[…]
Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade.
A ordem é desocupar lugares.
Filtrar emoções.
Caio Fernando Abreu
.
E sentada, ela chorava. Suas pernas estavam trêmulas demais para aguentar o peso do seu, frágil, corpo. O rapaz à sua frente fazia o possível para manter-se impassível e ignorar as lágrimas da sua, agora, ex-namorada. Tornou-se dependente demais da mesma, e isso o irritava. Ser vulnerável a alguém. Uma mulher. Imaginou como sua casa se tornaria silenciosa agora aos sábados, sem ela para fazer-lhe companhia assistindo na enorme sala, ou até mesmo em seu quarto.
Lembrou-se de quantas vezes perdeu-se entre os suspiros e gemidos da mulher em sua cama. A mesma que quando terminavam, antes de deitar-se ao seu lado fazia um nó frouxo no cabelo para evitar que os fios longos e negros grudassem em sua pele alva que se encontrava um pouco molhada. Ela não gostava de lugares quentes, apesar de que naquele quarto, quando os dois se encontravam sozinhos, o clima sempre se encontrava tépido.
Se ele não gostasse tanto assim da mulher que chorava à sua frente, assim que saísse da casa dela, iria para a sua própria. Chamar uma vadia qualquer e ouvi-la gritar o seu nome em sua cama - por mais irritante que ele achasse este feito – apenas para manter-se distraído por alguns minutos. Assim que expulsasse a mesma de sua casa, iria beber.
Pegaria uma das inúmeras garrafas de uísque presentes em sua cozinha e uma carteira de cigarros. Voltaria para a sala com passos lentos e sentaria em seu enorme sofá de couro preto. Colocaria uma quantidade considerável do seu tão esperado uísque no copo antes de colocar a garrafa em cima da mesinha de centro. Beberia um pouco antes de acender o cigarro e sugar com vontade aquela mistura de substâncias que a partir do momento que entrasse em seus pulmões começaria a matá-lo aos poucos.
Mas, não. Ele não fumava, sequer bebia. Quando a gostar da mesma... Ele não gostava. Ele a amava, e entendeu que passaria um bom tempo a fazê-lo.
E então, saiu.
Saiu daquele quarto cujo clima estava pesado. Sem ouvir o que a garota tinha a dizer sobre o término do relacionamento dos dois. Virando-se lentamente e andando do mesmo modo, esperando que a mesma o chamasse, nem que fosse de um palavrão qualquer... Coisa que ele sabia que ela não o faria, ela era pura demais para isso. E saiu do quarto, ouvindo apenas os baixos soluços e frases sem nexo da mulher ao se perguntar o que supostamente teria feito de errado.
Queria poder abraçá-la e dizer que ficaria tudo bem, e que isso era besteira. Apenas dele, como sempre. E momentos depois estarem em sua cama novamente. Sem brigas. Sem lágrimas. Sem sofrimento.
Mas não o fez.
