Título: Letters from the lost days
Autora: Ryekodono
Série: Harry Potter
Personagens: Dumbledore/Grindelwald
Resumo: Os dias perdidos, e suas cartas. (Dumbledore-Grindelwaldt) (Yaoi-Lemon)
Nota da autora: Versão revisada e apimentada dessa minha fic. A culpa é toda do Deviantart, honestly. Só para reforçar; eu não escrevo fics de Harry Potter. Não me sinto à vontade em vosso universo, portanto qualquer besteira que eu citar sobre magias e poções me corrijam.
Boa leitura!
Ryeko
Letters from the lost days
Capítulo 1
"O que você está lendo?"
Havia uma brisa agradável nos jardins de Godric's Hollow. O vento quente de fim de tarde e o silêncio que tanto serviu ao ruivo nos últimos meses. Nada lhe incomodava em seu jardim secreto... Seu irmão não o conhecia, sua irmã menos ainda. Até mesmo os pássaros pareciam evitar aquela área particular do cemitério.
"Perdão...?"
Ainda assim o silêncio, o maravilhoso silêncio, foi quebrado por uma pergunta. Albus se viu imediatamente preso pela surpresa e por um par de olhos verdes que o fitavam.
"Eu perguntei o que você estava lendo... o nome do livro." – O rapaz apontou para o exemplar grosso que havia em suas mãos. Ele parecia levemente incomodado em ter de repetir a sua pergunta, com um meio-sorriso arrogante nos lábios.
Foi uma visão completamente inesperada. Albus não imaginava ter alguém a interromper sua leitura, muito menos um jovem desconhecido. A presença de estranhos em Godric's Hollow era muito restrita, e o fato daquele rapaz ter aparentemente a sua idade retardou ainda mais seu raciocínio. Albus balbuciou o nome de seu livro de poções avançadas, o sobrenome inglês da autora e tentou compreender por que os olhos verde-esmeralda se comprimiram em reconhecimento.
"Ah..." – Murmurou, alargando o seu sorriso. – "Então você deve ser Albus Dumbledore."
Agora a expressão do ruivo era de uma análise fria. Ele observou o sorriso maroto que o loiro tinha nos lábios, as passadas em sua direção. Os olhos de Albus eram duas esferas comprimidas por trás dos óculos meia-lua, e esbarraram nos cachos loiros do desconhecido. Aqueles fios cascateavam belamente sobre o ombro do rapaz, somados à pele clara e ao nariz fino. Dumbledore assumiu imediatamente que ele era de descendência germ.
"Bathilda Bagshot. Ela é minha tia." – Vestes negras moldavam o corpo do desconhecido, roupas de bruxo bem cortadas em uma sobrecasaca. – "Segundo ela," - continuou - "você é tão genial quanto encantador..."
Havia sarcasmo naquela voz, uma ironia pesada para um rosto de traços tão suaves. O sorriso se mantinha, ainda com uma pontada de petulância erguendo o canto daqueles lábios.
"Ouvi falar de sua visita." – Dumbledore voltou o olhar para o livro e se perguntou se deveria cumprimentá-lo devidamente. – "Bathilda me disse que esperava um sobrinho de Durnstang."
Uma risada leve percorreu o cemitério. Foi uma reação suave, e dela seguiu-se um sorriso deslumbrante no rosto do desconhecido.
"Ela não se conteve de falar da minha expulsão, então...?" – Suas passadas circundaram Albus com uma superioridade tranqüila. – "Óbvio que não... não creio que minha querida tia jamais tenha contido qualquer informação pessoal de seus vizinhos..."
Dumbledore considerou aquela informação maldosa, petulante e inevitavelmente verdadeira. O loiro suspirou, engolindo o resto de seu riso jovial e encarou o rapaz que permanecia sentado, segurando o livro entre os dedos finos.
"Por que você foi expulso?"
Foi uma pergunta impulsiva, e Dumbledore se arrependeu de fazê-la.
"Por quê? Uma pergunta objetiva. Ainda assim... por que alguém deveria temer a expulsão de um centro educacional tão restrito?" – Os olhos verdes percorreram toda a figura sentada de Albus, de cima a baixo. – "É claro que lá era bastante diferente de Hogwarts... Em Durnstang a intenção para com os alunos era a de polir os seus diamantes, e não encher o seu peito de medalhas e elogios."
Albus compreendeu a provocação, ainda que não o motivo pelo qual ela lhe foi feita. Ele o havia ofendido? Era sabido de todos que o ruivo havia sido internacionalmente conhecido por seus talentos no mundo da magia, recebendo um vasto número de premiações.
"Mas não o suficiente... Por mais que a política da escola fosse positiva eles ainda eram tolamente relutantes com a pesquisa." – Dumbledore apenas o encarava, algum brilho específico naquele olhar esverdeado impedindo-o de desviar seu foco. – "Durstang permite que seus alunos mantenham experimentos, você sabe... mas apesar da qualidade de seu laboratório não se pode esperar que eles compreendam uma pesquisa verdadeira."
O estranho de cabelos loiros suspirou.
"Claro que em uma semana eu terei 17 anos e poderei continuar minhas pesquisas sem a aprovação de ninguém..." – Seus olhos se desviaram para o livro, pausando nas gravuras douradas do título. – "Um belo livro esse... com informações bastante relevantes."
"Você já o leu?"
Havia um tom de surpresa na voz de Albus, uma curiosidade bem mascarada pela timidez. Aquele era um livro avançado de poções, ele não esperava que um estudante sem idade para praticar magia tivesse conhecimento de seu conteúdo.
"Mas é claro." – A resposta, porém, foi efusiva. – "Em Durnstang a leitura era liberada conforme o interesse do aluno... nada da cartilha obrigatória de Hogwarts. – Magda Atkins trata algumas opiniões interessantes sobre o uso das mandrágoras..." – O loiro deu outras passadas lentas, o olhar perdido nos túmulos ao seu redor. – "Apenas ignore o capítulo 3... Tudo o que ela fala sobre a Poção Polissuco é uma tremenda bobagem."
"Eu acabei de começar o livro."
Foi uma afirmação vaga, e Albus estava provocado e surpreso pela postura daquele rapaz. O loiro tornou a brandir um sorriso ousado nos lábios, com a mesma firmeza que desacreditava nas palavras escritas de uma especialista.
"Bem... temo que eu tenha de ir. Meus livros estarão sendo despachados a qualquer momento." – Um último olhar foi trocado, e o verde lhe encarava desafiante, ainda sob o belo sorriso. – "Foi um prazer conhecê-lo, Albus Dumbledore..."
Albus pensou com censura que não perguntara o nome do rapaz, mas apenas quando este já havia lhe dado as costas. Seus passos tranqüilos cruzaram os túmulos e Dumbledore umedeceu os seus lábios com a pergunta não feita, o nome do desconhecido de comentários ácidos. O ruivo passou o indicador pelos fios ralos de barba que despontavam em seu queixo.
Os óculos meia-lua foram ajeitados em seu rosto, - o hábito antigo -, e Albus tornou a abrir o livro que lia. Um pensamento, porém, o levou para o índice, e para o terceiro capítulo que aquele desafiante rapaz havia advertido.
Poções polissuco... Albus descobriria por si mesmo.
"Meu sobrinho... Gellert Grindelwald"
Albus tomou a mão estendida em um aperto tímido. Os olhos dos dois se cruzavam com liberdade enquanto eram apresentados por Bathilda, e o ruivo não pode deixar de notar quão forte e macio era o aperto daquela mão. Aquela dualidade, até o momento, lhe descrevia Gellert perfeitamente.
"Vocês já se conhecem...?"
Talvez houvesse liberdade demais nos olhares, tempo demais apertando e analisando aqueles dedos claros. Foi Grindelwald quem abandonou o seu toque e encarou a tia com um sorriso impaciente.
"Eu tive o prazer de interromper sua leitura hoje à tarde... Nós conversamos por um momento. Eu apenas não o convidei para jantar, pois eu tive certeza de que você o faria, Bathilda." – O tom do rapaz era suave, mas Dumbledore se recordou de que não era a primeira vez que tratava a tia pelo nome. – "Tive certeza de que estaria ansiosa para nós dois nos conhecermos."
"Você precisa de amigos da sua idade, Gellert." – Bathilda era uma mulher tão alta quanto Albus e extremamente magra. Ela tocou no ombro do ruivo com uma liberdade simulada. – "Mas sentem-se, vamos comer. Fico contente de que tenha aceitado meu convite. Como vai Aberforth?"
Dumbledore respondeu com amabilidade, na medida do possível. O ruivo nunca foi conhecido por sua dissimulação, de forma que admitir que o irmão ainda sentia a morte da mãe era para ele de uma aridez política. Ele nem ao menos fingiu manter o sorriso em seu rosto.
"E a pequena Ariana?"
Albus notou que Grindelwald o analisava com interesse do outro lado da mesa. Daquela vez, o ruivo estava adequadamente vestido com uma casaca cinza-escura, enquanto o loiro mantinha o preto, ainda que numa veste menos social. Preto... o contraste combinava com ele, ainda que Dumbledore tenha balbuciado que a irmã estava como sempre esteve.
"O que está achando do livro?" – A pergunta de Gellert era acompanhada de um sorriso desafiante. – "Aposto que um ilustre estudioso de Hogwarts já terá chegado ao capítulo três, não é mesmo?"
Havia uma ironia inofensiva naquela pergunta, mas Albus reconhecia o escárnio por sua escola. Geralmente o ruivo a defenderia com todos os argumentos possíveis, mas aquele rapaz o intrigava.
"Sim. Porém eu sou obrigado a discordar de você, Gellert."
"Oh, verdade?"
Albus mantinha uma postura séria, comendo com as costas eretas e com a ordem corretíssima dos talheres. Ele não o encarava diretamente nos olhos, -por pura etiqueta -, e mantinha uma fala formal.
"A grande maioria das informações estão ultrapassadas... misturadas à superstição. Mas o método científico de Magda é bastante ousado."
"Como ousado, Albus?"
"Ela contestou os tabus da época. Ela estava errada, mas não é uma completa perda de tempo como você havia dito. Eu achei interessante ver a forma que ela responde aos".
Gellert não respondeu a princípio, e Bathilda prendia a respiração dentro de si, talvez surpresa por ver seu tímido sobrinho conversando abertamente com um estranho. Albus sentiu que a mulher conhecia muito pouco do próprio parente, ou talvez ainda mantivesse uma imagem infantil do rapaz.
Não havia nada de infantil naquela pausa.
"Então você gosta de contestar os tabus, Albus?" – Grindelwald sorriu e ergueu sua taça de vinho em um brinde solitário. – "Mas do que isso serviu a Magda? Ela foi queimada na fogueira, afinal."
"Ora, Gellert..." – Interrompeu Bathilda. – "Você sabe muito bem que os bruxos da antiguidade usavam feitiços para se camuflarem das chamas, querido."
Ouve um escárnio violento nos olhos verdes quando a encararam. Dumbledore não soube reconhecer se foi pela demonstração de carinho ou pela óbvia informação.
"É claro que eu sei disso, querida tia." – Ele se recompôs com um sorriso deslumbrante. – "É puramente simbólico! Queimá-la era queimar suas idéias, impedir que ela publicasse suas opiniões. Esse é um livro póstumo, Bathilda. Ela nunca o viu publicado e nunca soube quão relevantes foram suas opiniões sobre as mandrágoras, muito menos quão errôneas eram suas superstições sobre a poção polissuco."
Queimar suas idéias... Dumbledore achou aquela uma opinião interessante. Não foi ele mesmo que escreveu um ensaio sobre a caça às bruxas e como ela afastou os Trouxas da compreensão mágica para sempre?
"Veja, Albus, "- Continuou Gellert. – "Que quebrar os tabus sem um poder real não adianta absolutamente nada... O resultado sempre será incerto. Magda Atkins não viu suas letras publicadas, pois ela produziu ensaios e não ações."
"Uma atitude sem conhecimento não vale nada, Gellert." – Albus sentia seu estômago pulsar com os argumentos. O ruivo não era articulado e não gostava de se comunicar em palavras, mas tinha um tino particular por discussões teóricas. – "Magda é o pilar de muitas descobertas posteriores."
"Um belo e morto pilar..." – Havia um sorriso malicioso naqueles lábios. – "Cite três pessoas, Albus... Apenas três que sequer tenham ouvido falar dos estudos da Srta. Atkins e eu lhe darei toda a razão do mundo..."
Três pessoas...? Com exceção de Elphias Doge e aquele rapaz de comentários mordazes ele não conhecia ninguém interessado em livros tão avançados.
"Os ensaios são fantásticos, eu não nego. Mas são as ações que mudam o mundo!"
As próximas garfadas foram indigestas. Gellert foi o único dos três que não se afetou pelas próprias palavras. Ele inclusive comentou, com um sorriso tranqüilo, que a comida estava uma delícia.
"Ficarei em Godric's Hollow por tempo indeterminado." – Respondeu ele a pergunta do ruivo. – "Estou conduzindo uma importante pesquisa e Bathilda possui uma biblioteca impressionante. Montei meu laboratório lá, com sua permissão."
"Por que você não o mostra a Albus, Gellert? Tenho certeza de que meus livros não são nada perto do acervo de Hogwarts, mas sendo o rapaz estudioso que é, ele gostará de vê-los. Não é mesmo, querido?"
Albus forçou um sorriso desajeitado, grosseiro em seus lábios tímidos. Ele estava incomodado com algo que não compreendia por inteiro, uma sensação de borboletas dentro de seu estômago.
"Eu adoraria conhecê-lo."
Não era a primeira vez que Dumbledore visitava a biblioteca de Bathilda. Já duas vezes o ruivo tomara emprestado um dos livros da bruxa, talvez o maior motivo pelo qual ele a tratasse com amabilidade. O lugar era uma grande sala redonda, com prateleiras altas e duas mesas cumpridas de madeira polida.
Agora havia também duas caixas grandes com livros, alguns deles espalhados pelo chão, e uma das mesas já havia sido completamente tomada por materiais científicos. Estes, obviamente, eram de Gellert, e o rapaz se aproximou de suas poções com um jubilo maquiado.
"Nada impressionante..." – Afirmou o loiro com um suspiro ressentido. – "Eu não terei como imitar os laboratórios de Durnstang, porém os livros serão de grande ajuda."
"Sua tia possui uma bela biblioteca".
Albus havia se aproximado de uma das estantes, sentindo os olhos de Gellert sobre si. Eles frequentemente estavam lá, sobre ele, e ainda mais enquanto o bruxo observava seus pertences.
"Belos livros..."
Dumbledore pediu permissão para tocá-los, e esta lhe foi concedida ironicamente. A grande maioria dos exemplares eram específicos de poções, muitos poucos sobre a história da bruxaria e alguns ensaios não-encadernados. Albus estava realmente impressionado com a variedade quando esbarrou em um livro que não parecia pertencer àquele seleto grupo.
"'Os contos de Beedle, o Bardo'? Por que um livro infantil está no meio dos outros?"
Foi uma pergunta aparentemente leviana, porém Albus não esperava os passos apressados de Gellert. O loiro arrancou o livro de suas mãos e lhe fitou fundo nos olhos, as esferas lhe punindo pela ousadia.
"Eu o esqueci... Apenas isso." – Parecia haver mais naquela relutância, sendo que o bruxo inclusive guardou o livro fino dentro de suas vestes. – "Não me diga que o campeão de Hogwarts nunca leu contos-de-fada na sua infância...?"
"Por que você mostra tanto escárnio para com Hogwarts?"
Grindelwald suspirou.
"Não com Hogwarts apenas, mas com todas as instituições de ensino." – O rapaz abriu um sorrisinho desculposo. – "Elas nunca funcionaram para mim... Os livros foram meus verdadeiros professores. Mesmo que elas sejam um reflexo da vida em sociedade, eu recusaria a presença constante de professores se pudesse evitar."
Dumbledore não disse nada, apenas conteve a surpresa de aparecer tão explicita em seu rosto. Aquela opinião era uma versão mais ácida de sua própria, ou assim parecia se dita por aquela voz macia.
"Prefiro ter como professora a Srta. Atkins... Ela certamente não me compararia com os idiotas." – Gellert sentou-se no divã vermelho de Bathilda, deitando as pernas e apoiando um dos braços folgadamente no apoio. – "Você se ofende com as minhas palavras?"
Albus pensou por um momento longo, ainda com dois livros em suas mãos.
"Não. Suas palavras são interessantes, apesar de ousadas. Você fala o que pensa, assim me parece."
"Oh, não Albus..." – Dumbledore cruzou o azul de seus olhos com o verde de Gellert, e se arrependeu imediatamente. – "Eu penso! Falar é uma conseqüência... A mim me parece que todas as outras pessoas falam para não ter o trabalho de pensar."
"Você parece um rapaz inteligente". – Albus não quis continuar naquele tópico da conversa. – "O que está pesquisando?"
"No momento duas coisas." – Gellert se ergueu e se aproximou da mesa. – "Gostaria de desenvolver um método para descobrir a autenticidade de objetos mágicos. Todos os métodos mágicos ligados a isso são muito vagos... Espero criar uma forma mais prática de consegui-lo."
Dumbledore analisou os objetos espalhados pela mesa do loiro. Nenhum deles parecia de valor, porém ele reconheceu os elementos que Gellert possuía. Sua coleção de poções era verdadeiramente invejável.
Um pensamento banal passou pela mente de Albus e o rapaz sugeriu que ele lesse um autor conhecido por seus métodos ousados. Um sorriso maroto se abriu nos lábios de Grindelwald. O bruxo se aproximou de uma estante pequena, ocupada com materiais mais recorrentes de pesquisa – como ele explicou, - e esticou-lhe um livro grosso.
"Tenho de admitir que eu o adoro...! As idéias desse autor sempre influenciaram minhas escolhas na área de pesquisa." – Dumbledore deu uma folheada no livro, reconhecendo páginas amareladas e carcomidas. Na parte de trás do livro havia um selo de Durnstang.
"Você roubou esse livro?"
Gellert não conseguiu segurar uma risadinha juvenil, extremamente atraente.
"Digamos que... eu o emprestaria, eu até mesmo o compraria se fosse um livro disponível. Este exemplar é muitíssimo raro... veja que a parte de trás possui ensaios redigidos a pena pelo próprio Percival."
Albus checou, apenas para encontrar papéis tão antigos que ameaçavam se desfazer em seus dedos.
"Onde você o conseguiu se eles não estavam na biblioteca?"
"Oh, eles estavam..." – Albus tinha os olhos levemente arregalados. – "Em uma área restrita da biblioteca. No meu... quarto ano eu invadi os aposentos secretos da escola e encontrei-o, junto de uma série de objetos interessantes."
"Por que você fez isso?"
Gellert lhe encarou com desdém, insatisfeito com a relutância de Dumbledore.
"Um dos professores foi tolo o suficiente para comentar desses ensaios na sala de aula... Eu precisava deles. Como eu disse antes, Albus, esse autor é a base de muitas de minhas pesquisas."
O que Dumbledore sabia daquele autor era tanto surpreendente quanto controverso. Aparentemente as idéias do estudioso beiravam a obsessão, motivo que acabou levando a sua morte. Não era ele que passou tanto tempo investigando sobre varinhas invencíveis? Gellert Grindelwald era um rapaz de gostos perigosos.
"Você disse que estava pesquisando duas coisas... Qual é a segunda?"
O loiro pegou o seu livro de volta, colocando-o cuidadosamente na estante.
"O segundo assunto... é particular. Eu dificilmente mostraria meus livros para alguém, talvez apenas para você, Dumbledore, pois eu sabia que ficaria encantado com um achado tão precioso. Porém este segundo assunto... é unicamente meu."
"Perdão... eu não quis ser invasivo."
Gellert riu da educação de seu mais novo amigo.
"Oh, deixe de besteiras! Veja... Todos os meus estudos referentes a esse assunto estão neste baú." – O rapaz apontou para um baú acobreado, trancado magicamente ao lado de sua estante. – "Eles são particulares, e foram eles que causaram a minha expulsão. A direção da escola não gostou que eu me recusasse a expor os verdadeiros intuitos de minha pesquisa. Julgaram como algo cruel e sem sentido."
Cruel? Dumbledore encarou os trincos reluzentes daquele baú e conteve sua curiosidade com um sorriso desajeitado. Um baú, uma caixa de pandora de alguém tão peculiar.
Os outros tópicos que discutiram foram mais leves, porém igualmente dotados de conhecimento. Albus sentiu um jubilo imenso em conversar e, na grande maioria das vezes, apenas ouvir aquele rapaz estudado falar. Suas palavras eram ácidas, mas teciam um raciocínio lógico e possível... extremamente agradável.
Já era tarde quando Dumbledore desculpou sua partida, e Gellert não fez maiores perguntas.
Seguiu-se um aperto de mão tão longo quanto o primeiro, mas a liberdade nos olhares era de um saudosismo novo. Os dois inteligentes e jovens bruxos se olharam nos olhos, - como iguais -, como nunca haviam olhado para ninguém em suas vidas.
Ao decorrer de uma semana a única coisa que Gellert ainda não havia lhe mostrado era aquele baú. Grindelwald tinha uma paixão hipnotizante para com seus experimentos, discutindo-os com um fervor interessante.
A amizade dos dois evoluiu rapidamente. Nos primeiros dias, Bathilda ficou espantada. A bruxa julgou como sua a idéia de juntar os gênios, mas ao fim da primeira semana de encontros diários a bruxa desistiu do crédito. Ficou provado a todos que a amizade de Gellert Grindelwald e Albus Dumbledore era algo destinado a acontecer, e resultaria em grandes feitos.
Gellert era obcecado com a grandeza, obcecado com a História. Este, Albus reconhecia como seu maior defeito. A simples idéia de não marcar seu sobrenome na história assombrava o loiro. Dumbledore não desconfiava que seu inteligente, belo e articulado amigo alcançasse a grandeza, porém seu desejo beirava a obsessão.
"Por que a pressa, Gellert?" – Perguntava Albus, com uma taça de vinho em seu divã, enquanto o amigo gesticulava e expunha sua impaciência com o resultado das pesquisas.
"Você não entende, Albus! É ridículo que eu não possa fazer magia... Como podem negar algo que é nato do indivíduo? A magia é uma bênção, Albus! A comunidade bruxa passou séculos tentando desvendá-la, tentando aprimorá-la e mantê-la, porém o próprio conceito de magia é fascinante."
Gellert sempre usava vestes negras, era uma de suas principais características. Naquela tarde, um dia antes de seu aniversário de 17 anos, o rapaz vestia a casaca clássica dos bruxos. Ela destacava seu cabelo e enquanto ele se inflamava com seu discurso, os belos cachos loiros pareciam pegar fogo.
"O próprio fato de nós nascermos com ela... ele nunca foi questionado, Albus. Centenas de anos da história da magia e ninguém, nenhum estudioso de importância tentou descobrir como a magia acorda em determinadas pessoas e em outras não."
"Porque é impossível determinar uma coisa dessas, Gellert."
"O impossível é duvidar dessa dádiva, Albus. Não se pesquisa o que se tem certeza... os que nascem com o dom da magia o reconhecem como algo nato, e sabem que sem a magia eles se tornariam obsoletos. Eles sabem disso desde o momento que nascem!" – Grindelwald fez um movimento brusco com a mão, derramando um pouco de vinho no carpete avermelhado de Bathilda. – "A magia é obviamente uma evolução! Poucos têm a coragem de admitir essa verdade, porém todos a sentem... A magia é uma evolução. O que os trouxas não fariam, quem eles não matariam para ter esse dom?"
Albus sentiu um aperto em seu estômago. Gellert sempre trazia o assunto da soberania dos bruxos sobre os trouxas, – algo puramente teórico, certamente – mas a Dumbledore ela ardia.
Não era pelo tom ácido, Dumbledore já havia se acostumado com a ousadia de seu amigo. O incômodo era pela sua própria experiência com a irracionalidade dos trouxas. Sua irmã sentiu essa violência na pele, e era por conta dela que Albus estava forçado a apodrecer em Godric's Hollow.
Gellert deveria saber da tragédia de sua irmã, a versão oficial. Bathilda certamente já a narrara para o sobrinho (assim como para todos os seus conhecidos), mas o ruivo não se sentia tentado a contar a verdade. Estar com Grindelwald era uma outra realidade, um mundo inteligente e harmônico onde todas as discussões tinham um sentido e um peso. Gellert sabia inflamar cada conversa com uma vida que Dumbledore nunca conseguiria reproduzir. Ele quase enxergava a chama nos olhos verdes quando ele discursava sobre suas intenções.
Antes de conhecê-lo, Dumbledore teve meses para se acostumar ao seu destino. O mais genial filho de Hogwarts havia desistido de todos os seus planos para se dedicar família; a uma irmã retardada e a um irmão que mal sabia escrever seu próprio nome. Albus nunca reclamou, nunca disse uma palavra no meio dos surtos de Aberforth. Antes da chegada de Gellert, Albus se recolhia com um livro para aquele espaço particular do cemitério, e tentava esquecer por algumas horas da vida medíocre que ele viveria.
Depois da chegada do amigo toda a vida de Albus se inflamou com uma paixão desconhecida, como se o ruivo pudesse absorver a impaciência e os desejos do outro ao ouvir suas palavras. Cada discussão intelectual se tornara um debate de argumentos bem formulados, ferozes e apaixonantes. Gellert era uma figura, acima de tudo, apaixonante. Nunca uma amizade lhe pareceu tão recompensadora, e Albus sentia que Gellert pensava o mesmo em relação a ele.
"Um brinde, Albus!" – Sugeriu Grindelwald no dia de seu aniversário, uma semana depois de se conhecerem. – "Um bom vinho para comemorarmos o fim do meu suplício... A maioridade física é uma chaga quando a mente a assume mais cedo... ainda assim, é bem vinda."
"A seus feitos, Gellert." – A taça tocou a de Gellert com um tinido gracioso. – "A nossos feitos."
Foi uma tarde agradavel, regada a uma dose excessiva de feitiços por parte de Gellert, todos muitíssimo bem feitos. O loiro recusou a reunião proposta por Bathilda, tendo os três jantado em silêncio (Dumbledore era uma figura freqüente na casa, naquela altura). Em seguida, os dois se trancaram em seu laboratório e passaram a tratar da primeira de muitas ambições do rapaz.
"Você vai dominar o mundo, Gellert... Essa sua lógica vai acabar lhe dando o mundo dos bruxos em uma bandeja de prata."
Foi uma brincadeira inofensiva, incentivada por algumas taças de vinho. Ainda assim foi verdadeiro o sorriso que se abriu nos belos e embriagados lábios de Grindelwald.
"Mas é claro..." – Dumbledore estava deitado no divã vermelho, enquanto Gellert virava as páginas de um livro antigo. – "E você estará ao meu lado, Albus... Como o melhor e o menos ousado de todos os meus conselheiros."
O bruxo sorriu e brindaram novamente. Passaram horas longas e exaustivas dentro daquele laboratório, entre comemorações e pesquisas. Ao fim de um tempo incalculável, Gellert deixou Albus observando uma mistura específica e dormiu no divã, com uma das mãos sobre o peito.
Tardou para que Dumbledore percebesse a respiração pesada do amigo, o como ela cortava o silêncio do laboratório. Ambos haviam bebido um pouco, e Gellert, em uma de suas brincadeiras, havia pego os óculos de Dumbledore e colocado sobre o rosto. O loiro tencionava descobrir como era 'enxergar o mundo com o ego contido do grande Albus Dumbledore.'
Ele agora dormia com os seus óculos, e o ruivo se aproximou. Por um motivo que ele não admitiria nunca, a visão de Gellert adormecido lhe fez engolir a seco. Albus se aproximou com relutância e agachou-se ao lado do amigo, tirando delicadamente os óculos e ajeitando-os na frente dos próprios olhos.
A visão de seu rosto o fez parar por um momento, um novo suspiro. Os traços suaves do rapaz... quem o visse daquela forma nunca imaginaria a determinação e a ambição que ele possuía. Nunca desconfiariam da aura apaixonante de Gellert, a habilidade de convencer os outros como um general da antiguidade.
Dumbledore não sorriu com sua ironia particular, não havia o que sorrir. O ruivo esticou sua mão, eternamente relutante, e tomou entre os dedos um dos cachos loiros de seu ambicioso amigo.
"Feliz aniversário, Gellert." – Sussurrou, enfim.
Querido Gellert,
Você não imagina o meu alívio e minha felicidade de que tenha respondido a minha carta anterior. Tentarei ser breve, pois da maneira trágica que nos separamos devemos nos ater a nossas próprias lembranças e não às palavras. Estas nos feririam estupidamente se discutíssemos o horror daquela noite.
Gellert, eu sinceramente lhe desejo o melhor. Os meus desejos excedem as palavras, e eu prezo para que alcance seus objetivos. Tenho certeza de que saberá usar suas conquistas para o bem que visualizávamos.
Apenas não tente me dissuadir, meu amigo. Eu ainda desejo, e penso que irei, um dia, juntar-me a você. Agora, porém, devo fazer o que em toda a minha vida neguei, covardemente. Sei que não compreende meu dever, mas não conseguirei paz se não organizar os destroços de minha família.
Não pedirei também que me espere. Sei de sua impaciência... Apenas posso lhe apelar, nessa carta breve, de que nunca se esqueça de meu apreço. Não conseguiria exprimir a saudade que sinto dos nossos dias em Godric's Hollow, das maravilhosas horas que passei contigo. Eu sequer tentaria encontrar palavras para descrever a falta que sinto das noites em sua companhia.
Acima de tudo isso, eu sinto falta de seus sonhos, Gellert. Sinto falta de sonhar contigo sobre o futuro, de vê-lo através do véu glorioso de sua presença.
Você ainda pensa no 'Bem maior', Gellert? A mim parece que ele se foi contigo.
Sempre seu,
Albus Dumbledore
Olá, fangirls ;D
Peço novamente que perdoem as citações que eu faço sobre a magia. Eu não sou uma potter-maníaca, então tento inventar detalhes para caracterizar o Grindelwald, como o interesse no estudo e as pesquisas obcecadas.
Essa fic terá 4 capítulos e cada um deles será dividido dessa mesma forma... em 3 cenas narrativas e uma carta no final. Essa primeira carta do Dumbledore para o Gellert é a segunda que ele mandou depois da morte da irmã, uma tentativa de reconciliação, antes do Grindelwald virar um bruxodastrevasfromhell.
Ryeko
PS: O título genial da fic é o nome de uma música do 'Akira Yamaoka', da trilha do jogo Silent Hill.
