Primeira Impressão

Estranha, quente, barulhenta, um ruído ensurdecedor de gente gritando a todo lado, falando a plenos pulmões, tão diferente das corriqueiras notas de acordeão harmoniosas as quais estava acostumado. As ruas da Grécia eram o caos, talvez fosse o dia, foi o que pensou, e embora não pudesse acreditar nisso, torceu verdadeiramente para que fosse o dia. As ruas foram afunilando e a quantidade de pessoas parecia aumentar, de forma que quase não conseguiam evitar tropeçar no garotinho estrangeiro mal acostumado com multidões. Uma mão branca e enrugada agarrou a sua com bastante força.

- Restez près de moi.[1]

Ele apenas assentiu, mas era tão difícil manter aquele laço de mãos firme quando parecia que as pessoas estavam tentando abrir espaço entre os dois. Perguntou a si mesmo pela terceira vez no dia o que estava fazendo ali. Aquele homem tinha lhe falado de estrelas, destino, poderes inimagináveis, mas tudo o que o cortês garotinho que se apresentava pelo sobrenome ouviu foi "deixar o orfanato". Talvez devesse ter ponderado mais a proposta. Mal conseguia respirar no meio de tanta gente e torcia muito para que fosse o dia.

Ao fim de uma rua mais estreita a multidão começou a se dissipar e não havia mais gritos, embora as pessoas ainda falassem com mais ênfase do que considerava normal. Só então reparou nos muitos olhares sobre si, sentiu-se acanhado, mas manteve a postura e o passo firme, evitando olhar em volta.

Foi uma longa caminhada, um dia quente, muito quente e aquele homem que não lhe falara absolutamente nada além do necessário. Haviam se teleportado de sua moradia na França até a Grécia, a viagem inesperada o fez ficar tonto e ter ânsias de vomitar, mas agora só podia se perguntar por que não faziam aquilo outra vez ou o porquê de terem parado tão longe do objetivo. Passaram por um caminho tortuoso de pedra até que ele pudesse avistar os treze templos. Parou por um longo período mirando a arquitetura e então correu para alcançar o senhor de idade que tinha mais disposição que um pivete.

Chegaram à frente do alojamento dos aprendizes de onde já era possível ouvir as lutas do coliseu. O senhor parou conversando com dois garotos mais velhos e pareceu se esquecer do pequeno francês que ficou desconfortável, olhando de um lado para outro procurando algo que o distraísse. Um garoto loiro de olhos verdes saiu do nada e lhe cumprimentou animadamente. Camus apenas disse que não lhe entendia e a criança que parecia ter seis anos, assim como ele próprio, apenas olhou para trás e gritou. Porque todo mundo naquele país tinha que gritar? Logo viu outro garoto loiro se aproximar, esse tinha olhos bem azuis e cabelos mais compridos e cacheados. Tinha a postura mais séria que o primeiro e chegou falando de modo mais ameno.

- Je ne comprends pas.[2] – apenas repetiu o que tinha dito ao outro, suspirando.

- Milo. – o garoto disse apontando para se mesmo e abriu um sorriso largo e contagiante, depois apontou para o primeiro garoto, ponto o dedo diretamente em seu peito – Aiolia.

Depois em um gesto surpreendentemente elegante apontou para o ruivo com a mão, a palma aberta, os dedos juntos e o sorriso um pouco menor.

- Camus. – respondeu depois de algum tempo fitando a mão calejada do outro, fazendo um leve movimento de cabeça.

- Camus, an? – disse Milo trocando o sorriso simpático por algo um pouco mais debochado – E você vai ser cavaleiro de que? – perguntou mais para si e para Aiolia do que para o outro, mas o viu suspirar em derrota mesmo assim. Quantas vezes ia ter que dizer que não entendia? – Scorpius. – apontou para si mesmo – Leo. – depois para Aiolia – Sagittarius. Gemini. – Apontou para os garotos com quem Shion conversava há algum tempo.

Fez o mesmo gesto de antes, mas agora tinha um sorriso faceiro que deixou o francês um pouco menos à vontade. Pensou algum tempo para responder, sim, ele estava falando sobre signos, ou constelações, lembrava-se de Shion ter dito algo do gênero e sobre a dele... A dele era...

- Aquarius. – disse meio incerto, com o forte sotaque francês, que Aiolia achou particularmente divertido.

Os dois loiros se olharam e começaram a conversar, tinha certeza que era sobre si, o que o estava deixando irritado, era como ter alguém falando de si pelas costas, mas faziam isso descaradamente e bem na sua frente. Milo vez ou outra o olhava de cima a baixo de modo analítico e depois falava algo que fazia Aiolia rir. O que era tão engraçado?

- Aiolia. – um dos garotos mais velhos chamou e o pequeno saiu andando atrás dele de volta ao coliseu.

Nesse momento Shion pareceu lembrar-se do garoto, mas ainda tinha muito a tratar com Saga naquela tarde, olhou para o pequeno grego que continuava a analisar o ruivo com muito afinco e resolveu simplificar sua vida.

- Milo. – chamou.

- Sim? – disse mudando imediatamente sua postura desleixada para parecer um soldado em miniatura.

- Leve Camus para o alojamento. Você vai dividir o quarto com ele a partir de agora.

Milo assentiu e saiu andando em direção aos dormitórios, quase se esquecendo de virar-se e fazer sinal para o francês ir com ele. Camus parecia desconfiado, olhou para Shion e depois de novo para o garoto loiro, ponderou bastante antes de pegar sua mala e começar a segui-lo.

Camus suspirou ao entrarem no quarto, ia ter que dividir, mas era melhor fazer isso com um garoto do que com nove, Milo lhe indicou a cama da esquerda e sentou-se na sua própria vendo o garoto se fazer mais confortável. A verdade era que o ruivo estava louco por um banho, estava frio na França naquela época e havia viajado sem aviso prévio, estava todo agasalhado e consequentemente morrendo de calor. Tirou as botas sentindo-se ainda mais desconfortável com o olhar de Milo. Sustentou os olhos dele durante algum tempo e foi suficiente para que pudesse decidir: Não gostava daquele garoto.

~0~

[1] Fique perto de mim.

[2] Eu não entendo.

Bem, agora vamos às considerações irrelevantes da autora. u.ú

Pensei que eu nunca escreveria na vida um Camus e Milo, porque, neh? O fandom está cheio de fics desses dois e eles não são exatamente meu casal preferido, embora eu admita que adoro ler. Estou postando esse primeiro capítulo, mas não tenho muita previsão de quando sairá o segundo, tenho apenas idéias avulsas e quando eu conseguir colocá-las em uma ordem cronológica vou continuando. Não sei se isso vai evoluir para um romance explícito ou mesmo para um romance.

Espero que tenham gostado! Obrigada a quem leu até aqui.

Beijinhos!

V. Lolita

Ps.: Por que eu sempre acabo postando as coisas na segunda-feira? x.x