Black- http/www. fanfiction. net/s/1851570/1/
Tradução © Mar/2005 Ameria Black
Betagem por Dana Norram
ESTA FANFIC É UMA TRADUÇÃO
Capítulo 1
A Gentileza dos Estranhos
Remus J. Lupin não podia estar tendo um dia pior.
Tinha começado com mingau de aveia para o café-da-manhã — não a melhor das refeições e, até onde Remus se lembrava, todos os dias ruins de sua vida tinham começado com mingau de aveia no café-da-manhã. Ainda assim, ele comeu sem reclamar e apressou-se para a escola depois de dar um beijo de despedida em sua mãe.
Naturalmente, como ele tinha saído de casa cedo (Remus era um rapaz muito pontual), não havia ninguém na escola e as portas ainda nem estavam abertas. Os únicos alunos presentes eram os maiores e mais mesquinhos terceiranistas, que chegavam cedo para jogar futebol ou fumar cigarros. Remus realmente não entendia como caras que fumam daquele jeito conseguiam correr; mas ficou quieto e tentou não chamar atenção enquanto esperava pela abertura da escola debaixo de uma árvore. Mas, como sempre, isso era inútil; vários dos terceiranistas perceberam sua presença e começaram a gritar e insultá-lo: "Você parece cansado, Lupin. Foi duro a noite passada?", "Ei, tem um casal de viados lá em Kent que precisavam de um rapazinho como você!", até que Remus tivesse que baixar os olhos para seus pés, esforçando-se para esconder como seu rosto estava vermelho e tinha que encolher os ombros para segurar as lágrimas.
Remus era um garoto de dezesseis anos magro e esbelto com cabelos castanho-claros, olhos cor-de-avelã e uma pele pálida e cremosa. Ele sempre se vestia elegante e meticulosamente, seu blazer vinho abotoado, suas calças da marinha apertadas, sua gravata listrada de vermelho e marfim com um nó perfeitamente dado e seus sapatos lustrosos. Usava óculos para ler e passava um ar de fragilidade e feminilidade — que era o motivo pelo qual os rapazes o atormentavam. Não era bom em nada físico, exceto correr, e odiava educação física. Mas na sala de aula, Remus estava em seu território — era um excelente aluno, atencioso e dedicado, sempre adorado pelos professores. Isso não irritava muito os demais alunos, mas alguns dos outros garotos castigavam Remus intencionalmente nos intervalos. Remus achava que provavelmente poderia ter batido um recorde de máximo de vezes de "Ter Que Ir Para Casa Se Trocar", ou "Maior Quantidade de Gravatas Perdidas", ou algo do gênero.
Mas, como hoje era um mau dia, Remus acabou saindo da escola durante o almoço para trocar seu uniforme inteiro — o antigo tão sujo e amassado que era quase não era reconhecido. Sua mãe gemeu quando ele entrou em casa.
— Outro uniforme arruinado! Você não se importa com o dinheiro que eu e seu pai temos que sacrificar para que você tenha uniformes para vestir? Essas roupas não são baratas, e a sua irmã precisa de roupas também...
E mais, e mais. Até que Remus terminava chegando dez minutos atrasado para a escola por causa do sermão de sua mãe, recebendo uma reguada nos nós dos dedos por isso.
Parecia que era uma coisa ruim depois da outra. E ficou pior. Tão logo Remus apareceu na porta da frente da escola naquela tarde, após as aulas, alguns dos terceiranistas se aproximaram dele. Remus encarou-os com cautela, preparando-se para correr; eram alguns dos piores atormentadores da escola.
— Por que você está recuando, Lupin? — o maior de todos, um bruto chamado Williams, perguntou. — Eu só queria perguntar se você está livre esta noite... Você é tão fofo, eu não conseguiria dizer 'não' para um amasso.
Era isso. Remus saiu correndo que nem um antílope, sem responder. Ouviu Williams e seus amigos largarem as mochilas e saírem atrás dele.
Aquilo virou uma perseguição furiosa pelas ruas cheias de Londres. Remus desviou de pessoas, pulou por cima de hidrantes e latas de lixo, mal evitando os postes e caixas de correio. Os cinco garotos que o perseguiam não eram tão rápidos ou ágeis quanto ele; não demorou muito para que ele já tivesse despistado-os. Mas no processo, Remus vagou por uma parte da vizinhança que não lhe era familiar — as ruas eram sujas, as construções ao seu redor estavam caindo aos pedaços e precisando urgentemente de novas janelas. As poucas pessoas que passavam mantinham as cabeças baixas e corriam preocupadas com seus próprios problemas, como se não o vissem. Remus engoliu nervosamente, ajustando a alça de sua mochila, erguendo a cabeça e olhando para o céu que escurecia lentamente. Então, de repente, colidiu com alguma coisa sólida.
— Ai! Olhe pra onde diabos você está indo! — exclamou uma voz zangada.
Remus reparou que tinha caminhado pra cima de um rapaz da sua idade ou um pouco mais velho, que agora estava examinando-o atentamente. Era um olhar bastante intimidador: ele tinha cabelos pretos brilhantes que iam até um pouco abaixo de seus ombros, pele branca como a neve, e olhos azuis-escuro que pareciam positivamente letais. Estava vestido todo de preto, com destaque para jóias prata. Seus olhos estavam delineados com lápis e seus lábios estavam pintados com a sombra mais escura de vermelho que Remus já tinha visto. Conforme Remus olhava boquiaberto para ele, ele levantou uma mão pálida, incrustada de anéis, aos lábios e deu uma tragada no cigarro. Suas unhas estavam pintadas de preto.
— M-me desculpe — Remus gaguejou, dando alguns passos para trás. — Eu não est-tava ol-lhando para onde est-tava indo...
— Isso é meio óbvio — murmurou o estranho. Ele se virou e começou a ir embora. Remus mordeu o lábio, olhou para trás, para o céu que se esvaia, e então correu atrás do estranho.
— Ei... espera!
O estranho virou-se, um olhar muito antipático em seu rosto.
— Quê?
— Hum... Eu não queria ser rude, mas... Eu estou perdido e...
— Isso não é problema meu. Foi você quem foi estúpido o suficiente para ficar vagando por aqui. — O estranho tirou os longos cabelos pretos do rosto e deu outra tragada no cigarro.
— Por favor, você poderia me ajudar? — Remus implorou. — Eu tenho que ir para casa... Minha mãe deve estar começando a se preocupar...
— Eu sei lá quem diabos você pensa que eu sou, mas eu não sou um policial — o estranho rugiu e esfregou a testa. — Ótimo, ótimo... eu te ajudo, mas é melhor que não apareça na minha frente depois!
— Obrigado — disse Remus muito aliviado. — Muito obriga...
— Grande merda. Vamos. — O estranho jogou o cigarro no chão, esmagando-o com a ponta de sua bota. Remus correu para segui-lo. Ele tinha pernas longas e dava passos grandes que eram difíceis de acompanhar, principalmente com uma mochila pesada nas costas. Ele guiou Remus por becos e ruas que ele sequer lembrava de ter passado antes; ficava tonto só de pensar nisso. Mas, após mais ou menos uns trinta minutos, eles saíram de trás de um armazém, diretamente na frente da Padaria dos Doces — uma visão abençoadamente familiar.
— Eu sei onde estou agora — Remus falou às costas do estranho. — Vou ficar bem agora... obrigado por me ajudar. Queria poder te recompensar...
O estranho virou-se e o encarou.
— Poderia... Poderia te dar algum dinheiro? — Remus perguntou timidamente, olhando dentro dos profundos olhos-de-meia-noite do estranho.
— Não. Eu tenho uma idéia melhor.
Antes que Remus pudesse perguntar, o estranho pegou seu queixo com força entre o polegar e o indicador e o beijou. Foi um beijo desleixado, molhado, a língua do outro homem escorregando entre os lábios de Remus. Remus podia sentir o tabaco no hálito do estranho, misturado com o gosto da cera do batom. Assustado, Remus sequer pensou em se afastar. Ele estava completamente congelado e, de qualquer forma, o rapaz tinha passado um braço em volta da sua cintura, puxando Remus contra ele, uma mão boba momentaneamente em seu traseiro. A mistura do cheiro de cigarro e colônia vinda do seu cabelo e roupas quase o intoxicava. Remus não podia fazer nada. Gemeu suavemente na boca do estranho, pressionando o corpo firmemente contra o do outro homem, beijando forte de volta.
O estranho finalmente se afastou e acendeu outro cigarro.
— Obrigado pela recompensa — disse com um leve sorriso, piscando para Remus antes de voltar pelo mesmo caminho de onde viera.
Remus ficou imóvel, olhando para o beco escuro onde o estranho desaparecera. Lentamente, como num sonho, seus dedos subiram para tocar os lábios quase entorpecidos. Ele tinha sido beijado — por um total estranho, um homem. De olhos arregalados, ele escorregou lentamente para o chão, totalmente perplexo. E mais, tinha sido extremamente excitante. O que tinha sido tudo aquilo?
Conforme Remus lutava contra os próprios pés e corria para casa com pernas curiosamente fracas, ele não podia deixar de se arrepender por não ter perguntado o nome do rapaz... E não podia deixar de ficar obcecado por aquele beijo.
