Eu poderia chamá-lo de demônio, mas demônios são anjos decaídos. E não, eu nunca iria admitir que o acho tão lindo e adorável quanto um. Um anjo caído. Um único ser que devora minha alma aos poucos.
Na costa Oeste eles possuem um ditado. Se você não bebe, você não joga.
Eu bebo. Ele joga. Eu jogo. Ele bebe.
E assim eu passo meus dias, olhando-o e vendo o quão alto chegamos.
Carros, bebidas, drogas, mulheres, homens, mansões, luxo.
E música.
Mas lá no fundo eu sei, esse sentimento dentro de mim nunca mudou, nunca irá. Quando eu era um nada, só uma merda de menino que sonhava em ser detetive, ele estava lá, e isso, era o bastante. Ainda é.
É o bastante o ver na beira da piscina com os braços erguidos, rebolando os quadris enquanto um sorriso dança em seus lábios junto do cigarro. Acima dele estava as estrelas. Só. Apenas as estrelas chegaram mais alto que ele.
Talvez ali, onde as estrelas pareciam tão frágeis e próximas, talvez ali, elas também o observam. Elas enxergam a mesma cabeleira em chamas, a mesma camisa listrada de anos atrás, o mesmo sorriso maroto e o mesmo olhar brilhante - que se assimilavam a duas belas rubis - que eu.
E em passos lentos eu o via se aproximar, o vi passar seus dedos finos e brancos no braço da espreguiçadeira que eu estava deitado, e então vieram até meu queixo, e logo eles me forçaram a encarar seus olhos. Com sua mão livre tirou o cigarro da boca e o deixou cair, e a nuvem de fumaça voou longe junto ao vento, levando algumas mechas de cabelo nos meus olhos.
Pendi minha cabeça para trás quando seus dedos invadiram meu coro no topo puxando grandes mechas para trás. Seus lábios de encontro ao meu soltaram uma frase incomum. E no momento seguinte estávamos nos beijando com ferocidade, e seu corpo já estava colado ao meu.
Talvez o fato de amá-lo seja apenas um segredo que eu mesmo não sabia. E isso me satisfaz, saber que ele sabe.
A noite estava quente. Verão.
Eu estava em chamas. Ele.
Peço que fique comigo. Ele diz que não digo coisas com coisas.
Porque ele ficaria.
Peço que seja somente meu, e prometo que sou apenas dele. Ele diz que não digo coisas com coisas.
Pois já somos um.
A explosão de sentimentos é inevitável, e a troca de olhares também. Peço que repita, e repita, e repita infinitamente. E ele faz. E minha mente grita por mais, meu corpo grita por mais, e o sexo não é mais sexo, é um ritual divino.
E de acordo com ele, rituais devem ser feitos frequentemente. Sorrio com a lembrança. A movimentação de corpos é incessante e frenética.
Eu estou apaixonado.
A felicidade me invade, e segura-la é impossível. Amá-lo menos é impossível. Ouvir sua voz rouca e lenta dizendo que me ama é uma dádiva, e sentir seu corpo demonstrando seu amor é tão louco como morar na costa Oeste.
