Pieces
As pontas dos dedos de Remus tinham discretas cicatrizes. Pontuais e circulares, elas escondiam-se no tecido escuro do terno puído que Lupin escolhera para usar no enterro de James e Lily Potter.
Era tão estranho e tão hipócrita. Todas aquelas pessoas de ressaca pelas festas dos últimos dias, com os corações em chama pela felicidade do fim da guerra, fingindo alguma dor pelo sacrifício dos melhores amigos de Remus. Ele não conseguia compartilhar daquele alívio tão visível e contagioso; na verdade, para ele nada parecia ter acabado. Ele estava reaprendendo a viver sozinho; era quase como ter oito anos novamente.
Quando a multidão se afastou e Remus estendeu sobre os dois túmulos a bandeira vermelha e dourada que costurara com suas próprias mãos na noite anterior, ele lembrou-se do que era ser um Gryffindor. E um Gryffindor não tem tempo para sentir pena de si mesmo quando os amigos morrem para salvar o mundo.
Remus ergueu a cabeça e perguntou-se o que diabos distorcera tanto o mundo para que Sirius não estivesse ao seu lado, honrando Prongs e Lily, e sim trancafiado em uma cela no meio do oceano.
