto olhava para mim.
–Já ouvi seu nome em algum lugar. –sussurrei enquanto entravamos no prédio e o porteiro nos encarou com uma expressão chocada.
–Provavelmente sim. –sua expressão não era mais carinhosa e sim seria.
–Sr. Cullen, aconteceu alguma coisa? –o porteiro o seguiu até o salão de entrada.
–Tudo sob controle, Mike. –ele disse ainda com a expressão seria no rosto.
O salão de entrada era muito bonito e iluminado. Entramos em um elevador, ele era todo espelhado e eu pude me ver e ver Edward com clareza e então me dei conta do quão cômica era a situação e entendi a reação do porteiro do prédio ao ver Edward entrando comigo carregada em seu colo, me agarrando em seu terno como se minha vida dependesse daquilo. Lá estava eu, refletida no espelho. Cabelos sujos, grudados no rosto manchado por lágrimas, olheiras profundas das noites não dormidas.
Edward digitou algo no painel do elevador e entramos em uma sala escura e me colocou em pé e esperou até que eu me estabilizasse para me soltar.
–Espere aqui. –ele saiu e então as luzes começaram a acender, dando vida ao lugar mais chique que já vi na vida.
Só a sala de estar daquele lugar era maior do que a minha casa, elegantemente mobiliada com moveis escuros e sofás de couro. Tudo ali naquela casa esbanjava dinheiro e luxuria, e eu só havia visto apenas um único cômodo daquele lugar. Distrai-me por um momento observando aquele lugar, então ouvi barulhos vindos do outro cômodo.
–Vem. –Edward apareceu do meu lado, pegando em minhas mãos e me arrastando até o próximo cômodo da casa. Era a cozinha, e como a sala ela era muito bonita, equipada com tudo do bom e do melhor, e do mais caro também. –Coma. –ele colocou um prato de sopa fumegante a minha frente e uma cestinha com pães.
–Obrigada. –eu não sabia que estava com tanta fome assim, em instantes a sopa já havia acabado e eu ainda sentia meu estomago roncar de fome.
–Mais? –Edward sorriu torto vendo que eu ainda não estava satisfeita.
–Por favor. –pedi sentindo meu rosto corar de vergonha, mas eu não podia evitar, há muito tempo eu não comia tão bem.
Depois que já estava satisfeita, Edward levou a louça suja até a pia e eu me levantei para lavar.
–Deixa ai que as empregadas limpam depois. –ele disse e mais uma vez ele me arrastou para algum outro cômodo da grande casa, pois apesar de ser um apartamento era muito maior do que muitas das casas que já vi.
Ele abriu a porta de um quarto. Era grande e tão bonito quanto o resto da casa, mas percebi que não dormia ninguém ali, ele era tão impessoal. Devia ser o quarto de hospedes.
–Você vai dormir aqui a partir de agora. –ele disse entrando comigo. –Tem um banheiro onde você pode se lavar e eu vou arrumar algumas roupas para você se vestir por enquanto, amanhã eu peço para alguém ir comprar roupas para você.
–Você nem me conhece, porque esta me ajudando tanto? –perguntei, afinal não havia razão para ele fazer isso. Eu conheço a crueldade do mundo, sei como as pessoas podem ser mesquinhas e egoístas, e sei também que ninguém faz nada por alguém sem ter alguma razão, nada nesse mundo é de graça. Ninguém pode ser tão perfeito quanto Edward Cullen parece ser, algum defeito ele devia ter.
–Sinceramente? –ele parecia estar perguntando aquilo a si mesmo. –Nem eu mesmo sei. –ele respondeu enquanto saia do quarto, fechando a porta atrás de si.
Despi-me de minhas roupas imundas, caminhando nua até o banheiro do quarto, mais uma vez me espantei com a beleza daquele lugar. Era muito grande, e meus olhos foram atraídos até a banheira que havia ali e pensei porque não? Talvez eu nunca mais tivesse essa oportunidade novamente, então eu iria aproveita-la.
Quando dei por fim meu banho, me olhei no grande espelho que havia ali. Eu já podia ver alguma diferença em minha aparência, há muito tempo eu não me via limpa daquele jeito, eu até podia ser bonita, não fossem as cicatrizes que eu tinha espalhadas pelo corpo. Eu tinha olheiras fundas em meus olhos, meu cabelo era sem vida e sem corte, ele batia no inicio do meu bumbum e ele poderia ser bonito se fosse cuidado. Assim como eu, se eu tivesse sido cuidada por alguém, talvez eu fosse bonita. Mas só o que eu vejo quando olho no espelho é apenas um corpo apático e magro, olhos escuros e sem vida.
Ouvi batidinhas na porta do banheiro.
–Bella eu trouxe algumas roupas para você. –ouvi a voz bonita de Edward dizer.
–Obrigada.
–Qualquer coisa eu estarei lá embaixo, boa noite. –ouvi a porta do quarto se fechando.
Em cima da grande cama de casal havia uma calça de moletom cinza e uma camisa branca, elas ficariam enormes em mim, com certeza deveria ser roupas dele, mas mesmo assim essas eram roupas muito melhores das que eu costumava vestir.
Despois que me vesti eu não sabia o que fazer ou como agir. Eu poderia descer para conversar com Edward, mas o que eu falaria com ele? Lógico que ele não queria saber nada sobre mim. Resolvi me deitar e dormir, já que amanhã eu iria embora e não teria mais essa mordomia toda. Quando me deitei senti o cansaço de anos cair sobre mim. E pela primeira vez dormi sem sonhos ou pesadelos.
Abri meus olhos lentamente me espreguiçando. Olhei para os lados, confusa por não reconhecer o lugar em que estava. Então me lembrei de tudo o que havia acontecido na noite anterior e me levantei rapidamente, ainda meio atordoada pelo sono. Por quanto tempo será que eu havia dormido?
Fui ao banheiro lavar meu rosto. Olhei para minhas roupas caídas pelo chão e suspirei, triste por saber que teria que voltar para aquela vida que eu levava. Troquei de roupa e desci.
–Bella aonde você vai? –ouvi a voz bonita de Edward me chamando, olhei em sua direção.
–Eu vou embora, pra minha casa. –dei de ombros.
–Porque?
–Olha eu agradeço a sua ajuda, mas eu não posso ficar.
–Você não quer ficar?
–Não é isso é que...
–Então você não vai a lugar algum, Isabella. –ele disse, sua voz carregada de autoridade. De repente eu tive um vislumbre de um Edward totalmente diferente, não aquele carinhoso e gentil que eu conhecia.
–Como você sabe meu nome? –perguntei.
–Não é muito difícil adivinhar. –ele se aproximou. –Agora venha, tenho algo para você.
Edward me arrastou até a cozinha, me apresentando um magnifico café-da-manhã.
Daquele dia em diante minha vida deu um giro de 360°. Edward Cullen me apresentou a um mundo que eu não conhecia, um mundo de coisas bonitas, boas e caras. Mesmo quando eu ainda tinha meu pai comigo eu nunca poderia imaginar que tudo aquilo existia. Seria esse o meu próprio conto de fadas?
Roupas, sapatos, professores e perfumes caros. Eu não estava acostumada com aquilo. Eu vivia com uma pulga atrás da orelha e me sentia uma invasora na vida de Edward e sua família, todos muito receptivos, com aquele ar de família americana perfeita, ricos e bonitos, na verdade eles eram perfeitos. Esbanjavam glamour até mesmo no jeito de falar.
Eu não tinha certeza se eu queria tudo aquilo. E com o tempo, conhecendo melhor a personalidade de Edward, que sempre havia me respeitado muito, não sendo chauvinista como os homens que eu havia conhecido em minha vida, eu fui me apegando a ele mais e mais.
Edward nunca havia perguntado nada sobre mim e nunca perguntei nada sobre ele. Tínhamos um relacionamento de amizade, nada mais do que isso. E eu como uma menina boba que era estava totalmente apaixonada por ele, por aquele cara que havia me salvado no beco escuro, e me levado para sua casa para cuidar de mim.
Dois meses haviam se passado e eu não havia tido mais noticias nem de Phil e muito menos de Reneé, o que eu agradecia, eu nunca mais queria vê-los em minha frente. Apesar de amar minha mãe, eu sabia que nunca mais poderia voltar para casa, afinal que tipo de mãe joga sua filha na boca do lobo, como ela fez comigo?
Eu havia feito até mesmo amigos. Alice e Emmett, irmãos de Edward e seus respectivos pares, Jasper e Rosalie, até os pais de Edward, Esme e Carlisle, pais de Edward, haviam se tornado meus amigos.
Hoje eu acompanharia Edward em um jantar de gala que ele havia sido convidado. Enquanto ele estava no trabalho havia mandado algumas pessoas para me arrumar. Alice, havia acabado de chegar com o vestido, para me ajudar a terminar de me arrumar.
–Acho que Edward gosta de você. –ela disse enquanto fechava meu vestido, um longo azul de cetim, simples e com um pequeno decote na frente.
–Porque você diz isso? –perguntei, sentindo meu rosto corar e meu coração bater como as asas de um beija-flor.
–Sei lá. –ela deu de ombros. –Apesar de tudo o que nossa família é, as mulheres costumam se jogar aos seus pés e mesmo Edward podendo conseguir quem quiser, nunca o vi com ninguém, pelo menos não assim como ele é com você.
–Como assim tudo o que sua família é? –ela me olhou chocada com os olhos em pratos.
–Ah você sabe, pelo dinheiro. –ela se levantou rapidamente. –Bom, tenho que ir, Edward já esta para chegar e eu tenho que me arrumar também.
Achei aquela atitude estranha, pois mesmo no pouco tempo em que a conheço, sei que Alice gosta de falar pelos cotovelos e aquela era uma atitude um tanto suspeita vindo dela. Logo Edward chegou e foi se arrumar.
–Bella? –ele deu batidinhas na porta do quarto que agora era meu e foi entrando, ele ficou parado me encarando por um tempo. –Você está linda.
–Obrigado. –corei. –Você também está bonito. –ele vestia um smoking muito elegante, seu cabelo organizado e penteado com gel, muito diferente do que eu via todos os dias, o casual desorganizado, como se ele tivesse acabado de acordar.
–Aqui. –ele me entregou uma caixa de veludo preta e o encarei confusa. –É um presente.
–Edward eu não posso aceitar. –disse já lhe devolvendo a caixa sem nem ao menos ver o conteúdo.
–Assim você me ofende. –ele me devolveu a caixa. –Pegue Bella, é seu. –ali estava novamente o tom autoritário dele. Ele o usava algumas vezes comigo, quando eu não queria aceitar algo que ele me desse.
–Edward, não precisa. –ele ergueu uma sobrancelha e ficou me encarando, por fim me dei por vencida e abri a caixa me surpreendendo, ao ver um delicado conjunto de colar e brinco de pedras azuis em formato de coração.
–São de safiras. –ele disse pegando o colar e vindo para trás de mim o colocando em meu pescoço. –E é seu. –sua voz suave e bonita disse muito perto de meu ouvido e me senti confusa com aquela frase cheia de significados. –Vamos? –ele me estendeu e a mão.
O motorista parou o carro em frente ao mesmo hotel em que havia ido parar antes de conhecer Edward.
O salão de festas muito bem decorado e iluminado, com comida e bebida em abundancia, uma banda tocava musicas calmas como plano de fundo. Logo encontramos a mesa da família Cullen e nos juntamos a eles. Edward não parou por um segundo, sempre alguém o chamava para conversar aqui e ali e eu fiquei o tempo todo ao seu lado, pois ele fazia questão de me arrastar com ele pra cá e pra lá.
–Quer dançar? –ele disse baixinho em meu ouvido e eu me senti arrepiar com a sua aproximação. Olhei para o lado e vi Esme e Alice dando risadinhas.
–Eu não sei dançar. –eu disse envergonhada, afinal eu cresci em um mundo totalmente diferente do dele, eu estava acostumada com a miséria em que vivia e aquilo tudo era muito diferente. Eu me sentia um peixe fora d'água.
–Depende de quem te conduz. –ele sorriu e me levou até a pista de dança, onde alguns casais se divertiam. –Você está tão linda hoje. –ele acariciou meu rosto, guiando-me confiante no ritmo da musica calma que dançávamos.
–Edward. –Emmett estava parado ao nosso lado com uma expressão seria no rosto. –Telefone. –ele apontou para o objeto prateado em suas mãos.
–Mais tarde eu retorno. –Edward se voltou para mim.
–É Jared. –Emmett disse e então a expressão leve que Edward carregava consigo desde que saímos de casa mudou rapidamente para uma séria e preocupada.
–O que ele quer? –ele perguntou num tipo de rosnado, sem nem ao menos me soltar.
–É melhor sairmos daqui. –Emmett fez um aceno discreto em minha direção e a expressão de Edward se suavizou por alguns segundos.
–Bella, vá com a minha família, logo eu volto para você. –e então ele me soltou e seguiu Emmett em direção as escadas que levavam para uma sacada.
Tinha algo de estranho na reação de Edward, algo que me incomodava. Não o obedeci. Dei alguns minutos para então segui-lo. A adrenalina pulsava em minhas veias enquanto eu segurava o vestido e me apoiava no corrimão enquanto subia as escadas. Assim que cheguei no topo da escadaria pude ouvir a voz alterada de Edward.
–Como assim o carregamento foi interceptado? –ele rugiu. -Jared, faça o que você tiver que fazer, mas esse carregamento tem que estar amanhã entregue para os Volturi. –eu espiava por uma fresta da porta que dava para a sacada, Edward andava de um lado para o outro. –Molha a mão dos caras. –ele deu uma risadinha sinistra. –O quanto for necessário. Ligue-me mais tarde para me manter informado.
Depois de desligar o celular Edward ainda andou de um lado para o outro tentando se acalmar.
–Jared quase perdeu o carregamento de narcóticos para a policia italiana. –Edward disse para Emmett.
–Como assim? Ele não tinha feito o esquema para ultrapassar a alfandega sem nenhum problema? –Emmett perguntou surpreso.
–Ele é um incompetente e provavelmente estamos alguns milhões menos ricos. –Edward suspirou pesado.
–Mas se ele conseguir colocar as drogas pra dentro da Itália estaremos alguns milhões mais ricos. –Emmett deu uma risadinha e Edward o acompanhou. Eu observava tudo chocada.
–Pois é irmão. –Edward deu um tapinha nas costas do irmão. –Vamos descer.
Eu estava assustada, pois não tinha pra onde correr, quando de repente as portas abriram e Edward e Emmett me olhavam chocados.
–Bella... –não tive outra reação e tudo o que fiz foi correr. Correr como se minha vida dependesse disso. –Bella espera! –ouvi Edward gritar.
Agora eu sabia de onde eu reconhecia o nome Edward Cullen. Não só traficante de drogas, mas também traficante de pessoas e de órgãos também, um verdadeiro mafioso. Responsável por muitas mortes que a policia estadunidense não podia desvendar, responsável pelo sumiço de pais de famílias, crianças inocentes, e pelo vicio de milhares de pessoas no mundo. Os Cullen eram um dos maiores distribuidores de drogas do mundo e uma das famílias mais perigosas do país. Vivendo no mundo que eu vivia, era meio que impossível nunca ter ouvido aquele nome, eu só não havia associado às informações ainda, pois eu estava vivendo em uma bolha por todo esse tempo.
Passei correndo pelo saguão, tropeçando no meu salto. Parei para arrancar os sapatos e continuar correndo.
–Bella. –Alice veio em minha direção.
–Me deixa em paz! –eu gritei, assustando os convidados da elegante festa.
–Bella. –ouvi a voz de Edward e corri o mais rápido que pude, me misturando entre as pessoas e por fim saindo do hotel, respirando o ar gelado da noite.
Eu sabia que Edward logo me acharia, mas tudo o que eu queria era fugir daquilo tudo. Por causa de gente como ele minha mãe estava onde estava agora, afundada em seus vícios. Por causa de gente como ele minha vida era um verdadeiro inferno. Ele era pior do que Phil, e aquilo me repugnava naquele momento.
E como um presságio de que tudo poderia ficar pior, começou a chover. O céu desabava em minha cabeça. Eu não tinha nenhum casaco para me proteger do frio e meus pés descalços doíam e com certeza estavam machucados.
Eu não sabia muito bem para onde ir, eu só tinha um lugar para voltar e era para minha mãe e Phil. Não, eu não voltaria para aquela vida. As ruas de Los Angeles estavam vazias, eu podia ouvir o som das sirenes ao longe, afinal uma cidade como essa nunca parava. Sempre teria um criminoso a solta...
Neste instante uma luz forte se fez presente, fazendo com que as gotas grossas da chuva parecessem pequenos cristais. Pude ouvir o chapinhar de um pneu no asfalto. O carro andava devagar, logo ao meu lado, mas preferi ignora-lo.
–Bella. –a voz bonita me chamou. –Bella, por favor entra no carro. –me arrisquei a olhar de canto de olho e vi a janela da limusine de Edward abaixada, ele estava me encarando lá de dentro.
Apressei o passo. Ouvi um resmungar e então o barulho do carro se cessou. Um barulho de porta batendo forte. Comecei a correr, eu sabia que ele viria atrás de mim. Eu sentia a adrenalina correndo em minhas veias, a essa altura meu vestido já havia sido destruído e minhas lágrimas se misturavam com as gotas da chuva. Eu sentia o desespero querendo tomar conta de mim, mas eu precisava correr, pra bem longe... Então braços fortes me prenderam. Eram como se fossem feitos de aço, me mantendo presa ali, com o calor do corpo dele, sem saída.
–Por favor, Bella, vamos sair dessa chuva. –ele pediu com sua boca próxima em meu ouvido, era como seda, macia e aveludada, enviando arrepios em meu corpo que não tinham nada a ver com o frio. Eu fiquei estática, nunca senti nada parecido com aquilo antes. –A gente precisa conversar. –sussurrou ele em meu ouvido esquentando meu corpo, mesmo estando frio pela chuva.
Eu não queria conversar, eu só queria fugir dali, mas mesmo assim cedi a sua insistência e deixei que ele me arrastasse para dentro do carro, sem se preocupar que ambos estávamos ensopados e que provavelmente estragaríamos os bancos do carro. O motorista deu a partida e se dirigiu ao apartamento de Edward Cullen, enquanto eu apenas me enrosquei do outro lado do banco e encostei a cabeça no vidro, olhando a chuva cair lá fora. Tentando manter minha mente vazia e livre dos últimos acontecimentos, tentando esquecer de tudo o que me acontecera até agora e não lembrar que Edward era um dos 'provedores' da minha desgraça.
Lembro-me de já ter ouvido Phil comentando em casa que a mercadoria dos Cullen era mais refinada. E o meu único pensamento depois de ouvir aquele comentário era que eu odiava os Cullen. Eu sabia quem eles eram, no mundo em que fui obrigada a viver, não havia ninguém que não soubesse da fama dos Cullen, e do que geralmente acontecia com quem devia a eles. Mas como eu poderia odiar os Cullen que conheci? Quando eles eram tão gentis e carinhosos comigo, alguém que eles mal conheciam e que não faziam ideia de onde veio e de quem era antes?
Porque fui tão burra em não ligar os nomes antes, assim eu poderia ter fugido logo no começo, ai talvez eu tivesse a esperança de continuar viva, de que minha mãe não teria mais um corpo para enterrar, isso se ela tivesse um corpo. Mesmo depois de tudo o que aconteceu em minha vida ter sido parcialmente culpa de minha mãe, eu não podia deixar de me preocupar com ela. O que aconteceria a ela se eu morresse, como ela agiria, ela se importaria ou estaria tão chapada a ponto de nem se importar se sua única filha e família havia morrido? Será que ela sentiu minha falta nesses dois meses que estive fora vivendo em uma bolha de hipocrisia, falsidade e crueldade?
O carro parou, mas fingi não perceber, eu não queria ter que enfrentar tudo o que estava por vir agora. Eu tinha muito medo.
–Vem Bella. –ele disse com sua voz bonita me estendendo sua mão. Olhei para seu rosto e o ignorei completamente indo para a chuva, dispensando o guarda chuva que Mike, o porteiro, gentilmente nos trazia. Marchei em direção ao elevador.
Edward estava em meu lado em segundos, tão encharcado pela chuva quanto eu. Ele apertou o botão de seu andar e entramos no elevador. Pude me ver no reflexo do espelho. O vestido destruído, maquiagem borrada, o cabelo que antes tinha um cuidadoso penteado, se desfazia em meus ombros.
Assim que a porta do elevador se abriu corri. Edward foi mais rápido e me interceptou em meio ao corredor.
–A gente precisa conversar. –ele segurou em meus ombros.
–Não... –segurei um soluço. –Eu não quero. –então comecei a chorar desesperadamente.
–Não, não chore, por favor, minha Bella. –ele me abraçou e sussurrou palavras carinhosas me acalentando em seus braços. –Por favor, Bella me deixe cuidar de você. –ele implorou me colocando a sua frente, limpando as lágrimas que escorriam por meu rosto.
–E-eu... –gaguejei entre os soluços.
–Venha. –ele ame arrastou para um cômodo da casa que nunca estive. Seu quarto.
Lá dentro ele abriu meu vestido, me despindo dele e do meu colar e brinco, me deixando apenas com a roupa de baixo, evitando me tocar ele terminou de soltar meu cabelo, deixando-os caídos totalmente em meus ombros. Ele me levou então para o banheiro, ligando a água da banheira a enchendo. O vapor da água nublou um pouco o banheiro, Edward havia me colocado cuidadosamente dentro da banheira de água quente. Eu ainda chorava, agora por estar em conflito comigo mesma. Como eu poderia odiá-lo se eu o amava?
Fiquei por um tempo, parada, olhando para a parede de azulejo preto a minha frente. Edward estava empenhado em cuidar de mim. Resolvi falar tudo o que eu tinha guardado dentro de mim.
–Eu fui estuprada por diversas vezes, fui obrigada a me drogar para o divertimento dos outros. Fui feita de objeto e bichinho de estimação desde que Phil entrou em nossas vidas, eu fui uma criança feliz, um dia, mas então papai... –não, lembrar dele agora faria tudo muito pior. -Sabe por que tudo isso aconteceu em minha vida? –finalmente olhei para Edward ele negava veemente me encarando. –Por causa de gente como você. –ele abaixou sua cabeça, retirando as mãos de mim e se sentando ao lado da banheira, a cabeça em mãos, a imagem de um homem desesperado. –Quando fugi de casa eu queria estar longe desse mundo e olha onde eu parei bem no olho do furacão.
–Bella não é bem assim... Me deixa explicar. –ele me encarou, seus olhos verdes desesperados.
–Explicar o que, você não tem que me explicar nada. –dei de ombros, afundando a mão embaixo das bolhas de sabão. –Eu só não quero morrer... –sussurrei. –Perdi muito tempo da minha vida, eu só queria recuperar tudo o que eu perdi.
–E porque você morreria? –o encarei com um olhar que dizia 'francamente'. –Você não... Você não pode achar que eu faria uma barbaridade dessas com você. –ele balançava a cabeça freneticamente. –Desde que eu vi você naquele beco, com medo e machucada, tudo o que eu sempre quis foi cuidar de você, eu amei você desde que vi seus olhos. –fiquei chocada com sua revelação. –Nunca acreditei nessa coisa toda de amor, o único amor que conheci foi o dos meus pais e irmãos, mas se você quiser eu largo tudo, dou todo meu dinheiro para a caridade e tento viver uma vida honesta, por você eu largo tudo, é só você pedir, mas se você quiser você também pode ir embora, eu não vou te impedir ou te machucar, eu juro. –ele respirou fundo. –Só não me odeio, por favor.
–Como eu poderia? –coloquei uma mão em seu rosto trazendo-o para perto de mim, roçando delicadamente meus lábios nos seus, não foi exatamente um beijo, mas foi o suficiente para eu me sentir tonta, e fazer com que algo que nunca senti antes aflorar na boca do meu estomago, algo primitivo, era desejo.
Logo aquele simples roçar de lábios se tornou um beijo de verdade. Quente e molhado. Tudo o que eu queria era sentir Edward em mim, eu queria me sentir desejada pelo menos uma vez na vida. Desajeitadamente levei minha mão até os botões de sua camisa branca, abrindo-os e a afastando por seus ombros. Edward segurou meu pulso.
–Bella não...
–Por favor, por favor... –continuei o beijando, espalhando beijos em sua mandíbula e pescoço, desesperada para que ele me quisesse também.
Não demorou muito para Edward retribuir minhas caricias. E logo ele entrava na banheira junto comigo, completamente nu, nunca achei a imagem de um homem nu bonita antes. A visão do corpo dele era magnifica aos meus olhos.
Quando ele se sentou a minha frente uma boa quantidade de água se espalhou pelo chão, nós rimos juntos, descontraindo o momento, era a primeira vez que eu ria em anos. Edward me levou de frente para ele retirando o que restava de minhas roupas. Apertando cada pedacinho de meu corpo em suas mãos grandes e macias. Seus dedos massageavam lentamente os músculos entre minhas pernas, mandando arrepios por todo o meu corpo quando ele colocou um dedo dentro de mim. Gemi com a sensação maravilhosa causada em mim. Sua boca estava ocupada com um seio meu. Eu me inclinava em direção ao seu corpo, pedindo, implorando por mais, enquanto eu segurava com força seu cabelo, incitando meu quadril em sua mão, querendo sentir mais daquela sensação. Edward retirou suas mãos de mim, segurando-me pelo quadril, quando senti a ponta de seu membro me preenchendo, confesso que fiquei tensa no começo, mas logo sensações de prazer se espalhavam por todo meu corpo. Aquilo era tão bom, era sempre assim quando um homem amava uma mulher, sem dor nem humilhação? Eu desconhecia a sensação de sentir prazer até aquele momento.
Eu levantava e descia meu quadril contra Edward e ele fazia os movimentos contrários aos meus. Logo algo foi crescendo dentro de mim e eu senti uma explosão de prazer e logo em seguida fui preenchida pelo liquido de Edward, eu não senti nojo como senti das outras vezes. Aquilo foi muito bom, foi uma sensação que fez algo se encaixar dentro de mim e eu me senti completa naquele momento, ali perdida em seus braços.
–Eu te amo. –sussurrei caída em seus braços, tentando acalmar minha respiração, sentindo seu corpo ainda encaixado no meu enquanto ele desenhava pequenos círculos na base de minhas costas, fazendo a pele ali formigar com a sensação.
Edward se levantou comigo da banheira e pegou uma toalha, secando cada pedacinho do meu corpo e me enrolando em um roupão felpudo. Pegando-me em seu colo e me levando para o quarto, lá ele afastou a colcha da cama e nos deitou ali, comigo de costas para ele, me abraçando e nos cobrindo, me mantendo aquecida ali em seus braços.
–Durma minha Bella. –ele sussurrou e então todo o cansaço do dia fez com que meus olhos se fechassem rapidamente, me levanto ao mundo dos sonhos.
