Declaração de propriedade: Nenhum aspecto ou personagem dos universos de Sobrenatural, Harry Potter e ou As Crônicas de Gelo e Fogo (Game of Thrones), me pertencem. Não tenho a intenção de ganhar nenhum vintém com essa história, apenas me divertir com os personagens que Eric Kripke, J.K Rowling e George R. R. Martin, me obrigaram a amar! Se você quer ler ou ver algo realmente bom, eu indico fortemente esses três ai de cima.
CAPÍTULO 1: BRUXAS SÃO ANTI-HIGIÊNICAS.
POV - DEAN WINCHESTER
- Essa não parece ser uma casa onde tenha ocorrido um crime sobrenatural – assegurou Dean para Sam, sentado ao seu lado no carro. Os irmãos Winchester estacionaram seu Chevy Impala 67 em frente à casa da Senhora e do Sr. Mitchell, em uma pacata rua da cidade de Wichita - EUA, por mais de duas horas, e observavam o cenário onde supostamente um casal de meia idade havia morrido de causas naturais há dois dias.
- Tudo é muito estranho – concordou Sam, desviando sua atenção da casa muito bem cuidada e aparentemente intacta, para olhar novamente para o conteúdo de uma pasta em seu colo, cheia de recortes de jornais e cópias de páginas de livros – Quer dizer, de acordo com o relatório do legista, os dois morreram na mesma hora, mas não há vestígio de qualquer coisa que possa tê-los matado, o que forçou o legista a concluir que os dois morreram de causas naturais. Mas quais são as chances de duas pessoas caírem mortas ao mesmo tempo no mesmo lugar, e isso não ser sobrenatural?
- E não há vestígio algum nos corpos? Sei lá, veneno, queimaduras, feridas estranhas, símbolos, tatuagens malucas? Qualquer coisa? – Questionou Dean com um suspiro, ele estava cansado, e neste momento só consiga pensar em comida.
- Não. Estão imaculados – reafirmou Sam frustrado, fechando a pasta a sua frente. – A casa estava completamente trancada, com alarme ligado e tudo, e as câmeras de segurança da rua, também não pegaram nada.
- Pode ser um demônio, ou uma Bruxa – disse Dean, com uma expressão de nojo. Ele realmente odiava, odiava Bruxas, sempre deixando seus fluidos corporais por toda a parte, totalmente anti-higiênicas - Mas só tem um jeito de saber, encontrando resquícios de enxofre que indicariam demônios ou um saquinho de bruxa, considerando que eles foram encontrados mortos em casa, tem que haver algum vestígio lá dentro – Dean saiu do carro seguido por Sam rumo à porta dos fundos da propriedade dos Mitchell.
Os dois irmãos estavam esperando o cair da noite para entrar na casa e agora que os últimos raios de sol já tinham se ido, a escuridão se tornava um bom manto de invisibilidade para a invasão; não foi difícil arrombar a porta, os alarmes de segurança foram desativados por Sam, e logo os dois estavam vasculhando o lugar; Sam no andar de cima e Dean no andar de baixo.
A casa era uma típica residência americana, não havia nada a vista que indicasse qualquer vestígio de Bruxa ou Demônio. Dean tomou o cuidado de abrir cada armário e olhar atrás de todos os móveis em cada cômodo, o casal era tão normal que chegava a ser chato, talvez até normal de mais para existirem de verdade, mas não havia saco de bruxa em nenhum lugar.
Porém, uma coisa que estava inquietando Dean desde o momento que ele entrou no imóvel, era a sensação de estar sendo observado, até mais que isso, era um sentimento de ansiedade, como quando, de repente, você se vê diante de uma criatura e ela tem alguns instantes de vantagem sobre você e todos os seus instintos gritam para que você corra, o coração dele estava disparado, mas ele não sabia explicar o porquê, depois de anos de caça, esse sentimento não costumava ser comum, porém essa casa estava intocada, sem leitura de EMF, enxofre ou qualquer coisa sobrenatural; no entanto, no entanto...
Enquanto fazia uma segunda ronda, seus olhos caíram sobre uma revista intitulada "O Pasquim", deixada ao acaso sobre o sofá, era a única coisa realmente fora do lugar na casa; ficou intrigado e se pegou observando a capa com mais cuidado, nela havia a foto de uma garota com cabelos castanhos escuros encaracolados e revoltos, que emolduravam um rosto bonito e angelical, e grandes olhos castanhos expressivos, que o encaravam em desafio, embaixo da foto a manchete dizia "Indesejável número 1", sem qualquer motivo aparente, ele se pegou olhando a foto por um longo momento.
- Não encontrei nada lá em cima – informou Sam descendo as escadas do segundo andar e dando um susto em Dean, que estivera realmente absorto observando a foto da moça.
- O mesmo aqui em baixo – respondeu ele sem desviar o olhar da revista. Sam parou do seu lado olhando em volta, Dean despertou dos seus devaneios e se dirigiu a porta dos fundos.
- Vamos comer alguma coisa e encontrar um motel. Continuamos amanhã. – Pediu Sam, e Dean o seguiu para fora da casa em concordância. – Talvez seja só uma incrível coincidência.
- E quando foi, que na nossa incrível e variada carreira, foi só uma coincidência? – Perguntou Dean atravessando o gramado perfeitamente aparado e ruas desertas – Tem alguma coisa nesse caso que me deixa com os cabelos da nuca em pé.
- É, pode ser – respondeu Sam. Entraram no carro, Dean deu a partida, e Sam pegou seu laptop do banco de trás e o abriu a procura de algo que o ajudasse a compreender a estranheza do caso.
Já se passava da meia noite, quando finamente encontraram um motel com vagas disponíveis, era a espelunca habitual. Dean fez o registro na recepção e estava ansioso por um banho e por dormir.
- Nós temos alguma revista chamada "O Pasquim" – perguntou Dean a Sam ao entrarem no quarto e escolherem cada um uma cama. – Quero dizer, que seja publicada nos Estados Unidos?
- O Pasquim?– Respondeu Sam concentrando-se em puxar alguma informação da memória – Não que eu saiba. Por quê?
- Nada importante – respondeu Dean, alguma coisa fazia cócegas na superfície de sua mente, mas deu de ombros, provavelmente não era nada, talvez fosse fruto do cansaço ou da Marca; ultimamente havia momentos em que Dean não se sentia guiado por sua própria consciência, mas sim por uma força externa que o empurrava para fora de si mesmo, ele passou a associar essa sensação à Marca em seu antebraço esquerdo.
- E você não achou a casa arrumadinha de mais? Como se tivesse acabado de sair de uma revista de casas modelos? – Dean não conseguia tirar isso da cabeça.
- Não parecia habitada há anos – concordou Sam também confuso, ele estava tirando as botas e colocando-as ao lado da cama. – Mas tudo nesse caso parece fora do lugar, então sei lá – concluiu ele dando de ombros.
Dean não quis comentar com Sam sobre a sensação estanha que sentiu ao entrar na casa dos Mitchell, muito menos, sobre o fato de que o rosto da moça da revista estava impresso em sua retina; depois que Dean recebeu a Marca pelas mãos de Caim, Sam o estava tratando como se ele estivesse prestes a derreter, o irmão tinha feito um esforço descomunal para mantê-lo trancado no Bunker dos Homens de Letras, com a desculpa de pesquisar sobre a Marca, só que depois de repassar por todos os livros e documentos que o lugar podia oferecer e não encontrarem nada, Dean estava à beira de enlouquecer e teve que se esforçar muito para persuadir Sam a pegar esse caso, Dean não queria que o irmão inventasse qualquer desculpa para arrastá-lo para o bunker outra vez.
O sono não veio sem custo, olhos cor de chocolate o encaravam no escuro quarto, mas finalmente, depois de algum tempo, ele conseguiu adormecer.
Mas então, algum tempo depois, ele despertou; não abriu os olhos, mas sabia que alguém estava lhe observando; seus instintos ficaram alerta, ele podia sentir Sam ainda deitado na cama ao lado, mas havia mais alguma coisa no quarto.
Deitado de bruços ele procurou a arma que mantinha debaixo do travesseiro e esperou que o escuro escondesse seus movimentos do que quer que estivesse com eles; Dean alcançou a arma e se sentou na cama, mirando para a massa escura que estava na porta, seu movimento brusco acordou Sam que também se sentou na cama e agilmente ligou a luz iluminando o quarto; Dean sentiu-se ficar cego por um momento, mas seus olhos se ajustaram rapidamente à claridade; a mão no revolver nunca vacilou, nem mesmo quando finalmente pode enxergar a coisa à porta.
Fosse quem ou que fosse, era grande, deveria ter 1,80 de altura, usava uma estranha e incomum vestimenta preta, uma espécie de capa comprida que chegava até os pés, as mangas eram largas e tinha um capuz que encobria parcialmente seu rosto, se é que havia um; a face em verdade, estava escondida atrás de uma máscara de metal com o formato de uma caveira, o espaço da boca era mínimo e tinha desenhos de costura, os olhos eram a única coisa visível atrás da máscara, eram de um azul aguado, frios como gelo, tão desprovidos de qualquer emoção, que fez Dean questionar se eram realmente de um ser humano; na mão direita, a estranha figura, segurava um objeto cilíndrico de madeira.
Não era uma visão que despertasse qualquer sentimento reconfortante, pelo contrário, num clarão de consciência, Dean entendeu, que aquela pessoa... coisa, estivera na casa dos Mitchell enquanto Sam e ele vasculhavam o local, pois a sensação de perigo que a figura despertava era a mesma de mais cedo.
- Quem é você? O que quer? – Perguntou Sam. A figura se aproximava dos dois a passos lentos. Dean notou que havia uma pequena nota de pânico na voz do irmão e ele mesmo se sentia paralisado, não conseguia puxar o gatilho, embora tivesse o intruso, na mira de sua arma.
Dean, estava completamente certo do que havia protegido o quarto com cada símbolo e recurso que conhecia, era praticamente a prova de qualquer criatura sobrenatural, no entanto esse estranho conseguira acessar seu quarto, e isso o irritava além da conta.
O invasor levantou o braço e apontou o objeto que segurava para Sam, e de sua ponta um raio de luz vermelha saiu e atingindo Sam no peito, ele caiu inconsciente no colchão.
Finalmente, Dean despertou de seu transe e apertou o gatilho, disparando em direção à figura, repediu o gesto até descarregar o pente inteiro de balas, mas o invasor foi incrivelmente rápido e com um gesto amplo de seu objeto de madeira ele projetou um escudo de aspecto leitoso a sua frente, o que impediu que qualquer bala lhe acertasse, Dean pulou da cama, mas antes que pudesse alcançar a bolsa de armas, o intruso apontou o objeto de madeira para ele, e a última coisa que Dean sentiu, foi seu corpo ficar completamente mole e tudo escurecer ao seu redor.
Ao que pareceram horas depois, Dean começou lentamente a despertar, e conforme sua mente clareava, ele passava a ter consciência de algumas coisas, a primeira delas era da dor intensa em sua cabeça, que parecia prestes a explodir e das câimbras que atingiam todos os seus membros, sentia como se suas costas estivessem pegando fogo, talvez isso se devesse a estranha posição em que se encontrava, havia uma sensação de que seu corpo flutuava, seus braços e pernas estavam abertos e esticados, ele se sentia como o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, "merda" ele pensou, com vontade de rir alto, conseguia imaginar a expressão chocada que Sam lhe daria por ele conhecer essa referência. Mas então, as lembranças do que aconteceu no Motel vieram num flash.
"Sam! Onde estava Sam? Ele estaria bem? Vivo?" Dean, fez um esforço descomunal para abrir os olhos, mas depois que conseguiu o resultado foi inútil, onde quer ele estivesse não estava mais no Motel; tudo a sua volta era escuridão, e ele tentou se mexer colocando toda a sua força nisso, mas foi em vão, estava firmemente preso, seus membros pesavam chumbo, e ele realmente flutuava alguns centímetros do chão; nenhuma corda visível mantinha sua estranha posição.
- Sam? - Ele sussurrou o nome do irmão, a voz rouca. Ninguém respondeu - Sammy? – Ele tentou novamente com mais urgência e se esforçou para que sua voz saísse mais alta.
Um grunhindo chegou aos ouvidos de Dean, ele olhou para os lados desesperado para identificar alguma coisa, qualquer coisa; seus olhos começavam a se adaptar a penumbra da sala, ele conseguia identificar uma massa disforme mais negra que a escuridão do ambiente à sua direita, parte dele torcia para que fosse o irmão, "se não, seria coisa pior", e parte dele torcia para que Sam tivesse conseguido escapar.
- Sam? Sam?! – Chamou de novo. Ele viu movimento dessa vez, embora não conseguisse visualizar nada muito significativo.
- Dean? – Perguntou Sam meio sem fôlego.
- Sim cara, sou eu. Você está bem? – Dean perguntou angustiado.
- Estou me sentindo esmurrado, mas estou bem, e você?– Respondeu Sam parecendo se dar conta das coisas lentamente como Dean.
- O mesmo. Que lugar é esse? Que porra aconteceu? - Perguntou Dean aflito.
Neste instante Dean teve um sobressalto, não que seu corpo tivesse se movido um milímetro, de qualquer modo, mas um grito horripilante, de alguém sendo terrivelmente machucado chegou até eles, vinha do outro lado das paredes.
Porém, um barulho muito mais próximo, pareceu bem mais preocupante no momento, havia o som claro de passos se avizinhando e então houve o barulho inconfundível de uma chave pesada sendo girada em uma fechadura e dobradiças de metal sendo forçadas.
Uma porta dupla de madeira foi aberta, bem na frente de Dean, e uma fresta de luz inundou o espaço; a silhueta de uma pessoa apareceu na entrada, vestia às mesmas roupas pretas estranhas, e usava a mesma máscara de caveira, só que essa tinha um formato diferente. A nova passagem permitia que os sons dos gritos agourentos entrassem com mais facilidade no espaço.
- Quem é você? - Perguntou Dean, geralmente eles conseguiam ter uma idéia geral do que lhes acertava, mas dessa vez, estavam no escuro, nada do que ele tinha visto até agora, soava sequer vagamente familiar.
- Finalmente acordaram. – Disse a figura mascarada, o sotaque era carregado, parecia britânico, era uma voz feminina, despossuída de qualquer afabilidade; ela caminhou mais para dentro do quarto e seus olhos podiam ser vistos através da máscara, eram negros e frios como os de seu captor; havia zombaria brilhando neles. – Quem são vocês? Onde eu estou? O que vocês querem? Sempre as mesmas perguntas, vocês trouxas são tão tediosos e previsíveis.
Dean, realmente tinha todas essas perguntas na ponta da língua, mas a mulher tinha tanto desprezo na voz, que ele se sentiu incapacitado de dar a ela o que ela desejava. Os sons dos gritos que vinham lá de fora aumentaram, e ele sentiu um arrepiou percorrer sua espinha.
- O que? Ficou mudo? Não vai perguntar o que queremos com vocês dois? – perguntou ela com escárnio. - Parece que temos um espécime diferente aqui.
- Não importa o que vocês querem, não terão nada de nós – respondeu Sam corajosamente – A não ser a morte que vira para você e outro filho da puta que nos capturou.
Ela caminhou até Sam, com os olhos cheios de malícia, e passou a mão espalmada pela coxa dele, a única parte que conseguia alcançar, já que assim como Dean, Sam também flutuava acima do chão na mesma posição, com braços e pernas abertos e esticados presos por qualquer coisa invisível. Sam se esforçou ao máximo para se soltar, tentando claramente manter o corpo longe do alcance da mulher. Ela riu dos esforços inúteis dele.
- Isso, isso. Sim! Eu gosto assim. – Ela gargalhava agora, cheia de excitação, dando alguns pulos no lugar, parecia ensandecida – Eu gosto quando o brinquedo é forte, fica mais divertido quebrá-lo. E vocês dois, bem, foi difícil atraí-los para fora do buraco em que estavam escondidos, tivemos que matar aquele casal de sangues-ruins, não que isso também não tenha sido divertido, só tornou a caçada ainda mais prazerosa.
Ela deu as costas para eles, caminhou até a porta, voltou-se por alguns instantes, olhando-os longamente.
- Guardem o ódio que vejo em seus olhos para mim, eu volto logo. – Havia tanto desejo por violência explicito na voz dela, que fez Dean se sentir enjoado. Ela se foi, trancando a porta atrás de si.
Ela tinha ficado na sala menos de dois minutos, mas foi o suficiente para fazer Dean sentir seu corpo todo se arrepiar, havia sadismo nela, havia loucura e o jeito de ela rir, se comportar, aquela obscenidade na voz, lembrava a Dean sua temporada no inferno.
Enquanto isso, os gritos do lado de fora da sala jamais cessaram.
- Dean, você consegue se mexer? – Perguntou Sam com urgência.
- Não. Essas amarras são muito fortes.
- Quem são eles afinal? Algum grupo satânico?
- Não faço à menor idéia. Mas se realmente mataram os Mitchell para nos atrair, coisa boa não devem ser - Indagou Dean - Temos que dar um jeito de sairmos daqui Sam - Ele estava realmente preocupado, tinha a impressão de que, muito em breve, seriam os próximos a gritar como aquele pobre coitado em algum lugar ali perto.
Porém, o tempo se arrastou sem que mais nada acontecesse, Dean e Sam colocaram todos os seus esforços em tentarem se soltar, mas isso só tinha deixado os dois exaustos e sem nenhum efeito prático. Dean chegou ao ponto de rezar para o anjo Castiel, e implorar para o demônio Crowley, qualquer um dos dois estava valendo, com tanto que ouvissem seu pedido de socorro, mas a cavalaria não chegou, assim como os gritos vindos lá de fora não pararão nunca.
Dean, talvez tenha cochilado em algum momento, não saberia dizer, pois em algum ponto entre os olhos abertos e fechados percebeu que a sala estava cheia de figuras sombrias, mas não se lembrava de ver a porta ser aberta, ou de tê-las visto entrar.
A luz foi acessa em algum lugar e pela primeira vez ele pode observar o espaço em que se encontrava com clareza. Estavam em uma sala ampla, com várias colunas, o teto era baixo e as paredes e o piso eram de pedras polidas, a porta parecia ser o único ponto de entrada e saída do lugar, o espaço era uma cruza sinistra entre um calabouço medieval e um porão.
Ele procurou Sam e o encontrou no mesmo lugar, do seu lado direito, igualmente perdido, agora com a luz ligada ficava claro pelo modo como os dois estavam pendurados, de que só podia se tratar de qualquer coisa sobrenatural.
Dean se concentrou nas figuras na sala, eram 4, igualmente vestidas com túnicas e capaz pretas e todas usavam máscaras de metal emulando caveiras, cada uma delas diferente entre si. As pessoas olhavam para os dois, com algum interesse, exceto por uma delas, era a mesma mulher que tinha vindo mais cedo, pelo menos foi o que pareceu a Dean, pois usava a mesma máscara.
Com a luz totalmente acessa, dava para ver que a mulher tinha um porte elegante, mas seu entusiasmo era obsceno, lentamente ela caminhou alguns passos à frente dos demais, e tirou a máscara, finalmente revelando seu rosto. Sua pele era pálida, longos cabelos negros e espessos lhe caiam pelas costas com descaso, havia certo resquício de uma beleza refinada, mas que estava totalmente suplantada pelo seu aspecto encovado, ela tinha olheiras muito profundas e negras e parecia doente, mas eram seus olhos que chocavam, eram brilhantes de loucura. Era uma mulher perigosa. Ela lembrava a Dean, o demônio Alastair.
- Olá de novo rapazes. Vamos começar por esse aqui. – Ela indicou Dean para os demais sem perder tempo com mais papo furado – O olhar desafiador dele me excita.
As demais pessoas da sala recuaram alguns passos para traz, estava claro que ela seria a algoz. A mulher levantou um objeto de madeira cilíndrico, muito parecido com aquele usado pelo outro mais cedo no Motel, exceto que esse tinha alguns entalhes e cor diferente, ela o apontou para Dean.
- Crucio – Ela gritou com um sorriso nos lábios, e da ponta do objeto uma luz vermelha saiu e alcançou Dean em cheio.
Uma dor excruciante o atingiu; ele ficou cego e sentiu a dor de mil facas o perfurando, suas tripas estavam sendo arrancadas de seu corpo, os ossos estavam em chamas, a cabeça parecia prestes a partir, ele não queria gritar, sabia que seus gritos dariam satisfação a Mulher, mas em algum momento, ele sentiu sua boca abrir e ar sair de seus pulmões, sem sua autorização palavras incoerentes saiam de seus lábios, e ele estava gritando; finalmente depois do que pareceram horas, a dor recuou, ele conseguiu voltar a enxergar; a dor era terrivelmente familiar.
- Dean! Dean! – Gritava Sam de algum lugar muito ao longe – Pare com isso, por favor, pare com isso – ele implorava para a Mulher.
- Calma querido – Respondeu ela rindo do desespero de Sam com gosto – também lhe darei minha atenção, em breve. Agora, conte-me sobre a sua Marca – exigiu ela voltando sua atenção para Dean.
- Não sei do que você está falando – respondeu ele em meio às golfadas de ar que seus pulmões puxavam. Seu corpo estava em agonia, sentindo os resquícios da dor anterior.
- Isso... Resista mais, eu adoro quando meus brinquedos me dão motivos para continuar.
Ela levantou novamente sua "arma" – pois Dean só conseguia descrever assim – e apontou para ele, a explosão de dor, dessa vez, não lhe pegou de surpresa, ele deixou que seu corpo relaxasse o máximo que pode, pois sabia que assim seus músculos tinham mais chance de se recuperar depois. Sim, mesmo em meio à dor Dean manteve uma parte de sua consciência concentrada em um depois. Eles sempre conseguiam escapar, não conseguiam? E quando isso acontecesse, ele planejava retribuir a essas pessoas o favor, muito em breve, se ele tivesse sorte.
Novamente a dor recuou, a Mulher olhou para seus companheiros as suas costas, ela parecia ligeiramente surpresa com a resistência dele; o corpo de Dean latejava, mas ele estava orgulhoso de si mesmo, pois dessa vez, não gritou.
- Então, novamente, conte-me sobre essa marca – Exigiu ela, agora havia raiva em sua voz, como se ela estivesse chateada com ele por sua resiliência.
- Coração, isso é tudo o que você consegue fazer? Já tive melhores – Dean respondeu em deboche. Ela gritou não parecendo ser capaz de esconder sua frustração, era quase infantil.
Dessa vez, ela apontou a arma para Sam, e dirigiu toda a sua cólera para ele, a consequência foi assustadora, fosse o que fosse aquilo, ficou claro para Dean, que havia mais força de vontade dela empregada no gesto e isso aumentou a intensidade da luz vermelha que atingiu seu irmão; Sam começou a gritar quase que em seguida, e alguns minutos agonizantes depois, ele desmaiou; agora a Mulher ria satisfeita com o efeito que causava.
Mais feliz, a Mulher se afastou de Sam e se voltou para Dean novamente; com a ponta de sua "arma", arrastou para traz a manga de camisa dele, revelando a Marca de Caim, ela repetiu o gesto em si mesma, e expôs em seu próprio antebraço esquerdo inferior, uma tatuagem vermelho-vivo com o desenho de um crânio e uma cobra saindo da boca.
- Viu. Você e eu fomos marcados, agora, você conhece minha marca, quero conhecer a sua – Ela se aproximou de Dean e cheirou a marca no antebraço dele – Eu posso sentir o poder. Conta para mim o que é isso? Como um trouxa como você, conseguiu uma coisa dessas?
- Vá para inferno – devolveu Dean. Ela ignorou seu comentário e se dirigiu a Sam.
- Ahhh. Olha quem acordou? - Escarneceu. Sam estava voltando à consciência e parecia atordoado. A mulher entendeu que Dean não cederia se ela lhe infligisse dor, mas ela parecia disposta a testar a reação de Dean se ela machucasse Sam. Ela atacou seu irmão novamente e Sam gritou de novo, um grito terrível.
Até aquele momento, os demais ocupantes mascarados não participaram da sessão, estavam somente observando seus efeitos, mas agora, um deles se aproximou da Mulher, sua postura era autoritária, por traz dessa mascará olhos negros e profundos como túneis eram visíveis; ele se colocou ao lado da mulher de costas para Dean e sussurrou algo em seu ouvido, ela recuou para encará-lo.
- Não se meta nisso. O Lorde deu essa ordem diretamente a mim – Respondeu ela encarando seu companheiro com desdém, mas ele não recuou; ela abaixou o braço e Sam parou de gritar caindo novamente inconsciente; a mulher fez menção de atacar Dean dessa vez, mas a figura segurou seu braço firmemente.
- E ele diretamente me deu ordens para garantir que você não se exceda – Respondeu a figura, dessa vez era a voz de um homem que podia ser ouvida por detrás da máscara, seu sotaque também era britânico, sua voz era firme e profunda, quase um sussurro, e tinha um tom que não admitia ser ignorado - Se os matar, não teremos nada.
Ela ficou constrangida por ser obrigada a obedecê-lo; o encarou longamente, por fim, pareceu disposta a ceder, puxou o braço do aperto dele, deu as costas para todos e caminhou em direção a porta, escancarou-a com violência e saindo em seguida.
Os demais ocupantes a seguiram, mas o homem que havia repreendido a mulher se deixou ficar para traz, de dentro das vestes ele tirou uma pequena e roxa bolsa de contas, colocou a bolsa no chão atrás da porta e se virou para encarar Dean, olhou-o por um longo momento cheio de significado, deixou a luz ligada e saiu pela porta sem trancá-la, apenas encostando-a atrás de si. De algum jeito, parecia que eles tinham encontrado um aliado.
- Sam? – Chamou Dean; Sam não respondeu dessa vez, Dean podia ouvi-lo respirar com dificuldade a seu lado, mas o irmão estava novamente inconsciente. Ele parecia realmente muito mal.
Depois disso, um longo momento se passou, ou pelo menos assim pareceu a Dean que já tinha perdido totalmente a noção do tempo; seu corpo queimava em agonia, os membros estavam totalmente amortecidos.
Novamente eles haviam sido deixados para trás sem respostas, e apesar de tudo o que Dean já tinha vivenciado e combatido, achava que agora tinha alcançado seu limite, pois dessa vez, ele não podia lutar; não é possível lutar contra o desconhecido.
Conjurado pelos seus medos, uma sombra escureceu a fresta da porta no chão, e lentamente a porta foi empurrada e pela abertura se esgueirou uma pessoa, que fechou a porta atrás de si com cuidado, claramente não querendo fazer barulho. Dean não conseguiu distinguir de quem se tratava, a dor em sua cabeça o deixava com a visão embasada, mas o modo como andava furtivamente na ponta dos pés, indicava que, fosse quem fosse não deveria estar ali.
O indivíduo se aproximou mais dele, finalmente entrando em foco e Dean ficou chocado com o que viu, pois se tratava de uma pessoa completamente desfigurada por hematomas e cortes; seu rosto era inidentificável, os lábios estavam descascados e vertendo sangue de vários cortes, as maças do rosto tinham vários tons de vermelho, roxo e amarelo, os olhos estavam muito inchados e com feios machucados em volta, a face toda era uma massa sangrenta, e o restante do corpo visível não estava melhor; ele achou que se tratava de uma mulher, mas só porque, tinha estatura baixa para um homem e o corpo era pequeno e curvilíneo, mesmo escondido atrás de roupas largas, os cabelos, eram um emaranhado de cachos sujos e embaraçados que caiam pelos ombros.
Dean soube que ela não era um deles, suas roupas eram bem comuns, ela vestia um jeans rasgado e uma camiseta ensangüentada muito larga, com uma estampa de uma banda de rock qualquer; não parecia fazer sentido que um deles andasse por ai em tal estado, elem disso, ela parecia muito pior do que ele e Sam, ela cambaleava pela sala, mal conseguindo ficar em pé; porém, na mão direita ela carregava o mesmo objeto de madeira que seus captores, Dean ficou em alerta.
Ela foi até Sam primeiro, levantou o artefato e apontou para ele, Dean se contraiu esperando pelo gesto que definiria se ela era amiga ou inimiga, ela fez um movimento com o braço e Sam foi desamarrado, e com outro movimento rápido impediu que ele caísse no chão, ela fez o mesmo com Dean; ele mal conseguiu se mexer se esforçou para ficar de pé, mas suas pernas não obedeciam a seu comando, mesmo assim, ele se arrastou até Sam.
A mulher estava ajoelhada ao lado de seu irmão, ela apontou o objeto para o peito dele e sussurrou - "Enervate" – para Dean soou como latim, Sam reagiu abrindo os olhos em seguida, Dean respirou aliviado.
- O que aconteceu? – perguntou Sam olhando para a mulher que pairava em cima dele, sem entender direito o que ocorria a sua volta.
- Sam, como você esta? – perguntou Dean puxando-o para um abraço – Consegue ficar de pé? – Sam não respondeu, mas tentou levantar e assim como Dean teve dificuldades.
A moça se afastou deles olhando em volta a procura de algo, começou a andar em volta da sala apalpando paredes e colunas por onde passava, Dean temeu que ela estivesse louca, mas então ela se abaixou próximo a porta e levantou segurando a pequena bolsa deixada para trás pelo homem mascarado. Ela se dirigiu até os dois ainda no chão.
- Vocês conseguem andar? – ela perguntou, sua voz feminina arranhada pelo desuso.
Dean tentou novamente ficar de pé, e dessa vez teve êxito, suas pernas pareciam mais estáveis, ele se voltou para ajudar Sam, o irmão estava muito mal, mas fez um esforço, e se agarrando a Dean, Sam conseguiu manter-se firme, Dean passou o braço pelas costas do irmão, e fez menção de seguir para a porta.
- Não, por aí não – Repreendeu a mulher. Ela passou o braço pela cintura de Sam e ajudou Dean a sustentar o irmão entre os dois, embora ela mesma parecesse incapaz de continuar. Dean deixou que ela indicasse o caminho.
- Precisamos chegar aos portões da propriedade – ela continuou.
O trio caminhou lentamente até o fundo da sala, e a moça com o braço direito livre, apontou sua "arma" para a parede e sussurrou "Silencio" novamente em latim, como notou Dean. Nada que ele pudesse ver realmente acontecer.
- Vamos nos afastar só um pouco mais para trás – ela pediu a Dean e os dois se esforçaram para retroceder alguns passos. Ela levantou o objeto de madeira novamente, apontando para a parede e disse –"Bombarda Maxima". – Uma explosão aconteceu bem na frente de Dean e um buraco grande o suficiente para que eles passassem os três juntos um ao lado do outro foi aberto, e ao contrário do que se poderia imaginar nenhum som da destruição foi ouvido. Dean não sabia o que estava lhe chocando mais.
Lá fora a noite caia alta, estava fresco, mas mais gelado que o habitual para aquela época do ano, ele teve a estranha impressão de que não estava mais nos Estados Unidos. O trio se arrastou sofregamente pelo buraco, tropeçando aqui e ali nos destroços da explosão, e deram no jardim de uma mansão. Olhando para trás Dean podia ver, que estiveram aprisionados em uma casa luxuosa e ao contrario do que ele tinha imaginado não estava no porão, mas apenas em uma sala térrea sem janelas.
Começaram a caminhada em direção aos portões que estavam a vários metros à frente; Dean ficou preocupado, não havia muita vegetação em que se esconder, e estavam bastante expostos, principalmente para uma noite com uma lua cheia que iluminava bem o gramado, qualquer um que olhasse pela janela os veria caminhando no jardim; a moça ao lado de Sam parecia pensar como ele, pois ela mesma olhava por sobre o ombro em direção a casa de tempos em tempos, ela se esforçou para apertar o passo.
Era visível para Dean, que dos três, ele era quem estava em melhores condições, à mulher parecia prestes a desmaiar, mas Sam que parecia ter se recuperado um pouco com o ar da noite, ainda precisava do apoio dos dois.
Estavam andando o mais rápido que podiam e ainda assim Dean sentia que estavam muito longe do portão.
- Você era prisioneira dessas pessoas também? – perguntou Dean. Ela se inclinou para frente tentando capturar seu olhar.
- Shhhh – pediu ela o mais silenciosamente que pode e Dean se calou. Ela parecia muito preocupada com a fuga, não parava de olhar para trás. Finalmente eles estavam a poucos passos do portão, mas ela tropeçou e quase derrubou todos no chão. Eles fizeram uma pausa, ela deixou o braço de Sam cair, não parecia mais ser capaz de continuar. Dean se obrigou a falar agora.
- Você esta bem? – perguntou ele.
- Só me de alguns segundos – pediu ela, lutando para recuperar o fôlego, sua respiração parecia estranha. Dean supôs que ela estivesse com algumas costelas quebradas, pois segurada o lado esquerdo do corpo com uma careta de dor.
- Deixe ele comigo agora. Falta pouco – informou ele indicando Sam com a cabeça, ela assentiu e se endireitou, sugerindo que eles deveriam continuar.
Dean sustentou todo o peso de Sam sozinho agora e a cada passo seus pulmões queimavam, ele podia ver os portões a sua frente, só mais alguns metros, e estariam fora da casa.
A moça chegou aos portões alguns passos antes dele, ela parou em frente a eles, e floreou gestos complicados com o objeto de madeira, demorou uns bons minutos, e dessa vez, Dean não pode ouvir palavra alguma, mas quando ela terminou um feixe de luz azulada e grossa saiu da ponta do objeto atingindo os portões, e de baixo para cima uma onda de luzes brancas e peroladas subiu pelas grades até chegar ao topo do portão e se extinguir.
Neste instante o silêncio da noite foi quebrado por gritos, e o som de um alarme soando por todos os lados na propriedade, as portas da mansão foram escancaradas e por elas jorravam as figuras mascaradas correndo em direção a eles.
A moça novamente apontou a "arma" para o portão e disse qualquer coisa que Dean não foi capaz de compreender no frenesi do momento e um click alto foi ouvido quando as grades finalmente se abriram para eles.
Ela se voltou para Dean, e havia desespero em seu olhar, atrapalhadamente ela reassumiu sua posição ao lado de Sam e eles meio correram meio arrastaram Sam para fora do portão, Dean não conseguia entender a tentativa cega dela em arrastá-los para fora daquela maneira, pois seus captores estavam a poucos passos agora e do lado de fora do portão não parecia haver ajuda, a rua estava deserta, não havia casas ao entorno e nenhum veículo para fuga, estava claro para Dean que a tentativa de escapar tinha sido frustrada, mas a moça estava tão determinada a cruzar o portão que Dean se esforçou para acompanhá-la mesmo assim.
Os mascarados estavam muito perto agora, o mais próximo deles há apenas alguns passos, luzes saídas das "armas" de seus captores, dançavam por sobre suas cabeças; em dado momento, a moça se viu obrigada a parar e retroceder desviando com sua própria "arma" algumas luzes.
Mas então eles estavam fora dos portões, e ela voltou para Dean segurando firmemente a mão livre de Sam e estendendo a outra mão para ele, por um segundo, o luar brilhou sobre eles, e Dean se viu olhando para olhos chocolate muito intensos e estranhamente familiares, ele sabia que o gesto era besteira, que eles seriam capturados, mas por algum motivo insondável, ele alcançou a mão estendida da moça, e quando isso aconteceu tudo ficou preto; ele sentiu seu corpo ser pressionado em todas as direções; não conseguia respirar, havia barras de ferro apertando seu peito; seus olhos estavam sendo forçados a se voltar para dentro da cabeça; seus tímpanos foram sendo empurrados mais profundamente em seu crânio, se obrigou a fechar os olhos, porém tão logo tudo começou acabou, e quando conseguiu abrir novamente os olhos, achou que havia encontrado um novo nível de loucura.
