Inspirada nas personagens criadas por J.J. Abrams e equipe , portanto não me pertencem. As histórias são apenas diversão, não têm fins lucrativos.


I.

Broyles me chamara. Minha intuição pressentia que algo estava errado. O tom de voz, talvez. Não devia ser boa coisa. Procurei afastar o pensamento da minha mente. Não queria pensar em coisas ruins, não neste momento. O exato momento onde as coisas pareciam estar melhorando.

As coisas pareciam melhores, mais suportáveis, porque finalmente ele estava ao meu lado. Que coisa estranha é amar. Exteriormente eu era a mesma, continuava com as minhas roupas simples, com o uso parcimonioso das cores, com os meus gestos contidos. Mas por dentro eu estava diferente. Eu não me sentia mais sozinha. Eu sabia que ao final do dia teria alguém para falar com liberdade. E, agora eu podia tocá-lo. Eu podia tocá-lo, sem medo de estar fazendo algo impróprio, sem medo de ser comparada ou rejeitada. E principalmente, eu sentia que o destino me fizera uma concessão. Ele permitira que alguma coisa desse certo para mim. O destino não costumava facilitar a minha vida.

Era por isso que eu dirigia com um nó na garganta. Eu não via Peter desde ontem. Ele havia sido convocado por Broyles e Nina Sharp, que viera de Nova Iorque. Agora era a minha vez. Alguma coisa estava errada. Mas eu procurava prestar atenção no tráfego e fazer pequenas listas para ocupar meu pensamento. Presentes de Natal. Livros dos quais eu gostava. Atores. Atrizes. Capitais de países. Ele não me ligava desde ontem. Talvez algum problema com Walter. Ou aquela maldita máquina que o fizera sangrar. Eu tinha medo daquela coisa. Já no desenho, entregue pelo observador, ela evocava a morte. Tentei novamente o número de Peter. Chamava, mas ele não atendia.

Peter Bishop olhou o celular. Era Olivia, pela terceira vez. Pela terceira vez ele deixava de atender. Não estava ainda preparado para falar com ela. Broyles talvez acabasse contando tudo, assim lhe poupando a vergonha. Sentia-se um covarde.

Ela entrou no prédio. Foi diretamente ao gabinete de Broyles. Nina estava lá e não parecia preocupada . Broyles entrou logo em seguida. Olivia teve a impressão de que ele parecia contrariado, mas não perguntou nada. Segurou a ansiedade. Para sua surpresa, foi Nina Sharp quem começou:

-Bem, Agente Dunham, precisamos colocá-la a par de alguns acontecimentos ocorridos ontem.

Pausa. Broyles agora olhava para o chão. Provavelmente para os seus sapatos.

-Já ouviu falar da máquina de escrever Selectric251? Ela foi apreendida pouco antes do seu regresso.

-Sim, Peter me explicou como funciona. Era o meio que ela utilizava para se comunicar com o outro lado.

Olivia invariavelmente falava ela ou a outra.

-Exatamente. Ela está no prédio da Massive Dynamic, em Nova Iorque. Ontem, às 8:24, a máquina começou a funcionar. Havia uma mensagem para Peter Bishop.

Olivia ficou gelada. Broyles percebeu sua palidez. Ele mesmo continuou.

-A mensagem avisava que alguém estava atravessando e, dada a delicadeza da situação, Nina convocou a mim e a Peter – o principal interessado.

-Por que ele é o principal interessado, senhor? Não pode ser mais direto?

-Chegaremos lá, Olivia. Existem várias implicações.

-Quem vai atravessar?

-Na verdade, já atravessou. Ontem à noite. Está sob cuidados médicos. Nós providenciamos os recursos necessários, toda a tecnologia da Massive Dynamic foi disponibilizada. – explicou Nina Sharp.

-Para quem?

-Para a outra Olivia Dunham.

Ela tremeu como se tivesse sido esbofeteada, mas aparou o golpe.

-Eu não estou entendendo, senhor. Que motivo ela teria para voltar?

Nina e Broyles trocaram um olhar rápido, que Olivia percebeu claramente. Broyles, pigarreou.

-Acontece, Olivia, que a sua versão alternativa encontra-se em avançado estado de gravidez.

Ele parou, mas ela não esboçou reação.

-Eu preferi falar com Peter primeiro, afinal...

-Então o filho é dele?- a voz dela era um fio.

-Bem, Olivia, segundo ele mesmo confirmou, as datas coincidem.

Aquilo foi demais. Ouviu algo como um zumbido perfurando seus ouvidos. Ela se levantou. Nina Sharp e Broyles foram apanhados de surpresa. Ele teve o impulso de detê-la, mas sentiu que ela estava muito nervosa. Desistiu. Antes de fechar a porta, ela jogou a pergunta:

-Onde ele está?

Broyles desconversou.

-Olivia, eu achei melhor eu mesmo explicar a você. Temos que tratar as coisas de forma profissional. Como seu superior...

Ela não ficou para ouvi-lo completar a frase.


Pensou em sair direto do prédio, mas antes sentiu o estômago revirar. Procurou um banheiro e vomitou todo o café da manhã. As têmporas latejavam. Respirou fundo. Tentou controlar a náusea. Sentia que o chão lhe faltava sob os pés.


Broyles ligou primeiro pra o agente Lincoln Lee. Mandou que ele ficasse de olho em Olivia e não a deixasse sair do prédio. Em seguida ligou para Peter Bishop.

-E então?- a voz de Peter soava ansiosa.

-As coisas não correram bem, Peter. Ela não teve uma boa reação. Já era de se esperar.

-Onde ela está?

-Em algum lugar do edifício, o agente Lee e a segurança estão monitorando. Não se preocupe.

-Eu deveria ter ido falado diretamente com ela.

-Agora é tarde para lamentar. –disse Broyles com rispidez.


Agora é tarde para lamentar. Peter sente uma coisa estranha. Apesar do ressentimento que sentia pela outra, a notícia da paternidade aqueceu seu coração. Mas ao mesmo tempo sente vergonha, com Olivia ele sempre foi tão cuidadoso. Como se fosse preciso. Olivia não faria esse tipo de coisa. Não engravidaria sem medir as consequências. Mas a culpa era metade dele. Precisava falar com ela. Como pudera imaginar que ela aceitaria tudo passivamente? Que mulher, com sangue nas veias, aceitaria uma situação como aquela sem dizer nada?


O agente Lincoln Lee estava preocupado com Olivia Dunham. Os acontecimentos do dia anterior só serviram para reforçar o péssimo conceito que formava de Peter Bishop. Ao que tudo indicava, ele deixara o serviço sujo para Broyles. Um dos seguranças que monitoravam as câmeras, indicou que Olivia estava descendo em um dos elevadores. O agente Lee foi esperá-la.

-Olivia...

-Estou de saída, Lincoln.

-Eu vou com você.

-Não... eu quero... eu preciso ficar sozinha.

Ele parou na frente dela e disse com atitude, mas sem perder a calma:

-Olivia, eu tenho duas opções: chamo a segurança, aviso ao Broyles e ao Bishop e depois vou almoçar calmamente... ou você me deixa acompanhá-la e eu informo ao chefe que você está comigo e tudo vai ficar bem. Você escolhe...

Sentiu que ela ia chorar. Estava tremendo. Não esperou que ela respondesse. Foi levando-a delicadamente pelo braço. Ela não esboçou nenhum protesto.

Pegaram um táxi. O celular de Lincoln tocou. Era Broyles.

-Sim, senhor. A agente Dunham vai me acompanhar no almoço. Vou levá-la ao bar do Cal.

Peter Bishop e Nina Sharp olhavam Broyles interrogativamente. Ele desligou o telefone e não pareceu interessado em explicar mais nada. Peter não se conteve:

-Como ela está?

Broyles olhou-o com uma expressão indefinível. Mas depois acabou falando.

-Acho que está tudo sob controle. O agente Lee está com ela. Vai levá-la para almoçar.

A fisionomia de Peter acusou uma pequena alteração. Quase imperceptível.

- Sabe onde eles foram?

Phillip Broyles franziu a testa. Olhou de viés para Nina Sharp.

-Peter, talvez seja melhor deixá-la em paz. Ela precisa digerir a ideia. Precisa de tempo.

-Por favor, senhor. Eu realmente preciso vê-la.

-Ele me disse o nome do lugar, mas não sei onde fica.

-Eu dou o meu jeito. Para onde eles estão indo?

-Para o bar do Cal. Creio que os outros agentes devem conhecer.

Peter saiu apressadamente. Nina Sharp lançou um olhar de desaprovação.

-O que foi ?

-Phil, acho que você acabou de fazer uma tolice. Espero estar errada.