Mais uma nova história minha de Ezria :) Essa história terá 3 capítulos, e todos já estão escritos, então assim que esse 1ºcapitulo tiver pelo menos 1 review, eu posto o segundo capítulo. Espero que gostem! (E por favor, comentem!)


Acordo com uma coisa barulhenta tocando. Levanto assustada, e percebo que é apenas o estúpido despertador. Suspiro, e caminho em direção ao banheiro me preparar para o dia. Após estar pronta, dou uma olhada em meu celular. Ainda nada de Ezra. A mensagem que ele me mandou ontem a tarde vem em minha mente.

"Recebi uma proposta. Eu tenho que fazer uma coisa. Não sei se você vai gostar ou concordar com o que irei fazer, mas tenho que fazer isso. Por mim. Por favor, não se esqueça, aconteça o que acontecer, isso não significa que eu estou desistindo de nós. Eu jamais irei te abandonar."

E eu respondi quase imediatamente, mas ele não me retornou. Fui até o apartamento dele, e ele não estava lá. Estava quase enlouquecendo. Minha respiração se tornou ofegante, um ataque de pânico se aproximando. Aria se acalme, eu disse a mim mesma. Ele está bem. Nada aconteceu com ele. Se algo grave tivesse acontecido, você já teria descoberto. Noticias ruins chegam rápido. Malcom, o filho dele, que conheci algumas semanas atrás, vem a minha mente e começo a pensar que algo possa ter acontecido com ele. Não. Ezra teria me avisado. Talvez.. talvez ele esteja planejando uma surpresa. E com esse pensamento, fui me acalmando.

Comi alguma coisa sem realmente sentir o gosto da comida, e fui para a escola. Como cheguei relativamente cedo, ainda não tinha quase ninguém, e o refeitório estava quase completamente vazio. Sentei em uma das cadeiras, e peguei meus livros para terminar a lição de casa, que por causa do meu estado emocional ontem, não consegui terminar.

Quando estava na ultima questão, sinto alguém tocando meu ombro.

- Como você está? – Spencer disse me abraçando.

- Estou um pouco melhor. Obrigada por ter me acalmado ontem. – eu disse lembrando do meu telefonema desesperado para Spencer.

- Tenho certeza que está tudo bem com Ezra. Você vai ver.

- Assim espero.

Spencer sentou do meu lado e ficou conversando comigo e me ajudando a responder a ultima questão. Hanna e Emily chegaram, e ficamos conversando, até o sinal tocar. Minha primeira é de inglês, e de Spencer também. Hanna e Emily tem aulas diferentes da nossa.

Nós entramos na sala, e ainda não tinha nenhum professor na sala.

- Será que vamos ficar sem professor de inglês hoje de novo? – Spencer perguntou sentando em uma cadeira.

- Sei que a nossa professora teve bebê, e a psicopata da Meredith que estava substituindo ela, está sumida.. mas já eram pra ter encontrado um novo professor a essa altura né? Já faz 2 dias que estamos sem professor de inglês! – eu disse, sentando em uma cadeira ao lado da Spencer.

Spencer tirou os cadernos da mochila dela, e eu peguei meu celular para verificar se tinha alguma noticia do Ezra. E até agora nada. Ouvi passos de uma pessoa entrando na sala. Ótimo, devem ter encontrado um novo professor substituto. Antes de olhar quem era o novo professor, decidi mandar uma nova mensagem ao Ezra. Um pressentimento ruim me preencheu de uma forma que me causou até falta de ar. Quando consegui me acalmar, terminei de mandar a mensagem, olhei para cima para ver quem era o novo professor. Assim que eu olhei quem era, meus olhos se arregalaram. Ezra Fitz estava parado em frente a mesa do professor. Meu Ezra.

- Olá – Ezra disse olhando para mim – A maioria de vocês já me conhece, mas para aqueles que não me conhecem eu sou Ezra Fitz. Sou professor de inglês e estou aqui para substituir a professora de vocês, que está de licença maternidade.

Ele parou de falar e continuou olhando para mim. Eu desviei meu olhar do dele e abaixei a cabeça, envergonhada, e Ezra continuou a falar.

- Alguém poderia me dizer qual foi a ultima matéria que a professora explicou a vocês?

- A ultima matéria foi Shakespeare e ela nos disse que a próxima matéria seria The Scarlet letter e ela já tinha até distribuído o livro para a gente. Mas ainda ninguém começou a ler. – Spencer.

- Obrigada Spencer. Então vou dar 1 semana para vocês lerem. Vocês podem pegar o livro e começar a ler agora. Todo mundo pegou o livro da mochila e começou a ler. Eu continuei olhando para o Ezra até Spencer cutucar meu braço e me fazer despertar.

Abaixei-me para pegar o livro na mochila e apesar de já ter lido esse livro várias vezes, comecei a reler o livro para ocupar minha mente. Antes de terminar o primeiro parágrafo do livro, meu celular vibrou na mesa avisando que tinha uma nova mensagem. Era uma mensagem do Ezra.

"Por favor, depois que a aula acabar fique aqui para a gente conversar e eu poder me explicar."

Eu olhei para frente e o Ezra estava com o celular na mão, me encarando. Eu engoli em seco e voltei a ler o livro, sem responder a mensagem. Quando o sinal da aula tocou, eu continuei sentada, esperando todo mundo sair. Spencer entendeu que eu ia ficar na sala para conversar com Ezra, e foi embora sem mim.

Ezra andou até minha carteira e eu me levantei, ficando de frente para ele.

- Você lembra que eu tinha deixado meu currículo aqui, certo? O diretor me ligou ontem de manhã falando que tinha aberto uma vaga, e se eu queria fazer uma entrevista. Eu vim, e a noite eles me ligaram dizendo que eu estava contratado. Quis fazer uma surpresa para você, pois achei que assim seria mais fácil de você assimilar. Ser pega de surpresa. - Ezra disse, e seus olhos estavam implorando para eu entender seus motivos.

- Então você claramente não me conhece! – Peguei minha mochila e comecei a andar em direção a porta.

Ezra pegou meu braço e me girou de volta para ele, fazendo a distância entre nossos corpos ficar minúscula.

- Aria.. – Ezra sussurra olhando em meus olhos.

- Ezra, você não percebe o que isso significa para nós? Nós vamos ter que nos separar. – Eu disse olhando nos olhos dele ao mesmo tempo em que meus olhos se enchiam de água.

- Aria, eu tive que pegar esse emprego. Eu não sei como eles me aceitaram aqui tão rápido, mas.. dou graças a Deus que isso aconteceu. Eu preciso de dinheiro. Eu preciso ajudar Maggie com as despesas do Malcom. E nós não precisamos nos separar. Podemos nos encontrar escondidos. - Ezra disse passando uma das mãos em seu cabelo.

- Nós voltamos a ser como éramos antes. – Eu sussurrei, olhando para baixo.

- É durante pouco tempo. Só até eu encontrar outro emprego. – Ezra disse pegando minha mão.

No momento em que ele fez isso, uma corrente elétrica atravessou todo o meu corpo, e tudo o que eu queria fazer era esquecer tudo isso e beijá-lo. Porém, resolvi ser forte, e escutar a parte racional do meu cérebro.

- Eu não sei se eu consigo fazer isso de novo – Eu disse usando todas as minhas forças para afastar a mão dele da minha. – Desculpa, mas isso é tudo muito complicado e arriscado.

- Nós já passamos por isso. É arriscado, eu sei, mas você vale o risco. – Ele disse acariciando meu rosto.

- Eu te amo como sempre amei, mas eu tenho medo. Se alguma coisa de ruim acontecesse com você por minha causa, como por exemplo, você ir para a prisão, eu nunca iria ser capaz de me perdoar. – Eu disse, uma lagrima se formando no canto do meu olho.

- Eu quero. Eu quero nós. Se nós nos precavermos, ninguém vai desconfiar de nada. – Ezra disse usando as pontas dos seus dedos para enxugar as lágrimas do meu rosto.

- É muito arriscado Ezra! É perigoso demais. Ainda mais agora com meus pais sabendo sobre nós. Mesmo que eu falasse para eles que nós terminamos, eu não iria conseguir olhar cada passo que dou, e assim que eu me descuidasse e meus pais percebessem, eles iriam correndo te denunciar!

- Não pense nisso, Aria.

- Tenho que pensar! Estou tentando fazer a coisa certa aqui. Tentando ser racional. Por mais que meu coração diga para eu esquecer todos os problemas e ficar com você, meu cérebro diz para eu tomar cuidado e me afastar antes que alguém se machuque.

- Eu não me importo. Já te falei isso.

- Mas eu me importo! É a sua vida e a sua carreira que está em jogo. Você não sabe o quanto eu queria não ter que dizer isso, mas eu acho melhor terminarmos. – Eu disse, saindo correndo da sala, sem olhar para ele, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Enquanto eu corria em direção ao banheiro feminino, o caminho pareceu ainda mais comprido que o normal. Eu abri a porta e felizmente encontrei o banheiro vazio. Eu apoiei minhas duas mãos na pia do banheiro, tentando me acalmar. Enxuguei as lágrimas do meu rosto com a costa das mãos e como eu não estava querendo falar no momento, mandei uma mensagem para minha mãe falando que eu não estava me sentindo muito bem e queria que ela me liberasse para eu poder ir para casa mais cedo. Logo depois que enviei a mensagem meu celular tocou avisando que tinha alguém me ligando.

- Filha, o que você tem?

- Nada demais mãe, apenas estou com uma forte dor de cabeça e quero ir pra casa – Eu disse tentando controlar minha voz de choro.

- Ok então, pode ir pra casa. Quando eu sair aqui da escola irei passar na casa do seu pai para ver como você está. – disse com uma voz preocupada.

- Obrigada mãe, tchau. – eu disse, desligando.

Eu passei um pouco de água no meu rosto e tentei me recompor, mas não adiantou. Meu coração continuou batendo forte, e lágrimas não paravam de sair dos meus olhos. Como eu vi que eu não estava chegando a lugar nenhum eu resolvi deixar quieto, e sai para o banheiro em direção ao meu carro. Eu agradeci a Deus por ser horário de aula, portando os corredores estavam vazios. Quando cheguei à casa do meu pai, joguei minha bolsa com meu material escolar em qualquer canto do meu quarto e deitei em minha cama.

Tudo o que eu queria era apenas parar de pensar. Parar de pensar principalmente em uma pessoa em especial. Mas é claro que meu cérebro tinha uma ideia contraria em relação a isso. Quando mais eu tentava esquecer e deixar o sono me dominar mais imagens dos momentos que tive com o Ezra apareciam em minha mente. Os momentos que tivemos neste mesmo quarto. Quando Jackie apareceu de surpresa, e eu subi correndo ao meu quarto e o Ezra veio atrás de mim. Minha relação com Ezra, desde o principio, foi sempre cheia de obstáculos. Eu achava romântica a ideia de que nós nos amamos tanto que não importa os obstáculos que aparecem em nossa frente, nós lutamos contra eles juntos. Mas talvez os obstáculos sejam uma forma do universo de mostrar que nossa relação não é certa. Que nós devemos desistir e seguir em frente.

"Quando você ama alguém, vale a pena lutar por eles, não importa quais são as chances." Lembrei de quando eu disse isso para o Mike. Talvez eu era muito ingênua naquela época. As coisas não são tão simples quando parecem, e você tem que saber a hora de desistir e a hora de puxar mais fundo. Eu e Ezra puxamos fundo demais durante muito tempo. E complicações continuam a surgir.

Em meio a tantos pensamentos, a exaustão me venceu e eu adormeci. Acordei apenas com meu pai me chamando para jantar.

- Pai, você podia ter me chamado antes e eu te ajudava com o jantar! – Eu disse enquanto descia a escada em direção a cozinha junto com o meu pai.

- Não tem problema. Sua mãe passou por aqui mais cedo para te ver e me avisou que você não estava se sentindo muito bem, então deixei você dormir.

- Obrigada – Eu sorri e sentei na mesa, onde já estava tudo pronto e organizado para comemos.

- Ah, antes que eu esqueça de te avisar, além da sua mãe, Spencer passou por aqui também e deixou sua lição de casa de hoje.

- Ok.

Depois de um tempo comendo em silêncio, resolvi perguntar algo que não saia da minha cabeça.

- Pai, você teve algo a ver com Rosewood High aceitar de novo o Ezra como professor tão rapidamente?

- Digamos que eles acham minha opinião muito importante... – Byron disse sorrindo. – Mas era isso o que você queria, não era? Que Ezra arranjasse um trabalho?

- Sim, claro.. mas eu gostaria que ele tivesse conseguindo trabalho em outro lugar.. – eu disse, imersa em pensamentos.

- Por que? Para vocês continuarem se vendo?

- Sim, pai. Não nego isso. Você sabe que eu gosto dele. E agora com ele sendo meu professor novamente, eu não poderei continuar com ele.

- Aria, já te falei que eu não aprovo o relacionamento de vocês. Ele é legal, mas é muito velho para você. E ele pode ser uma má influência pra você. Eu não sei o que você vê nele..

- O que eu vejo nele é problema meu, e não seu. E vamos parar por aqui porque não quero brigar. Você já terminou de comer?

Meu pai balançou a cabeça afirmando que já tinha terminado, então eu levei nossos pratos para a pia.

Depois de lavar a louça, subi para meu quarto e fiz a lição de casa para manter minha mente ocupada e longes de pensamentos que eu não queria ter. Com a lição de casa feita, tomei um banho e resolvi dar uma olhada em meu celular e verificar se alguém tinha me mandado alguma mensagem. O celular mostrou que eu tinha recebido uma nova mensagem de Ezra, e eu fiquei relutante em abrir ou não a mensagem. Mas depois de 2 minutos enfrentando esse dilema, percebi que mais cedo ou mais tarde eu iria abrir a mensagem, então por que adiar o inevitavel?

"Só para lembrar-te que isso não é um adeus, e sim um até logo. Eu te esperarei"

Ao ler a mensagem, meus olhos se enxeram de água, e eu cai na cama, abraçando meu travesseiro em busca de conforto. Olhando pro lado, notei uma foto minha e do Ezra abraçados no nosso primeiro encontro escondido fora de Rosewood em um porta retrato em cima da minha escrivaninha. Várias memórias desse momento passaram pela minha mente. O modo como ele foi um cavalheiro comigo, me buscando de limosine, abrindo portas para mim. Ele me fez sentir como se eu fosse uma rainha. E quando eu contei isso a ele, ele respondeu "Que bom, é assim que eu quero que você se sinta pois você merece". Por instinto, peguei o porta retrato e deitei novamente em minha cama. Abracei o porta retrato, e sussurrei entre soluços "Eu também te esperarei, amor. Sempre."

Fiquei deitada na cama ouvindo música, e após um bom tempo ouvindo música, ouvi um barulho estranho aqui dentro de casa e resolvi checar o que era. Será que A estaria se infiltrando aqui em minha casa?

Abri a porta do meu quarto e segui o som do barulho. O barulho vinha do quarto de hóspedes. Abri a porta e me deparei com meu pai sem camisa, beijando uma mulher ruiva que também estava sem blusa. Quando eu vi a cara da mulher, eu não acreditei. A mulher parecia ter a minha idade. Fechei a porta com força, fazendo barulho, e andei em direção ao meu quarto.

- Aria, espere, eu posso explicar – meu pai veio correndo atrás de mim, abotoando a camisa, ofegante.

- Você percebe o quão hipócrita você é? Você falou no jantar que queria reatar com a minha mãe, e falou também da diferença de idade entre mim e o Ezra no jantar, e agora você estava transando com uma mulher que não era minha mãe e tinha idade para ser sua filha!

- Aria, me desculpa. Apenas aconteceu e...

- Para, não quero ouvir mais nada. Vou para a casa da minha mãe.

Peguei minha mochila e coloquei ali dentro apenas o básico e o que estava fácil de alcançar: meu material escolar, uma calça jeans em cima da cadeira, uma blusa que estava pendurada na porta do guarda roupa, meu pijama que estava em cima da cama, meu notebook e fui até o banheiro pegar meus itens de higiene pessoal.

- Aria, por favor não faça isso. – Byron disse enquanto eu saia do banheiro e descia a escada em direção a porta.

- Você tem que parar de fazer as coisas sem pensar nas conseqüências!

- Eu sei Aria, me desculpa. – ele disse me seguindo.

- Ela é sua aluna, não é? – Eu disse parando em frente a porta e olhando para ele.

- Sim, mas por que você acha que tem o direito de me julgar? Você também esteve com o Ezra.

- Nem tente comparar. Eu realmente gosto do Ezra. Você não gosta nem um pouquinho das alunas com quem você se relaciona, de tanto que você na primeira oportunidade quis voltar pra Ella. E você também não gosta mesmo da Ella, porque na primeira oportunidade que você tem, você fica com suas alunas. Eu não trocaria Ezra por nada. E tenho certeza que Ezra não me trocaria por nada.

- Ele está te trocando pelo filho dele.

- Para de ser sonso e ridículo, você entendeu muito bem o que eu quis dizer. Eu quis dizer me trocar por outra mulher, assim como você trocou a mamãe. – eu disse tentando controlar minha raiva.

- Mas eu amo sim a sua mãe.

- Tanto que ama ela que você estava a alguns minutos atrás brincando de médico com uma aluna sua. Seu hipócrita.

Acredito que deveria estar sentindo raiva, despreso ou algo do gênero em relação ao meu pai pelas suas atitudes. Por ele ter me feito guardar seu segredo no passado, por ter me afastado do homem que eu amo, e por ter cometido novamente o mesmo erro. Mas a unica coisa que eu conseguia sentir neste momento era tristeza. Tristeza por depois de tantos erros, eu ter perdoado ele, só para ele me decepcionar novamente. Suspirei tristemente, entrei no meu carro, dei uma ultima olhada em meu pai e dirigi até a casa da minha mãe.

Abri a porta da casa e toquei a campainha ao mesmo tempo para não assustar ninguém.

- Aria, o que aconteceu filha? – Minha mãe disse, me abraçando.

- Nada, eu.. – disse me segurando para não chorar – Eu briguei com o pai e gostaria de ficar aqui por um tempo. Posso?

- Claro que pode filha! Você sabe que eu nunca gostei de você ter ido morar com o seu pai.

- Você sempre falou que eu não ia agüentar ficar muito tempo lá. E aqui estou eu de volta! – eu disse forçando um sorriso.

- Estou feliz que você está de volta. Você está melhor? - minha mãe disse colocando a mão em minha testa.

- Não sei.. – eu disse indo até a cozinha e pegando um copo de água – Eu acho que não, eu gostaria de ficar em casa amanhã.

- Mas o que você está sentindo?

- Dor de cabeça, me sentindo mole, quente... – Eu inventei para não ter que ver Ezra na sala de aula.

- Você realmente me pareceu quente quando eu fui te ver na casa do seu pai. Mas você não pode perder lição!

- Spencer está me passando as lições e os trabalhos.

- Ok então, eu deixo você faltar.

- Obrigada mãe! – andei em direção a cozinha, pegando um copo de água para mim.

- Mas hoje é apenas segunda, não fique pensando que eu vou deixar você faltar na escola a semana toda.

- Ok, mãe.

Algumas vezes eu sou capaz de jurar que minha mãe consegue ler a minha mente. Obviamente era justamente isso o que eu mais queria, mas eu sabia que minha mãe não ia deixar eu faltar a semana toda e não tem como eu apenas fingir que fui pra aula e na verdade não ir, pois infelizmente minha mãe dá aula na mesma escola em que eu estudo.

Eu dei boa noite a ela e fui para o meu quarto. Como eu dormi praticamente o dia inteiro, eu sabia que meu sono ia demorar para vir e não queria ficar de bobeira pensando na vida por que se não ia começar a chorar, e estou cheia de ser fraca. Pensando nisso, liguei meu notebook e deitei na minha cama com ele em meu colo para me distrair um pouco. Entrei no meu facebook, fui conferir a página inicial, e uma das primeiras postagens era do Ezra, de algumas horas atrás. Foi uma postagem pequena e simples, mas que quase fez meu coração parar de bater.

"Já sinto sua falta" ele escreveu em sua página.

Ah, como eu queria poder dizer "eu também". Fui ver os comentários, e tinha um monte de gente perguntando quem era a pessoa que Ezra sentia falta. Ezra obviamente não respondeu. Desci a página e continuei lendo as novidades que tinham na minha página inicial. Hanna compartilhou uma publicação que dizia o seguinte .

"Ame sem medo de se machucar e seja feliz"; e a seguir, contava a história de uma garota que tinha uma relação complicada com um garoto, pois os pais dela não aprovavam a relação deles. Mas o mais difícil pra ela, foi descobrir se ele era a pessoa certa pra ela. Ela resolveu arriscar, eles lutaram para ficar juntos, e estão juntos até hoje. Eles estão casados, e ela está esperando o primeiro filho deles. Para mim, no entanto, o complicado não é descobrir se Ezra é a pessoa certa para mim. Eu sei que ele é. E eu sei que vale a pena lutar por ele. Mas esse medo me invade. Medo de alguém descobrir sobre nós e algo acontecer com ele.

Fiquei olhando outros posts da minha página inicial, sem realmente prestar atenção nas outras coisas que tinham postado. Um barulho vindo do notebook me fez voltar a realidade.

- Acordada a essa hora? Milagre! – Spencer disse no chat privado do facebook.

- Dormi praticamente o dia todo, então.. vai ser difícil eu ficar com sono agora. – eu respondi rapidamente.

- Hm. Notei que você ficou na sala para conversar com Ezra, e depois você foi embora mais cedo.. o que aconteceu? Sua mãe me disse que você estava com dor de cabeça, mas você sabe, eu não acreditei nela. Você vive com dor de cabeça mas nunca foi embora da aula por causa disso.

Incrível como ela me conhecia maravilhosamente bem. Melhor até do que a minha própria mãe. Ei mãe, que vergonha.

- Eu e Ezra conversamos, e ele disse que pretende continuar dando aula no nosso colégio até encontrar um novo emprego. Sei que algumas pessoas da escola já sabem sobre o nosso caso, mas eu posso falar que nós só estávamos juntos durante o tempo em que ele não era meu professor, e que agora que ele voltou a dar aula para nós, nós resolvemos terminar as coisas. Isso até nem vai ser mentira.

- Como não vai ser mentira? Não, perai.. você não fez isso!

- Eu fiz. Spence, essa é a melhor coisa para ele.

- Achei que vocês já tinham passado da fase de tentar adivinhar o que é melhor ou não para o outro.

- Não faça disso mais difícil do que já está sendo, Spence, por favor. Ezra quer continuar comigo não importando os riscos, mas eu me importo! Eu nunca iria me perdoar se ele fosse preso por minha causa. Ele está pensando com o coração. Mas nós já pensamos demais com o coração. Tenho que ser racional agora.

- Você quer que eu vá até ai agora?

Eu sorri.

- Obrigada, Spence. De verdade. Mas eu realmente preciso ficar um tempo sozinha. E ah, eu tenho mais uma novidade.. eu estou na casa da minha mãe.

- Aconteceu alguma coisa na casa do seu pai?

- Sim, aconteceu uma coisa desagradavel, mas não quero falar sobre isso agora.

- Ok. Você vai para a escola amanhã?

- Não. Mamãe deixou eu faltar amanhã.

- Ok. Bom, você está de folga amanhã, mas eu não. Tenho que ir dormir. Boa noite pequena.

Nós nos despedimos, e eu fiquei vendo televisão até o sono aparecer.


- Vai me dizer que você não achou aquela garota bonita? - dei uma leve cotovelada

na barriga de Ezra e me virei para terminar de enxugar a louça.

- Estou tão apaixonado por uma certa pessoa, que não consigo ter olhos para mais ninguém - ele disse passando os braços envolta da minha cintura e beijando meu pescoço, fazendo todo o meu corpo se arrepiar.

- Hmm, acho que essa certa pessoa deve ser uma pessoa de sorte por ter alguém como você apaixonado por ela. - eu disse guardando o ultimo prato no armário.

- Não, eu acho que eu que sou sortudo por essa pessoa me amar também - Ezra susurrou em meu ouvido, ainda com os braços envolta da minha cintura.

Um arrepio passou por todo o meu corpo e eu senti minhas pernas ficando bambas. Virei de frente para ele, encostando minhas costas na pia para ganhar equilibrio, passando meus braços pelo pescoço dele e o beijando.


Acordei meio atonita. Ainda de olhos fechados, passei meus braços ao meu lado, procurando pelo Ezra. Mas estava vazio. Cadê ele? Abri os olhos e levantei meu corpo da cama, em um movimento só. Eu não estava no quarto do Ezra, como eu imaginava. Eu estava no meu quarto, na casa da minha mãe.

E então todos os ultimos acontecimentos me atingiram rapidamente. Aquilo foi só um sonho. Eu terminei com ele. Nós não estamos mais juntos. Meus olhos começaram a se enxer de água, e eu apertei minha cabeça contra meu travesseiro, soluçando. Por que eu terminei com ele? Estúpida. Mas uma voz em minha cabeça disse "Foi para o bem dele". E isso me fez lembrar os motivos pelo qual eu terminei com ele. E eu lembrei que eu estava certa. Mas será que eu vou ter força suficiente para ficar longe dele? Pare com isso Aria, você é mais forte do que isso. Você tem que ser. Eu respirei fundo e repeti isso em minha cabeça várias vezes.

Quando finalmente me acalmei, peguei meu celular para ver que horas eram. 6:30 da manhã. Tinha dormido apenas 4 horas. Mas não queria voltar a dormir, porque eu sabia que se eu voltasse a dormir eu ia sonhar novamente com ele e eu não queria que isso acontecesse. Por isso, levantei da cama para começar logo meu dia. Lavei meu cabelo, escovei os dentes, e arrumei meu quarto. Peguei uma maçã no cesto de frutas e fui até a casa do meu pai pegar o resto das minhas coisas, aproveitando que esse horário ele não está em casa.


- Você tem certeza que você consegue fazer isso? - Spencer disse apertou minhas mãos, procurando me dar força.

- Tenho que conseguir. Não vou ter como passar o ano inteiro fugindo das aulas dele. - Eu disse tentando controlar minha respiração.

Eu e Spencer nos encontrávamos em frente a porta da sala do Ezra. Tínhamos 10 minutos antes da aula começar. Decidi entrar antes, para ninguém ver como isso me afetava. Eu respirei fundo, entrei e sentei no meu lugar de costume, e Spencer sentou no lugar de costume dela.

- Spencer, eu estou horrível? Minhas olheiras estão muito visíveis? - eu disse procurando um espelho em minha mochila.

Depois do sonho que tive com ele, fiz de tudo para não dormir, às vezes falhando miseravelmente. E mesmo acordada, ainda sim parece um pesadelo. Minúsculos detalhes faziam e me fazem lembrar do Ezra. Toda hora. Quando vou escolher uma roupa para vestir, e imediatamente recorro a uma roupa com um tom verde, pois eu sei que essa é a cor favorita dele em mim. Quando penso em qual comida fazer, e meu primeiro pensamento é em fazer um macarrão com cheddar, porque por mais estranho que parecesse essa mistura, era a comida favorita dele. Tudo, de alguma forma, me faz pensar nele. Afastei esses pensamentos da minha cabeça, e voltei a prestar atenção na Spencer.

Eu não sei para quem eu estava tentando parecer bonita, já que a única pessoa quem eu gostaria de impressionar é a única pessoa com qual eu não posso estar. Eu sei que Ezra disse que ele me esperará, mas eu não confio em mim pra ser o bastante para segurar ele. Doía pensar em mim e o Ezra como "passado", mas era uma realidade que eu tinha que aceitar. Não temos o presente, e muito provavelmente não teremos o futuro.

- Aria, relaxa. A maquiagem que eu passei em você disfarçou bastante. Você está maravilhosa como sempre - Spencer disse piscando pra mim, sorrindo. - Mas me explica aquilo direito.. seu pai dormiu de novo com uma aluna dele, ainda por cima no quarto de hospedes, em quanto você estava dentro de casa? - Spencer disse fazendo uma cara de nojo.

Assenti com a cabeça.

- Uh, eu estou fazendo vários quadros mentais disso e isso não é nada legal.

- Sorte sua que você não presenciou a cena. Foi horrível. - eu disse colocando o material que eu sabia que ia utilizar na aula em cima da carteira.

- Graças a Deus que eu não presenciei. E depois seu pai ainda acha que tem moral pra falar de você e do Ezra. Que ridículo.

- Eu fiquei tão irritada. Mas não quero mais pensar nisso. Meu pai que lide com os dramas dele. Eu queria que minha mãe tivesse me deixado faltar pelo menos essa semana toda. - eu disse querendo mudar de assunto.

- Pelo menos você teve dois dias de folga! - assim que Spencer respondeu, o sinal bateu, e os alunos começaram a chegar.

- Bom dia classe - Ezra disse ao entrar na sala.

- Bom dia - os alunos responderam em um uníssono.

Assim que bati os olhos nos Ezra, meu coração começou a bater mil vezes mais rápido. Que saudades que eu estava dele. De sentir a presença dele. De simplesmente ouvir a voz dele. Era uma saudade tão intensa que chegava a doer.

- Hoje primeiramente vou escrever na lousa alguns tópicos no quais vocês devem se focar ao ler The scarlet letter, e depois vou deixar vocês continuarem a - ele parou subitamente ao falar, olhando para mim. Depois ele arranhou a garganta e continuou a falar - a ler o livro.

Impossível não reparar na aparência dele. Ele parecia estar com profundas olheiras, que nem eu. Barba pra fazer. Isso acabou me destruindo mais ainda.

Ele virou para a lousa e começou a escrever, e durante o resto da aula, ele não dirigiu um olhar se quer a mim.


Eu estava quase dormindo quando ouço meu celular tocando.

- Alô - eu atendi com uma voz de sono, sem nem mesmo verificar quem era.

- Mas você já está dormindo? Ainda não são nem 20h! E hoje é sexta feira! - reconheci a voz da Spencer.

- Estou cansada e sem ânimo para fazer qualquer coisa. Além disso, nós temos aula extra amanhã.

Desde que terminei com Ezra, minha rotina tem sido essa: escola, dever de casa, cama. Não tenho encontrado força nem motivo para fazer qualquer outra coisa. Ir para escola e ver ele todo dia já estava exigindo grande parte da minha força. Mesmo que, secretamente, eu goste de ver ele e a minha única alegria ultimamente é saber que vou pra escola e verei ele.. porém eu me odeio profundamente por gostar tanto disso.

- Chega de desanimo! Eu sei o quanto tudo isso está sendo difícil para você, eu dei o espaço que você precisava, mas agora chega de ficar pra baixo. A vida tem que seguir em frente. O que tiver que ser será. E por isso, quero que você comece a sair dessa monotonia, me acompanhando hoje à noite.

- Hm.. te acompanhando para onde?

- Você se lembra daquele lugar onde Hanna e o Caleb, hm, confraternizaram no sofá da minha vó?

- Sim, eu lembro - eu disse rindo, pela primeira vez em dias. Senti-me tão bem. Leve.

- Pare de rir, isso não é engraçado, é estranho! - Spencer disse tentando manter a voz séria, mas falhando miseravelmente e rindo também. - Mas então, Melissa vai fazer uma pequena festa lá, e eu não queria ir sozinha.

- Spence, eu não estou a fim de festa.. - eu disse feliz, porém ainda com um pé atrás.

- Não vai ter nada demais! E eu prometo, assim que você quiser ir embora, eu vou embora com você. O que você acha de você dormir na minha casa?

- Ok então, você me convenceu. - eu disse, me levantando da cama e indo em direção ao banheiro.

- Eba! Que tal você se arrumar, e a gente se encontrar lá daqui 30 minutos?

Eu concordei, e nós desligamos.

Tomei um banho rápido, escovei os dentes e os cabelos, coloquei uma calça jeans, uma sapatilha preta e uma blusa bata branca com renda de alcinha, que continha um elástico bem abaixo do peito, fazendo com que se criasse uma divisória na blusa. Peguei minha bolsa da escola e coloquei apenas o material que ia utilizar amanhã. Dentro dessa mesma bolsa, coloquei minha nécessaire com meus itens pessoais, meu pijama e uma nova muda de roupa. Quando estava saindo do quarto, encontrei com minha mãe no corredor.

- Mãe, espero que você não se importe, mas Spencer me convidou para dormir na casa dela hoje – eu contei, omitindo a parte da festa.

- Ok, sem problemas. Só não vão dormir muito tarde, pois vocês tem aula amanhã – minha mãe disse me abraçando.

- Pode deixar. – eu disse enquanto descia as escadas.

Entrei no meu carro e fui até a casa que Spencer falou. De todas as vagas da garagem que a casa possuía apenas uma vaga estava ocupada. Como a rua estava muito escura, não consegui ver qual carro era. Estacionei meu carro um pouco distante do outro carro, e bati na porta, pois estava trancada. Estranhei o fato de a porta estar trancada, sendo que há uma festa acontecendo, e também o fato de muito silencioso lá dentro. Eu bati na porta duas vezes, e esperei alguém abrir.

Alguns segundos depois, alguém abre a porta.

- Aria.. – Ezra disse baixinho, abrindo a porta.