Rurouni Kenshin pertence a Nobuhiro Watsuki.

Fic escrita para o VI Desafio do MRS, dedicada à Jéssi Amamiya.

CHÁ

But it's all relative

Even if you don't understand

Well it's all understood

Especially when you don't understand

Then it's all just because

Even if we don't understand

Then lets all just believe

(It's All Understood - Jack Johnson)

Ela havia crescido. Crescendo seu corpo, crescendo sua mente, virando uma linda mulher... uma linda mulher com os mesmos olhos azuis da linda garota. Ela mudou, ele continuou observando-a servindo seu chá. Porque era isso o que fazia. Observava e tomava chá. E amava, apesar de tudo.

E por mais que sempre tentasse convencê-lo a tentar, os olhos de garotinha viam um homem orgulhoso. E os olhos do homem orgulhoso enxergavam uma garotinha.

Fizera de tudo para que fosse diferente. Resolveu que tentaria deixar de amá-la, mas era obviamente impossível desistir dela após todos esses anos tentando. Então deixou para depois até perceber que ela lhe traria o chá novamente.

- Misao, vamos para o jardim desta vez? - perguntou sem interromper sua meditação.

- Hoje é algum dia especial, Aoshi-sama?

- Não, apenas vamos.

- Claro, Aoshi-sama.

Tentaria então, ao menos fugir do cotidiano e libertar-se de alguma maneira. Mas ela não deixava. Não era proposital, e ele ficava tenso do mesmo jeito. Era só ficar perto dela. E não era forte o bastante para lutar contra uma simples... paixão? Se estivesse dentro de si, o homem orgulhoso diria obsessão; o que o torna cada vez mais frio.

Mas se parasse para pensar o quanto ela o fazia feliz, o agradava, o respeitava... o amava. Talvez não fosse tudo assim. Afinal se ela gostasse de alguém que a fez crescer, de uma garotinha à uma linda mulher, seria ele. Só que ele ignorava isso e ela não via porque.

Quando ele fosse frio e desse uma resposta pesada, ela só enxergaria os olhos do homem orgulhoso. Ela enxergaria uma raiva tão grande, como se ele a odiasse. Ele a fazia acreditar que não valia nada, e era um fardo na vida dele. O orgulho dele a comprimia como uma garotinha inútil. Mas não compreendia isso.

O que compreendia, de fato, era que ela era apenas uma garotinha que se tornara uma linda mulher e o fazia perder a razão. E irracional não poderia protegê-la, pois não seria um pai, seria um homem apaixonado.

Quando ele ficasse com ela - o que lutava para evitar -, seria feliz, mas impediria-a de viver de verdade, sempre presa a um homem orgulhoso e a seus costumes e não livre como a garot... Alguém que não era mais uma garotinha, mas uma mulher com seus motivos.

Alguém que podia tanto fugir, como passar o resto de seus dias servindo chá à alguém que nunca a amou - já que sua mentira continuava, seguida do olhar orgulhoso e frio, convincente.

- Chá, Aoshi-sama? - perguntou, acompanhada por ele agora no jardim

- Por favor.

Quem sabe ela quisesse sacrificar sua liberdade por ele? Talvez. Mas seria jovem demais para um homem obsoleto e burocrático como ele, além de orgulhoso. Mas por ela, poderia ter certeza para toda a sua vida que nunca teria que servir chá para si mesmo.

Ela tinha muito medo de saber o que ele sentia sobre ela, mas ela queria ficar perto dele. Ele já havia treinado-a. E ela continuaria servindo seu chá.