NARUTO NÃO ME PERTENCE, NEM A HITÓRIA! CAPITULO UM

Hinata estava chocada com a irmã gêmea.

— Pretende mesmo levar isso adiante?

Por trás dos cílios cobertos por uma grossa camada de rimel preto, o olhar de Hanabi era desafiador.

— Não posso cuidar de um bebê. Além disso, eu nunca a quis mesmo.

— Mas Mayumi é tão novinha! — Hinata protestou. — Como pode abandoná-la?

— Esta é uma oportunidade única. Se eu não agarrá-la com as duas mãos, talvez nunca na vida tenha outra chance dessas.

— Mas ela só tem quatro meses! — Hinata exclamou. — Deveria criá-la em memória a Sasuke.

— Não devo nada a ele! Esqueceu que Sasuke se recusou a reconhecer a filha? Nem quis fazer o teste de paternidade, sem dúvida porque não queria aborrecer a noivinha dele. — Hanabi andava pela sala, zangada. — Eu deveria saber que não podia confiar nele. Os homens da família Uchiha são famosos por levar uma vida de playboy; é só olhar o jornal de ontem para perceber.

Hinata lembrava-se da foto de Itachi Uchiha, irmão mais velho de Sasuke, num dos cadernos de fim de semana que circulavam em Sidney. Era raro haver uma semana sem qualquer referência ao seu ritmo de vida bilionário. O bonito semblante moreno tinha sido a primeira coisa que notara ao abrir o jornal.

— E Uchiha sabe que pretende entregar a sobrinha dele em adoção?

Hanabi se virou para encarar a irmã.

— Eu escrevi para o pai dele na Itália semanas atrás, mas ele foi categórico quando recusou reconhecer Mayumi como neta. Então enviei uma foto dela. Ficará com a pulga atrás da orelha quando vi o quanto ela se parece com Sasuke. Tive que agir, já que minha vida está assim por culpa do filho dele.

— Mas...

Hanabi lhe lançou um olhar irritado.

— Não quero mais nada com a família Uchiha. Eu lhes dei a oportunidade de reclamarem Mayumi, mas a desperdiçaram. E é para dar prosseguimento ao plano B que estou de partida.

— De partida? — Hinata a fitava consternada. — De partida para onde?

— Estados Unidos.

— E Mayumi? — ela perguntou, o coração aflito. — Não está mesmo pensando em... — Não conseguia nem enunciar o resto da frase.

Hanabi deu de ombros.

— Pode cuidar dela por uns meses... É o que você tem feito na maior parte do tempo mesmo. Além disso, é óbvio que ela gosta mais de você do que de mim, então não vejo por que não deixá-la com você por enquanto. Pode cuidar dela até alguém adotá-la.

O estômago de Hinata se revirou. Era duro pensar que a irmã tinha tão pouca estima pela menininha que estava dormindo no carrinho de bebê perto da janela. Como podia ser tão insensível a ponto de abandonar a própria filha?

— Olha... — Hinata tentava trazer a irmã à razão — ...sei que está perturbada; só faz alguns meses que Sasuke... se foi.

Hanabi se voltou para ela com fúria.

— Por que o eufemismo? Sasuke não foi a lugar nenhum... ele morreu.

Hinata engoliu em seco.

— Eu... eu sei.

— Estou feliz que tenha levado a noiva estúpida com ele — Hanabi acrescentou com tom aborrecido.

— Não quis dizer isso, quis?

O semblante de Hanabi se retorceu em amargura.

— Claro que sim. Odeio a família Uchiha e qualquer um ligado a eles. — Jogou os cabelos tingidos de castanho chocolate para trás e encarou a irmã. — Tenho a chance de começar uma nova vida com Konohamaru Sarutobi nos Estados Unidos. Ele me ama e me prometeu um papel em um de seus filmes. É minha grande chance no cinema. Só uma idiota a deixaria escapar. E se eu usar as cartas certas, talvez ele me peça em casamento.

— Falou com ele sobre Mayumi? Hanabi revirou os olhos.

— Está doida? Claro que não. Ele pensa que Mayumi é sua filha.

Hinata assustou-se.

— Como pode pensar em casamento sem contar a ele sobre seu passado?

Hanabi lançou um olhar mordaz à irmã.

— Konohamaru nem pensaria em se envolver comigo se eu tivesse revelado algo assim. Ele pensa que meus olhos "inocentes como os de uma criança" são a própria luz do sol. E continuará pensando assim, mesmo que eu precise mentir todos os dias para garantir que isso aconteça.

— Mas se ele a ama...

— Hinata, não quero ter a mesma vida da nossa mãe, que trocava um homem ruim por outro pior e despachava as filhas para um lar de adoção quando as coisas ficavam difíceis. Quero ter dinheiro e estabilidade, mas não conseguirei isso com uma criança a tiracolo.

— Mas você poderia...

— Não! — Hanabi a interrompeu, impaciente. — Não entende? Não quero esta criança; nunca quis.

— Largou a sacola de Mayumi perto do carrinho.

— Foi você quem me convenceu a continuar com a gravidez, então é justo que cuide dela até eu mesma encontrar quem a adote.

— Você? — Hinata ficou tensa no mesmo instante. Hanabi exibiu um olhar de quem sabe das coisas.

— Existem pessoas que pagariam uma fortuna por um lindo bebezinho. Quero garantir um bom negócio. Usando minha ligação com Konohamaru, talvez eu encontre um ator de Hollywood que queira Mayumi. Pense no quanto estariam dispostos a pagar por ela!

Os olhos de Hinata brilharam de espanto, o coração bateu descompassado no peito.

— Como pode fazer isso com sua própria filha?

— Não é da sua conta o que faço. A filha é minha, não é sua.

— Deixe que eu a adote — Hinata implorou. — Sou parente de sangue, o que torna as coisas mais fáceis, não é?

Hanabi meneou a cabeça.

— Não. Aproveitarei esta oportunidade ao máximo. — Os olhos brilharam de cobiça. — Pensando bem, é uma tremenda sorte. É minha chance de me livrar da criança e ainda ganhar um bom dinheiro.

— Você é tão mercenária.

— Mercenária, não... realista. Podemos ser irmãs gêmeas, mas não sou como você, Hinata. É hora de aceitar isso. Quero viajar, quero o conforto e os privilégios da riqueza. Pode ficar com suas longas horas numa biblioteca velha e tediosa... Eu quero uma vida.

Hinata endireitou os ombros, ergueu o queixo com orgulho.

— Gosto do meu trabalho.

— Sim, pois eu gosto de fazer compras, jantar fora e freqüentar festas. E farei muito disso quando chegar à mansão de Konohamaru em Los Angeles. Mal posso esperar.

— Não acredito que vai simplesmente largar suas responsabilidades. Mayumi não é um brinquedo a ser descartado. É um bebê. Isso não lhe significa nada?

— Não. — Os frios olhos cinzentos de Hanabi se encontraram com os dela. — Não significa absolutamente nada. Eu disse... não quero a menina. — Segurou a bolsa, vasculhando dentro dela, e entregou uma pasta de documentos à irmã. — A certidão de nascimento e o passaporte dela estão aqui; guarde-os bem até a adoção. — Pendurou a bolsa no ombro e virou-se para a porta.

— Hanabi, espere! — Hinata chamou, olhando desesperada para o carrinho. — Não vai nem se despedir dela?

Hanabi abriu a porta e, com um olhar determinado, fechou-a com firmeza ao sair.

Hinata sabia que seria inútil correr atrás dela. Na maior parte de seus 24 anos, de nada tinha adiantado implorar a Hanabi que parasse para pensar nos próprios atos. Sua geniosa irmã gêmea pulava de desastre para desastre, causando prejuízos imensuráveis e demonstrando pouco remorso. Mas este certamente era o pior.

Ouviu um choramingo vindo do carrinho. Atravessando a pequena sala, Hinata ergueu o pequeno pacotinho rosa.

— Ei, preciosa — disse enquanto acomodava a criança no peito, maravilhando-se novamente com a perfeição de seus traços. — Está com fome, pequenina?

O bebê se aninhou nela, e Hinata sentiu um amor irresistível dentro de si. Não suportaria que sua sobrinha fosse entregue aos cuidados de outros. E se as coisas não funcionassem? E se a infância de Mayumi terminasse sendo como a dela e de Hanabi? Hinata lembrava bem da infância... as temporadas em lares de adoção, alguns bem piores que a negligência na qual ela e a irmã viviam em casa. Como poderia deixar que o mesmo acontecesse a Mayumi?

Hinata sabia que o sistema legal de adoção funcionava, mas essa prática de adoção consentida a deixava aflita. E se alguém totalmente inadequado oferecesse uma grande quantia de dinheiro a sua irmã? A que tipo de triagem os pais em potencial eram submetidos, caso essa triagem existisse?

Percebeu a umidade na roupinha de Mayumi e, carregando-a para o quarto, deitou-a na cama e a despiu delicadamente, como fizera inúmeras vezes. Por baixo da manta, a menina vestia um macacão amarelado e puído. Hinata tirou a roupinha pela cabeça da criança, falando amorosamente com a sobrinha, mas suas palavras ininteligíveis morrerem na garganta quando viu o que o macacão escondia. Seus olhos se arregalaram de horror ao se deparar com as marcas roxas ao longo do corpinho de Mayumi, marcas que tinham o tamanho perfeito de seus dedos, como se ela mesma tivesse causado aquele mal.

— Oh, Hanabi! Como pôde? — ela soluçou, contendo as lágrimas por não ter sido capaz de evitar que a sobrinha sofresse a violência que fora comum em sua própria infância.

Decidiu naquele instante que faria o que fosse preciso para manter Mayumi consigo. Devia existir uma maneira de convencer Hanabi a lhe entregar a menina permanentemente.

Teria de encontrar uma maneira!

Outras mães solteiras conseguiam enfrentar as dificuldades, então ela também conseguiria... de alguma forma.

Mordiscava uma unha enquanto considerava suas opções. Não seria fácil... mal poderia pagar uma creche com seu atual salário na biblioteca.

Olhou para a menina adormecida, o peito se apertando dolorosamente ao pensar que jamais veria sua pequena sobrinha novamente.

Não. Simplesmente não podia permitir que sua irmã levasse a idéia adiante.

Ela seria a mãe de Mayumi.

Ninguém lhe tomaria a sobrinha.

Ninguém.

Itachi Uchiha franziu a testa quando a secretária informou que seu pai estava na linha, ligando da Villa Uchiha, em Sorrento, na Itália.

Pegou o telefone e, girando em sua cadeira de couro, olhou para o vasto cenário do porto de Sidney.

— Itachi! Você precisa fazer alguma coisa a respeito daquela mulher imediatamente! — Fugaku Uchiha despejou num rápido italiano.

— Está falando daquela amante de Sasuke? — Itachi respondeu pacientemente.

— Pode ter sido amante, mas é mãe da minha única neta! — Fugaku resmungou.

Itachi enrijeceu na cadeira.

— Por que tanta certeza assim de repente? Sasuke se recusou a fazer o teste de paternidade; disse que sempre usou proteção.

— Pode ser, mas agora tenho motivos para acreditar que a tal proteção falhou.

Itachi franziu a testa e virou a cadeira novamente para a escrivaninha, o súbito baque no coração deixando-o em silêncio por um instante.

— Tenho uma carta aqui na minha frente com uma foto da criança. — A voz de Fugaku tremia um pouco. — Ela é idêntica a Sasuke nesta idade. É filha de Sasuke, tenho certeza.

Itachi apertou os lábios enquanto lutava para manter suas emoções sob certo controle. A morte do irmão o deixara devastado, mas pelo bem de seu pai, em fase terminal, conduzira os negócios da família sem um único soluço. A filial do banco de investimentos Uchiha em Sidney estava em expansão, e Itachi pretendia manter o extenuante ritmo de trabalho que adotara para bloquear a dor pela perda do irmão.

— Papai. — A voz soou profunda e áspera. — É difícil acreditar...

— Precisamos pegar esta criança — o pai insistiu. — Ela é tudo o que nos resta de Sasuke.

Um tremor de inquietação tomou Itachi ao ouvir o tom determinado do pai.

— Como pretende fazer isso?

— Da maneira de sempre — o pai respondeu com indisfarçável cinismo. — Se oferecermos dinheiro, ela fará tudo o que quisermos.

— Quanto dinheiro pretende gastar nessa sua missão?

Fugaku citou uma cifra que fez Itachi encostar os ombros largos novamente na cadeira.

— É bastante dinheiro.

— Eu sei — concordou o pai. — Mas não posso correr o risco de ela recusar a oferta. Depois da resposta que dei à carta anterior, ela pode querer se vingar e nos negar a menina.

Itachi lembrava-se do conteúdo da carta. Seu pai tinha lhe enviado uma cópia por e-mail, e a mensagem não fora nada lisonjeira. Podia bem imaginar a tal Hyuuga jurando vingança, especialmente se o que ela dizia era verdade

— Sasuke era o pai da menina.

Conhecia bem a reputação de Hanabi Hyuuga, mesmo sem conhecê-la pessoalmente. Contudo, tinha visto algumas fotos que exibiam uma bela mulher de longos cabelos castanhos e olhos cinzentos. Tinha o tipo de corpo que não só fazia os homens virarem a cabeça, como também fazia certa parte da anatomia masculina se exaltar numa velocidade impressionante. O irmão ficara completamente abobalhado até a verdadeira personalidade de Hanabi aparecer. Ainda recordava o sarcástico relato de Sasuke sobre a reação dela ao ser informada de que o curto e ardente relacionamento tinha chegado ao fim. Ela o perseguira por meses, atormentando-o incansavelmente.

Mas, de certa forma, pensar no sangue de seu falecido irmão correndo nas veias da filha dela mexia com Itachi de maneira inesperada.

— Itachi. — A voz desesperada do pai interrompeu suas reflexões. — Precisa fazer isso. É uma questão de honra familiar. Sasuke teria feito o mesmo por você.

Era difícil para Itachi se imaginar envolvido nos tipos de desastre que seu irmão mais novo costumava arranjar na vida, mas não adiantaria discutir isso agora. Seu pai já tinha sofrido demais; tinha perdido o filho amado.

Não era segredo na família Uchiha que Sasuke era o favorito do pai. A natureza alegre e a personalidade charmosa tinham conquistado a todos desde o dia do nascimento, deixando Itachi, com seu temperamento mais sério, esquecido. (Nota: Lembrando que Sasuke era uma criança normal antes de perder os pais, aqui ele será lembrado em sua melhor época)

Franziu a testa ao pensar no plano do pai. Como convenceria aquela mulher a lhe entregar a criança? Ela pegaria o dinheiro e desapareceria, ou insistiria em algo mais formal? Tal como...

O estômago deu um nó ao lembrar do irmão contando da incansável busca de Hanabi Hyuuga por um marido rico.

Claro que o pai não esperava que ele fosse tão longe!

Até o momento, Itachi conseguira ignorar a pressão do casamento, embora tivesse chegado bem perto de se casar alguns anos antes. Mas tudo acabou mal, e ele decidiu evitar qualquer envolvimento emocional mais profundo desde então. Itachi concluíra que mulheres não eram confiáveis quando havia dinheiro envolvido. E na família Uchiha havia muito dinheiro. Além disso, Sasuke vivia anunciando que se casaria cedo e perpetuaria a dinastia da família com seus vários herdeiros.

O coração ficou apertado ao pensar na menininha de cabelos escuros e olhos negros — olhos que um dia se tornariam travessos, como os do pai em seus breves trinta anos de vida.

— Fará isso? — Fugaku o pressionou. — Fará isso por mim e sua falecida mãe?

Itachi fechou bem os olhos. Mencionar a mãe sempre o afetava profundamente. Não se esquecia daquele último dia, a maneira como a mãe sorriu e acenou para ele antes de ser atirada no caminho de um carro.

Itachi ainda acreditava que a mãe talvez estivesse viva se tivesse sido honesto sobre o motivo de seu atraso. Tinha atendido às súplicas do pai, mas a culpa ainda era como uma corrente presa ao seu pé, oprimindo-o impiedosamente com seu peso.

Quando o irmão morreu, Itachi não conseguiu se livrar da sensação de que o pai teria sofrido muito menos se ele estivesse no lugar de Sasuke naquele carro.

Suspirou e respondeu ao pai com resignação.

— Verei o que posso fazer...

— Obrigado. — O alívio na voz do pai era inconfundível.

Itachi sabia que os dias de seu pai estavam contados. Não seriam ainda mais preciosos se pudesse segurar sua única neta nos braços?

— Talvez ela não queira me ver — Itachi alertou, pensando novamente na carta ofensiva do pai. — Pensou nessa possibilidade?

— Faça o que for preciso para que ela enxergue a razão — Fugaku instruiu. — Qualquer coisa. Mulheres como Hanabi Hyuuga esperam uma negociação.

Uma transação comercial.

Que mulher era essa que barganharia a vida de uma criancinha?

Minutos depois, recolocou o fone no gancho e voltou-se mais uma vez para a vista lá fora. Estreitou os olhos por causa da luz do sol enquanto pensava no que teria que fazer.

Visitaria a pessoa que mais odiava no mundo: a mulher responsável pela morte prematura do irmão.

ItaHina prometida!

Espero que gostem...

Essa história é uma adaptação do livro "Romance proibido" de Melanie Milburne