1911 - Sacrifice
CARLISLE
Eu havia chegado a poucos minutos no hospital e, após estabelecer meus pertences em meu escritório, me encaminhei para a ala de emergência. Cumprimentei meus colegas educadamente e a enfermeira Esther veio me chamar.
- Dr. Cullen, sala 4. A garota provavelmente quebrou a perna. - Ela disse, entregando-me o prontuario.
- Obrigada, Esther, já estou indo. - Ela sorriu e foi embora.
Olhei o prontuario. Esme Anne Platt, 16 anos.
Conforme fui me aproximando da porta, o cheiro me assaltou. Nunca tinha sentido nada assim, era quase irresistível e eu parei no meio do corredor, prendendo a respiração para me controlar, mas agora já era tarde e minha garganta ardia como se tivessem empurrado um ferro em brasa por ela. Pensei em pedir para que outro assumisse meu lugar, mas minha curiosidade me venceu. Prendi minha respiração e entrei na sala.
A garota olhava distraidamente pela janela e se sobressaltou quando eu entrei, os cachos caramelos pulando ao redor de seu rosto e então o rubor assumiu sua expressão e ela mordeu o lábio para não rir de si mesma.
- Desculpe se eu te assustei. - Disse e só então me arrependi. Metade do meu estoque de ar tinha ido embora.
- Eu só estava distraída. - Ela balançou a cabeça e desviou o olhar. Eu não conseguia parar de olha-la. Algo sobre ela simplesmente tomou toda minha atenção.
- Então.. Srta. Platt, eu sou o Dr. Carlisle Cullen. - Sussurrei, dando mais alguns passos para dentro da sala e fechei a porta atrás de mim. Conforme meu estoque de ar se foi completamente, eu fui obrigado a respirar e, Deus, o cheiro dela era muito mais forte e muito mais tentador agora.
- Por favor, me chame de Esme. - Ela pediu, encarando-me e eu me forcei a me concentrar no que eu realmente tinha que fazer. Se a perna dela tinha sido quebrada, ela estaria sentindo dor, mesmo que isso não se manifestasse em suas expressões.
- Ok, Esme, mas só se você me chamar de Carlisle. - Sorri. Geralmente eu não me permitia ser tão intimo com os pacientes, mas ela era diferente.
- Combinado. - Ela sorriu.
- OK. Eu vou olhar sua perna, porque a enfermeira disse que suspeita que você tenha quebrado. Você deve estar sentindo muita dor, então eu te darei um analgésico para que se sinta melhor. - Me sentei no banquinho a sua frente e coloquei a mão no bolso do jaleco a procura dos comprimidos.
- Não está tão ruim. A viagem de uma hora e meia na carroça até aqui foi mais dolorido.
- Você é muito forte, Esme, já vi homens enormes chorando por muito menos. - Ela riu e eu me encantei por aquele som. Eu tinha que fazê-la rir novamente. - Tome. - Entreguei um analgésico e um copo com água e ela o engoliu.- Vamos verificar sua perna. Tenho que levantar um pouco sua saia se não houver problema.
- Não, nenhum. - Ela sussurrou, mas eu a vi ruborizar novamente quando desviou o olhar e eu mordi o lábio para não rir.
- Diga-me se a dor for muito ruim. - Ela assentiu.
Esme puxou sua saia até o joelho e eu a tomei delicadamente, praguejando em minha mente quando lembrei da temperatura de minha pele, mas ela não disse nada. Comecei com pequenos círculos com os polegares procurando onde havia sido quebrado. Ela pulou com a dor e fez uma careta quando toquei sua canela e eu podia sentir a fratura.
- Desculpe. Preciso de um raio x, mas tenho quase certeza que foi aqui. - Ela assentiu. - Antes do raio x, tem mais algum lugar que dói?
- Acho que minha costela e minha cabeça. - Ela sussurrou.
- Ok, vamos dar uma olhada. Agora eu preciso que você tire o casaco e levante a blusa. - Esme engasgou por um momento e desviou o olhar novamente quando o rubor subiu em seu rosto, mas fez o que eu disse.
Me aproximei e pousei as mãos em sua cintura massageando como havia feito com a perna, mas eu não conseguia me livrar do nervosismo que se espalhou por meu estômago. O que tinha de tão especial nessa garota que me despertava sentimentos tão fortes e desconhecidos? Sem contar no cheiro maravilhoso que agora era opressor e que me deixaria tonto, se possível.
- Então, Esme. - Comecei tentando distrai-la e me distrair. - O que levou a tantos ferimentos?
-Eu cai de uma árvore. - Ela sussurrou.
- Uma árvore? - Ri levemente. Ela conseguiu me surpreender.
- Sim. Eu sei o que você deve estar pensando, damas não deveriam subir em árvores. - Ela suspirou cansada, como se já tivesse ouvido essa frase o suficiente.
- Não, eu não ia dizer isso. - Falei sério. Ela me olhou curiosa, como se essa não fosse a resposta que ela esperava, mas ficou quieta. - Mas creio que suas roupas não são adequadas a subir em uma árvore, a menos que esteja disposta a dar uma volta no hospital. - Ela riu.
- Parece bobo, mas eu estava fugindo de minhas aulas de cozinha e costura. Todas as tardes minha mãe me obriga a sentar e aprender sobre receitas e pontos e eu estava cheia, então, quando ela me chamou para.. - Ela parou bruscamente e arfou.
- Desculpe. - Sussurrei. Ela tinha uma costela quebrada.
- Está tudo bem. Quebrada também?
- Infelizmente.
- Meu pai vai me matar. - Ela sussurrou para si mesma, mas era impossível não ouvir. A olhei solidário.
- Vou olhar sua cabeça agora. - Ela assentiu e abaixou a blusa, arrumando-se em seu assento. - Continue. Sua mãe te chamou para..? - Dei a volta na maca, e a vi enrijecer quando me estabeleci atrás dela.
- Ah, sim. - Minhas mãos deslizaram sob seus cachos caramelos e ela conteve um arrepio. - Minha mãe me chamou para dentro e eu fui descer para arranjar um esconderijo melhor, mas acho que pisei na bainha da saia e.. Bem.. Aqui estou. Ai. - Ela disse baixinho.
- Desculpe. Bem, acredito que foi uma má ideia. - A ouvi sorrir e dei a volta para estar de frente para ela novamente. - Esme, acredito que você terá que passar a noite aqui, sob supervisão médica. Creio que a batida na cabeça foi séria e você vai ter que passar por um processo no qual eu vou te acordar algumas vezes durante a noite.
- Oh.. Ok.
- Vamos tirar o raio x. - Ela assentiu e eu a ajudei a sentar na cadeira de rodas e a levei pelo corredor.
A recepção cuidou de avisar o Sr. e a Sra. Platt de que Esme passaria a noite aqui e eles se apressaram a ir em casa buscar seus pertences para passar a noite.
Eu já tinha enfaixado suas costelas e estava colocando o gesso na perna de Esme quando Esther entrou.
- Srta. Platt, seus pais deixaram seus pertences e disseram que estão de volta amanhã para busca-la.
- Ok. - Esme sussurrou e seu rosto traiu sua decepção por seus pais não terem vindo vê-la, mas logo que a enfermeira saiu ela sorriu pra mim. - Então, Carlisle, Você é medico a muito tempo?
- Na verdade eu apenas acabei a faculdade. - Me senti mal tendo que mentir pra ela, mas eu não poderia falar "na verdade eu sou médico a um século, mencionei que sou um vampiro? Não? Ah.."
- Faculdade.. - Ela sussurrou. - Como é lá? - Seus olhos brilharam e ela estava tão curiosa que eu tive que sorrir. Ela era encantadora.
- É muito bom. Você gostaria de fazer faculdade?
- Sim, mas creio que não poderei. - Novamente a decepção cruzou seus olhos.
- Por que não?
- Meu pai nunca me permitiria.. Ele quer que eu arrume um marido e.. Você sabe.
- Mas você não quer. - Não era uma pergunta, era uma afirmação.
- Não. Eu queria ir para o Oeste e me tornar professora.
- Mas por que você não se casa e se torna professora? - Ela riu, mas parecia um tanto amargurado para uma garota de dezesseis anos.
- Marido algum permitiria que eu me tornasse professora. Parece que você não conhece a época em que vivemos. Casamentos arranjados sempre terminam em mulheres submissas e maridos rabugentos com alguns filhos que vão ter os mesmos destinos dos pais. Se eu pudesse escolher, nunca me casaria. - Ela disse convictamente. Esme com certeza tinha suas próprias opiniões sobre o mundo e isso me fez admira-la.
- Vamos lá, você não acredita no amor?
- Acreditaria, se meus pais me dessem algum tempo para procura-lo. Definitivamente não acredito que irei aprender a amar um estranho. - Assenti. De qualquer modo eu tinha que concordar. - Mas e você, Carlisle? Não é casado?
- Não, eu não achei a mulher certa. - Sorri.
- Oh, então você acredita em amor. Seus pais nunca te perturbaram para casar?
- Eu não tenho pais.
- Me desculpe. Sinto muito.
- Está tudo bem. - Acabei de por o gesso em sua perna. - Estamos prontos. Agora você vai para o quarto e a enfermeira vai te ajudar a se limpar e se trocar, mas atenção: Você não pode dormir nas próximas duas horas.
- Estou tão animada. - Ela sussurrou sarcasticamente e então sorriu.
Depois que Esme foi para o quarto eu fiquei na ala emergencial enquanto o dr. Greene fez a ronda de seus pacientes. Logo seria minha vez e eu teria de verificar sobre o sr. Geller e então, Esme.
Eu estava ansioso e, mesmo que me esforçasse, não conseguia esquecer os minutos nos quais passei ao lado dela, analisava tudo o que ela tinha dito e o que eu tinha dito, discorrendo por detalhes como o jeito que sua pele corava ou como seus olhos se expressavam. Era vertiginoso a sensação de querer tanto estar perto dela e me obrigar a não pensar sobre isso.
Se passaram exatamente duas horas quando chamei a enfermeira e pedi para avisar Esme que ela já podia dormir. Em breve eu sairia da emergência e iria ver se ela estava bem.
Novamente o cheiro inebriante me assaltou no corredor. Era tão forte que eu podia sentir ao longe, me chamando. Tentei distinguir o coração dela batendo, mas havia tantos ao redor que eu não saberia dizer. Eu tinha de acorda-la, ver se ela não tinha nenhum problema por causa da queda e então ela poderia voltar a dormir.
Abri a porta do seu quarto levemente e entrei. Ela estava dormindo, os cabelos caramelos espalhados pelo travesseiro, a respiração calma e ritmada. Ela era tão linda e eu estava hipnotizado, não queria desperta-la.
- Carlisle? - Ela disse, mas seus olhos não abriram. Era um sonho? Ela estava sonhando comigo?
- Esme.. - Sussurrei tomando sua mão na minha. A necessidade estranha de toca-la me fazia esquecer de minha pele gelada. As pupilas dela tremeram e suas iris verdes me encararam com um sorriso.
- Que bom que você está aqui. - Ela disse, sentando-se.
- Você está bem? Precisa de alguma coisa? - Sussurrei.
- Não, eu estou bem.
- Ok, pode voltar a dormir. - Sorri e estava pronto para ir embora, mas ela puxou levemente minha mão.
Seus olhos estavam cheios de lagrimas e eu paralisei. Me doeu ver suas lagrimas e eu queria poder fazer algo para a dor dela passar.
- Me leve com você. - Ela sussurrou e meu coração, já a muito parado, sacudiu em meu peito.
- Esme.. - A puxei para um abraço e ela agarrou meu jaleco enquanto chorava contra minha camisa. - Eu não posso.
- Por favor, Carlisle, eu vou ser infeliz aqui, me leve com você. - Acariciei seus cabelos e ela me olhou através das lagrimas.
A próxima coisa que processei foi que estávamos nos beijando e uma parte de mim estava gritando descontroladamente para que eu saísse correndo dali.
A sensação de beija-la era incrível, ela era tão quente, tão macia e seu coração batia rapidamente contra meu peito. Nada no mundo poderia ser melhor do que aquilo, mas eu sabia que não podia continuar.
Em uma fração de segundo, mil pensamentos se passaram por minha cabeça. Esme era a unica mulher que já havia me feito sentir dessa maneira, com certeza ela era minha alma gêmea, minha companheira e eu queria que ela fosse comigo e se tornasse minha mulher, mas era egoismo demais, tirar sua vida jovem e saudável apenas para te-la ao meu lado. Embora ela não estivesse feliz, ela teria toda uma vida pela frente, eu não podia fazer isso com ela, ela iria me odiar quando soubesse o que eu sou.
A parte sã de minha mente me venceu e eu me obriguei a separar dela. Meu corpo sentiu falta do contato imediatamente.
- Esme.. Eu tenho que ir. Me desculpe. É mais complicado do que você pensa. - Beijei sua testa. - Por favor, se cuide. - Sai do quarto antes que pudesse ouvir sua resposta.
Minha mente estava acelerada e eu tentei me acalmar um pouco antes de dizer a alguém que eu precisava ir embora. Naquela mesma noite eu estava deixando Ohio para nunca mais voltar.
