The Batman (Como deveria ser)

nota: Essa é uma adaptação de um roteiro feito por mim, um fã, de como seria a melhor sequência de Batman no universo DC do cinema atual. Batman como um ótimo detetive, coringa como um extremo manipulador de intelecto impecável e vilões com motivos reais sem ofender a inteligência do leitor. Tudo acontece em algum momento antes dos acontecimentos de Batman v Superman e Esquadrão Suicida. Todas as reviravoltas serão elucidadas nos capítulos seguintes. Personagens que já foram introduzidos no cinema não serão descritos, apenas nomeados pelo ator/atriz referente.

O aviso chegou a ele de forma incomum. Ele ainda era Bruce Wayne (Ben Affleck), um empresário tentando dormir por pelo menos alguns minutos depois de um dia rotineiro em sua vida conturbada. A noite estava chegando e com ela o barulho indesejado que ele perseguia. Seu pai substituto, Alfred (Jeremy Irons), bateu na porta e entrou antes de ouvir respostas.

— Houve um tiroteio em uma joalheria. São muitos homens contra a polícia. Por enquanto há um refém impedindo o pior. — disse Alfred confiante e em tom de urgência.

Bruce se levantou entendendo a mensagem principal.

— Obrigado. — disse Bruce.

— Tenha cuidado. — disse Alfred da mesma maneira rotineira de sempre.

O resto do que Bruce precisava saber ele procurou no celular enquanto caminhava apressado para o armário de roupas. Selecionando as notícias relacionadas ele apertou um ponto específico na parede após fechar a porta e outro cômodo foi revelado imediatamente. No espelho do que seria um elevador que começou a descer surgiram as notícias espalhadas ao redor. O vídeo amador compartilhado em rede social e feito por um transeunte do lado de fora foi o que chamou mais a atenção de Bruce. Ele analisou como um detetive cada detalhe. A tremedeira do homem de pouco mais de um metro e oitenta indicava uma provável inexperiência. A demora para agirem quando a polícia chegou indicava a ausência de uma figura como líder. As máscaras desconfortáveis e de pouco campo de visão demonstravam o despreparo. Somente um dos quatro que apareceram no vídeo parecia ter algum conhecimento em defesa pessoal pelo modo que se mantinha nos cantos, pelas passadas ritmadas e postura com a arma leve, mas apoiada com as duas mãos. O vídeo de quinze segundos acabou quando o primeiro disparo foi dado por alguém que não apareceu nas imagens. Haveriam no mínimo cinco assaltantes.

Bruce saiu do elevador para um lugar escuro e úmido. Uma caverna onde escondia seu maior segredo. Voltando seus olhos para seu celular e caminhando, quase que correndo, continuou dando comandos de voz.

— Analisar face. — Ele disse arrastando o dedo na tela do dispositivo móvel sobre um rosto de um dos assaltantes que ajustou uma máscara de caveira por meio segundo.

Neste tempo, o furo para o olho na máscara mostrou metade do rosto do assaltante. Quinze resultados foram encontrados e Bruce reduziu para apenas um pressupondo que a luva cirúrgica que só ele usava poderia ter vindo da profissão. Um enfermeiro usuário de óculos com ficha criminal na adolescência poderia ser um dos suspeitos. Dinheiro não poderia ser o motivo para ele observando rapidamente seu seio familiar. Bruce entrou no seu veículo que disparou imediatamente contra uma parede que se abriu e fechou depois. O comando manual do veículo foi ativado logo que ele saiu dos esgotos e já não era mais o Bruce Wayne. Em poucos segundos uma armadura o revestiu, o tornando não só a ferramenta certa para a situação desesperadora, mas também o símbolo de medo dos inconsequentes.

Batman dirigia cortando o ar com seu veículo de difícil descrição. Um automóvel em aparência, mas capaz de saltar e flutuar no ar para desviar do trânsito, desafiar a física ao fazer curvas impossíveis, surpreender qualquer um pela furtividade quase inaudível e diminuir a distância do destino quase tão rápido quanto uma nave… A notícia sobre o tiroteio chegou aos meios televisivos. As imagens ainda eram amadoras, mas confirmavam a posição dos assaltantes. No rodapé a notícia de duas baixas, uma era um dos assaltante e outra um inocente pego em fogo cruzado. A noite já havia chego e Batman podia enxergar o caminho que deveria seguir. Acelerou ainda mais seu veículo, ativou o acento ejetor, foi jogado por cima dos veículos policiais de luzes piscando estacionados ao redor da joalheria, abriu a capa em formato de asas de morcego enquanto o veículo virava sozinho na esquina e planou pela janela entreaberta do quarto andar no prédio vizinho.

— Ele está aqui! Não tem como fugir! Fiquem de olhos abertos! — o assaltante menos desordenado gritou para seus companheiros.

Todos estavam atentos às duas únicas entradas. Um barulho atordoante fez o assaltante com uma refém deixar de mirar uma pistola para sua cabeça e quase todos olharam para a porta principal. Uma explosão derrubou o ar condicionado de parede e da fumaça surgiu uma sombra envolta em escuridão. A arma do assaltante com refém foi arrancada de sua mão por um disparo de um imã eletromagnético que se prendeu a parede e continuou entortando o metal da arma enquanto as luzes do teto piscavam pela interferência. O único assaltante aparentemente mais experiente foi o primeiro a cair com um soco que não viu da onde veio. O próximo, desesperado por um alvo que se mexia apenas na escuridão ou entre a fumaça, deixou o gatilho de uma metralhadora meio caminho andado e ficou deslizando a mira para todos os lados. Uma sombra surgiu em seu canto do olho e antes que ele pudesse terminar de puxar o gatilho depois de mirar ele foi empurrado pela própria arma. Batman deu um soco na metralhadora que não só impediu o disparo iminente, mas também quebrou alguns dedos do assaltante e o desacordou com a empunhadura voltando em sua face. O próximo atirou contra Batman pelas costas que nem se mexeu. A armadura absorveu cada impacto certeiro inclusive evitando o ricochete. O assaltante estava com a refém nem percebendo que a enforcava ainda mirando para Batman que se virou lentamente levantando os braços. O atirador tentou mais três disparos quando viu os olhos de Batman desprotegidos. Batman usou as mãos para proteger o rosto. O assaltante se escondeu atrás de um mostrador enquanto recarregava a arma. Seu telefone tocou o assustando. Era aquele que Batman sabia a identidade e consequentemente sabia o número do telefone. O susto o fez titubear por um segundo o suficiente para ser levantado do chão e ser jogado contra a parede. Apenas um assaltante restava. Batman caminhou até ele sem fazer barulho. Puxou a arma largada ao chão com o pé e se abaixou pegando a arma e a destruindo. Olhou primeiro para o corpo já sem vida antes mesmo dele chegar e depois para o assaltante que chorava ajoelhado ao lado do refém morto por ele. Nada poderia ser feito.

— Não tente nada. A polícia vai vir te prender. — Batman disse para o assaltante que estava visivelmente em choque e depois se virou para a refém. — Está tudo bem. Não corra até eles e saia com as mãos levantadas para evitar ser confundida. — ele disse abrindo a porta de entrada sem ser visto.

A mulher se levantou em lágrimas, acenou em agradecimento balançando a cabeça e juntando as mãos enquanto procurava palavras. Batman removeu o dispositivo magnético da parede fazendo as luzes pararem de piscar e se surpreendeu quando a mulher não saiu do local, mas se ajoelhou ao lado do refém morto sem medo do assaltante ainda ali. Uma cena de impotência. Uma sensação de falha. Batman testemunhou o desespero da mulher que perdeu alguém importante, o desespero do homem que causou aquilo ciente do erro e saiu por onde entrou quando os policiais chegaram.

No topo repleto de fuligem de um dos prédios ao redor Batman permaneceu esperando o próximo chamado. Sua mente estava mais focada em entender o que aconteceu. Havia um segredo não revelado. A polícia havia acabado de começar a investigação quando Batman foi ajudar outras pessoas em necessidade. Ele nem percebeu que usou força demais quando capturou um ladrão de veículo o deixando inconsciente antes de receber o agradecimento do dono do veículo. Aquele mistério da joalheria precisava de respostas. Nada havia sido divulgado, a não ser a identidade dos assaltantes e da vítima morta. Chegou a tempo de prever e testemunhar uma ação corriqueira da única pessoa que o daria alguma resposta.

— O que aconteceu aqui, comissário? — Batman perguntou do outro lado da parede enquanto o comissário Gordon (J. K. Simmons), alguém que ele poderia chamar de amigo, saia pela porta dos fundos da joalheria acendendo um cigarro.

— Obrigado pela ajuda. — Gordon respondeu fingindo não ter se assustado e caminhou até ver a figura entre-escuridão que assombra os criminosos.

— Se não descobriram nada saíam e me deixe olhar melhor o lugar. — Batman disse engrossando a voz.

— Você sabe que não é assim que as coisas funcionam. Eu estou neste ramo a muito mais tempo que você. Já percebi que tem alguma coisa errada. Os assaltantes não batem com nenhum perfil. Já verifiquei as famílias deles e tudo indica que não sofreram ameaça. A única relação entre todos é o histórico criminal na adolescência. Não são nem conhecidos entre eles. Se encontraram hoje pela primeira vez.

— A vítima… Eles tinham algo contra aquele garoto?

— Foi uma fatalidade. O garoto tinha acabado de terminar o colégio. Queria ser um bombeiro. Estava treinando para isso. Veio a joalheria comprar um anel para a namorada, a outra refém que você salvou. Os seis assaltantes apareceram enquanto a loja fechava e ordenaram a rendição dos donos. Queriam tranca-los no banheiro enquanto faziam o serviço. Os namorados chegaram depois e foram ordenados a se deitarem. O alarme silencioso não foi acionado, mas um telefonema anônimo atraiu uma viatura que chegou em menos de dois minutos. O tiroteio começou. Com tantos homens eles poderiam sair atirando pela porta da frente, mas trancaram a entrada e fizeram reféns. O policial ferido está bem. Em algum momento o garoto tentou ser um herói. Rendeu e desarmou um dos invasores, atirou contra aquele que morreu em seguida. Um tiro na perna que fraturou o fêmur e que cortou a veia femural na queda. Depois ele acertou o líder também na perna. Esse teve sorte e está bem, só com um nariz quebrado graças a você. Ele disse que vai te processar.

Batman deu de ombros.

— Continue levando esses processos e a justiça vai colocar um exército atrás de você. — O comissário Gordon disse tentando amenizar o clima tenso. — Onde eu estava mesmo?… Ah! Sim! O garoto rendeu os outros assaltantes, só não sabia que o outro refém que ele protegia era um deles. Foi alvejado pelas costas. Perfurou um pulmão. Morreu afogado com o próprio sangue. Teria sobrevivido se…

— Havia um enfermeiro. — Batman interrompeu sabendo já como o rapaz poderia ser salvo.

— Sim. O líder ordenou que o enfermeiro cuidasse de sua perna primeiro. Foi tarde demais para os outros dois.

— Não era o líder.

— Eles não confessaram quem era o líder mesmo. Eu apenas deduzi usando a lógica.

— Falta um motivo melhor. Os bandidos chegaram e renderam os donos e o segurança. Um telefonema anônimo foi feito por quem?

— Telefone descartável sem registro.

— Começaram quebrando apenas um vidro quando foram surpreendidos pelo casal. — disse Batman saindo do escuro por um segundo ao trocar de parede naquele beco. — Um deles jogou a máscara para fora e se passou por vítima.

— Como assim jogou a máscara?

— Aquela máscara ali no lixo.

— Isso… É novo… Não pode ter nenhuma ligação. Eu destranquei a porta. Peguei a chave que ficou trancada com os donos no banheiro. Disseram que a outra chave está no carro no estacionamento a duas quadras daqui.

— Havia mais um assaltante. Um que saiu antes do disfarçado entrar. Um que fez a ligação e a filmagem. Um que conseguiu o que queria e abandonou os outros. O sangue sobre os cacos de vidro…

— Que filmagem?…

— Senhor! — alguém chamou de dentro da joalheria saindo pela porta dos fundos. — Encontramos a cápsula do disparo que quebrou o vidro do mostruário. — disse um policial parando ao lado de Gordon. — Senhor? Encontrou alguma coisa?

— Sim… — Gordon disse se virando para o canto escuro onde deveria estar aquele que a pouco falava com ele. — Traga a camera e peça ao tenente Carl investigar o veículo do proprietário da loja com cautela.

— Sim senhor. — disse o policial. — Só devo avisar que é uma cápsula de uma ponto quarenta e quatro. Não encontramos essa arma entre os assaltantes.

— A arma do segurança?

— Ele usa um taser e bastão.

— É provável que havia um sexto assaltante.

Gordon ficou do lado de fora esperando o investigador voltar com a camera que então foi usada para iluminar melhor a lixeira e tirar fotos da cena antes de poder mover a evidência. A confirmação de ser uma das máscaras que apareceram na camera de vigilância veio imediatamente. Uma máscara de palhaço completamente queimada em um dos lados. Após as fotos, Gordon achou dentro da máscara o molho de chaves coincidentes com as deixadas em sua posse pelos donos. Ele pode confirmar mesmo antes do tenente voltar a notícia que o carro do proprietário havia sido arrombado. Em sua mente martelava as últimas palavras de Batman. Novamente dentro do local do crime percebeu o que Batman havia deduzido nos poucos segundos que esteve ali. Aquele que quebrou o mostruário passou por cima dos cacos sem o sangue, que veio logo depois na confusão. O detalhe que Batman queria saber estava ali, no que foi roubado enquanto não havia testemunhas. Os donos já haviam partido para a delegacia para depor. Gordon teve que perguntar para o segurança noturno que aguardava do lado de fora.

— Ei! Você conhece bem a mercadoria? — perguntou Gordon ao segurança.

— Não. — o segurança respondeu amistosamente. — Só tenho como saber se vocês sumirem com alguma coisa.

— Não se preocupe. Você pode me ajudar em alguma coisa?

— Depende…

— Me siga.

Gordon levou o segurança até o mostruário quebrado.

— O que está faltando? — perguntou Gordon.

— Esse é fácil descobrir. — disse o segurança meio atordoado com o sangue no chão. — Falta um anel. Um dos mais caros. Só vou dar uma olhada no registro para ver se não foi vendido. — ele seguiu para um livro de registros de venda.

— Caro quanto?

— sete mil. Os donos sempre tiveram medo de assalto e mantiveram apenas joias comuns. Esse anel tinha um diamante… Aqui… — O segurança apontou para um dos itens no registro. — Não foi vendido mesmo. Está com aqueles ladrões desgraçados?

— É cedo para tirar conclusões, mas eles já foram revistados. O anel teve alguma história? Digo, algum cliente insatisfeito ou que voltou para olhar o anel mais vezes?

— Não sei. Eu ganho bem para ficar o dia inteiro observando suspeitos. Pra mim todos são culpados, se é que me entende.

Os investigadores continuaram a análise da cena do crime sem nenhuma nova descoberta. Apenas a certeza de que o provável líder abandonou a equipe passando e trancando uma porta extremamente reforçada de uma joalheria após sair com apenas um anel de diamante. A esperança de Gordon além dos resultados da perícia que levaria tempo era na interrogação dos assaltantes presos.