N/A: Hoje é aniversário da minha amiga e ídola Pearll, a diva do ADMM. Ela está completando 21 anos - à propósito, a mesma idade com que Minerva virou professora em Hogwarts. Eu estive pensando em preparar algum tipo de surpresa, mas ela disse que queria de presente uma outra coisa. Nós escrevemos esta história juntas há já algum tempo, só que não terminamos ainda, acabamos deixando guardada pra continuar depois. Temos muitos projetos engavetados (dezenas, de verdade, temos muito mais idéias do que tempo pra escrever), e não estava nos planos retomar esse aqui tão cedo. Mas, a aniversariante pediu, então aí está! Essa vai ser uma fic diferente das outras, postada em duas versões: POV da Minerva e POV do Albus. Procurem "A fênix e o gato" na lista de fics da Pearll ou colem "/s/8719330/1/" aí no navegador, depois do fanfiction ponto net. As duas fics poderão ser lidas separadamente, isso não vai atrapalhar o entendimento, mas acho que ler ao mesmo tempo seria bem mais legal, viu? Espero que gostem, deixem reviews e parabéns pra aniversariante! Boa leitura a todos!
O Gato e a Fênix
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Atribulada, é assim que é a minha manhã de sexta-feira. Nada diferente das outras. Quatro aulas seguidas e muitos trabalhos escolares a se corrigir. Perfeitamente normal, eu diria. Quando, por fim, encontro algum tempo livre, puxo um pergaminho, molho a pena na tinta esmeralda de sempre, e me ponho a escrever a Albus – na noite anterior, conversávamos via lareira, então de repente nossa conexão se perdeu... meu flu tinha se esgotado e, pelo adiantado da hora, eu resolvi simplesmente deixar pra lá e ir dormir. A verdade é que parece-me deseducado da minha parte, no entanto... espero que ele entenda mesmo assim. Eu lhe envio uma coruja antes do almoço, me desculpando e o convidando para uma partida de xadrez mais tarde. Há algum tempo que não usamos o tabuleiro, e eu já estou sentindo falta (aproveito para alfinetá-lo, perguntando se anda evitando de jogar comigo deliberadamente, por conta da derrota certa). Ele não aparece no Salão para o almoço, a resposta só chega no meio da tarde, e ela diz assim:
"Sossegue, minha querida. Sabia que deveria haver algum motivo, nunca pensaria em nenhum tipo de indelicadeza vinda de ti. Muito embora eu merecesse, ora essa, importuná-la tão tarde da noite! O caso é que eu tinha compromissos pela manhã – como, aliás, os tive o dia todo – e acabou sendo bom ir recolher-me também. Na verdade acabo de chegar do Ministério... Mas não se preocupe que não pretendo aborrecê-la falando sobre os problemas corriqueiros que Cornélio delegou a mim, devido à sua total falta de objetividade.
Evitá-la, eu? Por que, se mesmo as derrotas mais desastrosas que me propiciou foram mais agradáveis que as vitórias que tive sobre qualquer outro adversário? Pelo contrário: estou ansioso por mais uma partida, embora deva lhe confessar que não tenho a menor intenção de deixar que meu rei sucumba, mesmo perante o talento incomparável de uma enxadrista do teu porte.
Atenciosamente,
Albus."
É claro que essa carta, como a maioria das que vêm de Albus, me põe um belo sorriso nos lábios. Não respondo de imediato, porque exatamente no instante em que pego a pena, entram três alunos trazendo reclamações e problemas. Nada muito grave, mas custa alguns pontos da Grifinória, uma detenção para dois terceiranistas dos meus, e é o que me basta para me por um tanto quanto aborrecida. Quando saem, respiro fundo, torno a me sentar detrás de minha mesa e volto novamente minha atenção a Albus.
Respondo-lhe que jamais me importuna, o que é com certeza nada mais que a verdade. Me abstenho de dizer-lhe que, muito pelo contrário, nada me faz melhor que sua companhia ou uma coruja assim tão gentil no meio tarde. Desconto meu aborrecimento em Fudge, falando algumas verdades (que eu normalmente guardaria pra mim) sobre o que acho dele, de seu comportamento e postura. Termino minha coruja retomando o assunto da partida que tinhamos marcado e o provocando um pouco mais, na esperança de incitá-lo à competição. Melhor que vencer é vencer um jogo particularmente desafiador. E Albus pode ser muito desafiador quando quer.
Pouco depois, ele me escreve de volta. Sua coruja diz o seguinte:
"Muita bondade a sua, minha querida, dispor sempre de bom grado de seu precioso tempo para conversar com um velho tolo como eu. "
Nesse momento, eu sorrio e balanço a cabeça. Eu é que devia estar agradecendo, meu caro. Típico dele, e, admito, encantador.
"Peço que não se aborreça com Cornélio. É um bom homem, a despeito de sua inegável inépcia. E se faço o que faço não é somente pelo bem de nosso querido ministro, mas sim visando à comunidade mágica em si. Não me aborreço com isso, embora tenha de admitir que me tome um tempo que eu poderia gastar em atividades mais agradáveis e em melhor companhia. Mas, mesmo assim, fico contente que se preocupe comigo e o mau uso que tenho feito dos poucos momentos que deveriam ser de folga.
Pelo contrário, jamais almejaria amolecer seu coração competitivo! És como és, imperiosa e determinada. E é exatamente assim que gosto de ti, mesmo quando está tripudiando de mim e minha desatenção ao tabuleiro.
Aguardando-a,
Albus"
Sorrio e guardo o pergaminho. Tenho ainda três aulas a dar, e depois já poderei me encaminhar para a menor das torres. E assim o é. Ao me ver, por fim, sozinha em sala-de-aula mais uma vez, organizo rapidamente o material e, com um floreio de varinha, alinho as carteiras e cadeiras de modo mui reto. Deixo a sala em seguida, a trancando por fora, e, desbravando o mar de alunos que se lançava revolto em todas as direções, sigo diretamente para o gabinete do diretor.
Logo antes de alcançar a gárgula, paro por um momento a chamar a atenção de um grupo de terceiranistas que faz algazarra. Pergunto-lhes, de modo sério, quantos pontos gostariam de perder hoje, se acalmam instantaneamente. Disfarço o sorriso e os vejo, muito quietos, tomarem cada qual seu próprio rumo. Dou a senha à gárgula e, ao pisar no primeiro degrau da escada em caracol, sou levada diretamente à porta mui antiga, na qual, com os nós dos dedos, bato duas vezes de modo mui firme. Espero (o parafraseando) tripudiar um pouco mais de sua desatenção ao tabuleiro.
– Entre, minha cara.
A voz rouca de Albus sempre me faz sentir bem-vinda. E quando aquele convite, o mesmo, já repetido tantas vezes, soa do outro lado da porta, não posso deixar de sorrir de leve por um instante. Giro a maçaneta e empurro a porta, para em seguida dar alguns passos gabinete à dentro. Meus olhos o procuram, e, não o encontrando detrás de sua mesa, seguem sua busca em volta. Está diante da lareira, na mesma poltrona de sempre. Quantas partidas de xadrez já não jogamos ali?
O lusco-fusco do fim de tarde me põe em dúvida quanto a dizer "boa tarde" ou "boa noite", então, por um momento, não digo nada, apenas caminho para mais perto dele. Todo o resto gabinete tem um certo ar de requinte muito menos acolhedor que esta pequena parte do ambiente, composta pelas poltronas, onde eu mesma me sento muitas vezes, pelo tapete antigo que cobre o chão de pedra e pela lareira na qual, nesse mesmo instante, chamas muito vivas crepitam graciosamente. Sorrio quando nossos olhos se encontraram. A verdade é que ele exerce um estranho magnetismo sobre mim, diante do qual é impossível não sorrir. E isso é algo que eu mesma faço questão de não explicar, receosa de que tipo de implicações essa explicação poderia trazer. Sem esperar um convite, já perguntando, me sento, a ficar quase de frente pra ele:
– Tarde produtiva?
– Moderadamente – ele me responde, mui tranquilo. Eu apenas assinto com a cabeça.
Ajeito, então, os óculos, que, teimosos, me escorregam nariz a baixo. Pouso as mãos sobre braços da poltrona. Veludo macio. E me ponho a fitá-lo com bastante tranquilidade. É um amigo muito querido, Albus, e uma companhia primorosamente agradável. Merece muito mais que sorrisos ou que qualquer outra coisa que eu tenha a oferecer. A despeito disso, atrevo-me a admitir que todos os sorrisos que economizo em sala de aula, dou-os a Albus, quando estamos à sós. Por vezes me pergunto se ele nota isso, se nota o quanto sua companhia me põe à vontade, me faz bem. Há anos que tenho um pouco de medo de ter meus sorrisos interpretados incorretamente. Ou pior, de os ter interpretados corretamente. Infelizmente, nunca me foi possível dissimular por completo o carinho imenso que trago no peito. Talvez possa guardar boa parte dele só pra mim, mas um pedacinho sempre haverá de restar a ser visto por ele próprio e por todos.
– Eu mesma estou, admito, um tanto cansada. Tive, há não muito, dois horários seguidos com o terceiro ano, Grifinória e Sonserina. Estavam terrivelmente agitados hoje. Compreendo a ansiedade, no entanto, já que amanhã farão sua primeira visita a Hogsmeade. Mesmo assim... gostaria de os ter pego mais calmos, há ainda muito conteúdo a ser visto. Estou bem mais adiantada com o terceiro Lufa-Lufa e Corvinal.
Sossegado, como sempre, Albus se pôs em pé a buscar uma garrafa de licor. O acompanho com os olhos enquanto ele a encontra e abre.
– Ah, sim, Hogsmeade. Admito que mal dei pela semana passando.
Assinto, meneando a cabeça. Também a mim a semana passou voando. O vejo baixar os olhos, se pondo a servir com muito cuidado a primeira taça. É um homem muito minucioso, Albus. Proibo-me severamente de considerar se seria igualmente minucioso em todos os seus atos. Tento então conter o sorriso impróprio que de repente insiste em repuxar o canto de meus lábios. O caso é que por vezes me acomentem pensamentos, de um tipo que nunca deveria ter. Tento sempre cortá-los pela raiz antes que se tornem fortes o bastante pra me tomar por completo a mente. No entanto, e infelizmente, nem sempre é possível conter a imaginação.
– Imagino que também estará presente para cuidar deles, e que provavelmente também já tem companhia para a ocasião.
Ele, é claro, se refere a Elphinstone. Nós temos nos visto com certa frequencia e trocado corujas. É um bom amigo e um bom homem, infelizmente insiste na insanidade de me desposar. Admito que, em parte, a culpa é minha. Cometi a estupidez de... tentar. Sabia que não daria certo. Porque, por mais que fosse bem apessoado, e uma companhia agradável, lhe falta algo. Aquele algo que nos faz querer desesperadamente estar próximo. Que nos faz querer... algo além.
Já faz muito tempo desde a última vez em que tinha me aproximado de alguém romanticamente, então resolvi seguir os conselhos de Pomona, e... foi desastroso. Se havia algo lá de interessante antes, isso se desfez com nosso primeiro beijo. Não porque houvesse algo de errado com o beijo em si, mas... não senti nada. Nada de especial. Perdi várias noites de sono tentando bolar um modo de dizer-lhe que queria muito continuar a amizade que vínhamos construindo, mas que isso era tudo. Usei então a velha desculpa do "estou emocionalmente comprometida com outra pessoa", o que, na realidade, não era de todo mentira. Contei-lhe sobre Dougal, contei superficialmente. Ele ouviu com atenção e disse entender. Mesmo assim, seguiu tentando me cortejar de todos os modos possíveis. Não posso negar que haja algo de lisonjeiro nisso, como não posso negar que goste das flores que me envia de tempos em tempos, mas temo por ele. Não o quero magoar. No entanto, tampouco tenho intenções para além da amizade. É uma situação complicada essa.
Albus me tira de meus pensamentos fazendo menção a me entregar uma taça, ao que aceito de pronto, quase que intuitivamente.
– Obrigada. – Agradeço com um pequeno sorriso, não me demorando a levá-la aos lábios. – Hm, amora? – Meu sorriso se alargoa ao sentir o licor deslizar sobre a língua, deixando para trás um sabor delicadamente agradável, onde o álcool somente se insinuava de leve.
– Cereja – ele me corrije. Levanto as sobrancelhas de leve e assinto com a cabeça. Cereja. Agora que ele disse, o sabor de cereja me parece absolutamente claro. Como pude confundir? Acabo achando graça em mim mesma por isso.
– Pretendo passar a tarde em Hogsmeade, a ficar de olho em meus grifinórios, você está certo. No entanto, não, não tenho nada marcado... ao menos por enquanto. E os seus planos para amanhã, como estão?
– Confesso que ainda não tenho nenhum. Mas adoraria pensar em algo, desde que pudesse contar com sua companhia.
Também adoro sua companhia, e ele, estou bem certa, sabe disso. Costumamos reservar algum tempo a passarmos juntos, cultivando nossa amizade. Sempre foi assim. No entanto, pelo modo como ele dez, me ocorre uma centelha de ideia... algo novo, que me fez sentir o rosto esquentar de leve. Uma bobagem somente, é claro. Me livro dela enquanto termino minha dose de licor. Antes que eu possa responder qualquer coisa, ele termina de propor:
– Gostaria de jantar comigo?
Não posso deixar de sorrir um pouco mais. Se essas palavras tivessem vindo de qualquer outro homem ao invés de virem de Albus, eu por certo as interpretaria de um modo totalmente diferente. O caso é que Albus e eu somos amigos muito próximos. Ele me viu crescer. Esteva lá quando transfigurei minha primeira mesa em porco, quando me tornei animaga, quando me formei em Hogwarts com NIEMs absolutamente impecáveis... foi no seu ombro amigo que chorei as mágoas do amor impossível. Então, por mais que eu própria por vezes me pegue procurando por sinais que desmintam isso, sei, por uma questão de lógica, que me vê quase como uma filha. O que é uma pena. Não que eu não preze seu carinho, porém... por vezes, sinto por não poder ser mais. Não é como se eu estivesse apaixonada, apenas... há momentos em que sinto uma terrível e inexplicável vontade de beijá-lo até perder o fôlego.
– Eu adoraria – respondo-lhe com naturalidade, enquanto coloco a taça vazia sobre a mesa de centro.
Continua.
