Notas da autora: Esta fic é uma NC-17/Hentai e, ao mesmo tempo, uma semi-UA (universo alternativo). Eu não vi muitos capítulos do anime, então, não vou seguir a risca a história dele. Mas tento me manter o mais fiel possível a ela.
- Capítulo Um -
A cozinha estava cheia, os caldeirões a todo vapor. O cheiro das ervas e especiarias misturadas ao rico banquete que seria servido tentaria qualquer ser vivente. Mas eles estavam ali apenas para servir, não para aproveitar.
- Vamos logo com isso! – a cozinheira-chefe gritou, enquanto provava um molho preparado por uma de suas melhores aprendizes. – Muito bom, Nizara. – ela elogiou, mas com o cenho fechado, e virou-se novamente para os outros. – O Faraó está esperando o melhor banquete jamais preparado! É melhor se esforçarem ou terão suas cabeças cortadas.
Ela observou a mulher vir em sua direção, olhando os legumes que ela cortava.
- Parece que finalmente começou a aprender as artes culinárias, criança... – ela comentou, com certo sarcasmo, mas uma ponta de aprovação era evidente em sua voz e em seu olhar. – Continue assim, e quem sabe não suba de posição daqui a alguns anos? – completou, e se foi.
A mulher enxugou a tez bronzeada, empapada de suor, e após lavar as mãos voltou a cortar os legumes. Uma outra moça, a seu lado, sorriu em aprovação quando já não havia ninguém prestando atenção nelas.
- Assim quem sabe ela pare de nos sobrecarregar de afazeres? – sussurrou ela, e a morena sorriu.
- Sim, quem sabe, não é? Ainda temos que vestir nossas melhores túnicas hoje à noite, pois vamos substituir duas escravas que desobedeceram às ordens. Vamos servir ao Faraó, estar perto dele! – ela exclamou, excitada, mas logo baixou o tom de voz quando viu algumas pessoas encararem-na com estranheza.
- Não sei qual a razão de tanto ânimo. Vai que ele gosta do que vê e nos requisita como escravas sexuais! – a outra exclamou, uma expressão de nojo desfigurando o belo rosto.
- Talvez ele realmente note você, Anhk, você é linda. – disse ela, admirando os cabelos negros e muito lisos de Ahnk, os olhos muito negros e amendoados.
- Rá queira que não. – disse ela. – Mas pare de falar besteiras, Nefertiti, ou atrasaremos o jantar.
Nefertiti sorriu para Anhk.
- Como quiser.
Após lavar mais uma vez as mãos que suavam sem parar, e observar seus olhos no reflexo da água, Nefertiti voltou aos seus afazeres. Aquele era o primeiro dia do momento mais importante da sua vida, e ela não o estragaria por nada.
Wishes
Ela rolou na cama, espreguiçando-se. Mas, mesmo assim, a preguiça a dominava completamente. Rolou mais uma vez e dessa vez esticou as pernas, tentando espantar mais uma vez a preguiça, e, antes que esta a dominasse novamente, levantou-se de um salto da cama.
Foi até as janelas, abriu-as e respirou o ar, enquanto o Sol incandescente retirava de seu corpo os últimos vestígios de sono.
- Nossa, que dia lindo! – exclamou, recostando-se na janela e observando as pessoas que passavam calmamente pela rua.
Morava numa das ruas que circundavam o maior parque de Domino, e gostava de observá-lo quando acordava. A mistura do verde com o colorido de flores, frutas e algumas plantas proporcionava um verdadeiro espetáculo natural aos olhos. Os passarinhos e outros animais que se abrigavam ali também davam as caras pela manhã, antes de começarem sua rotina.
Ela voltou ao quarto e rapidamente desabotoou a blusa do pijama. Estava procurando uma blusa no armário quando a porta se abriu, sem nenhum pedido educado de licença para entrar, e por ela passou uma garota da sua idade, com lindos cabelos negros e olhos de mesma cor, a pele alva como a de uma oriental. O que, afinal, ela era.
- May-chan, bom dia! – a menina sorriu, enquanto observava a outra tentando fazer a cabeça passar pela abertura na blusa que escolhera.
- Bom dia, Kali-chan. – respondeu, ainda mexendo na blusa.
Kali sorriu e correu a ajudá-la. Depois ajudou-a a escolher uma calça, e observou novamente enquanto a amiga a vestia.
- Pretende fazer algo hoje?
- Eu estava querendo passar na Toudai, lá tem uma biblioteca enorme. Você sabe que eu adoro ler...
- Mas, May-chan, estragar um sábado tão lindo numa biblioteca sem graça é imperdoável. Não, você vai comigo ao Game Crowe.
- Fazer o quê? Sabe que sou péssima em jogos eletrônicos.
- Não sei como, com seu QI... – Kali zombou.
May apenas sorriu.
- Que tipo de insinuação está fazendo à minha pessoa? – perguntou, enquanto as duas saíam do quarto.
- Que você não sabe se divertir? – sugeriu Kali, rindo. – Vamos, me acompanhe, só desta vez. Lá tem uns meninos que são uma gracinha...
- Porquê será que eu não notei de cara que haviam segundas intenções? – May riu.
- Porque isso é apenas mais um motivo pra você ir. Está na hora de começar a se interessar por rapazes, May-san.
- Eu me interesso, mas não do jeito que você se interessa. – respondeu ela, e de repente sua expressão mudou. – Esqueci os óculos. – voltou à subir a escada, enquanto Kali continuava a descer, com um ar desolado.
- Ohayo, okaa-san! – Kali cumprimentou sua mãe, quando entrou na cozinha.
- Ohayo, Kali-chan! – sua mãe respondeu, com um sorriso. – Onde está May-chan?
- Pegando os óculos.
Dito e feito. Dois segundos depois, a estabanada May aparecia na porta.
- Ohayo, Michiko-san. – cumprimentou a mãe da amiga, curvando-se.
- Ohayo, May-chan. – respondeu Michiko, observando-a.
A garota usava uma calça cargo preta, muito folgada no corpo pequeno e esbelto, e uma blusa branca, daquelas de botões e bolsos na frente. Os cabelos negros, cacheados e rebeldes, estavam soltos e obviamente ainda não haviam visto um pente naquele dia. Os olhos de um tom indefinido de âmbar, muito diferente de tudo que ela já vira, estavam escondidos pelos óculos de armação negra e lentes suaves.
– Você nunca se arruma não?
May sorriu. Michiko tinha autoridade para fazer tal pergunta, afinal, cuidava dela como se fosse sua filha há cinco longos anos.
- Você sabe que não sou muito de me arrumar, tia... – respondeu, enquanto sentava-se ao lado de Kali.
- O que é uma pena. – a oriental comentou. – Você é muito bonita, May-chan. E sendo estrangeira, atrairia ainda mais rapazes.
- Prefiro a companhia de bons livros, obrigada. – recusou polidamente, tomando um pouco de suco enquanto enchia um prato de leite e cereal.
- Você precisa crescer, sabia? – Kali comentou, meio chateada.
- Não se chateie comigo, Kali-chan. – pediu May docemente, para depois encher a boca de cereal.
- Deixe a menina escolher o que faz da vida, Kali. – repreendeu-a suavemente a mãe. – Ela é muito infantil ainda.
- Não sei porque vocês falam isso. – resmungou May, fazendo bico. – Só porque ainda não me interesso por garotos, não significa que seja imatura. – protestou, as bochechas coradas de vermelho sobre a pele bronzeada.
Mãe e filha riram, o que só a fez ficar mais aborrecida. Decidiu então fazer o que sempre fazia nessa situação: ignorar as implicações. Passou a concentrar-se no cereal, e logo Kali também se servia, só que de ovos com bacon que a mãe acabara de preparar.
- O que vão fazer hoje, meninas? – perguntou Michiko.
- Bem, eu estou tentando convencer May-chan a se vestir um pouco mais atraente e me acompanhar até o Game Crowe. – Kali comentou, sem nenhum embaraço diante da mãe. Esta já estava acostumada com a filha de 16 anos e sabia que em sua mente só viviam sonhos com os garotos mais bonitos que conhecia.
- Vá com Kali, May. – concordou Michiko. – Não precisa se arrumar, já que gosta de se vestir como se veste. Mas seria bom uma mudança de ambientes.
- Isso, mãe. – Kali sorriu. – Vamos. Você pode até não ser boa com jogos eletrônicos, mas também existem os duelos de cartas, se quiser tentar. Tenho certeza de que com sua avantajada inteligência ganharia fácil daqueles patifes.
May sabia que tinha uma inteligência fora do normal, pois todos faziam questão de lembrar-lhe isso. Ela, porém, não dava a mínima. Tinha gosto por estudar e ler livros, estudava num colégio para superdotados que era um verdadeiro inferno, onde passava a maior parte do ano, e era só. Agora, sobre os "patifes" de quem Kali falava, ela nada sabia.
- Quem seriam esses "patifes"? – perguntou, interessada.
- Uns bobocas que se acham os melhores no jogo de cartas. Sabe, o Takio, o líder da gangue deles, está treinando para o campeonato mundial de duelos. Ele quer ser o representante do Japão, imagine. Mas lógico que Kaiba e Muttou não vão deixar isso acontecer.
- Kaiba? Muttou?
- Kaiba é o dono da Kaiba Corporation. Assumiu o comando da corporação quando ainda era muito jovem. Ele tem um irmão que deve ter alguns anos a menos que a gente, hoje. Se nós temos dezesseis... Bem, não sei. Só sei que o Kaiba tem vinte e dois. E é lindo de morrer. – complementou Kali, com estrelinhas nos olhos.
May sorriu, ao entender a questão, e voltou a se concentrar no seu café, mas voltou novamente sua atenção à prima quando esta continuou a falar, alheia à falta de interesse da outra.
- Yugi Muttou é um dos melhores jogadores de duelos do mundo! Ele e Kaiba têm uma rixa antiga, mas disso não se sabe muita coisa. O avô dele tem uma loja de card games aqui em Domino, e Yugi mora com ele. De vez em quando ele aparece na loja. Os amigos dele também. Todos já participaram das aventuras duelísticas do Yugi. Eu adoraria ter participado de alguma!
- Acho que se você dissesse isso para eles, só iria fazê-los rir. – comentou May, com a sinceridade de sempre. – Eles são bem mais velhos que nós, e com certeza não querem ser vistos andando com adolescentes.
- Talvez. – Kali resolveu voltar sua atenção à comida depois daquele comentário.
As duas terminaram de comer e foram para seus quartos. May pegou um caderno, alguns livros e juntou mais alguns materiais dentro de uma pequena bolsa que colocou nas costas. Prendeu os cabelos rebeldes no coque e saiu do quarto. Kali a aguardava no andar de baixo, usando uma saia jeans e uma blusinha decotada. Uma jaqueta completava o ar rebelde, além da maquiagem excessiva para o dia.
- Ué, não trocou de roupa? – Kali resmungou. – Tudo bem, você é incorrigível mesmo. E pra quê levar livros?
- Acho que vou acabar sem nada pra fazer enquanto você conversa com os tais garotos bonitos de quem me falou. Se isso acontecer, pretendo ler alguma coisa. – explicou.
Kali bufou, mas nada disse. As duas despediram-se de Michiko e tomaram o caminho do Game Crowe. Kali fazia comentários animados sobre um dos tais garotos lindos com quem saíra uma vez.
- E ele beija tão bem... – continuou, até que avistou uma pequena loja ao lado do Game Crowe. – Ei, que tal irmos lá? É a loja do avô do Yugi. Talvez ele esteja lá.
May se viu arrastada até a tal loja. Não era lá grande coisa, para uma loja que se tornara famosa graças ao tal Yugi Muttou. O avô, o senhor Sugoroku Muttou, parecia ser muito simples, o que a agradou. Geralmente as pessoas se deixam levar pela fama, mas o senhor parecia manter os pés bem presos ao chão.
Vista por dentro, a loja tinha uma aparência mais moderna, com alguns computadores e prateleiras cheias de coisas sobre os duelos, além de cartas para comprar, é claro. Algumas imagens do Egito Antigo lhe chamaram a atenção. Lembravam-lhe o sonho que tivera, onde a chamavam de Nefertiti. Gostara sinceramente do nome, e dos seus olhos também. Vira-os refletidos na bacia onde Nefertiti lavava as mãos. Eram muito azuis, de um tom diferente de tudo que já vira. Adoraria ter aqueles olhos.
Mas não gostaria nem um pouco de sentir a maldade que sentira no coração daquela garota.
- Já achou algo interessante? – zombou Kali, que a observava. – Viu? Eu disse que você ia gostar dos duelos.
- Alguém falou em duelos? – um senhor baixinho e atarracado perguntou. Tinha olhos bondosos e cabelos tão rebeldes quanto os de May. – Bom dia, senhoritas. – cumprimentou, assim que as avistou.
- Bom dia. – ambas responderam, fazendo uma reverência.
- Posso ajudá-las em alguma coisa?
- Pode sim. – Kali sorriu. – O Yugi está?
- Não, senhorita. – Sugoroku respondeu imediatamente, o que deixou Kali desanimada. – Mais alguma coisa?
- Sim. – disse ela, só que sem o entusiasmo de antes. May reprimiu um riso, pois adorava a prima. – Minha prima não conhece os duelos, mas adoraria conhecer. Será que o senhor poderia explicar algo a ela, ou indicar algum livro? – ela perguntou, e olhou o relógio. May arregalou os olhos. Quando ela dissera que "adoraria conhecer os duelos"? – Nossa, estou atrasada para encontrar o Motoki. Estou aqui do lado, querida. – beijou as bochechas de May e sumiu porta afora.
May enrubesceu pelo jeito como fora abandonada pela amiga, totalmente sem graça.
- Deve ser muito incômodo ser abandonada desse jeito... – comentou Sugoroku afetuosamente. – Mas não ligue. Sou Sugoroku Muttou, senhorita. E você, quem é? Não é japonesa, parece estrangeira. Acertei?
- Sim, senhor. – May sorriu, mais aliviada. – Sou Terrae Mayra. Sou brasileira, mas moro no Japão há cinco anos.
- Verdade? Nome bonito o seu, Terrae-san.
- Chame-me de May, como todos fazem. – pediu ela, olhando-o novamente. – Não gosto muito de formalismos.
- Eu também. Então me chame de ojii-san. – ele sorriu.
- Certo, ojii-san. – May concordou. – Agora, sobre os tais duelos, eu realmente não conheço nada. Kali, a moça que acabou de sair, disse que são muito interessantes. Mas eu me encantei com aquelas figuras. – ela apontou as figuras egípcias.
- Ah, sim... – Sugoroku parecia observar a garota por um outro prisma. – Acha interessante o Antigo Egito?
- É uma civilização fascinante e muito misteriosa. Adoro ler sobre ela. – afirmou, entusiasmada. – Se esse jogo tiver algo a ver com o Egito, então as coisas vão ficar mais fáceis ainda.
- Então você vai adorar os duelos, minha cara May-san. – ele sorriu, puxando-a pelo braço para o balcão da loja. – Esses duelos têm tudo a ver com o Egito Antigo...
Ele pegou um baralho de duelo que estava sobre o balcão e começou a lhe explicar sobre os diversos tipos de cartas. Cartas de monstros, de magia, de armadilhas... Era realmente um jogo fascinante. E May tinha uma estranha certeza de que conhecia aqueles desenhos de algum lugar. Kali tinha um baralho daqueles em casa, provavelmente ela se lembrava de ver aquelas cartas nas mãos da prima.
Sugoroku alegou ter que fazer algo nos fundos da loja e pediu que ela ficasse no balcão enquanto isso. May recostou-se no balcão e começou a analisar atentamente as cartas do jogo de duelos. Foi quando ouviu passos atrás de si que se virou, contente.
- Ojii-san, acho que estou começando a... – ela parou de falar ao ver que não era Sugoroku quem estava ali.
O rapaz que a observava era um pouco baixinho, com cabelos arrepiados para cima em três cores: preto, roxo e loiro. As mechas loiras caíam ao lado do rosto de feições infantis e os olhos enormes demonstravam a surpresa de encontrá-la ali. O rapaz usava nada menos que um pijama de flanela.
- B-Bom dia. – cumprimentou ela, corando e desviando o olhar do rapaz. – Quem é o s-senhor?
- Eu que pergunto. Quem é você, menina? – apesar da perguntar ser um pouco estranha, o tom de voz não tinha qualquer demonstração de irritação. – O que faz na loja do vovô?
- Ojii-san foi para os fundos e pediu que eu ficasse aqui e... Ei, você disse avô? – ela virou-se, parecendo esquecer do embaraço. – Então você é Yugi Muttou?
- Não sabia? – ele perguntou, sorrindo. – Sou eu, sim. Posso ajudá-la com alguma coisa, senhorita...
- Terrae.
- Terrae. Terrae-san deseja algo da loja? E o que faz com meu baralho nas mãos?
May deixou o baralho em cima do balcão numa velocidade impressionante, enquanto baixava a cabeça, o rosto ficando cada vez mais vermelho.
- Seu avô tinha nos dito que o senhor não estava em casa.
Ela ouviu Yugi rir.
- Vovô é muito protetor. Sempre aparece alguém querendo falar comigo, e ele sempre diz que eu não estou.
- Realmente, ele parece muito protetor. – concordou, ainda de cabeça baixa.
Yugi caminhou até ela e ergueu o queixo da garota com uma das mãos. Ele era baixinho, mas com a idade que tinha acabara crescendo bastante. Já a menina não aparentava ter mais que treze anos, vestida daquele jeito.
- Acalme-se, menina. Não a estou acusando de nada.
O rubor na face dela se tornou mais forte, e ela deu um passo para trás, fazendo com que ele soltasse seu queixo.
- Desculpe estar mexendo no seu baralho, senhor Muttou. O senhor Sugoroku estava me falando sobre cartas e disse que eu podia olhar.
- Tudo bem. – o rapaz pegou o baralho do balcão e entregou-o novamente a ela. – Está querendo aprender a duelar?
- Não exatamente. Vim acompanhar minha prima até a loja de jogos aí ao lado, mas ela quis vir aqui, e aí eu gostei das figuras egípcias e acabei ficando enquanto ela foi pra lá. Mas não levo jeito para jogos.
- Ora, isso tem remédio. – ele sorriu. – Um pouco de treino pode ajudar muito os iniciantes. Então, quer que eu lhe ensine como deve jogar?
Ela o olhou, surpresa. O rubor sumia cada vez mais.
- O senhor me ensinaria? Pensei que fosse ocupado, e não iria querer perder seu tempo comigo...
- Ah, que é isso. Já fui como você. Venha, vou lhe ensinar os princípios básicos de um duelo. – disse, contornando o balcão para ficar de frente para ela e cobrir uma parte do corpo, afinal, estava de pijama no meio da loja!
Ele estava mostrando em que posição deixar as cartas quando o sino da loja soou mais uma vez. Yugi parou de falar e encarou o novo cliente. Era um homem alto, de cabelos castanhos e olhos muito azuis, que lembraram May dos olhos de Nefertiti. O nariz arrebitado e o ar arrogante davam a entender que era alguém importante, além das roupas caras e a maleta de trabalho.
- Como vai, Kaiba? – cumprimentou Yugi com um sorriso, como sempre.
Então aquele era o Kaiba de quem Kali falara. Ah, se a prima estivesse ali... Kali iria ficar maluca quando May contasse que vira Yugi Muttou e Seto Kaiba pessoalmente, juntos.
- Vou bem, Yugi. – o homem respondeu, friamente, sem parecer notar a presença de May ali.
A garota, já acostumada, apenas se afastou e foi até onde deixara sua bolsa, enquanto os dois homens continuavam conversando.
- O que quer de mim hoje, Seto? – perguntou Yugi, divertido. – Se veio duelar, sinto dizer que hoje eu não duelo.
- Não é exatamente isso. – resmungou Kaiba. – Vim fazer um convite.
- Um convite? – estranhou Yugi. – Espere até Jounouchi ouvir isso. Ele não vai acreditar.
- Pouco me importa o que aquele idiota pensa. Quero que esteja na Kaiba Corp na segunda-feira, às dez em ponto. Quero fazer uns testes com uma novidade, e preciso de alguém que ao menos dure algum tempo.
- Isso é uma ordem ou um convite, mesmo? – Yugi perguntou, já sem sorrir. – Kaiba, já disse que não quero me meter nos seus experimentos de novo. Lembra o que aconteceu da última vez?
- Não me lembre daquilo. – ele respondeu imediatamente. – Mas não se preocupe, agora estamos cem por cento certos de que tudo vai dar certo.
- Nada é cem por cento seguro, Seto Kaiba. – avisou Yugi, que de ingênuo já não tinha muita coisa.
- Eu sei disso, mas não quero ninguém mexendo no meu protótipo a não ser você, Muttou. Então, vai aceitar ou terei que raptar alguém mais uma vez? Anzu foi muito bem recebida da última vez em minha humilde residência.
Yugi ia responder algo quando os dois viram uma pilha de decks desmoronando em cima de May. Yugi correu a ajudá-la.
- Terrae-san, está ferida? – perguntou, preocupado, enquanto Seto se aproximava lentamente, apenas observando.
May tinha os olhos cheios de lágrimas e o rosto ruborizado.
- Desculpe, eu não queria... Eu fui pegar minha bolsa e... – ela falou em meio aos soluços.
- Não se preocupe. – Yugi sorriu e ajudou-a a levantar.
Sugoroku surgiu na porta que levava para o interior da loja.
- Que barulho foi esse? – ele perguntou, observando a confusão. – Oh, o que houve aqui? – disse, olhando para Seto com certa desconfiança.
- Não olhe pra mim, Sugoroku. – o homem se ofendeu. – Eu não vim aqui com a intenção de destruir sua loja. Alguém chegou antes de mim. – apontou a garota.
Sugoroku finalmente pareceu compreender o que acontecera.
- May-san! – ele exclamou, correndo até ela. – Você está bem?
- Desculpe, ojii-san, não queria derrubar nada, eu...
- Calma, calma. – pediu o senhor, sorrindo e fazendo-a sentar-se num dos bancos. – Por favor, não chore. Não foi sua culpa, eu tenho certeza.
O sino da loja soou pela terceira vez, e Kali entrou na loja. Primeiro observou atônita a situação, olhando admirada Yugi e Seto, depois percebeu o estado em que a prima se encontrava.
- May! O que aconteceu? – se aproximou correndo da amiga.
- Leve sua prima para casa, por favor. – pediu Sugoroku. – Ela está muito nervosa.
- Kali, eu não fiz por querer, eu... – a estrangeira se atrapalhava com as palavras, constrangida.
- Calma, May-san. Vamos pra casa. Mamãe vai fazer um chá pra você.
- Oh, eu estou tão envergonhada...
Kali pegou as coisas da prima e as duas saíram da loja, sob os olhares dos três homens. Yugi virou-se para Seto, irritado.
- Porque tinha que falar daquele jeito? Não viu que a menina já estava se sentindo culpada o suficiente? – acusou.
- Não é da minha conta os sentimentos de uma criança. – comentou ele, duro. – Espero você na Kaiba Corp na segunda-feira, Muttou.
E saiu, deixando para trás aquele ar imponente. Yugi o viu entrar em uma limusine branca, e esta seguir em direção à Kaiba Corp.
- Maldito seja esse Seto Kaiba. – praguejou Sugoroku. – Aquela menina é um doce de pessoa. Ele não tinha motivos para falar daquele jeito.
- Você sabe como Seto é, ojii-san. – foi a resposta de Yugi. – Ei, a menina esqueceu os cadernos dela!
- Veja se tem algum endereço dentro. – sugeriu Sugoroku.
Yugi pegou os livros e abriu o primeiro. Pertencia à biblioteca da universidade de Domino. O outro era um caderno de desenhos.
- Se foi ela quem desenhou tudo isso, ela desenha muito bem. – comentou Sugoroku, ao ver o que o neto olhava com tanta curiosidade.
- Sim... – os olhos de Yugi estavam presos num desenho que May fizera do que parecia um Faraó, muito parecido com ele. Datava de dois anos atrás.
- Ei, mas esse aí não é Yami? – perguntou Sugoroku, e Yugi, ao observar melhor, concluiu que parecia mesmo com Yami.
- O que você diz, Yami?
O ex-Faraó apareceu ao lado de Yugi, sempre com a mesma aparência.
- Esse desenho é muito parecido com algo que eu já vi antes... – declarou ele. – Um quadro, talvez... Não lembro... Mas sou eu.
- Estou indo agora mesmo devolver isso a ela.
- Boa idéia. Não sei de onde ela viu esse quadro meu, mas é melhor esquecer. Talvez ela tenha visto uma foto sua e por acaso imaginou isso. Eu lembro de ter ouvido ela falando a Sugoroku que gostava do Egito.
- Sim. – concordou Sugoroku.
- Então vamos logo com isso. – Yami comandou. – Eu estou interessado é no que Kaiba quer com você, Yugi.
- Eu também. – Yugi concordou. – Então vamos.
- Ei, Yugi! – Jounouchi, que acabava de entrar na loja, cumprimentou. – Vamos andar por aí?
- Claro. – Yugi concordou. – Mas antes tenho que deixar isso na casa da menina. – ele havia achado um endereço no caderno de desenhos.
- Que menina?
- Eu te explico pelo caminho, vamos indo. Tchau, vovô.
- Tchau, Yugi.
E os dois se foram, animados com a conversa. Yami Yugi já havia sumido novamente.
