Sumário: Depois da morte de Maya e da prisão de Mona, Emily decide fugir e recomeçar a vida em outro lugar, longe de chantagens e de passados tenebrosos. Seu refúgio escolhido para recomeçar é Lima, Ohio, onde acaba esbarrando em uma menina muito parecida com ela, mas não realmente e se vê no meio de adolescentes que formam um coral e o usam não só como passaporte para uma boa faculdade, mas também para elevarem seus espíritos. O que ela não sabe é que sua fuga de Rosewood levou não somente suas melhores amigas a correrem atrás dela, mas também um antigo fantasma se muda para Ohio para assombrá-las e dessa vez isso passa a envolver não só o seu grupo, mas coloca os integrante do coral mais famoso de Ohio na linha de fogo também.

A/N: Minha galere linda e meiga, aqui estou eu, viva e respirando. Por pouco tempo, eu sei, porque vocês virão me matar assim que virem que abri outra fic e não atualizei 'Sexto Sextido'. Bem, como vocês leram na última atualização da 'SS', a vida num tá fácil não, minha gente, mas podem relaxar que vou atualizar a outra história o quanto antes. Até escrevi o capítulo duas vezes, mas ele ficou tão horroroso (ainda pior do que todos os outros) que nem tive coragem, então preciso de mais um tempinho. Aproveitem essa outra safadeza aqui enquanto vou tentar resolver a 'SS' na mágica, shazam! Tive essa epifania (em uma das minhas todas noites em claro porque dormir dá muito trabalho aqui) discutindo NayaxShay com a Carol, então resolvi juntar as duas logo.

Bem, essa bagaceira vai ser Brittana (pra me redimir com vocês), Finchel pra começar (e Faberry all the way), as bichas pedantes (e pode virar Kustofsky, porque o ninguém merece aquela passividade toda), Haleb (Hanna e Caleb), Ezria (e pode virar Aria e Puck, vejamos o que vocês acham) e provavelmente Spemily (Spencer e Emily) e Samcedes. Me digam o que acham dos casais e se querem que mude alguma coisa, não sei.

Ah sim, a princípio, a fic vai se voltar mais pras mentirosas correndo atrás do sapatão, depois que vamos ver mais os arco-íris do coral mais gay desde High School Musical.

Eu estava com saudades de vocês, gente, e eternas e imensas desculpas pela parada da outra fic, mas vou atualizá-la depressa, tá? Ela não está esquecida, eu que ando tendo uns problemas e não consigo organizar meus pensamentos, mas tentarei fazer isso. Xoxo pra vocês, coisas fofas e vou responder os recados em PM, okay?

Boa semana, pessoal bacana!

Tenho nada. Só problemas demais que estou vendendo.


"Eu sinto muito, mas não posso mais continuar aqui. Não posso mais viver assim. Você vai me achar uma covarde por abandonar nosso plano de continuarmos juntas até a faculdade, Han, mas acredite em mim, eu não posso mais. Em meio ao caos que acabamos vivendo por causa da maldade da Mona, a mudança dos meus pais e a morte da Maya, eu não tenho mais forças para perder mais uma pessoa que amo – perder qualquer uma de vocês –, por isso prefiro ir embora e não causar mais problemas. Agradeça a Ashley, por favor, o que vocês fizeram por mim vai muito além de amizade e nunca esperei ser tão bem recebida quando não me sentia à vontade nem na minha própria casa e não era aceita nem pelos meus pais, mas vocês duas fizeram isso parecer fácil e me ensinaram a ser uma pessoa melhor, embora eu não seja forte como as duas e sempre me sentirei culpada e em débito por isso. Acho que nem se eu viver por mais noventa anos conseguirei pagar o que eu lhes devo por tanto carinho e"

"Tomar no cu!" Gritei ao abrir o meu armário e ver que sim, ela tinha sumido e carregado todos os seus panos de bunda com ela. "Que baixaria comigo, caralho!" Eu sei que pode ser loucura, mas eu estou sozinha em casa – na minha casa! – então eu posso gritar com as paredes o quanto eu quiser. E é o que eu vou fazer! "Que porra, Emily Fields?" De onde, raios, essa menina tirou de escrever isso? O que ela quer dizer? Onde será que ela se meteu? Maldita Maya que foi morrer! Que o diabo te carregue pras profundezas do inferno onde você poderá fumar maconha e arrumar desculpas pra não retornar as ligações da minha melhor amiga. Na verdade, não. A culpa não foi dela... Mas a piranha precisava ter morrido? Nããão! Ela não precisava e nem tinha esse direito, mas o que Hanna Marin sabe sobre isso, não é mesmo? Pro caralho! Maldita –A! Puta desgraçada que não precisava ter matado a menina... Maldita Mona que mentiu, me usou, nos aterrorizou e ainda armou pra gente! E talvez tenha até matado a Maya Também. Argh, mundo dos infernos! Será que nós não teremos um dia de paz? E onde essa menina se meteu? Como iremos achá-la se ela não quer ser encontrada? Será que tem alguma mensagem subliminar? E se tiver, qual seria e como eu descobriria isso? Alison dos infernos que precisava arrumar confusão com todo mundo e morrer só pra deixar essa bomba na nossa mão! Eu preciso de ajuda para achá-la. A –A que queime o rabo no colo do diabo, achar a Em é muito mais importante agora! Se bem que, pelo que sei do novo lar da Mona, ela tá tomando merecidamente, aquela vadia fingida! Aposto que era frígida também, só pode, pra ser mal amada e mal comida assim. Quero mais é que se foda por se aproveitar da minha amizade e do meu caráter. Piranha.

Certo, precisamos unir nossos esforços e achá-la – e essa é a parte onde a mulher maravilha, nerd de plantão e Jane Bond, Spencer Hastings, vem a calhar. Não existe um buraco nesse planeta que ela não conheça, não saiba como chegar e não saiba a origem e o que o levou a virar um inútil buraco (o que não é nada vantajoso, vamos lá! Quem precisa saber como os buracos foram formados? Obviamente foram feitos com pás, ou seja lá do modo que for, eles existem e ninguém precisa saber como e por que. O povo precisa é arrumar mais o que fazer nessa vida e eu nem vou comentar que a Spence está precisando de sexo porque somos amigas. Mas ela está. E eu estou precisando que ela faça sexo também, o mundo pede por isso.). Enfim, onde quer que nossa sapatilha preferida esteja, nossa cdf vai achá-la (ou assim espero). E eu também posso pedir para o meu namorado fora-da-lei quebrar os sistemas de satélite do GPS e fazer com que nossa amiga se perca nessa fuga alucinante e resolva voltar pra casa. Rá! Essa é uma idéia maravilhosa e é ótimo ter um plano b. Mas comecemos pela primeira opção, afinal de contas, todas temos que saber disso para pensarmos em outro plano c – ou contando com a Spence, vamos até o plano z –, como diz o ditado, o seguro morreu de ruim. Ou morreu desprevenido? Ou o seguro só perdeu a validade? Que seja! Preciso me concentrar para ligar pra nerd e me preparar para encarar a bateria de perguntas que virão. Ou eu posso ligar pra Aria e deixá-la se virar e contar pra nossa amiga controladora. Nossa, como estou inteligente hoje. E bonita. O espelho nunca erra! Eu mereço uma piscada, nem que seja de mim mesma e assim me recompenso. Ah, raros momentos de paz... Até olhar para a cama vazia na frente da minha e me lembrar da carta de despedida da Em. Malditas sapatões bipolares!

Bem, amaldiçoar o mundo todo não vai mudar nada e tenho uma missão para cumprir. Respirando fundo, vamos ao que interessa – no meu caso, olhar para o lindo plano de fundo do meu novo telefone, uma foto minha e do Caleb e ele está extremamente gato na foto, haha, eu tenho sorte. Droga, me perdi nos meus pensamentos novamente. Melhor enfrentar a leoa logo já que, por mais tentadora que seja a proposta de ligar pra Stephenie Meyer – sim, eu conheço sobre livros e adoro romances clássicos, ainda mais quando eles usam umas roupas tão tendência quanto naqueles filmes. Sempre adorei aquele visual meio sombrio, vai ver é isso – e deixá-la lidando com toda a fúria da Nala, eu sei que não viverei muito se ela descobrir que não liguei antes pra sua alteza e eu sou jovem demais pra morrer. Depois de mais uma respirada funda, de cruzar os dedos e afastar levemente o celular da orelha, lá vamos nós!

"Alô?" Com sua mesma voz autoritária de sempre, a nerd atendeu o telefone e eu percebi que estou nervosa demais pra falar algo. Droga! Não posso nem bater o celular na cara dela porque ela me ligaria em seguida e isso seria o início da minha eterna tortura sobre... "Han, por mais agradável que seja receber uma ligação sua, eu prefiro quando nós temos um diálogo e não quando você só respira no telefone e eu tenho que adivinhar em que você está pensando. Além do mais, eu estou estudando literatura francesa, então seria melhor se você me dissesse o que quer pra eu poder voltar ao meu trabalho." Argh! Eu estou dizendo que essa menina precisa dar logo, nem um computador agüenta ter tanta coisa na memória!

"E eu achando que você estava fazendo sexo e ia interromper." Sentei na cama e resolvi deixar o clima mais leve antes do tiro final, ela merece pelo menos.

"Pois é, não foi dessa vez." Eu tenho certeza de que ela está me revirando os olhos pelo telefone e aposto que, se pudesse, ela viria pelos fios me passar um sermão. Previsível.

"Ah, é uma pena, te ligo depois." Sorrio pra mim, é sempre tão divertido discutir e apertar os botões da Spence que acho que vou me graduar nisso. Imagina ganhar dinheiro pra isso? Meu Deus, seria a melhor profissão do mundo, seguida logo depois por moda, claro. Já sei! Eu posso, discretamente, influenciá-la a fazer psicologia e aparecer para aterrorizar suas sessões. Haha, seria ótimo. Se bem que eu teria que pagar pra assombrá-la, o que nunca é bom e também aposto um rim que ela já se decidiu por algo muito mais pedante seguindo sua linha de salvadora, tipo física nuclear ou embaixadora da ONU. Uma pena.

"Eu realmente detesto quando o Caleb vai visitar os pais, sabia? Pela minha paz de espírito, você com um telefone é mais perigosa que a bomba de hidrogênio Tsar, da União Soviética. E olha que o poder dela era de dissipação, não de aniquilação." E lá vem ela com esses papos esquisitos de novo. Alguém coma essa menina, por favor!

"De quem?" Perguntei depois de respirar fundo e pude ouvi-la segurando o riso e muito mal. Revirei os olhos sozinha, o que a gente não atura pelos amigos, não é?

"Da União Soviética. No popular, ao invés de ela explodir o local de contato como as outras bombas nucleares, a de hidrogênio desintegrava a matéria, afinal de contas, o corpo humano é composto, em média, por 55% a 60% de água. Então, se um corpo for exposto a novos e mais pesados isótopos do hidrogênio, cada uma das células do nosso organismo explode em menos de 40 nanosegundos e é como se nós nunca tivéssemos existido. Obviamente não foi usada porque o que conhecemos por holocausto e genocídio..." Absolutamente nada, pra que eu quero conhecer isso? Falando nisso, minhas unhas estão tortas, melhor aproveitar e lixá-las. "não seria mais do que um controle populacional, já que as reações de uma explosão dessas seria mais fatalista que todo o armamento nuclear das guerras em dez vezes." Hum, talvez eu possa aproveitar e passar uma base. "Enfim, você não me ligou pra saber disso."

"Deus, não! Por que eu te ligaria pra saber disso? E pra que uma pessoa em sã consciência iria querer saber disso?" Sua resposta foi bufar e aposto que ela já estava preparando o contra-ataque, por isso resolvi me apressar. "Que seja, acho que a Em sofreu as conseqüências de uma bomba hidráulica dessas..."

"Hidrogênio. Hidráulica é qualquer coisa relacionada à água em estado líquido. Hidrogênio se relaciona com os átomos que compõe a matéria que conhecemos por..." Por que essa menina ainda estuda, hein?

"Que seja! A Em sumiu como essa bomba sua aí em manosegundos..."

"Nano. Nanosegundos." Argh! Revirei os olhos. Agora eu entendo porque essa menina vai morrer virgem, não é nem possível ter uma conversa direita sem ela interromper. Falta de educação, viu?

"Ô, meu caralho, posso terminar?" Ao ouvir sua respiração profunda, encarei como um 'sim' e resolvi continuar com nosso assunto importante em questão. "Pois bem, vou jogar logo a bomba."

"É atômica ou de hidrogênio? Porque eu preciso me preparar para o estouro e..." Sim, ela estava rindo da minha cara e na minha cara (não literalmente) e se achando a própria Tina Fey depois de uma temporada numa biblioteca da Etiópia passando fome. Graça.

"Ah, ah, que engraçada! Aprendeu isso no seu livro de física ou de sociologia?" Sua risadinha baixa estava aumentando em volume e resolvi ser mais rápida antes que ela fizesse alguma piada com Newton e a maçã do Éden. "Melhor, não me responda! Eu tenho um assunto importante pra falar." Essa era a hora e deixei minha lixa de lado para dar atenção a esse tópico.

"Okay, sou toda ouvidos."

"A Em sumiu e deixou uma carta. E pediu desculpas. E não, isso não tem a destruição ou o que for de uma bomba, mas é uma questão tão importante quanto..." Ela pirando em 3, 2.

"Como é? Quem sabe disso?" Wow, essa foi rápida!

"Exatamente isso que você ouviu. E só eu que sei, acabei de ver a carta, assim que acordei. E antes que você venha criticando meus horários, lembre-se que a Em pode ter sido seqüestrada por lobos e temos que achá-la o quanto antes!" Pelo telefone, já pude ouvir seus bilhares de neurônios trabalhando juntos e pensando em alguma solução para esse problema e em algo que nos ajude a...

"Estou indo praí e ligo pra Aria no caminho." Foi sua única resposta.

"Okay, te vejo..." Assim eu disse para o 'tu' do telefone, já que a nerd não tem educação e não costuma nem dar tchau. Não que eu possa julgá-la, nós realmente temos problemas maiores para pensarmos.

Ai, ai. Por que a gente precisa passar por isso tudo? Resolvi me deitar para pensar melhor nessa questão existencial, isso até meu celular apitar uma mensagem. Antes que alguém pudesse dizer 'liquidação', eu já estava de pé correndo atrás do meu telefone perdido na cama da Em. Ou melhor, minha, já que só Deus sabe onde ela está a essa hora. Confesso que abri a mensagem com o coração na mão, esperando ser algo sobre seu paradeiro ou pedindo desculpas e dizendo que o mundo é mau e prefere ficar aqui conosco e contar com nossa ajuda para lidar com essa coisa toda de Mona e Maya. Esses dois 'emes' malditos! M&M's, nunca mais como essa porcaria, esses nomes que começam com 'm' não trazem coisa boa, vejam aí. Enfim, abri a mensagem e só dizia:

Abra a porta –Caleb

Confesso que ler essa mensagem me abriu um sorriso no rosto e esqueci por um minuto tudo que tinha acontecido até aqui e me apressei para vê-lo. Abri a porta depressa e, sem piscar, continuei correndo até esbarrar em algo (ou alguém).

"Ai! Eu sabia que você estava com saudade de mim, mas não sabia que era tanta." Quando recuperei o meu balanço e segurei o corrimão (o qual quase rolamos por cima e isso levaria por escada abaixo o plano de resgatar a Em), pude ver o meu namorado sorridente e bambeando em seus pés. "Se eu não soubesse que você me ama tanto, juraria que isso era uma tentativa de assassinato. Você sabe, eu poderia quebrar o pescoço caindo dessa altura." Revirei os olhos, mas não resisti e pulei em seu pescoço para beijá-lo.

"Pois fique tranqüilo quanto a isso, já tive problemas demais com a justiça pelas últimas gerações. Esse risco você não corre." Sorri para ele que sorriu de volta e resolvi abraçá-lo. É, eu realmente tenho o melhor namorado do mundo.

"Sorte minha então." Sua resposta foi entre adorável e charmosa e não pude resistir mais um segundo e comecei a beijá-lo. Nossa! Como eu senti saudade desse garoto! Em nosso caminho de aprofundar o beijo como seria o esperado dado nosso tempo de separação, eu pulei no susto ao ouvir o barulho da minha porta batendo e ouvir uma marcha subindo pelas escadas.

"Hanna!" Ah, claro, a nerd estava aqui para atrapalhar o meu momento e... "Deus! Até que enfim te achei." Foi o que disse depois de parar pra recuperar o fôlego e me pergunto onde eu estaria além da minha casa? E o mais importante, será que essa menina veio correndo. Jesus! O que a Spence estava fazendo jogando hockey de campo? Ela deveria é se inscrever no grupo de corrida! Pra ter essa velocidade toda, aposto que são suas raízes africanas que a fazem correr como o The Flash. Minha nossa senhora, isso deve ter sido um tempo recorde. Ao ver a afobação da minha amiga, Caleb apenas se afastou e olhou de mim para ela algumas vezes, parecendo estar perdido. Não que eu culpe, afinal de contas, apesar de não ser lá muito boa da cabeça, a Spence não entra voando baixo pela porta dos outros sem bater então... "Certo, pode falar!" Depois de recuperar o fôlego e levantar a cabeça, ela mirou os olhos em mim e continuou me fuzilando, coisa que fez meu namorado fazer o mesmo e cruzar os braços. Revirei os olhos pra esses dois e respirei fundo. A última sexta antes da volta às aulas estava boa demais enquanto eu estava sonhando, viu?

"Hanna, cheguei!" Depois de uma nova porrada na minha porta da frente (e esse povo não deve ter geladeira em casa, ou andam lutando em clubes clandestinos, porque nem sei como ainda tenho uma porta em casa depois dessa porradaria toda), foi a vez de Meyer se fazer presente e subir perigosamente saltando os degraus da minha escada. Perigosamente porque com essas poucas pernas ela poderia muito bem ter tropeçado num degrau e dado com o quengo no corrimão e lá iríamos mais uma vez para o hospital. O que, pelo pouco de sorte que ainda temos, não aconteceu e Aria acabou fazendo o mesmo e parou para descansar e isso me deu um minuto a mais de vida e sem os olhares fatais dos outros dois. Acho que a Spence perguntou algo pra ela porque Mufa (sim, ela sempre chorou quando o Mufasa morria em 'Rei Leão' e esse é nosso apelido carinhoso para ela) balançou a cabeça e engoliu mais ar. Bem que eu estava sentindo o ar meio diferente... Deve ser porque ela acabou de devorar boa parte dele e deixou pouco pra nós três. "Anda, Hanna, explica o que está acontecendo!" E lá vamos nós...

"Ei! Vamos nos acalmar, meninas! Onde é o fogo?" Como sempre, Caleb estava tentando – em vão – mediar essa situação do arco da velha. Coitado, nem sabe onde está se metendo.

"O fogo está no rabo da Emily que fugiu pro raio que a parta e nem nos avisou, só escreveu um papel." Falei olhando para todos para sentirem o peso da situação.

"Deixa eu ver!" Fatalmente essa seria a nossa chefe, a nerd, querendo decifrar alguma coisa subliminar na carta que a Em tinha deixado pra gente.

"Vamos todos entrar." Falei para as paredes, já que ao ouvir a rainha da selva, Mufasa e meu namorado (o traíra) correram porta adentro como se fossem tirar a mãe do puteiro. Respirei fundo e os segui, fechando a porta.

"É essa aqui?" Spence perguntou já lendo a carta e jogada em cima da cama com Caleb a sua direita e Aria a sua esquerda. E pra uma PhD em tudo essa foi uma pergunta bem sem noção.

"Não, essa foi a carta que a Whitney Houston me deu antes de se afogar na banheira do motel." Mais uma vez, eu falei para mim mesma.

"Na verdade, ela morreu de overdose. E a banheira era de um hotel em que ela estava se hospedando para fazer um show, não de um motel." Mufa conseguiu me responder sem nem tirar os olhos daquele maldito papel. Ah, mas eu vou achar a Em só pra dizer umas boas verdades na cara dela, porque isso não se faz!

"Que seja, ela morreu em uma banheira mesmo." Mais uma vez, eu revirei os olhos e falei para mim mesma. Essa situação já estava ficando chata.

"O que isso quer dizer?" Spence perguntou me olhando firme nos olhos e dei de ombros.

"Não sei, nem sabia em que banheiro ela tinha se matado." Respondi me sentando na outra cama enquanto a nerd me olhava e Caleb e Aria continuavam a ler. Claro que a Spence revirou os olhos porque seu senso de humor é meio Big Bang Theory (coisa que nunca entendi e nem gostei) e se virou completamente pra mim, deixando os dois relendo a confissão mais uma vez.

"Eu estou dizendo da carta, Hanna, não poderia me importar menos com a Whitney Houston." Sua resposta foi séria e só dei de ombros, como é que eu ia saber?

"Provavelmente quer dizer o que está escrito, oras. Por isso eu chamei-as aqui, para achá-la, não pra entender as entrelinhas."

"Claro que quer dizer o que está escrito, Hanna! Eu quero saber como você não percebeu isso antes, você mora com ela, pelo amor de Deus!" Sim, eu já sabia que isso ia se voltar pra mim, mas saber disso não me impediu de sentir uma raiva desumana da acusação da Spencer. E foi assim que começamos a brigar. De novo.

"O que você quer dizer, Spencer? Eu sou amiga dela do mesmo modo que vocês duas também são, não sou babá de ninguém e nem mãe. Ou você acha que eu deveria ter previsto isso na minha bola de cristal?" Eu estava sendo sarcástica e grossa, mas ela estava merecendo.

"Não é preciso ter bola de cristal pra saber que ela estava mal, Hanna, só tem que ter um pouco mais de compaixão e prestar mais atenção nas necessidades das pessoas. Só isso!" Ah, mas ela não ousou! Pulei da cama e fui na direção dela, que fez o mesmo.

"E quem é você pra me falar sobre compaixão e sentimentos, Spencer? Ah sim, me esqueci que você faz tudo melhor que todo mundo, não é mesmo? Então você já teria previsto isso e não teria deixado isso acontecer, certo?" É, eu estava gritando e ela estava me olhando com tanta fúria que poderia incendiar toda a minha casa. Os dois que estavam olhando assustados enfim se levantaram da cama e Caleb me segurou enquanto Mufa se jogou no meio da briga para nos apartar.

"Meninas, calma! Vamos pensar e não brigar. Precisamos encontrar uma solução pra isso e ficar uma contra a outra não vai ajudar em nada." Por que ela não era a líder? Se existe alguém que sabe dizer a coisa certa na hora certa, esse alguém é a Aria e tudo que ela disse fez sentido. "Spence, eu sei que você está desolada, mas a culpa não é da Han, ela não poderia ter previsto isso." Meyer disse para Sheldon Cooper que pareceu entender e respirou fundo, olhando para baixo.

"Eu sei que não é, desculpa, Han, mas eu não sei lidar com esse tipo de situação e estou preocupada demais com a Em para pensar com clareza. Eu sinto muito." Suas desculpas foram sinceras e eu pude ver lágrimas se formando em seus olhos, por isso corri para abraçá-la. É, eu não consigo ficar muito tempo brigada com minhas amigas e eu conseguia entender perfeitamente como isso tudo bateu nela, o que fez com que toda a minha raiva anterior se dissipasse (como a maldita da bomba que estávamos falando mais cedo).

"Tudo bem, Spence, eu sei como você se sente e estou igualmente perdida, mas precisamos nos unir para achá-la. Eu sinto medo do que ela pode estar fazendo..." Disse ainda abraçando-a e ela assentiu com a cabeça, me entendendo. De canto de olho, vi Mufa se entreolhando com Caleb e suspirando fundo e sorrindo leve, já mais calma.

"Okay, qual é plano, meninas?" Essa frase ser dita pelo meu namorado foi tão assustadora quanto o próprio sumiço da Emily em si e isso fez com que nós duas nos desgrudássemos surpresas e Aria o olhasse de boca aberta. "O que foi? Vocês não acham que eu vou perder a diversão ou deixarei a Em perdida por aí, né? É claro que estamos juntos nessa!" Sempre charmoso o meu namorado! Ouvi-lo dizer isso fez brotar um sorriso em cada uma de nós e me fez pular em seu pescoço e beijá-lo. "Nossa, se eu soubesse que ganharia tantos prêmios, teria dito isso antes." Nós três reviramos os olhos ao ver seu sorriso torto e bobo. Homens...

"Bem, primeiro nós três temos que descobrir onde ela está... Depois traçaremos um plano daí." Aria disse e Caleb e eu assentimos com a cabeça enquanto Spence ia ler a carta pela enésima vez (buscando decorar cada uma das palavras da Em ou) à procura de mais pistas, do seu paradeiro, de sei lá o quê. "O que acham?" De novo concordamos os dois e nos sentamos na cama para analisarmos nossas opções. A nerd continuava imersa naquele papel, então essa missão era para nós três. Respirei fundo, o que mais faltava nos acontecer?

"Hanna, o que eu disse sobre você ficar sozinha com o Ca... Ah! Oi, meninas!" Sem pedir licença (o que há de errado com a educação desse povo?), minha mãe entrou pela porta me encarando e comprovando que nunca devemos desafiar o azar porque ele sempre ganha no final. A presença da minha mãe terminou de sugar o resto da energia como um buraco negro e o ar ficou ainda mais pesado para nós quatro. Spence se levantou e pulou em cima da carta da Em e plastificou um sorriso na cara como a cirurgia errada de botox da Nicole Kidman, o queixo de Aria se soltou do resto da cabeça e foi parar no chão enquanto ela gaguejava algo incoerente como um disco quebrado. Caleb me olhou assustado e mudamente me pedindo para resolver a situação. E foi isso que eu fiz ou tentei fazer, no final das contas.

"Oi, mãe, como foi o trabalho?" Com meu sorriso mais contente, saltei de novo em meus pés e me aproximei dela abraçando-a. Claro que Ashley Marin não é mulher de ser enganada, por isso sua única resposta foi se afastar e me arquear uma sobrancelha, olhando cada um de nós no quarto.

"Cadê a Emily?" Porra! Era óbvio que ela ia perceber, mas precisava ser assim tão rápido? Como sua pergunta não foi direcionada a ninguém, muito pelo contrário, ela analisou cada uma de nossas expressões. "Não era pra ela estar aqui com vocês?" Merda, merda, merda! Aproveitei para olhar para todos e fixar meus olhos na Aria, que ainda estava abrindo e fechando a boca sem emitir sons como um boneco ventríloquo. Grande ajuda, Mufa, grande ajuda! Rosnei e me virei pra Spencer, mas ela estava paquerando a minha janela e provavelmente prevendo a possibilidade de saltá-la e quebrar o menor número possível de ossos, talvez até desmaiar pra fugir do interrogatório da minha mãe. Revirei os olhos, demais pra pedir liderança agora. "Vamos gente, cadê a Emily?" Por fim, olhei para o Caleb que estava mordendo a boca para não cuspir a língua e falar tudo e fuzilei-o com o olhar. Que morda a boca mais forte e arranque um pedaço, desde que não conte a verdade.

"A Em? Hum..." Claro que seria a namorada do Sr. Fitz que daria esse belo discurso e esse show de retórica, abusando de palavras só conhecidas por essa gente pedante. Mas o que está acontecendo aqui? Vendo que seu poder de conversação não funcionaria nem em um recém nascido, Meyer se virou para mim com olhos pedintes. Por que esse povo sempre zoa o coreto e me pede ajuda?

"Sim, uma morena, amiga de vocês que mora aqui. Cadê ela?" Sempre muito engraçada, a senhora minha mãe resolveu apertar os botões da Aria porque sabe que aquela boca de caçapa não sabe mentir nem pra salvar a própria vida.

"Então, a Em está... Onde mesmo?" Minha vontade foi de me dar um tapa na testa ou na cara dela, mas me controlei. E revirei os olhos. Parece até que nunca mentimos sobre nada e pra ninguém nessa vida, cacete! Ela inventou que era a –A pra minha mãe, mentiu sobre ela e o Sr. Fitz pra todo mundo pro meses adentro e agora está olhando para todos os objetos do meu quarto como se eles fossem, magicamente, inventar uma mentira cabível. Tenha santa paciência! Abri a boca para mentir (porque ando mentindo tanto que um dia inventarei outra identidade pra mim. Tipo a Batgirl, um nome secreto assim), mas meu namorado foi mais rápido.

"Bem, Ashley, a Emily fugiu estamos tentando descobrir pra onde ela foi." Antes que eu pudesse desmaiar, resolvi me apoiar em meu armário e encará-lo. Qual é o problema desse povo com mentiras? Meu cu na esquina!

"Como é que é?" Todas nos viramos ao mesmo tempo pra ele e perguntamos juntas. Esse não era o plano, caramba!

"Ora, a Ashley merece saber, meninas, e vamos precisar da ajuda dela para encontrá-la." Se sentindo o Dr. Phil, Caleb continuou tentando se explicar e nós três, mais uma vez nos olhamos. Mufa ainda estava com sua boca de poço aberta, Spence estava pálida como um zumbi e eu... Eu só olhava para a reação da minha mãe.

"E como vocês sabem? Ela disse alguma coisa?" Minha mãe, com um estranho e desconhecido sentimento de compreensão, se sentou ao lado do Caleb e resolveu conversar com ele enquanto eu e Mufa íamos nos juntar a nerd e fofocar.

"O que a gente faz?" Aria sussurrou para nós duas e dei de ombros.

"Não é como se tivéssemos muitas opções agora, né?" Spence respondeu respirando fundo para se acalmar e voltar os olhos para a conversa que acontecia na minha cama.

"Pois bem, ela deixou uma carta aqui e aparentemente todas as coisas dela sumiram então, eu creio que tenha sido uma espécie de despedida." Minha mãe apenas assentiu com a cabeça e suspirou.

"Posso vê-la?" Antes que eu pudesse dizer algo, Spencer já estava levando e passando o papel para ela, que pegou os óculos na bolsa e começou a ler, junto com meu namorado. Esse fofoqueiro! Nós três nos demos as mãos e esperamos logo pelo pior (porque esperar pelo melhor num dá certo não) enquanto eles liam a carta. Suspirando mais uma vez, a senhora assustadora minha mãe tirou os óculos e olhou para nós quatro. "Bem, o que vocês pretendem fazer?" Como nenhum de nós sabia dizer, apenas nos olhamos de novo (o que há com esses diálogos, nem eu sei dizer...) e balançamos a cabeça em negativa. "Eu acho bom a gente começar a pesquisar pelo resto dos parentes dela, porque, pelo que eu li e entendi, ela não foi para o Texas e não quer que a Pam descubra. Então nós teremos que achá-la e trazê-la pra cá antes que os Fields resolvam visitá-la." Nossa, por que não pensei nisso antes?

"Ah, simples assim? Eu poderia ter pensado nisso antes." Se um olhar pudesse matar, minha mãe teria assassinado sua única filha nesse minuto.

"Ora, o que você quer que eu faça, Hanna? Alguma idéia melhor?" Com uma sobrancelha arqueada e um tom de ironia na voz, assim eu descobri porque todos no quarto estavam sentido medo da minha mãe, eu também senti naquele momento. Engoli em seco e balancei a cabeça em negativa.

"Bem, nós iremos atrás dela, isso é um fato. Mas primeiro nós temos que saber pra quais lugares ela pode ter ido..." Recuperando seu superpoder e sua liderança, Spence voltou a ditar o jogo.

"Vocês já ligaram pra ela e perguntaram?" Para uma mulher tão inteligente como a minha mãe, essa foi uma pergunta bem estúpida. Afinal de contas, qual pessoa em sã consciência fugiria e nos diria por telefone pra onde? Não faz o menor sentido.

"Bem, não exatamente. Nós não ligamos. Mas acredito que ela não iria nos dizer mesmo assim." Viram só? A voz da razão (que é igual a minha) se fez presente dita pela nerd. O que fez dona Ashley pensar mais um pouco.

"Certo, eu tenho um plano." Isso despertou a nossa atenção e nos fez nos focar naquela conversa e assim fomos nós três de volta para a minha cama. "Então, vocês duas comentem com os pais de vocês sobre o que está acontecendo para ver se eles podem liberá-las para uma viagem comigo." Sim, meu coração parou de bater no segundo que eu ouvi isso e acho que meus olhos saltaram e rolaram pelo chão. "Não, eu não estou falando sério, será apenas uma mentira para acobertar a busca de vocês porque eu vou precisar viajar para o Canadá à negócios e não sei quando volto, mas espero notícias o quanto antes, okay?" Todos nos entreolhamos mais uma vez para tentarmos decifrar o que ela estava tentando dizer. E eu realmente tive que tomar coragem e perguntar o que nós todos queríamos saber.

"Você tem certeza disso, mãe? Não vai ficar chateada conosco por isso?" Acho que esse era o mesmo pensamento que passou pela cabeça de cada um porque tão logo disse, as meninas e até o Caleb concordaram.

"Hanna, a Emily morou aqui por um bom tempo e foi uma ótima experiência para todas nós, inclusive pra ela, pelo que pude ler. Então, eu já a considero minha filha, como considero cada uma de vocês e também estou preocupada com isso e me sinto tão culpada e impotente quanto todos aqui. Eu deveria ter cuidado melhor dela e prestado mais atenção no seu comportamento depois da morte da Maya e é o que eu estou propondo agora. Se eu pudesse, acreditem, eu iria com vocês aonde quer que fosse, mas não posso. E confio em vocês para trazê-la de volta, haja o que houver e custe o que custar, certo? Mas seus pais merecem saber disso para que eles não se preocupem, o que é o mais justo e acertado a ser feito. Estamos entendidas?" Ao fim de seu discurso, eu iniciei o montinho na minha mãe e logo fui seguida pelas meninas que saltaram para abraçá-la também. "Vem, Caleb, me dá um abraço também." Dona Ashley disse revirando os olhos e meu namorado sorriu como se tivesse acabado de ficar rico e se juntou ao nosso abraço coletivo.

"Obrigada, Ashley, você não sabe o quanto isso é importante pra gente!" Spence falou assim que nos separamos e todas assentimos com a cabeça.

"É verdade, você é a melhor mãe do mundo!" Eu falei e concordaram todos de novo. Ela revirou os olhos e não sei como ela ainda não está tonta por isso.

"Certo, sei. Mas vocês precisam me prometer que irão agora pra casa contar para os pais de vocês e separarão umas roupas para a viagem, certo?" Como cachorros adestrados, concordamos de novo. Inclusive o Caleb e eu que não iríamos contar para nossos pais (já que os dele moravam muito longe e a minha estava na minha frente e teve essa idéia maravilhosa), mas estávamos tão empolgados que não ligamos pra isso. "Ou melhor, eu irei e conversarei com eles, acho mais ajustado assim. Desde que vocês prometam que terão cuidado e nos falaremos todos os dias pro caso de eles me ligarem e perguntarem, certo?"

"Absolutamente!" Mufa e nerd sorriram e responderam juntas.

"Ótimo! Então vamos andando! Primeiro passaremos na casa da Aria e depois na da Spencer porque é o caminho mais rápido, aí voltaremos pra cá e pensaremos melhor no plano, okay?" Antes de ouvi-la terminar o discurso, já estávamos em nossos pés e as meninas estavam correndo escada abaixo para nos esperar na porta. E eu aproveitei para abraçá-la e agradecê-la em voz baixa, recebendo um beijo na testa em troca. Depois disso, corri na direção das meninas e mais parecíamos um grupo de adolescentes que vai viajar sozinho pela primeira vez. Er, tá, era isso que éramos, mas tínhamos uma missão para cumprir. Ao longe, pude ouvir minha mãe conversando com o Caleb e dizendo algo do tipo 'cuide delas para mim', mas não pude afirmar com certeza. Logo depois, eles apareceram sorrindo e rumamos porta afora. "Meninas, cadê os carros de vocês?"

"Er, nós viemos correndo..." Spence disse visivelmente embaraçada o que fez minha mãe gargalhar e balançar a cabeça.

"A Em tem muita sorte por ter amigas como vocês, podem ter certeza disso." Assim que ela abriu a porta do carro, nos jogamos lá dentro e nos aprumamos para ir. Eu na frente e as meninas e meu namorado atrás. "Preparadas para contar uma mentirinha?" Tá, eu sei que a pergunta foi inocente, mas isso não me impediu de olhar pelo retrovisor e m e focar nas expressões das garotas, que estavam entre cínicas e cheia de si, muito parecidas com a minha.

"Pois é, é um mal necessário." Eu disse com a intenção de cobrir não só essa, mas como todas as outras vezes que já mentimos ao longo do último ano. E tentando nos convencer disso também, o que não foi assim tão difícil. Nós aprendemos com a Ali que uma mentira contada várias vezes se tornava verdade, então era isso que nós vivíamos agora: uma mentira que se engoliu nossa realidade. Saindo da nossa garagem, nos encaminhamos para a primeira parada do dia, a casa da Aria. E espero que o pai dela tenha feito algo bom no almoço porque não comi nada hoje e a fome é negra.

...

Depois de percorrer mais de 800 km para fugir da minha cidade e do que a minha vida se tornou, eu resolvo parar e me deixar sentir tudo o que não me deixei sentir pelas duas últimas semanas. Tristeza. E só. Não apenas por ter perdido a minha namorada (ou o que quer que seja, já que nunca terminamos e ela simplesmente fugiu), mas também pelo resto que passamos por causa da Mona. Todos os bilhetes, as chantagens, o terror psicológico, os processos jurídicos e tudo que acabei fazendo pra obedecer e entrar em seu joguinho sádico. O tanto que mudei e acabei não sendo mais a pessoa que fui criada para ser. Na verdade, não sei nem por onde anda aquela menina de antes, talvez ela tenha dado lugar a essa pessoa mentirosa e dissimulada que me tornei e, justamente por isso, não posso mais voltar para casa. Se é que eu tenho exatamente uma casa, já que estava morando no quarto da Hanna. E mesmo assim, eu me sentia segura lá. Rá! Pura balela. Quando a –A se mostra ser uma pessoa insuportavelmente inofensiva, é porque acho que algo está errado com nossas escolhas e com a minha vida.

Mas estou decidida e não vou chorar. Isso não faz parte da nova Emily que vai mudar de vida, mesmo que isso custe as melhores e únicas amizades por tudo que se conhece. E é exatamente nesse minuto que eu recebo uma ligação da Spence. Uma não, a vigésima sétima, acompanhada de quinze mensagens e alguns recados de voz. É claro que meu coração está pesado e culpado, mas eu não vou metê-la nisso, ela acabou de recuperar o Toby, assim como a Hanna está com o Caleb e a Aria tem o Sr. Fitz. Elas tem tudo pra perder ainda e eu já perdi tudo o que tinha. Respirei fundo e recusei mais essa ligação. Bem, é hora de encarar o que pode acontecer agora, os novos começos. Abri a porta do carro e saí na direção da casa daquela mulher que não me via há quase 10 anos, sem nem saber quem eu era, ou provavelmente nem se lembrar. Pensando nisso, um arrepio de nervoso passou pela minha espinha, e se ela não quiser que eu fique? O que vou fazer? Resolvi afastar esse pensamento de lado, afinal de contas, depois de mais de dez horas de viagem, eu não poderia ligar menos para ouvir um outro não. Com isso em mente, me aproximei e bati à porta. Depois de alguns segundos, bati de novo. Será que não tinha ninguém em casa?

"JÁ VAI! Cruzes!" Arregalei os olhos com o grito e com a educação da pessoa que me respondeu. Nesse mesmo momento, a realidade me bateu e percebi que estava fazendo papel de idiota, mais uma vez. Sequei os olhos e me virei nos calcanhares para voltar pro carro e pensar em outra rota de fuga, em outro lugar pra recomeçar. Ao ameaçar descer as escadas, a porta se abriu e a voz banhada em educação me assustou novamente, quase me fazendo rolar os degraus. "Chris, tem uma menina fugitiva e assustada na sua porta, venha vê-la porque estou saindo!" A dona da voz me olhou e arqueou a sobrancelha , provavelmente querendo saber quem eu era e sem coragem de perguntar, ou não querendo gastar saliva. "Então, você é?" Foi o que disse quando percebeu que eu não ia falar nada.

"E-emily. Fields. Emily Fields." Tentei me corrigir depois de gaguejar como uma louca e a tal da menina pareceu se divertir ainda mais com isso e esboçou um sorriso. Ótimo! Agora ela vai achar que eu tenho um problema mental...

"Santana, pensei que você estivesse atrasada e de saída." Christine disse se aproximando da porta e encostando-se no beiral com os braços cruzados (e, meu Deus! Ela não mudou absolutamente nada!), o que fez com que a tal menina (Santana) revirasse os olhos e saísse marchando.

"Pois eu estou, obrigada pela educação, Chris!" Foi algo que ela rosnou sem ao menos olhar para trás e continuou sua marcha. Christine pareceu sorriu e balançar a cabeça, como se aquilo fosse algo comum de ser ouvido. Pois eu digo que, se for algo normal, é melhor eu voltar pra Rosewood porque essa cidade promete coisas piores.

"Ai, essas crianças..." A mulher disse num suspiro, até se lembrar que tinha uma menina esquisita e provavelmente sem graça parada em sua varanda. E, ao ver uma pessoa tão deslocada e desajeitada como eu, ela pareceu ligar os pontos e vir caminhando em minha direção. "Em, é você?" Foi sua pergunta quando parou bem na minha frente e minha única resposta foi um balanço positivo de cabeça. "Meu Deus, Em! como você está diferente e crescida e bonita e..." Antes que ela pudesse listar mais qualidades que eu definitivamente não tinha, eu resolvi pular em seu abraço e chorar. "Oh, meu bebê, não fique assim!" Em meio a suas palavras de conforto e seu abraço verdadeiramente quente, eu não consegui conter as lágrimas que mais pareciam uma fonte d'água e chorei por sabe Deus quanto tempo. Ali, no meio da varanda dela, no escuro e sem a menor discrição. "Sh, meu bem, tá tudo bem, eu estou aqui com você!" Não sei se foram exatamente essas palavras que me fizeram parar de chorar ou se foi o fato de eu não ter mais líquidos no organismo, ou se foi por perceber o papel de sofredora mexicana que eu estava fazendo, mas bem, eu parei de chorar e de soluçar. "Isso, isso, assim está bem melhor!" Um pequeno sorriso se fez em minha boca e respirei fundo, enquanto ela limpava as lágrimas e se afastava para me olhar melhor. "Ora, ora! Deixa eu ver a minha sobrinha linda como está? Ah rá, aí está o sorriso mais bonito do mundo! Minha querida, eu senti sua falta!"

"Eu também, Chris, você nem imagina o quanto..." Falei com sinceridade enquanto nos abraçávamos novamente.

"Ótimo! Agora diga para mim, essa não é uma visita de médico, é? Você não veio para ir embora direto, ou veio?" Sua pergunta me deixou nervosa mais uma vez e voltei a morder o lábio enquanto balançava em meus pés, sem sabe o que dizer.

"Er, não exatamente..." Respondi olhando para baixo e pensando em algo que não soasse como 'oi, eu vim de longe para morar com você e, mesmo que não nos vejamos há muitos anos, eu realmente preciso de um lugar pra ficar porque preciso fugir da piada de mau gosto que é a minha vida. E aí, posso ficar?'. É, esse não seria o melhor modo de me oferecer como hóspede e...

"Okay, vamos fazer o seguinte! A gente pega as suas malas e todas as suas coisas no carro e você me faz companhia no segundo quarto, mas só depois de um banho e de um café pra me contar o que anda acontecendo na vida da minha sobrinha, o que acha?" Sua sugestão foi tão feliz que me senti realmente culpada por estragar mais uma vida assim, sem avisar.

"Você tem certeza, Chris? Quero dizer, eu não quero me meter na sua vida e na sua rotina e nem nada do tipo, então eu entendo se você estiver ocupada." Falei em corrida enquanto eu ainda tinha a coragem suficiente para dar-lhe uma saída fácil pra essa situação. Ao me ouvir, ela parou, colocou o dedo no queixo e pareceu pensar.

"Tá, entendi... Agora vamos pegar logo as suas coisas porque eu estou super curiosa!" Antes que eu pudesse terminar de ouvir o que ela disse, eu já estava sendo puxada na direção do meu carro e ela ria como uma criança. "Wow! Que possante, Em! Gostei dele!"

"Er, obrigada..." Respondi de cabeça abaixada olhando pros meus pés, só quando olhei para frente novamente vi que ela já tinha aberto a mala e as portas do carro para me ajudar com as bagagens. Pensando bem, ela é uma mulher que não existe mesmo e resolvi agradecê-la por tanta generosidade e fazê-lo de verdade. Por isso segurei-a pelo braço e para que ela prestasse atenção em mim. "É verdade, Chris, eu não sei nem como te agradecer por tudo isso que você está fazendo por mim. Muito, muito obrigada mesmo, eu não tenho nem palavras." Disse olhando em seus olhos e sendo o mais sincera que poderia ser. Seu sorriso estonteante se abriu mais uma vez e um novo abraço me enlaçou, sendo respondido em mesma intensidade.

"O que eu posso dizer, Em? Bem vinda a Lima, Ohio! Agora vamos, ande que eu preciso passar nosso café e saber como anda a minha nadadora preferida!" Ela disse se afastando e indo pegar algumas bolsas para levá-las para dentro de casa e eu a segui fazendo o mesmo. Nada como um novo começo. "Pois quer saber de uma coisa, vamos ver se você já consegue me ganhar na corrida!" Dito isso, saímos correndo como loucas com as mãos ocupadas com malas e rumando para minha nova casa enquanto balanceávamos o fôlego entre rir sem parar e acelerar na corrida. É, acho que as coisas podem ficar boas novamente.