Por um momento, quero que considere isso: Aquela Airu-san que você conheceu, ela quase não existe mais. Ela se tornou... um pouco mais madura.
Nós dois conseguimos nos tornar bons amigos, apesar de no começo brigarmos muitos.
Aí veio a bomba. De repente, a amizade deixou apenas de ser somente amizade. Se tornou algo grande demais, e tudo isso sem que eu nem desconfiasse.
Algumas vezes eu me pego pensando nisso.
Era um dia qualquer de Setembro. Eu estava me flagelando. Eu me perguntava "O que foi o que eu fiz de errado? Por que ela ainda está brava comigo? O que foi que eu fiz?".
Eu ainda lembro do timbre da voz dela. Aquilo parece que ficou gravado em minha orelha.
"Por que você não percebe que eu te amo?! Será que eu não sou boa o suficiente para você?"
Depois daquilo, aparentemente o mundo conspira a minha volta. Acabei afastando ela. A pessoa que eu mais queria em meus braços eu afastei.
Desde então eu realmente me entreguei à solidão desses meus pensamentos.
Era onde o sorriso dela se encontrava. Onde os olhos dela, com sono e felicidade em me ver, estavam. Onde eu sempre podia os ver sem qualquer problema.
Onde eu ainda não tinha me tornado um incômodo. Onde eu não tinha percebido que eu realmente a amava.
- O que aconteceu, Yuu-sama? - a Mami havia me tirado da melancolia dos meus pensamentos enquanto eu estava almoçando - A aula estava chata?
- Não... não é isso... - Era sim, mas... Apenas suspirei - Estava viajando em algumas lembranças...
- Ele tava é pensando naquela menina do peitão, sabe? Ai... Arina... Airi? Suzuki? - Tagiru se metia na conversa.
- É Airu Suzaki, e não estava pensando nela coisa nenhuma! - o repreendi.
- Aah, que inveja dessa menina! Consegue roubar o Yuu-sama sem fazer o menor esforço! Queria ser ela! - uma menina qualquer comentou.
Não, você não queria. Você não queria estar no lugar dela. Não iria querer ter as feridas dela.
- Não! Não é assim... - tentei revidar.
- Mah, vocês não se importam se eu roubar o Yuu por um minutinho, né meninas? - Taiki, do andar superior, pegou em minha blusa e me arrastou - Juro devolver ele inteiro!
- Mas! Taiki-san-
- Nada disso, Tagiru, fica aí! - Taiki parecia prever os passos de Tagiru - A conversa é particular, dessa vez!
Sendo arrastado por Taiki, desapareci pelo corredor.
...
- Eu sei que não deveria me meter nos seus problemas, mas... Yuu, já tem mais de um ano que você está assim!
- Assim, como? - e forcei um sorriso.
Depois de um longo minuto sendo fuzilado pelo Taiki, por fim desisti. Era exatamente como a Akari-san tinha dito, "depois que ele percebe, já era".
- Se até você percebeu, quer dizer que todos perceberam... - suspirei, por fim.
- Isso por acaso é um insulto? - ele me olhou, com suspeita.
- Nada, apenas esqueça. Mas o que você queria comigo? - não me dei ao trabalho de esconder meu desgosto - Veio tirar com a minha cara, também?
- Não, essa parte é exclusiva do Tagiru.
- Ah, quer dizer que sou o novo brinquedo dele?
- Também não seja tão radical, Yuu! - e por fim meu amigo suspirou - Vim pedir para você ficar fora da Mirai Hunt.
- Mas o quê? - fiquei puto. A Mirai Hunt era um evento promovido pelos hunters para despachar de vez os digimons que estavam no DigiQuartz de volta para a dimensão deles - Como me pede uma coisa dessas? Eu sei que não sou o cara mais forte do time, mas...
- Yuu, não me mate... Mas desse jeito que você anda, você não vai conseguir caçar nada...
Fiquei profundamente irritado. Mas era porque ele estava certo, mesmo eu não gostando disso.
- Acho melhor... Vocês dois se resolverem... - Ele disse, em um tom suave.
- E como? Se ela me vê, ela some de vista em um raio de 60 metros de diâmetro! - Protestei - E ela ainda me inventa um maldito Firewall que não me deixa acessar o espaço equivalente a casa dela e qualquer outro espaço a 50 metros da casa dela, e eu nem sequer passo da porta da casa dela! O irmão dela é uma peste! Isso sem contar as traps dela que me fazem sair correndo assim que eu chego perto!
- Assim complica... - Taiki bagunçou o cabelo. - E olha que foram eles que pediram para falar com você.
- Eles quem?
- Ryouma e Ren. - Taiki olhou para mim - Eles pediram para que eu falasse com você porque eles também notaram essa mudança nela.
- Ah, maravilha... E por que a Akari-san não veio falar comigo? Ela que fica intermediando nosso contato!
- Você sabe bem como a Akari é, Yuu... Se ela viesse ela não iria ser tão boazinha como eu estou sendo.
Tive de dar razão. Sempre que ela nos vê andando na rua, ela dá seus jeitos para que a gente converse, e nem sempre são os mais pacíficos.
- Não há muito que eu possa fazer, Taiki-san. - o sinal da escola tocou - E eu não vou faltar na Mirai Hunt.
Abri a porta do terraço e desci com meu olhar perdido. Eu sabia que toda aquela conversa era real, e que eu precisava tomar partido logo, mas... Não era algo que eu queria fazer porque os outros queriam. E, com esse pensamento, eu voltava para casa, encarando a chuva fria de Janeiro. Sabe... Essa época é a que eu mais odeio... Para nós, é fim do ano letivo, mudança de sala, de ano*... A pressão dos professores quanto ao nosso futuro... Sinto que o tempo passa rápido demais, diante dos meus olhos, sem que eu faça nada. E isso... Não me agrada muito.
Perdido neste turbilhão de pensamentos tomei um banho gelado de um caminhão que passou numa poça d'água. Como eu não me dei ao trabalho de me preocupar, acabei desmaiando na entrada do meu prédio. Era uma quinta-feira, o dia que a onee-san voltaria para casa depois de um longo ano na China.
...
- Yuu?
- Ah... Onee-san...
Tudo o que eu conseguia ver era o rosto de minha irmã mais velha me observando, sendo iluminada pelo abajur no meu criado-mudo. Ela parecia preocupada.
- Me escute.
- Pode falar.
- O médico falou que você ficou com uma gripe muito forte por conta da hipotermia. Não vai sair de casa até segunda-feira.
- E hoje é...?
- Quinta, deve ser umas dez e pouco.
- Ah...
- Esse final de semana é a Mirai Hunt. E você não vai.
- Mas, onee-san...
- Não, você não está em condições. E eu não vou poder ficar cuidando de você, dessa vez.
- Vou ficar sozinho?
- Não. Vou achar alguém que possa ficar com você.
Me aninhei na cama e me cobri.
- Não precisa onee-san... Eu posso me virar.
- Até amanhã de manhã eu vou achar alguém para cuidar de você, então não seja teimoso.
Resmunguei algo sobre "não se preocupe com isso, onee-san, eu vou ficar bem", mas depois de cinco minutos sozinho naquele quarto mal iluminado pelo meu abajur, acabei dormindo. Lembro que sonhei com a Airu-san.
Quando eu acordei, olhei com dificuldade para meu relógio. Já era bem mais que nove da manhã, e uma mão gelada estava pousada na minha testa.
- Onee-san...?
- Lamento te decepcionar, mas não.
Como fazia tempo que eu não ouvia mais aquela voz, demorei um pouco mais para reconhecer que quem era. E, fraco por causa da febre, respondi baixinho.
- Airu-san... O que faz aqui...?
- Sua irmã me chamou, disse que você estava doente e que precisaria de uma pessoa para ficar com você. E você estava chamando meu nome as três da manhã.
...
- Ahnlôhn...
- Ah, Airu-san?
- Quenhé...?
- Nene Amano.
- AH! NENE-SAMA! A que devo a honra da ligação?
- Me desculpe ligar tão tarde para você, mas... Você poderia cuidar do meu irmão neste fim de semana?
- Mas este fim de semana não é a Mirai Hunt? (Fwan)
- É sim. Mas ele acabou sendo molhado por um motorista maldoso e pegou uma gripe muito forte. Não vou poder cuidar dele, pois fiquei responsável de liderar alguns hunters em Hong Kong...
- Mas... Por que eu?
- (barulho de algo se mexendo e depois chegando perto do rosto de alguém a ponto de ouvir a respiração) Airu-san... Desativa a firewall, quero ver você... (barulho de algo voltando pro rosto de outra pessoa) E também vocês precisam se resolver, não é mesmo?
- . . . Isso seria cruel com ele...
- É melhor que nada, não é?
- Mas...
- Você aceita cuidar dele?
- ... Aceito. Estarei aí as oito.
...
- Ah.. Onee-san... - me lamentei, e eu esqueci que ela ainda estava com a mão na minha testa. Nesta altura, ela havia esquentado um pouco.
- Sua febre não baixou nem um pouco, né... - ela se abaixou ao lado de minha cama e falou calma. - Levante-se e vá tomar um banho. Eu vou fazer seu café-da-manhã.
Eu me sentei na cama e deixei que meus olhos se adaptassem a figura dela. Ela não havia crescido muito, os cabelos continuavam naquele penteado usual dela e... Não sei dizer o que, mas algo nela tinha mudado...
- A propósito, Yuu: você é uma graça enquanto dorme. - e fechou a porta.
Não senti aquele calor de quando seu rosto fica vermelho, mas me olhei no espelho depois que ela disse isso. Pareciam que tinham tacado tinta guache na minha cara.
...
Depois de uns 20 minutos eu tomei coragem e saí na sala. O chão estava extremamente gelado e eu tomava cuidado para pisar só em tapetes. Não me lembro de ter feito algum barulho, mas ela largou o fogão e mandou que eu me sentasse no sofá.
- Como você se atreveu a sair do banho de pé descalço? Quer morrer de vez?
- Não é iss...
- Que seja, ponha isso aqui. - E me ofereceu um par de meias de lã, amarelas. - Se tiver pantufas, trate de calçar elas depois.
Fiquei olhando para as meias.
- Onde as comprou, Airu-san? Elas são tão quentinhas e... Eu gostei da cor...
- Não as comprei. Eu as fiz. - e voltou pra correndo para o fogão, falando baixinho que quase tinha deixado a comida queimar por minha caausa.
Fiquei fantasiando o que a onee-san tinha dito para que ela aceitasse ficar sozinha comigo durante um final de semana inteiro.
Freetalking: Tô de volta com mais um YuuIru. Eu tô virando profissional em escrever histórias assim, aparentemente as meninas que defendem os outros pairings não notaram muito a minha existência... Mas bem, eu escrevi isso por um motivo muito bom: eu estava querendo fazer um doujin disso, mas como nunca achei o programa que eu quero para poder trabalhar dignamente nele, converti em fic e vou deixar no fanfiction até eu ter coragem de comprar logo este programa e fazer. Originalmente eu queria escrever tudo de uma vez só, mas como agora é quase uma da manhã e eu ainda não tomei banho, eu vou cortar pela metade e continuo assim que eu me lembrar. Mais uma coisa: eu peguei isso do RP. Como faz um tempão que as coisas não acontecem lá (exceto um barraquinho básico entre Ryou, Ruki e Daisuke), fiquei imaginando um fim pra história deles. =u= Eu tenho quase certeza que a Hinata não vai ficar muito satisfeita com isso mas... =u= Ainda dá tempo de mudar algo, eu ainda vou desenhar essa coisa.
